Nem consigo imaginar o motivo dos seus relacionamentos não durarem.
O beijo de Juliana, ao contrário dela, era calmo e sereno, e durou tantos segundos que me fez pela primeira vez na vida perder as contas. Confesso que desde que a conheci pessoalmente pensei muitas vezes se um dia aquele momento aconteceria, mas nem em meus melhores sonhos era tão perfeito.
O primeiro beijo logo se tornou o segundo, terceiro, quarto…
Juliana deitou-se sobre mim e nos enrolávamos no tapete, sem pressa ela tirava meu casaco enquanto minhas mãos desajeitadamente erguiam sua blusa.
— Aiii! – Juliana gem*u quando a blusa raspou em seu machucado na testa.
— Desculpa, desculpa – pedi tirando-a de cima de mim para conferir se havia arrancado um dos pontos.
— Está tudo bem, só ardeu um pouquinho – ela massageou a testa enquanto eu olhava preocupada. — Onde paramos? - ela me olhou com uma cara safada.
— Paramos aqui.
— Não! Vem cá – Juliana me puxou e eu me esforcei para não ceder.
— Podemos ir mais devagar? Eu não quero misturar as coisas e estragar tudo – suspirei para afastar a tentação de me jogar nos braços dela e recomeçarmos. Nunca fui do tipo romântica apaixonada que se envolve facilmente, porque sou fã da autopreservação do meu pobre coração, mas com a Juliana eu não estava muito preocupada com meu sofrimento, só não queria que as coisas entre nós ficassem estranhas.
— Ei, você não vai estragar nada – ela passou a mão suavemente pelo meu rosto e me arrancou um sorriso tranquilizador. – Somos adultas e estamos nos divertindo, não tem nada de errado nisso. Não vamos estragar nada.
— Como você consegue ser tão maluca e agitada, mas também tão fofa e tranquila?
— Você vai se acostumar.
— É a segunda vez que diz isso. Está pensando em me manter por perto tempo suficiente para me acostumar?
— Isso ou fazer você fugir. As duas coisas são possíveis quando alguém me conhece bem.
— Sinto que já conheço, mas sei que existem mais coisas ai dentro do que as que você esconde atrás do seu rostinho bonito de blogueira.
— Você nem faz ideia dos segredos que carrego – Juliana disse e eu não consegui identificar se era apenas brincadeira ou realmente ela escondia algum mistério sombrio.
— Vamos dormir? – perguntei ao vê-la bocejar.
— Posso ficar aqui? Odeio quartos de hotel, morro de medo de dormir sozinha.
— Claro! Vem, vamos deitar – a puxei pela mão ajudando-a se levantar. – Não podemos nos atrasar amanhã, é minha primeira reunião com sua mãe.
— Por falar nisso, será que podemos não contar o que aconteceu para ela? – Juliana pediu envergonhada enquanto se enfi*v* embaixo do edredom. – Ela ainda não sabe que eu…
— Beija meninas?
— Isso! Eu vou contar, mas tem tanta coisa acontecendo agora e não sei como lidar.
— Não se preocupe, linda. Não vou dizer nada – me deitei ao lado dela e virei para encará-la.
— Obrigada.
Eu já não a enxergava como Juliana Garcia, intocável estrela do Colombo e famosa influencer digital. Depois dessa conturbada noite, ela era Juliana. Incrivelmente desequilibrada e frenética, mas também gentil, carinhosa, engraçada e no final das contas apenas mais uma mulher espetacular obrigada a esconder seus desejos e sentimentos para parecer perfeita.
— Você faz muito isso?
— Me esconder em um quarto de hotel para beijar uma garota? Claro, essa é a … - ela fingiu contar nos dedos. – A primeira vez.
— Então quer dizer que sou sua primeira? – brinquei enquanto ela carinhosamente desarrumava meus cabelos.
— Viu como você é especial? – ela piscou. – Meus relacionamentos com garotas não costumam durar, acho que sou um pouco intensa.
— Ah, sério? Eu juro que nem tinha reparado.
— Aposto que você nunca teve um primeiro encontro tão singular quanto esse.
— Tem razão, acidente de carro, fingir uma amnésia, hospital, vinho roubado, você sabe mesmo como conquistar uma mulher.
— E ainda salvamos um filhote de gambá!
— Olha, eu nem consigo imaginar o motivo dos seus relacionamentos não durarem – falei enquanto ela aproximava o rosto do meu e me beijava. – E com um beijo desses, eu realmente não sei.
— Sua família sabe? – ela perguntou depois de um tempo em silêncio.
— Sim, sou assumida. Tínhamos um clube LGBT no Esperanza, meu irmão era o presidente e eu era vice – falei com um pouquinho de tristeza ao pensar nos meus amigos do vale tendo que lidar sozinhos com Magno.
– Que legal! Poderíamos ter um desses no Colombo. Como eles são?
– Ah, você viu o meu pai se despedindo, ele é um chorão sensível! Minha mãe é um pouco mais dura porque teve péssimas experiências com os pais que surtaram quando ela entrou para o circo, mas ela tenta não repetir os mesmos erros. Meus irmãos são incríveis, mesmo com todas as brigas e pertubações, não consigo imaginar uma vida sem eles. Sou suspeita para opinar, mas toda minha família é maravilhosa, com exceção do meu tio Magno, é claro.
— Ele me dá arrepios. Nunca vou perdoá-lo pelo que fez aos seus avós – Juliana disse baixinho entre um bocejo.
— Como assim? – perguntei e não tive resposta, ela já estava dormindo profundamente.
Eu lutava contra o cansaço e o sono porque não queria acordar e correr o risco daquele dia ter sido apenas um sonho quando Juliana passou um braço ao meu redor e me puxou para perto. A última coisa que pensei antes de apagar foi em como ela me deixava assustadoramente confortável.
Fim do capítulo
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mariaclara2604
Em: 18/05/2020
que lindas, espero que a gabi não fique com medo e termine tudo. to amando, Ray. bjsss
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