#Laura:

No horário, combinado por Julia, estávamos todos no Veneza. Faltava apenas Gustavo, será que ele iria sozinho?!-pensei. Desde meu retorno para Belém, ainda não havíamos conversado. Como éramos todas freqüentadoras do bar desde a época da faculdade, só estava faltando recebermos carteirinhas de sócias fundadoras. Os garçons já conheciam os gostos de todas: bebidas, comidas, tudo.

Tinha um tempo que não ia ao Veneza, nos fins de semana ou estava cansada da correria da semana ou estava com Adriana e preferíamos ficar no meu ou no apartamento dela. Foram raras, as vezes que saiamos juntas. Reencontrei algumas meninas que não via a muito tempo, recebia cantadas de umas, dispensei outras. Sinceramente, não estava afim de ficar com ninguém. Apesar de tudo, Ana Carolina não saia da minha cabeça..Coração e cabeça falavam a mesma língua, já não era mais dona de meus pensamentos e o coração?...esse era de Ana Carolina.

Ainda não tinha parado na mesa onde estavam as meninas, tanto que só percebi que Gustavo havia chego, porque senti uma mão a tocar meu ombro…

-Ei, mona?! não fala mais?! 

-Aham...oi bicha...tudo bom?!- estava gostando de rever aquele menino Nos abraçamos, Gustavo falou com as meninas que estavam até então conversando, falou ao meu ouvindo, disfarçadamente...

-Discretamente, olha lá para mesa...tem uma surpresa para você!   

Já sabia de quem se tratava, mas mesmo assim olhei para nossa mesa e meu coração saltou de tanto alegria, na minha barriga parecia que tinha um monte de borboletas, me senti como uma adolescente...ri dos meus pensamentos.

-Pede licença para elas e vamos lá para mesa...

Me despedi das meninas, prometendo voltar mais tarde para conversar com elas. Junto com Gustavo, seguir para mesa onde as meninas e Ana Carolina estavam. Antes de chegar perto delas, o vocalista da banda que tocava o conhecia a bastante tempo, me puxou e falou que depois gostaria de cantar comigo. A banda era a lá Pupunha, eles tocavam ritmos caribenhos, mpb e o que mais o público pedisse. Prometi que mais tarde, cantaria com a banda. Quando mais jovem tive uma banda, tocávamos mais por hobby. Quando estava triste gostava de tocar violão, comparava o violão as curvas do corpo feminino, daí a preferência por este instrumento, rs. Segui com Gustavo para junto das meninas.

Acho que Ana nem percebeu minha chegada, já estava enturmada com as meninas. Vanessa que tinha chego sozinha, já estava acompanhada da sua namorada. O namoro, dela estava durando. Para nós era estranho, porque depois de um mês ela enjoava da pessoa. Todas, torcíamos para que ela enfim tivesse encontrado a sua metade da laranja. Gustavo foi para o outro lado da mesa e eu sentei-me entre Júlia e Juliana. Só ae que Ana percebeu minha chegada. Apenas me cumprimentou com cabeça, fiz o mesmo. Percebi que ela estava bebendo caipirinha, estranhei porque na boate ela recusou qualquer tipo de bebida...deixa para lá- pensei...

Desde que minha chegada, não comi nem bebi nada, uns dos garçons chegou perto e pedi uma caipiroska. Fiquei um tempo conversando com as meninas. Foi então que Júlia perguntou se não iria cantar, porque sempre que íamos ao bar pelo menos uma música tinha que cantar ou tocar algo. Era sagrado!

Gustavo se juntou as meninas e ficou perturbando para que fosse cantar. De longe observei, que Ana estava conversando com as meninas, mas depois que cheguei se resumiu apenas a responder o que lhe perguntavam. Será que estou impondo minha presença a ela?-pensei..Mas poxa, se ela veio com o Gustavo sabia que estaria aqui, não perderia por nada a festa de Júlia, que para mim era mais que minha melhor amiga, era minha irmã. Não nos encarávamos, mas sempre percebia seus olhares em mim. A música parou e o vocalista da banda, chamou para cantar com ele. Como havia vários conhecidos nossos, o pessoal começou a gritar para que fosse para o palco cantar. Levantei e fui.

Como a banda é bem eclética em termos de músicas, combinei com os meninos que cantaria uma música americana, pois seria voltada inteiramente a uma pessoa: Ana Carolina- pensei...todos concordaram...se tratava de Halo – Bethany Joz Leny...

Como a mesa em que estávamos era próximo ao palco, cantei sempre olhando para ela. Já que não tínhamos nos encarado até aquele momento.t Tinha que agir rápido, cantei olhando em seus olhos e ela em momento nenhum desviou o olhar de mim.

