POV JULIA

-Fê, você nunca quis namorar com ninguém? – Eu fiquei receosa em perguntar isso pra ela.

-Acho que nunca senti conexão pra me envolver assim depois de você. –Fernanda me falava com naturalidade. – Na verdade acho que como você foi minha primeira paixão e como não deu certo eu criei um bloqueio.

-Você nunca me disse isso. –Meu coração errou uma batida e eu sorri. – Você nunca me disse que eu era sua paixão.

-Pois é, acho que nunca tive tempo. –Nossos olhares se encontraram nesse momento. – Eu estava perdidamente apaixonada por você senhorita rainha da uva.

    Era magnético o que sentíamos naquele momento, minha vontade era insana, queria Fernanda e isso eu não podia negar, me sentia fraca e uma onda elétrica percorreu quando colamos nossas testas.

-Acho melhor eu ir. – Por um milésimo meu pensamento me levou até Luiza e eu disse quase me falhando a voz.

-É acho melhor você ir. – Fernanda suspirou desanimada, mas sei que ela me entendia.

    Sai do apartamento dela mais rápido que bala de revolver, não esperei o elevador descia os degraus da escada sem ver, entrei no meu carro e encostei a cabeça no volante tentando me acalmar um pouco.

-MERDA! – Gritei dando um soco no volante.

     Já em casa eu só conseguia pensar na merd* em que eu ia fazer, não quero estragar meu casamento mesmo estando chateada com Luíza, e muito menos queria brincar com Fernanda, estava confusa, tudo estava confuso pra mim. Ela ia me beijar? Será que ia ser só um beijo? Tinha muita coisa inacabada e aquilo estava mexendo comigo.

-Não vou estragar minha amizade com ela por conta desse sentimento, vou me afastar um pouco. – Falava sozinha em meu apartamento.

    A sexta feira amanheceu fria e nublada, mandei uma mensagem pra Helen pedindo ela pra desmarcar todos os meus compromissos, me dei folga hoje. Na verdade estava fugindo de Fernanda, não queria encontra-la depois do ocorrido de ontem. Aproveitei pra dar uma organizada nas minhas coisas, e precisava de um tempo pra mim, eu trabalhava demais desde que me formei e estava pensando nas férias que Luíza queria tirar, seria uma boa pra eu me afastar de Fernanda por uns tempos. Resolvi ligar pra minha esposa, queria ouvir a voz dela um pouco.

-Oi amor, tudo bem? – Ela me atendeu no terceiro toque.

-Oi Ju, estou bem e você? – Estava deitada na nossa cama. – Ontem você me pareceu chateada.

-Já passou como está tudo por ai? Estou com saudades.

-Só falta assinar o contrato. – Luíza estava com uma voz estranha, mas talvez seja impressão minha. – Também estou com saudade linda.

-Está tudo bem mesmo amor? Você está com uma voz estranha.

-Não é nada demais, quando eu voltar à gente conversa tá? – Ela estava estranha. – Preciso desligar amor, te amo. – Desligou logo após eu responder o “Eu te amo” .

    Minha cabeça fervilhava, imaginei um milhão de coisas com Luíza e Silvia juntas, não parava de pensar nisso. Acabei chamando Felipe pra vir me fazer companhia, e meu irmão sabia alegrar qualquer pessoa.

-Espero que você pelo menos cozinhe pra mim. – Ele disse entrando no meu apartamento.

-IIIH ta mordida é? – O abracei que retribuiu com um beijo.

-Estou e muito, Tito acabou comigo haha. – Ele fazia uma cara de safado.

-Ai cruzes, me poupe dos detalhes haha.

-Mas o que aconteceu que você saiu da casa de Fernanda sem me avisar? – Gelei ao lembrar o motivo. – Sai do quarto e Fernanda estava lá limpando a bagunça sozinha.

-Eu não estava me sentido bem, ai resolvi vir pra casa. – Menti e ele sabia disso.

-Desembucha Maria Julia. – Felipe me olhava de maneira avaliativa.

-Nós duas quase nos beijamos. – Falei olhando pro chão. Não escondia nada do Felipe.

