Capitulo 11
Chegamos a comunidade e passava da uma da madrugada e a rua que ate então estava deserta se tornou uma lembrança dos dias que a um mês não se via. A comunidade tinha uma quadra de futebol iluminada próximo a entrada e naquele campo gramado e cercado um pequeno time jogava sendo assistido por outro grupo na arquibancada de cimento. O cheiro dos cigarros de maconha chegava longe e incomodava meu nariz. Rafa segurou minha mão e no mesmo instante todos aqueles caras nos encararam passar.
--Não olha. São como cães. Vão vir atrás se você demonstrar que tem medo.
--Tem muita gente aqui..
--Eles não se importam com o vírus.
--Mas a campanha que houve aqui..
--(rs) esses caras não ligam se vão ficar doentes acho que nem acreditam se vão. Eles só pensam em vender maconha pra garotada. A clientela sempre aparece a noite para os jogos e agora na quarentena a ronda da policia no bairro trocou o horário e tudo ficou fácil demais para eles já que as 4 da manha eles não estão mais por aqui. O campo é território deles, soube que ate entrega a domicilio ta rolando por aqui.
--E quanto ao Aranha?
--Ele mora no prédio com lateral vermelha bem ali na outra quadra.na cobertura.
--O prédio empresarial? Mas como vamos..—Rafa estava tomando uma direção totalmente oposta ao prédio.
--Ele mora lá e não vamos nos encontrar com ele (rs) de forma alguma. Ele tem seu encarregado para cuidar disso e certeza que não queremos encontrar com o Aranha e vamos torcer para que ele ainda não saiba disso.
Passamos a rua e era visível que as pessoas que se encontravam na rua pertenciam a noite. Havia olheiros nas esquinas, havia um grupo de bebida ao lado de uma clinica e ate algumas moças a espera de acompanhantes rondava a entrada da comunidade. Rafa estava tão séria e ao mesmo tempo acostumada ao que via.eu tive que me conter nos olhares e entrar com ela em seu ritmo.
Havia tantos caminhos e becos. Desvios e entradas que eu jamais imaginaria ate chegarmos a uma casinha onde Rafa bateu na porta e esperou paciente ate uma moça de cabelos pretos e baby-doll curtinho azul beirando os seus dezenove abriu a porta.
--Olha quem voltou.—falou ela cruzando os braços com uma carinha nada feliz em rever Rafa.
--Oi Micaela. Como cê ta?—Rafa ate tentou ser simpática com seu sorriso lindo mas nada alterava o humor raivoso daquela menina.
--Tava bem na minha cama,a cama que você não encosta nunca mais.—dissera ela e eu não poderia estar mais que surpresa.
--Dormiu com essa menina?—perguntei a Rafa.
--Só dormimos!
--Essa é minha raiva!—respondeu Micaela e por um momento não me senti tão trouxa pela Rafa.
--Me diz..soube de alguma coisa da foguinho?—Rafa perguntou baixinho.
--Não me diga que foi ela pois eu já tenho certeza.
--Digamos que ela me deu um presentinho que quero devolver.
--(rs)..e essa ai?
--Amanda,é um prazer.—estendi a mão mas ela ficou ali na porta de braços cruzados e toda marrentinha.
--Outra também?
--(rs) uma amiga.
--Se eu fosse você eu seria bem rápida. Os capangas do Aranha estão desesperados atrás da foguinho. Principalmente o Wesley.
--Aquele maluco.
--O que queria? Ela levou tudo da mercadoria dele pelo que estão falando. Eles reviraram tudo aqui em casa sabia?!Achavam mesmo que eu ia dar guarita para foguinho por sua causa.
--Desculpa.
--Também não gosta dela?—falei e ate esqueci que dizer era bem diferente de pensar e lógico que o olhar de Rafa veio a mim e tentei disfarçar.
--(rs) não se culpe, ninguém além dessa ai gosta da foguinho. Foguinho no rab* isso sim.—retrucou Micaela e eu quase ri.
--Ok, se vai continuar xingando a gente já vai.
--Wesley ta no pátio da rua de baixo. A galera toda ta lá procurando foguinho então..tome cuidado.—ela abraçou Rafa e o aperto demorado me fez preferir olhar outra coisa.
--Valeu..vamos Amanda.—ela pegou novamente na minha mão e partimos e ate um pouco apressadas.--Se entregarmos isso ao Wesley antes de qualquer surto dele estaremos livres e foguinho também.
--Por que protege ela? Sei que são amigas mas olha a enrascada que ela nos causou.
--Ela..tava comigo numa fase que ninguém mais estava.
--Por que?
--Não importa o porque.
--Pra mim sim.—puxei minha mão e ela parou e me encarou.—o que ela fez que ninguém mais no mundo poderia ter feito a você?—ela não tinha respostas e era inacreditável.
--A gente se entende ta bom. Eu me importo com a minha fidelidade. Não sei porque começou isso agora.
--Se ela se importasse com você não te deixaria cheia de marcas, não te abandonaria bêbada no container e nem faria isto para te ferrar!
--Ela não fez isso para me ferrar Amanda!
--Então foi muito conveniente ela largar isso na minha casa quando tudo que ela mais queria era ir embora com você.. Certeza que tudo foi encenação. Ela só queria se livrar disso porque viu que você não iria com ela.
--O que rolou entre a gente também foi ou só era um experimento jornalístico seu? Uma encenação?(rs) fala sério.