O tempo parou como no dia do beijo. Era apenas eu e ela...o resto do pessoal...tinha mais gente lá?! vixi...Nem reparei, para mim só havia nós duas naquele bar. Terminei de cantar e o pessoal começou a aplaudir pedindo bis. Foi então, que percebi que não estávamos sozinhas, que pena. Começaram em coro pedir que cantasse Soul de verão - Sandra de Sá. Atendi ao público, novamente cantei olhando única e exclusivamente para Ana...ela mais uma vez não desviou o olhar de mim. Mesmo com a insistência do pessoal pedindo para que continuasse a cantar, gentilmente falei que mais tarde cantaria. Entretanto, Júlia e Juliana começaram a gritar para que cantasse para elas Tarde Vazia – Irã. Não poderia, recusar a cantar para as minha amigas, então com o vocalistas da banda, fizemos um dueto. Ele com a primeira voz e eu com a segunda. As meninas, cantaram junto e o pessoal do bar se juntos a nós. Após, atender a este pedido é que me deixaram sair do palco. Quando ia descendo do palco, encontrei um vendedor que estava dentro do bar vendendo rosas. Comprei uma e segui em direção a nossa mesa, já tinha visto de longe o vendedor, tive a idéia de comprar a rosa para Ana. De propósito fiz um percurso maior. Peguei a rosa e dei a ela. Ficou espantada com a minha atitude, sempre gostei de ser imprevisível, agir por impulso apesar de esta me sentindo uma adolescente. Sabia, que com Ana tinha que ser devagar. Tinha que ser diferente, ela era diferente das outras meninas com que tinha me envolvido. De fato, ela era muito especial. Era tal qual a rosa que beijei e entreguei a ela, sem desviar o olhar do meu, gentilmente agradeceu.

-Esta rosa é para você...entreguei a rosa para Ana

-O..obrigada...estava um pouco nervosa com a minha atitude

-Não precisa agradecer...é de coração- sorri para ela...

Ficamos a nos olhar por um breve tempo e depois sentei me perto das meninas. Gustavo e ela se levantaram e foram na direção do banheiro. Depois que saíram, fiquei ouvindo as gracinhas de Júlia, Juliana e Vanessa. Júlia, sabia muito por alto a respeito de Ana. Sabia que foi desde o dia em que a conheci que decidir colocar um ponto final no meu caso com Adriana. Contei a ela, nos mínimos detalhes desde o dia em que nos vimos pela primeira vez no autódromo até o dia em que viajei. Júlia atentamente me ouvia. Tanto ela quanto as outras.

-Bom...foi isso o que aconteceu!- falei olhando para ela e esperando uma posição...Júlia sempre sabia o que dizer...

-Posso ser sincera?!- falou séria..

-Não só pode como deves, por favor...estava nervosa e ela percebeu que pegou em minhas mãos

-Você está apaixonada e isso é lindo!...depois de tanto tempo...se permita ser feliz, você merece! . enquanto falava segurava em minha mãos...aquele contato estava me passando segurança…

-Mais ela é hetero, Júlia...isso é roubada...não quero sofrer...

-olha, ela sendo hétero ou não, sofrer faz parte de uma relação, seja ela qual for...se para você ser feliz ao lado dela ou de qualquer outra mulher precisar sofrer não tenha medo...vi nos olhos dela que você mexe com ela...você cantou o tempo todo olhando para ela...quando entregou a rosa para ela, os olhos de vocês duas brilharam...se isso não é paixão, então não sei que tipo de sentimento está nascendo entre vocês...falou sincera

Vanessa nos avisou que Ana e Gustavo estavam voltando e cortamos o assunto. Ana tocou em meu ombro e falou que gostaria de falar comigo. Concordei. Levantei e ela falou que gostaria de ir para um lugar mais calmo. Estava muito barulho. Concordei com ela e decidimos ir para o carro dela para conversarmos. Saímos do bar e seguimos rumo onde estava estacionado o seu carro. Destravou o carro e entramos. Ficamos um tempo sem nos olharmos. Até que ela quebrou o silêncio. Como o carro era peliculado, quem estava fora não poderia nos vê.

-Você está bem?! falou e se virou para mim...

-Bom...até agora estou bem...fiz o mesmo e me virei para ela...

-Que bom...tenho algo para lhe falar...estava nervosa -Deixa que eu te ajudo...começa pelo início, é mais fácil...brinquei com ela, quem sabe assim ela não baixava a guarda- pensei

Ela riu da minha brincadeira...já falei que o sorriso dela me desarmava e que era lindo?! acho que sim...era lindo, gente! ! 

-Você esta de bom humor mesmo...está tirando uma comigo...falou rindo de novo...

-Estou ao lado de pessoas que amo...já ganhei o fim de semana- falei séria

-Não sabia que você além de engenheira também cantava super bem!