-QUE? COMO ASSIM? – Felipe sempre escandaloso em momentos errados.

-Isso que você ouviu, mas eu sai de lá antes que acontecesse. – Comecei a contar desde o momento que Fernanda me disse que eu era sua paixão, até o momento que sai de lá correndo.

-Ju jamais te julgaria se algo acontecer, mas você sabe que você tem Luíza ne? – Meu irmão me deu as mãos.

-Foi por ela que eu não prossegui o beijo, eu só pensei nela. – Eu senti vontade de chorar, não estava conseguindo lidar com esse tanto de sentimento. – Sabe o que é pior? Eu nunca senti tanta vontade de beijar alguém como senti ontem.

-Meu bem, a gente nunca vai entender essas coisas do coração, o que eu te peço é pra ser sempre sincera com você mesmo, e ser sincera com elas também . – Felipe me puxou pro colo dele e começou a fazer carinho nos meus cabelos.

    Nem sei quanto tempo ficamos naquele contato, sei que dormi por um bom tempo e quando acordei quase morri do coração. Luíza estava de frente pra mim velando meu sono.

-Oi meu amor! – Ela parecia ter acabado de chegar, estava com a mala na sala ainda. – Surpresa!

-Amor por que não me avisou que chegaria agora? – Levante do sofá num pulo.

-Ah queria te fazer uma surpresa. Passei direto no escritório, mas Helen me disse que você não apareceu por lá hoje. – Trocamos alguns carinhos e ela me perguntou. – Aconteceu alguma coisa?

-Não Lu, só estava precisando descansar um pouco. – Felipe voltou da cozinha com um pano no ombro.

-Enquanto você toma um banho eu termino o jantar cunhadinha. – Felipe avisou minha esposa e seguimos pro quarto.

-Acho que estou precisando de ajuda pra tomar banho. –Luíza mordia o lábio sensualmente. – Estou com saudade das suas mãos passeando pelo meu corpo.

-É pra já senhora Barroso. – Entrei com ela no chuveiro e ficamos lá por horas nos amando sem parar.

    Estava com saudades dela e de fazer amor com ela, amei a surpresa que ela me fez, Luíza me contou que estava se fazendo de estranha pra não estragar a surpresa. Felipe fez um jantar delicioso e nós três começamos a comer e Luíza começou a contar sobre a viajem.

-Amor, você me disse que precisava conversar comigo, o que era? – Questionei e ela mudou a expressão de repente.

-Ju, você sabe que meu pai não anda muito saudável, né? – Sei que lá vem bomba. – E você sabe que minha mãe não entende nada dos negócios do meu pai.

-E? – pedi pra ela prosseguir.

-Então, estou pensando em ir a Portugal pra ver como anda as coisas por lá. – A família de Luíza não aprovava o nosso relacionamento. – Eu quero ver de perto o que está acontecendo, meu pai me quer lá.

-Entendi, e você pretende ir quando? – Já estava chateada novamente.

-Semana que vem, se você não se importar em tomar conta do escritório sem mim. – Felipe fingia não prestar atenção na nossa conversa. – Você sabe que seria ótimo você ir comigo, mas não quero aborrecer meu pai que já não anda muito bem.

-Tudo bem. – Ela segurava minha mão por cima da mesa. – Não tem problema, seu pai precisa de você.

- Já comprei as passagens e amanha começo acertar as coisas. – Ela continuou comendo. – Não se preocupe que não demoro e logo você me tem inteirinha pra você.

   Confesso que estava chateada, mas não ia me opor a visita dela aos pais, sei como ela sentia falta e não seria infantil a esse ponto. Lipe fez até sobremesa pra nós estávamos comendo quando o telefone fixo tocava sem parar.  

-Alô? – Atendi pra ver quem era.

-Julia? Que bom que atendeu. –era a voz de Fernanda. – Liguei varias vezes pro seu celular.

-Estava meio ocupada e não vi. – Um coração acelerou um pouco.

-Nossa me desculpa, mas é que é um pouco urgente. – Ela parecia nervosa. - O Roberto foi preso, e o Cláudio não sabe o que fazer.

Fim do capítulo