O jogo contra os Bulldogs foi bem apertado e ter a presença de Sophie nas laterais com o técnico Allen foi essencial para a vitória do time. Ela sugeriu as jogadas perfeitas para cada momento e isso não passou despercebido pelos jogadores. Enquanto Matt ficara extremamente irritado com sua presença, os outros apreciaram as dicas, principalmente Spencer que marcou o touchdown da vitória com uma trick play sugerida por ela.

Depois do jogo os dois inclusive passaram um bom tempo conversando sobre futebol no hotel que o time estava hospedado. Ela deu algumas dicas úteis para ele e Spencer gostou de conhecer um pouco mais das suas ideias.

Eles retornaram para a cidade cedo no dia seguinte e chegaram por volta da hora do almoço. Quinn e Sophie já estavam trocando mensagens desde que haviam acordado e já estavam saudosas. Sophie não conseguia parar de pensar nela e passou a viagem toda com um sorrido bobo, que não passou despercebido pelo pai.

Assim que chegaram em casa, ela precisou se obrigar a fazer um trabalho que valeria 50% de sua nota em uma das suas aulas. Ela estava realmente precisando entregar algo bom ou iria reprovar na matéria. Como ela tinha grandes dificuldades de concentração, o processo durou o triplo de tempo que duraria para a maioria dos alunos. Quando finalizou já era de noite e decidiu que não conseguiria esperar mais para ver Quinn.

Colocou uma roupa de treino, não esquecendo-se do casaco, visto que a chegada do outono fazia o clima dar uma leve esfriada, principalmente à noite. Saiu para correr e chegou até a casa de Quinn. Aproximou-se calmamente para que não fosse vista ou ouvida. O carro da mãe dela estacionado indicava que Eleanor estava lá então precisava ser cuidadosa.

Escalou com cuidado a árvore em frente a casa, a mesma que Quinn utilizava para fugir quando mais nova. Sophie não era muito fã de alturas, mas se Quinn conseguia fazer aquilo com oito anos, ela também conseguiria. Escalou até o telhado e aproximou-se da janela com calma. Sorriu ao vê-lendo na cama e deu uma leve batida na janela.

Quinn assustou-se com o barulho e quase pulou da cama, porém sorriu ao ver Sophie na janela.

– Você quase me matou de susto! – disse rindo e abrindo a janela para que ela entrasse.

– Eu estava com saudades – falou Sophie e percebeu o olhar doce de Quinn que a beijou saudosamente.

– Sua maluca! Minha mãe está em casa! – deu uma reprimenda ainda sorrindo e claramente feliz com a surpresa.

– Qualquer coisa eu me jogo da janela! – brincou.

As duas voltaram a se beijar e sentaram-se na cama. Não falaram nada por muitos minutos, apenas aproveitaram a presença uma da outra e o enrolar das línguas. Tocavam-se de forma contida, porém com desejo e carinho. De vez em quando olhavam-se profundamente enquanto tomavam ar e Quinn conseguia ver no olhar de Sophie o quanto ela também estava feliz. Será que realmente Sophie estava apaixonada por ela? Pensou em perguntar, era o momento perfeito. Mas ela não queria que fosse daquela forma. Queria que Sophie se declarasse sem pressão.

De repente as duas se assustaram com um alto barulho vindo do andar de baixo.

– Está tudo bem – acalmou Quinn – Ela só está procurando as bebidas que escondeu.

– Achei que você tinha falado que ela estava tentando parar de novo – lembrou.

– Dessa vez não durou muito – disse triste – Mas ela ainda acha que eu não reparei, por isso está escondendo.

– Sinto muito.

– Já me acostumei. Não se preocupe.

Sophie ficou alguns segundos em silêncio e Quinn sabia que ela queria falar alguma coisa, mas estava sem jeito.

– Tudo bem? – perguntou.

– Eu não consigo não me preocupar – falou Sophie – Não queria que você passasse por isso sozinha. Por que não conta para ninguém?

– Se eu contar para alguém vão chamar o serviço social e a situação pode ficar bem pior! Eu já aguentei isso por tanto tempo! Falta pouco para eu fazer 18 anos e assim que eu me formar em King High, nunca mais volto para essa casa! Só preciso aguentar mais um pouco... – falou tentando aparentar força – E agora não estou mais sozinha – disse carinhosa – Tenho você!

– Promete então que você vai me contar se alguma coisa acontecer? Vai me deixar ajudar?

– Prometo – disse Quinn fazendo um carinho no rosto de Sophie.

As duas voltaram a se beijar e ainda namoraram por mais alguns minutos antes de ouvirem os passos na escada indicando que Eleanor estava indo para seu quarto. Despediram-se rapidamente e Sophie fugiu pela mesma janela que entrara.

Como de costume, Sophie passou o domingo com o pai assistindo aos jogos da NFL, enquanto Quinn passou também em casa, estudando e conversando com sua mãe.

