Eu e Sarah estávamos sentadas em uma mesa afastada no refeitório. Havia muitas pessoas nesse horário, pois era o intervalo. Muitas dessas pessoas paravam para observar eu e minha namorada. Nós não escondíamos nosso sentimento, vivíamos grudadas e andando de mãos dadas. Recebíamos vários olhares tortos, mas eu estava pouco me importante e Sarah muito menos.

Denis tinha nos convidado para sentar com eles e os amigos, mas eu queria um momento a sós com Sarah. Hoje o dia estava frio e minha namorada estava levemente corada, seus lábios vermelho eram lindos e eu sentia uma gigantesca vontade de beijá-la.

-- Você não se incomoda com os olhares, Cissa? – Sarah perguntou olhando em volta e logo depois me encarando.

Tomei um gole do meu suco e sorri para ela. Segurei sua mão por cima da mesa, acho que eu também estava vermelha por causa do frio.

-- Nunca... Eu não me importo com as outras pessoas, Sah... Eu nunca me importei – falei apertando sua mão e sorrindo.

Sarah suspirou e abriu um lindo sorriso.

-- Eu sempre admirei esse seu jeitinho decidido – disse acariciando minha mão.

-- Nem sempre fui assim, Sarah. Você sabe disso, mas o tempo só me fez mais madura. Tive algumas dificuldades no passado, mas acho que são normais quando você é apenas uma adolescente confusa. Cometi muito erros, mas aprendi com todos e sei que ainda tenho muita coisa a aprender.

-- Todos nós temos, Cissa... Mas agora iremos aprender juntas. Seu maior erro no passado foi se envolver com a Deborah – disse séria.

-- É... – concordei rindo – Foi uma grande merd* mesmo, mas não vamos falar disso – falei bebendo o suco.

-- Ok – eu sabia que Sarah sempre ficava brava quando o assunto era Deborah – Está tudo planejado para nosso final de semana na casa de campo, amor – o semblante de minha namorada mudou e ela estava feliz, não conseguir deixar de sorrir – Estou tão animada para esse momento, faz anos que não vou naquele lugar – confessou tímida.

Fiquei surpresa com sua confissão. Sarah amava a casa de campo dos pais. Ela gostava de andar a cavalo e tomar banho na cachoeira, fazíamos trilhas loucas no meio do nada e vivíamos fazendo piquenique em qualquer canto daquele lugar. Sarah viajava todos os anos para lá. Ela dizia que era seu lugar favorito no mundo.

-- Pensei que fosse seu lugar favorito no mundo – comentei surpresa.

-- E era... Mas acabou perdendo a graça – disse olhando para seu sanduíche que estava na mesa.

-- Por que? – eu queria entender

-- Porque só tinha cores quando você estava ao meu lado, Cecília. Todas as vezes que fui naquele lugar, você sempre foi minha companhia. Era meu lugar favorito porque era o momento que eu poderia ficar vinte quatro horas do meu dia ao seu lado. Era o momento que eu conseguia ser plenamente feliz. Eu jamais conseguiria voltar sem você.

Fique sem palavras. Eu não sabia o que falar. Minha boca abriu várias vezes, mas eu não conseguir falar nada. Eu sentia meu coração acelerado e uma emoção tomou conta de mim. Por causa da minha lerdeza o sinal anunciando o fim do intervalo tocou. Sarah levantou e sorriu para mim. Eu também levantei, mas antes que ela começasse a caminhar eu segurei em sua mão.

-- Você não imagina o quanto eu gosto de você – confessei – Eu te acho a pessoa mais linda que eu já vi em toda a minha vida.

Ela abriu o mais lindo sorriso e me abraçou apertado.

-- Também gosto muitão de você – sussurrou em meu ouvido me deixando arrepiada – Você é muito mais linda, meu amor – beijou o meu rosto e se afastou – Agora precisamos ir antes que fique mais tarde. Quando minha aula terminar eu te procuro.

-- Tá bom, meu amor – falei toda derretida.

Seguimos para lado oposto. Eu não conseguia tirar o sorriso bobo do meu rosto, era automático. Nunca tinha me sentido assim em toda a minha vida. Sarah é tão maravilhosa. Eu sempre a achei perfeita, mas agora tudo era mais intenso, pois não era apenas uma amizade. Eu já a achava linda como amiga, imagina então como namorada.