--Agora vai me atacar também quando foi você que me beijou e começou tudo?
Ela percebeu bem seu erro e seguiu bem a frente de mim e por mais que aquilo me aborreceu eu continuei atrás dela. O pátio entre casas que achamos estava cheio de malandros que nos olharam assim que surgimos e o silencio foi determinante para o tenso momento.
--Fica perto de mim.—pediu ela baixinho e acatei sob os olhares mal encarados.eu tinha que ignorar o fato que muitos deles estavam armados e outros com cara de poucos amigos e Rafa permanecia tão séria seguindo ate o centro do pátio e eu não negava, minhas pernas estavam perigando ceder aos tremores.
Havia um cara magro de bermuda surfista e cabelo a altura dos ombros que reclamava com mais dois caras aos berros. Eu me sentia andando na prancha de um navio pirata pronta para se devorada pelos tubarões.
--Eu não quero saber eu quero minhas drogas de volta!—empurrando o cara ele o lançou contra alguns jarros de plantas. Ele era forte demais para o meu gosto e isso foi assustador.
--Sorte a sua.—disse Rafa já ganhando o olhar de surtado dele e com isso ela jogou a mochila.
Ele abriu a mochila e sorriu.
--Que bonitinho..ela te mandou aqui para resolver a merd* que ela fez?—perguntou ele e por incrível que parecesse eu também achei a mesma coisa. Aquela covarde.--Aquela vadia..(rs) ela achou mesmo que trepar comigo ia valer tudo isso?!Ela me rouba,caga para minha clientela..e é muita ousadia a sua voltar aqui sem ela!!!—gritou ele surtando na frente de todos.
--Eu fiz o que achava que era certo. Pelo bem de todos.—respondeu Rafa seriamente e corajosamente.
--Eu deveria cortar sua cabeça no lugar da dela!!somente pela inconveniência.
--(rs) logo a minha? Sou tão produtiva para sua sociedade.
Ele continuava a checar a mochila e de vez ou outra lançava um olhar para mim.
--Quem é?—perguntou ele e meu deus,gelei na hora.
--Uma amiga. Tenho que levar ela pra casa.
--Me parece familiar..
--Deve ter me visto na campanha do coronavirus.—respondi e ele assentiu com a cabeça pensativo apesar da cara feia de Rafa ao meu lado.
Ele deu de ombros e continuou olhando na mochila e Rafa pegou minha mão e caminhamos em direção a outra saída.eu via a rua alguns metros e tentei não demonstrar o quanto estava com medo daquele cara mas aliviada por enfim estarmos saindo daquele lugar.
--PERAII!!!—gritou ele e de imediato tivemos que parar.
Olhar para aquele cara de novo era a ultima coisa que eu queria mas a gente virou e aquele olhar surtado mais uma vez apareceu.
--Cadê o meu dinheiro?!—perguntou ele furioso.
--Que dinheiro?—indagou Rafa preocupada.
Não precisou ele mandar para alguns caras se erguerem das calçadas e nos segurarem pelos braços nos forçando a voltar ate ele.
--Não tinha dinheiro ai Wesley!
--(rs) então você não conversou direito com a foguinho. Aquela VADIA pegou 2 mil meus e eu quero de volta!!!—ele gritou e quando eu vi um cara trazer um facão eu realmente vi que estávamos fudidas.
--Hey espera!!ela esta falando a verdade!—tive que interceder por Rafa mas eu estava na mesma situação.
--Então conhece a foguinho também?—debochou ele recebendo um corinho de risos.
--É mas a mochila só tinha isso!—respondi.
--Como você sabe?
--Por que ela foi ate minha casa!
--Amanda!!—Rafa me alertou mas meus nervos esqueceram do vital.com aquele pessoal qualquer resposta poderia decidir seu futuro e eu fui burra.
--(rs)..leva essas duas lá pra igrejinha.—ordenou ele rindo de mim.
Fomos sequestradas. Eles nos arrastaram a força e levaram a gente a capela que ficava no canto daquele pátio e apesar da fachada por fora não fomos deixadas no altar mas sim num quartinho nos fundos desesperador onde aqueles infelizes me levaram o celular e minha carteira.
--Não podem fazer isso com a gente!!
--Cala a boca sua puta!!—eu recebi um tapa que me fez cair no piso sujo e mesmo com a cara ardida vi Rafa avançar no grandão que me estapeou mas ele a jogou no meu lado e a chutou e ainda bem que ela se protegeu evitando um dano maior além da falta de ar.
Wesley logo entrou e um outro cara veio junto e com um fita adesiva prendeu nossos pulsos e pernas.
--Se gritarem meu amiguinho vai vir aqui e meter uma bala na cabeça das duas.
--Fala sério cara 2 mil eu pago pra você!—respondi e parecia que tudo que eu falava era deboche para eles.
--(rs) eu quero ela!!!foguinho vai me pagar porque merdinha nenhuma mexe comigo!!se ela da uma de louca eu sou pior!!—ele chutou a parede atrás de nós e saiu levando consigo os dois capangas.
--Oxi, que merd*!
--Você tinha que falar né!—reclamou Rafa indignada sentando-se melhor ao meu lado.
--E deixar ele cortar sua cabeça?(rs) agradeça a foguinho quando vê ela por ai de boa.
--Ela ta ferrada se acharem ela.
--Já que estamos aqui eu pergunto quais as chances dela fazer o mesmo por nós? Tipo assim, por desencargo de culpa?
Fim do capítulo
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