--Ai merd* – Ela disse começando a ler a última mensagem enviada pela mulher. “ Leticia eu quero me desculpar sei que fui mais uma vez uma idiota, porem queria conversar com você para resolver toda a nossa situação, um beijo” – Mais que merd* – Leticia sentiu a mão tremer, certamente ela tinha lido as conversas anteriores e entendido tudo errado, começou a andar de um lado para o outro, não sabia o que fazer, não sabia com quem falar, ficou naquele angustia por mais de quarenta minutos até que resolveu ligar para Cléo  que não atendia, apenas chamava. –E agora o que eu faço? – Leticia se perguntou chorando, seu coração estava apertado.

--Oi Cléo , o que houve? Calma você está tremendo – Bruna disse abraçando a amiga que chorava.

-- Desculpa vim ao seu local de trabalho assim, é que eu não sabia onde ir

-- Tudo bem, mas me diz o que houve? estou ficando muito preocupada.

--A Leticia está tendo um caso, acabei de ter a certeza.

--Miserável, ela me prometeu que não tinha nada com aquela mulher – Bruna disse fazendo a amiga se sentar.

--Como assim lhe prometeu?

-- Eu a vi conversando com ela no banheiro da boate, dai perguntei e ela me jurou que foi só um beijo roubado

-- Você sabia?  - Disse levantando

-- Ela me prometeu que não foi mais do que um beijo roubado.

--Era para você ter me falado, você acha que se tivesse sido só isso ela não teria me dito? Quantas outras deram encima dela e ela foi a primeira a me falar? Droga Bruna eu confiava em você -Pegou a bolsa que estava jogada no chão

--Ei calma Cléo  eu não podia imaginar, ela disse que não te falou para não piorar situação de vocês, vocês estão em crise.

--Crise? A crise era que ela estava colocando um par de chifres na minha cabeça– Sentou apoiando a cabeça entre as mãos – Eu confiava nela Bruna, confiava que ela me amava e o que ela faz? Me trai.

--Calma Cléo  e se foi realmente apenas um beijo?

-- Mesmo se fosse, era para ela ter me falado, eu entenderia, ela sabe que eu entenderia, quantas vezes ela já não chegou falando que alguma cliente tinha soltado gracinha para ela, primeira coisa que ela fazia quando chegava em casa era me falar, nos riamos, isso porque eu confiava nela. – Ela falava sem parar, nesse meio tempo Bruna viu o seu celular vibrar e a foto de Leticia aparecer.

--Cléo  calma, respira amiga, vocês já conversaram?

--Não, eu apenas disse que tinha descoberto e levei a Isa para casa da minha mãe, não queria que ela visse ou escutasse alguma coisa.

--É melhor deixa-la lá esses dias, vem aqui amiga, fica calma – Ela abraçou a amiga que chorava copiosamente, como ela não parava Bruna foi pegar agua colocando um calmante dentro para que a amiga se acalmasse, não demorou e Cléo  cochilou no sofá, o telefone de Bruna não parava de vibrar, era Leticia, ela saiu da sua sala e atendeu.

--Bruna? Ainda bem que me atendeu, me diz que a Cléo  está ai?

--Está sim

--Eu vou para ai agora

--Não!, não venha, a Cléo  está arrasada e não será uma boa vocês conversarem agora.

-- Como não? Bruna eu não posso deixar que ela fique pensando que eu tenho alguma coisa com a Celina.

--Mas a questão é que você tinha ou tem alguma coisa com aquela mulher.

--Mas eu já te disse não passou do beijo.

--Será mesmo Leticia? Será que você não se deixou levar por essa garota? Eu vi como você não reagia a ela, independentemente de ter sido só um beijo, mas será que talvez não poderia ter sentido mais alguma coisa?

--Eu amo a Cléo  Bruna, só quero ela – Leticia chorava.

-Não perguntei isso Leticia, mas também não quero saber a sua resposta, isso você mesmo que tem que saber, a Cléo  não vai para casa agora, pense bem no que você fez Leticia – Disse desligando o aparelho.

--Então ela está lá?

--Está, Beto será que ela vai me perdoar? – Leticia ligou para o amigo que não tardou em chegar

--Não sei, a Cléo  te ama, mas confiava em você com todas as forças e você quebrou isso.

--Eu não quero perde-la Beto, não quero – Leticia chorava sendo abraçada pelo amigo.

--Calma, tenta descansar um pouco – Leticia deitou no sofá enquanto o amigo acariciava seus cabelos curtos.