O Homecoming* estava se aproximando e Eleanor não conseguir parar de falar no assunto. Como King High era uma monarquia matriarcal, apenas a Rainha era elegida pelos alunos da escola e ficava ao seu critério decidir quem seria o Rei. Geralmente eram coroados apenas alunos formandos e em sua época, Eleanor havia sido a Rainha tanto do Homecoming quanto do Baile de Formatura. Agora sua filha teria a chance de superá-la, visto que aparentemente seria a primeira aluna junior da história de King High a se tornar Rainha do Homecoming. Como Quinn era a mais popular da escola, nenhuma formanda se atreveu a se candidatar, com medo da Rainha de Gelo. Faltando menos de um mês para o evento e Quinn ainda concorrendo sem competição, estava praticamente certa sua coroação.

– Temos que decidir quem será o Rei! – insistia Eleanor – Eu não gostei muito da ideia de você ter terminado com o Matt, mas tenho que admitir que foi uma boa jogada! Agora que você vai ser a Rainha e está solteira, vão chover possibilidades!

– Eu ainda não pensei muito sobre quem vai ser – disse Quinn claramente despreocupada com a situação.

– Enrola até o último momento! Vai ser bom você ficar com essa possibilidade aberta! Vai ser mais cobiçada que o normal!

Quinn continuou em silêncio terminando a janta, enquanto a mãe continuava.

– Que tal o Spencer? Ele é a real estrela do time! Melhor que aquele perdedor do Matt!

– Spencer é namorado da Leslie – lembrou.

– Ainda? Por que você não rouba ele logo? – falou com naturalidade.

– Leslie é minha amiga! E eles estão juntos há anos!

– Você é tão fraca! – irritou-se – Graças a Deus essa cidade racista nunca deixaria a Leslie ser a mais popular ou você estaria perdida! Ela é mais bonita que você! Namora o melhor jogador! E ainda é muito mais cruel!

Quinn continuou calada e deixou a mãe continuar listando todas as possibilidades de jogadores com os quais ela deveria ir ao baile. Essa era a menor de suas preocupações no momento. Ela só conseguia pensar em Sophie e não poderia ligar menos para essa estúpida coroa do Homecoming.

Enquanto isso, a coroa era o que mais passava na cabeça de Matt. Esse era seu último ano em King High e ele queria aproveitar ao máximo. Se ele e Quinn ainda estivessem juntos, ele certamente seria o Rei, entretanto, agora precisaria bajular muito a ex-namorada para conseguir algo que ele acreditava pertencer a ele. O primeiro plano foi tentar convencer outra formanda de se eleger, mas todos morriam de medo de Quinn e ele não tinha poder suficiente para garantir a coroação de ninguém. Realmente não havia outro jeito. Teria que implorar pelo perdão de Quinn.

Logo no segunda-feira ele tentou falar com ela mais uma vez e foi solenemente ignorado. Mandou mensagens, tentou ligar... Até pediu ajuda de Leslie e Cathy, mas nada funcionou. Ele teria que pensar em outro plano...

Na terça-feira a noite, o mesmo assunto do Homecoming voltou quando Quinn, Cathy e Leslie estavam no Great Cook. As amigas estavam curiosas para saber quem seria o Rei escolhido por Quinn e até comentaram sobre as tentativas falhas de Matt em conseguir atenção.

– Ele é tão patético! – falou Leslie.

– E burro porque ainda não percebeu que existe zero chances dele ser o Rei! – falou Quinn.

– Mas quem você vai escolher? – lembrou Cathy – Deveríamos fazer uma lista para decidir!

– Sabe o que eu acho? – falou Leslie de repente – Que você não devia escolher cara nenhum! A escola está repleta de perdedores!

Quinn sabia que um dos motivos que levara a amiga a falar isso era o medo de que ela escolhesse Spencer, mas apesar das segundas intenções, a ideia não era ruim. O único problema seria convencer sua mãe disso.

Enquanto Leslie e Cathy discutiam a ideia, Quinn deixou a mente vagar pelas possibilidades enquanto se deliciava com seu milkshake de morango. De repente sua atenção se desviou para a entrada da lanchonete quando viu Sophie chegar com Melissa.

As duas se sentaram juntas e sozinhas em uma mesa, estavam com roupas de ginástica e claramente haviam corrido juntas. A vontade de Quinn era levantar de seu lugar e arrastar Melissa para fora a base de tapas, mas precisava se controlar. Precisou se esforçar muito para esconder a raiva que sentia. Seus ciúmes cresciam cada vez mais. E se Sophie não estivesse se apaixonando por ela como pensava? Ainda não havia recebido nenhuma confirmação dela sobre seus sentimentos. Claire recebera o olhar de infinitas declarações de amor tão rápido! Por que estava demorando tanto para que Sophie retribuísse o que sentia?

Quinn não aguentou todas aquelas inseguranças tomando conta de si e despediu-se das amigas rapidamente. Foi para casa e ficou esperando uma mensagem de Sophie que nunca chegou.

Fim do capítulo