Uma história super antiga que encontrei perdida numa pasta há muito esquecida. Espero que gostem... ;)
Capitulo 1
Paula
Acordei aquela manhã com o meu celular chamando. Com má-vontade, às nove horas de um domingo curto demais para eu descansar, atendo.
Do outro lado a voz já conhecida da minha avó me convida para um almoço em família naquela tarde. Ela me diz que toda a família estará lá e que preciso ir vê-la com mais freqüência.
Desligo o telefone prometendo a ela que farei o possível, mas que estou muito cansada por ter trabalhado por toda a madrugada.
Saio da cama já que não consigo mais dormir e tomo um banho demorado, tentando arrancar de mim o meu amor por ela e a minha raiva da minha família. Não sei o porquê não consigo esquecê-la após todos esses anos e julgar que há tempos não vejo nem meus tios nem meus primos sem sentir um pingo de falta deles.
Somente a minha avó é digna do meu sentimento, já que não suporto a idéia de perdê-la também.
Era para ser apenas uma paixão entre primas se não fosse o triângulo e a tremenda confusão que se formou dentro de nossa família. Eu, Érica e Marcela mal sabíamos o que estávamos fazendo até crescermos e vermos que dos beijinhos avançamos para algo um tanto mais... adulto.
Agora, cá estou eu, há cinco anos não as vejo. Sei que Marcela, como eu, se casou, e que irá com o seu marido e filho. Já sobre a Érica nada sei além de que tinha concluído a faculdade de direito e que trabalhava em casos importantes.
Érica foi a que mais sofreu quando dois primos nossos, o Hudson e Flavinho, nos flagraram. Estavam só nós duas e além da família, tivemos que suportar a fúria de uma Marcela ciumenta que, agindo por um impulso maldoso, contou a todos tudo o que vinha acontecendo entre nós três.
A família jogou toda a culpa em cima de Érica que, como mais velha, se viu responsabilizada por uma história que eu comecei. Mas ela não era a Marcela, carregou consigo toda a culpa sem nada dizer.
Saiu da casa dos pais e foi para a faculdade. Nesse intervalo nunca mais nos vemos. Sei que ela visita a vovó, a quem é muito apegada. Sei também que tem uma boa convivência com os pais e o irmão, pessoas que na época ficaram ao lado dela, sabendo que ela sozinha não fizera nada.
Agora, estou tremendo dos pés a cabeça porque sei que mesmo noiva e feliz, ainda não a esqueci apesar de todos esses anos, que mais parecem séculos, dada a minha saudade dela.
Visto uma roupa mais simples e vou para a casa da minha avó. Sei que Marcela estará lá com sua nova família e que Érica, a que realmente mexeu comigo, estará lá também.
Érica
Silêncio na sala de estar. A porta de um carro luxuoso bate lá na rua. Todos sabem que não falta ninguém a não ser... Érica.
O coração de Paula e de Marcela vão até a boca.
Entro na casa da minha vó com a cabeça erguida. Agora não serei mais a menina que se calou anos atrás. Sei que o que fiz não foi errado e que não fiz nada sozinha. Agora estou preparada para debater, discutir com essas pessoas preconceituosas a quem chamo de família.
A sala está imóvel. Vovó está sentada em sua poltrona gigantesca olhando para mim. Todos me olham sem nada dizer. Vovó se levanta com a ajuda de Marcela e vem me dar um abraço.
_ Quem bom que veio, minha filha!
Ela está radiante e ninguém ousa contrariá-la.
_ Está mais magra do que da última vez em que a vi.
_ Nada, vó, impressão da senhora.
Vovó me pega pela a mão e as pessoas tentam demonstrar normalidade. Vamos até a cozinha onde a cozinheira prepara uma comida que cheira deliciosamente.
Converso com a mulher e me sento à mesa a cozinha. Me sirvo de um pedaço de bolo e um gole de café.
_ Me diga, o que tem feito da vida? Tem saído? E os casos?
_ Bom, vó, só saio de casa para o escritório. Estou com dois casos neste momento e creio que eles vão me ocupar por muito tempo.
Vovó me olha com atenção.
_ Você está bem mesmo?
_ É claro, vó, tão bem que resolvi cumprir a promessa que fiz para a senhora e aqui estou.