--Está mais calma? – Bruna perguntou vendo a amiga abrir o olho.

--Você me deu remédio?

--Dei, você estava sem controle – Sentou-se ao lado dela no confortável sofá.

-- Eu sei – Disse sentando-se

--E agora? Quer ir lá para casa ficar lá por essa noite?

--Que horas?

--Dez para onze.

--E você ainda está aqui, desculpa lhe atrapalhar – Disse ficando de pé.

--Você não atrapalha minha amiga, sabe disso, então vamos lá para casa?

--Não, vou em casa, preciso conversar com a Leticia.

-- Já sabe o que vai fazer?

--Não sei, preciso saber o que houve antes de tomar uma decisão.

--Vai com calma lembre que ela é a mulher por quem você é apaixonada.

--Eu a amo, mas o que é o amor sem a confiança? Como vou passar meus dias vivendo na incerteza se ela está ou não com alguém? – Pegou sua bolsa a colocando

--Te entendo, está de carro?

--Estou, pode deixar eu estou mais calma

--Me desculpa por não ter ti falado, eu fui uma péssima amiga.

--Você só acreditou nela, apenas isso, obrigada por tudo- Abraçou Bruna.

--Cuidado, qualquer coisa me liga, a qualquer hora, boa sorte, espero que vocês se acertem.

--Está certo, obrigada amiga – Cléo  entrou no carro com a vontade de chorar voltando com força, ela respirou fundo teria que se controlar, para pensar melhor, parou o carro na frente de casa olhando para aquele lugar que era seu lar, fechou os olhos suspirou e desceu, ao entrar viu Beto sentado no sofá, ele levantou sendo acompanhado por Leticia.

--Cléo ! – Leticia foi até ela – Me deixa explicar, não é o que você está pensando – Cléo  nada falou apenas olhou para Beto

--Eu já estou indo, conversem as duas, vocês se amam demais para deixa uma coisa tão pequena afetar isso.

--Até mais Beto – Cléo  disse sem olha-lo que entendeu e saiu fechando a porta atrás de si.

--Cléo , me deixa explicar o que houve, por favor, foi só um beijo, ela me beijou, eu estava bêbada, mas não houve nada a mais. – Cléo  apenas caminhou até o sofá, xingou Bruna mentalmente por ter lhe dado aquele calmante, gostaria de gritar, de explodir, mas não apenas sentou calada, sem falar nada – Amor fala alguma coisa. – Leticia sentou-se na mesinha de centro na frente do sofá

--Amor? Você me traiu Leticia.

--Foi só um beijo, eu estava bêbada e então... – Foi interrompida

--Eu já escutei você falando isso, eu vi as mensagens Leticia, até foto de camisola ela te mandou, como foi só um beijo com você bêbada? Me explica, pois, juro que se você tiver uma explicação para isso eu esqueço toda essa história, apenas me explica o que houve?

--Eu não sei, estávamos passando por aquela fase ruim daí ela se aproximou, eu nunca deixei me envolver, só gostava de conversar, e não foram muitas vezes, só que teve aquele dia que brigamos e fui para o bar, lá bebi muito daí fui ao banheiro lavar meu rosto, pois estava muito bêbada, ela tentou me ajudar, mas me beijou, de início eu cedi, mas logo percebi a besteira que fiz me separei, daí por diante me afastei dela, expliquei que te amava e não poderia ficar com ela, ela pediu para ser minha amiga e foi isso, no domingo ele me encontrou no banheiro da boate estava bêbada, se declarou para mim, porem eu disse que não ia rolar, foi isso, juro que foi só isso mesmo, eu sei que fiz erado, eu sei que fui uma idiota, mas não vamos deixar que algo tão insignificante nos atrapalhe, estamos tão bem, reavivando nosso amor. – Pegou nas mãos da mulher que escutava tudo de cabeça baixa. – Me perdoa por isso.

--E porque diabos você não me falou Leticia? – Largou a mão de Leticia ficando de pé – Você sempre jogou aberto comigo, sempre que alguém flertava com você, não me escondia, mas eu te perguntei e você me disse que ela era apenas uma cliente, se foi sem importância qual motivo você não foi sincera comigo dessa vez?

--Eu fiquei com medo, nós estamos passando por uma fase difícil, fiquei com medo, não queria que você ficasse desconfiada.

--Mas que droga Leticia – Cléo  disse gritando, e quebrando um enfeite de vidro que tinha ali

--Calma Cléo , por favor, se acalma – Levantou e abraçou a mulher – Me perdoa – Cléo  chorava copiosamente, ficaram ali por longos minutos.