Estava divagando sobre minha namorada quando sentir alguém me puxar pelo braço. Me virei assustada e fiquei surpresa ao ver quem era.

-- Oi... – disse sorrindo.

-- Deborah... – falei sem acreditar.

-- Surpresa em me ver? – a garota tinha um sorriso presunçoso estampado em seus lábios que estavam cobertos por um batom vermelho. Deborah era realmente linda... Mas apenas por fora.

-- Me solta – disse olhando para sua mão em meu braço.

Deborah sorriu e me soltou lentamente, deslizando sua mão em meu braço.

-- Tenho uma novidade para te falar... – falou animada.

-- Não quero saber! – falei me virando e andando rapidamente, mas óbvio que loira infeliz me seguiu.

-- Irei fazer meu curso de administração aqui.

Parei bruscamente e a encarei.

-- Só pode ser brincadeira – falei revirando os olhos e voltando a andar.

-- Qual é, Cecília... Para mim você não precisa disfarçar nada. Eu te conheço... Sei do que você gosta – disse sedutora.

-- Escuta aqui – apontei o dedo em seu rosto – Você não sabe nada sobre mim! Você nunca soube. Faça o que você quiser, mas mantenha distância da minha pessoa!

-- Não é possível que você tenha mudado tanto, Cecília. Você adorava quando estávamos juntas, todos os nossos momentos... Todas as nossas loucuras.

-- Eu era uma adolescente, Deborah! Aprendi muitas coisas nesses últimos anos e uma coisa que aprendi é que você não vale nada. Eu quero distância de você, garota. Apenas isso – falei me afastando.

-- Eu não irei desistir facilmente – disse um pouco mais alto para eu escutar.

Não olhei para atrás, simplesmente queria distância daquela mulher. Não conseguir me concentrar na aula, eu sentia que Deborah seria uma grande dor de cabeça. Teria que ter o cuidado redobrado.

Sarah me deu carona até meu apartamento, mas ela estava com pressa por causa do estágio que estava fazendo no escritório de algum conhecido dos seus pais. Eu não falei com ela sobre Deborah, mas óbvio que iria falar.

Manuela percebeu minha cara de desgosto assim que sentei ao seu lado no sofá.

-- O que aconteceu? – perguntou com a boca totalmente lambuzada de ketch*p. Ela estava comendo pizza.

-- Limpa essa boca, Manuela – falei apertando os olhos.

A garota teve a cara de pau de limpar a boca em sua camiseta cor de rosa. Manuela seria eternamente uma criança.

-- Prontinho – disse sorrindo.

Revirei os olhos e fui direto ao assunto.

-- A Deborah vai estudar na mesma universidade que eu e a Sarah. Hoje encontrei com ela... Aquela maldita disse que não vai desistir de mim. Quando eu acho que as coisas finalmente estão ficando melhores acontece isso... Eu não sei qual a insistência dessa garota comigo após anos – desabafei frustrada.

-- É só você ignorar ela.

-- É o que irei fazer. Só espero que ela não tenha qualquer carta manga. A Deborah é uma mulher bem inteligente, até hoje ninguém sabe sobre ela – eu tinha muita desconfiança daquela loira maldita.

-- Você pode falar para todos! – Manu falou obvia.

-- Ninguém acreditaria em mim... Quem sou eu perto da poderosíssima Deborah Marques? Além disso, ninguém acreditou em mim no passado – falei cabisbaixa.

Manuela ficou pensativa.

-- Você deveria ter algum tipo de provas contra ela. Acho que conseguiria mantê-la afastada.

-- Pode ser, Manu... A Deborah já aprontou muito nesses últimos anos – a ideia da Manuela começava a martelar na minha cabeça.

-- Sim... Só tenha cuidado – falou levantando e pegando a caixa de pizza a levando para a cozinha.

-- Eu terei – disse também me levantando – Vou tomar banho e, por favor, não quebre nada.

Manuela apenas riu e ligou a torneira para lavar a louça.

Não falei mais com Manuela sobre Deborah. Pelo menos não nesse dia. 

Fim do capítulo