POV FERNANDA

       O dia amanheceu chuvoso e frio como o meu humor eu estava preocupada com Julia, e pra piorar tudo Celio chegou em minha casa na noite anterior aos prantos. Ele não conseguia dizer o que tinha acontecido e minha mãe e eu tentava o acalmar.

      Eu fiquei horrorizada com a atitude do pai dele, se é que podemos o chamar de pai isso é um monstro. Não conseguia compreender a atitude de Camila, o que ela ganhava com isso?

     Pelo menos essa ida até a casa de Julia ia me trazer respostas, e eu ia tirar esse peso das costas de uma vez.

    Seu Luís emprestou a camionete velha dele pra Celio levar a gente até a fazenda dos Barrosos, e cada vez que a gente se aproximava meu coração parecia sair pela boca.

     Chegamos até a casa grande e como estava chovendo minha mãe resolveu bater na porta da frente mesmo, Celio ficou na camionete tentando descobrir o motivo do farol não querer acender.

    A ansiedade estava me matando, tinha passado tanta coisa na minha cabeça, pensei que ela tinha voltado pra capital, pensei que ela não gostou de ficar comigo, pensei até que ela estivesse doente, mas nada justifica o sumiço dela.

  Seu barroso abriu a porta solicito como sempre, puxando a gente pra entrar.

-Dona Marta, que surpresa boa, Fernanda como você está? Cada dia mais linda isso posso garantir.

     O que eu vi depois que passei pela porta me fez querer correr dali pra bem longe, me fez querer cavar um buraco na terra e entrar. Julia beijava a namorada bem ali na frente de todos.

    Eu engoli o choro, acho que caiu a ficha e o ódio tomou conta de mim, eu queria distancia dela cumprimentei seu Afonso e disse que iria à caminhonete ajudar o Celio.

    Eu corri, corri daquele lugar, corri de Julia, corri de mamãe, queria correr de mim mesma.

-Fê, o que aconteceu? – as lagrimas caiam sem que eu tivesse controle sobre elas. – Fernanda, me fala o que aconteceu lá.

     Nesse momento Julia vinha correndo atrás de mim, eu não queria ouvir nenhum tipo de explicação dela, eu a queria longe de mim.

-Fernanda, vamos conversar, não foi nada disso que você está pensando. – Ela despejava as palavras em um folego só.

-Eu não estou pensando nada Julia, eu vi. – Eu sai dos braços de Celio e a encarei. – Você não me deve explicação Julia, pode voltar pra sua namorada.

-Namorada? Como assim gente? – Celio tentava entender a confusão. – Alguém me explica o que aconteceu lá dentro?

-Baby, vamos conversar em outro lugar, me deixa explicar o que aconteceu. – Julia tentava segurar minhas mãos, suplicando por atenção. – Por favor?

-Meu nome é Fernanda pra você, e eu já disse que não quero conversar com você, você não me deve explicações, pra você foi só mais uma boba que caiu no seu papo. – Eu tentava controlar minhas lagrimas, eu não queria ouvir nada do que ela me dizia, eu vi o que aconteceu, o ciúme e o ódio falavam mais alto. – Celio, vamos minha mãe já está vindo.

      Celio estava mais pedido que cachorro no forró, ele tentava me consolar e tentava entender Julia. Minha mãe se aproximava seguida por seu Barroso e Sarah vinha logo atrás.

    Eu tinha os olhos vermelhos e não queria que ninguém descobrisse que eu estava chorando, limpei meus olhos e abaixei a cabeça.

-Vamos meninos? Algum problema por aqui? –Mãe sempre sente quando as coisas não estão bem.

-Nada não tia Marta, só estávamos esperando a senhora. – Celio se pronunciou antes que minha mãe desconfiasse do climão que se instalou. –Julia depois vocês conversam, quando ela estiver mais calma.

      Mamãe entrou no carro se despedindo dos demais, e Sarah parece que percebeu o que rolou estava rolando, ela me olhou com um sorriso deboche e agarrou Julia novamente e a beijou.

-Amor, não demora quero repetir a nossa noite. – Julia a empurrou, mas Celio já tinha dado partida no carro.

 Não resisti e permiti as lagrimas novamente.

      Eu estava decepcionada, eu não queria acreditar que a primeira pessoa pra quem eu me entreguei pudesse fazer algo assim comigo. Mesmo que foi só um beijo, mas ela fez promessas, ela me fez apaixonar por ela, os beijos dela deviam ser meus agora, mas ela estava dividindo eles com outra pessoa.

    Chegamos em casa e eu já ia correr pro quarto, mas mamãe me segurou e disse que tínhamos que conversar.

-Filha, eu estava esperando você me chamar pra ter essa conversa, mas acho que eu quem vou ter que começar. – Mamãe me puxava pra sentar. – Filha, eu ouvi algumas pessoas comentando sobre você, e o que aconteceu com Camila e Maria Julia.

         Minha mãe jogou tudo assim na lata sem meias palavras, eu não esperava que minha mãe descobrisse pela oca de vizinhos fofoqueiros.

-Ma... mamãe, eu não... – as lagrimas teimavam em cair.

-Filha nos sempre fomos amigas apesar de tudo, sempre estive aqui pra você. – Minha mãe também derramava algumas lagrimas. – Filha você jamais precisa se esconder por conta de opiniões alheias, você é a melhor filha que uma mãe poderia ter, não é por você gostar de meninas que eu vou deixar de amar você.

     Eu não gostava de meninas, eu gostava de Julia, só tinha espaço pra ela no meu coração.

-Mamãe me perdoe eu quis te contar, mas não tive coragem. – eu abraçava minha mãe. – eu não queria que fosse assim.

- Fernanda não tem o que perdoar, só não gostei de saber disso pela boca de dona Marieta fofoqueira. – mamãe riu da situação. – agora eu quero saber o que Julia fez pra você estar assim?

       Contei tudo pra minha mãe, quer dizer quase tudo né tem coisas que os pais não precisam saber dos detalhes, minha mãe era minha melhor amiga, sempre foi e agora tenho Celio na minha vida. Ela ouvia tudo com atenção, contei desde o dia que eu a conheci e de como ela mexeu comigo, contei como ela me deixava com borboletas no estômago que parecia que eu ia até as nuvens quando ela me beijava.

      No fim mamãe me envolvia em um abraço carinhoso e dizia que tudo ia se acertar, mas eu não acreditava nisso. Quem sou eu pra competir com um mulherão igual Sarah? Eu sou só uma garota interiorana.

-Mãe, agora eu só quero focar na minha mudança, na minha faculdade. – eu já tinha parado de chorar nesse momento. – Eu não quero mais saber de ninguém dessa cidade além da senhora, que até hoje não sei por que não quer ir com a gente pra capital.

-Filha eu ainda tenho coisas pra resolver aqui, mas prometo que quando você já estiver bem instalada eu não vou descartar a ideia.

- Tudo bem mãe, vou fazer o possível pra isso ser o mais breve possível.

       Eu ia pra capital com um emprego quase que garantido, a filha do seu Luís tinha uma loja de roupas e ele tinha ajeitado um emprego com ela pra mim, mas não dava pra manter, mamãe eu e as crianças, e agora Celio que fazia parte da nossa família.

Fim do capítulo