Algumas pessoas começaram a rondar a cozinha e sinto que já não podemos conversar à vontade.
Vovó se levanta e vai até o quarto onde uma tia minha parece não se sentir muito bem.
Continuo sentada comendo e converso com a cozinheira.
Cinco minutos depois, eis que surge na cozinha, Paula.
Vi-a quando cheguei rapidamente e agora posso vê-la melhor. Está mais bonita, mais alta também. Pelos meus cálculos, deve estar quase se formando em história.
Ela abre a geladeira para pensar, literalmente, até decidir pegar o leite. Coloca-o sobre a mesa e estou de olhos baixos. Não quero que pense que estou tremendo toda e sei que ao olhar nos meus olhos ela será capaz de notar isso.
Ela despeja o leite em um copo, mistura um pouco de toddy e se senta à mesa. Penso em me levantar quando sinto uma mão na minha coxa:
_ Espera, preciso falar com você.
Não sei se foi o calor das mãos dela ou o jeito em que me pede, sei que permaneço imóvel à mesa.
_ Pois diga. _ digo olhando nos olhos dela, enfim.
_ É bom ver você novamente.
_ Que bom que alguém aqui se sente bem com a minha presença além da vovó.
Ela sorri para mim e eu não entendo.
_ Olha, acho melhor não darmos motivos para conversas indesejadas. _ digo e me levanto após retirar a mão dela da minha perna.
Ela parece triste agora, parece que mil anos se passaram e levaram consigo a alegria que há poucos anos eu ainda enxergava em seu rosto.
_ Eu nunca te esqueci.
Estou de costas e não posso olhá-la. Ela continua:
_ Nunca a esqueci e acho que nunca vou conseguir me perdoar por ter te abandonado quando você mais precisava de mim.
_ Não fique assim. Já não há motivos para lamentações. Por favor, não se sinta mal. O que passou, passou.
Ela se levanta e se aproxima de mim, que estou próxima da pia. Tento me afastar e ela me segura pelo braço. Nesse momento, como naquelas novelas mexicanas, Marcela entra na cozinha.
A cozinheira se afasta porque sabe que dali uma discussão nascerá.
_ O que está acontecendo aqui? Já não basta o que aconteceu e você volta para causar mais confusão?
Abaixo a cabeça e tento sair da cozinha. Agora a mão de Marcela segura meu braço.
_ Você não vai sair assim, de fininho. Me diga o que está acontecendo aqui.
_ Com certeza, algo que não lhe diz respeito.
Retiro a mão dela do meu braço e volto para a sala. Lá, um primo, que também é gay, se aproxima e conversamos animadamente até ouvirmos gritos vindos do quarto de visitas.
Corro até lá com o meu primo e somos os primeiros a chegar. Paula está caída no chão e Marcela está em cima dela. Elas rolam no chão e enquanto Moisés retira Marcela, levanto Paula que tenta avançar sobre Marcela. A porta do quarto está fechada e por sorte só nós dois ouvimos toda a confusão.
_ Eu vou matar você sua descarada.
_ Cala a boca, Marcela, eu vou te bater.
Sentir o corpo de Paula novamente contra seu corpo, mexia com Érica e ela mal podia se controlar.
Marcela se solta dos braços de Moisés e sai do quarto enfezada. Largo Paula e ela fecha a porta do quarto. Depois se volta para mim e me beija. Moisés sorri sem-graça e resolvemos sair dali.
_ Precisamos ir para algum lugar mais tranqüilo. _ diz Paula.
_ Realmente vocês precisam. _ brinca Moisés.
Saímos do quarto e logo damos um jeito de escapulir do almoço. E lá estou eu, no meu carro, parada numa rua deserta, vendo Paula descendo de um táxi e logo atravessar a rua, e depois entrar no meu carro e depois fechando a porta e entrando de vez na minha vida. E dessa vez estou decidida a ir até o fim, custe o que custar.
Marcela
A terceira prima assiste a cena enquanto chora. Parada dentro do carro vê quando uma prima entra dentro do carro da outra e dirigem em direção ao motel mais próximo. O que elas não podem sequer sonhar é que ela também quer participar do revival. E por isso Marcela desliga o telefone enquanto o marido liga insistentemente, ela celera pela cidade aflita.
Fim do capítulo
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