-- Eu não sei se consigo – Leticia se afastou e encarou a mulher

--Você não está querendo... – Não conseguiu nem completar.

--Te deixar?

--Não faz isso Cléo , não me deixa

--Eu não sei o que fazer, realmente eu não sei, me deixa pensar – Ela disse indo para o quarto.

-- Tudo bem, mas saiba o quanto eu te amo. – Leticia disse vendo a Cléo  entrar para o corredor que dava no quarto, ela entrou no quarto e a única coisa que conseguiu fazer foi chorar, deitou-se na cama, sentiu o cheiro de Leticia no travesseiro, o jogou longe, sentiu os efeitos do remédio que Bruna lhe deu, acabou cochilando.

Enquanto isso Leticia andava de um lado para o outro na sala, não saberia o que fazer se a mulher da sua via a deixasse, não saberia se conseguiria continuar sem sua família, deitou-se no sofá, mas não conseguiu dormir.

Cléo  acordou e ficou olhando para o quarto, lembrando vários momentos bons que teve ali com  Leticia, lembrou de quando aquele quarto ainda era de uma adolescente, as reformas que foram fazendo na casa deixada pelo avô de Leticia para ela, aos poucos deram sua cara para aquela casa, Cléo  foi para um banho chorando, ao sair ligou para a escola e avisou que estava doente e não poderia ir trabalhar, respirou fundo enxugando as lagrimas, iria conversar definitivamente com Leticia, não tinha decidido o que fazer, mas não conseguiria viver com aquele sentimento de raiva, de se sentir traída, teria que pensar melhor, pois o fato maior era que amava demais aquela mulher, saiu do quarto e encontrou Leticia sentada no sofá, olhando para uma xicara de café, não estava mais fumegante, prova que foi colocado ali há um longo tempo.

-- Precisamos conversar – Ela disse sentando ao lado da mulher.

--É eu sei – Colocou a xicara na mesinha de centro e encarou Cléo .

-- Todo esse tempo eu fiquei pensando em como eu faria para te perdoar, como eu faria para continuar com nosso casamento.

--Apenas me dá uma chance para provar que podemos continuar como antes. – Leticia a interrompeu.

--Me deixa falar Leticia, me deixa concluir – Leticia abaixou a cabeça seu medo era latente – Tudo que eu quero nesse mundo é continuar com tudo, mas agora não dá, Leticia eu não consigo parar de pensar em tudo que aconteceu, já tentei, mas agora não dá, eu não estou conseguindo te perdoar. – Cléo  chorava

-- Então o que você pretende fazer?

-- Eu preciso de um tempo para pensar.

--Então você está me pedindo um tempo?

--Eu preciso desse tempo, preciso organizar melhor minha cabeça, vou pegar minhas coisas e vou para casa da minha mãe, só precisamos conversar como faremos em relação a tudo.

--Não precisa ir para casa da sua mãe, fica aqui com a Isa. – Leticia disse enxugando as lagrimas que caiam

--Mas essa casa é sua Leticia, seu avó deixou para você.

--Não Cléo  essa casa é nossa e eu te disse que nunca mais você ficaria desamparada, naquele dia que trouxe você para morar comigo eu te prometi que aqui agora era sua casa. – Ajoelhou-se na frente da mulher – Só saiba que eu te amo mais que tudo nessa vida e nunca isso mudará – Beijou a testa dela, levantou – Vou pegar umas roupas -- Saiu para o quarto, lá pegou umas roupas deixando as lagrimas cair, não estava acreditando que a mulher não conseguiria perdoa-la colocou na mochila as roupas, ao chegar na sala encontrou Cléo  na mesma posição.

--Para onde você vai?

--Não sei, acho que vou ficar lá com o Beto – Aproximou-se ajoelhando-se na frente da mulher – Posso te dá um beijo? – Cléo  nada respondeu, apenas puxou Leticia para um beijo,  um beijo calmo, cheio de sentimentos confusos, mas sentimentos. – Eu vou de moto, posso voltar amanhã para ver a Isa?

--Pode voltar quando quiser Leticia.

--O que vamos falar para ela nesse tempo?

--Não sei, vou conversar com a Bruna para ver a melhor maneira de falar com ela, depois eu te digo, vou pega-la ainda hoje, não quero que ela falte muita aula.

--Tudo bem, qualquer coisa me liga. – Leticia se ergueu deixando a casa e sua felicidade ali, subiu na moto e foi pilotando lentamente para a oficina.

Fim do capítulo