-Sei fazer muitas coisas, se você, der a oportunidade de lhe mostrar...falei olhando em seus olhos...

-Assim você me deixa sem graça…

-Desculpa, não foi minha intenção...peguei em suas mãos e as beijei...sem claro desviar o olhar dela 

- Gustavo me deu os seus números...celular, da sua residência e até o da empresa...tem algum problema?! 

-Claro que não...sempre que sentir vontade, pode ligar, fique a vontade...enquanto falávamos, segurava suas mãos...

-Na segunda, quem estava ligando para você era eu...falou me encarando e logo em seguida baixando a cabeça

-hum...eu suspeitei...ninguém me liga e fica apenas querendo ouvir minha voz.. sorri para ela..soltei sua mãos e delicadamente segurei seu queixo levantando sua cabeça...ela deixou e ficou a me olhar...

-Queria falar com você, mas sempre que você atendia...ficava sem voz...fui dura com você ...queria me desculpar!

-Ei...ei...para de se desculpar por tudo...relaxa...bom saber que alguém gosta da minha voz...tinha que quebrar aquele clima estranho que começava a se instalar entre nós...

Nada mais dissemos. Ficamos nos olhando, nada mais precisava ser dito. Apesar de estar morrendo de vontade de beijá-la, não queria correr o risco de tomada por um impulso deixá-la com medo. Ela baixou a cabeça. Continuei olhando para ela. Levantou a cabeça e foi se aproximando de mim, nossos rostos ficaram bem próximos. A respiração estava começando a ficar acelerada. Fechei os olhos, ela me beijou. Foi fantástico beijo. Calmo, cheio de carinho e de saudades. Ela segurou minha nuca e o beijo foi se intensificando. A segurei pela cintura, nem eu nem ela queríamos sair daquele contato. Paramos de nos beijar, porque estava faltando o ar para ambas. Mas ela permaneceu com a mão na minha nuca e as minhas mãos em sua cintura.

-Ouvir quando você falou, que o beijo na boate para você não tinha sido um erro...que faria tudo de novo!

-Achei que você não tinha ouvido...praticamente a aeromoça arrancou o celular da minha mão-falei rindo

-Pois foi exatamente o que você falou, que me deu coragem para estar aqui e agora com você. Deu coragem, para dessa vez eu lhe beijar. Não parei de pensar em você, um segundo sequer desde o dia da boate. Para mim, está tudo muito confuso. Sempre namorei e fiquei com homens Com você esta sendo tudo tão diferente, você mexe muito comigo, até mais do que gostaria. Me sinto bem a seu lado, você me faz um bem enorme- falou olhando em meus olhos.

-Você também mexe muito comigo, como ninguém fez...sinto como uma adolescente quando estou com você...faz muito tempo que não sei o que é me apaixonar…

-A mulher que estava com você no autódromo?! ficou a me encarar...era ou é sua namorada?! - estava séria...

-Ela se chama Adriana e não era e nunca foi minha namorada, digamos que tínhamos uma amizade colorida...ela estava séria demais...tinha que brincar...

-Tinham?! e não tem mais?!- continuava séria...

-Desde a primeira vez que lhe vi, não parei de pensar em você...na mesma semana rompemos...tinha e tenho um carinho por ela, somente...

Nunca foi dada a explicações, para ninguém dos meus atos. Com que dormisse, saísse, isso não era da conta de ninguém. Não queria que ela tivesse uma idéia errada de mim. Que achasse que estaria brincando com ela, com seus sentimentos. Estava com a melhor das intenções com ela, tudo era diferente. Queria deixar a imagem de pegadora no passado. Estava começando a gostar da idéia de ser de apenas uma mulher e queria muito que fosse ela. Ana, me ouvia com profunda atenção. Ao terminar de falar, me deu um selinho.

-Acho que é melhor voltarmos para o bar...devem esta sentindo nossa falta...não acha?! 

-Puts...será que estão?! está tão bom aqui com você- falei sorrindo e ela ficou vermelhinha...achei lindo

Ela me roubou um beijo e decidimos voltar para o bar. Ao chegamos, Vanessa e a namorada já estavam dançando. Gustavo estava conversando com um menino em uma mesa próxima a nossa. Júlia e Juliana estavam conversando, mas nada falaram quando chegamos. Sabia que depois, teria que contar tudo a elas nos mínimos detalhes. Sentamos e dessa vez fiquei ao lado de Ana. Estava na cara que a conversa tinha tomado um outro rumo. Éramos pura felicidade, estávamos com cara de bobas. Ana falou bem pertinho do meu ouvido, que gostaria de me ouvir cantando mais uma vez e perguntou se sabia cantar can’t enough of your love baby...respondi que sim..Levantei e falei com o vocalistas da banda, que aceitou na hora que cantasse mais uma. Falou, que várias pessoas já tinham lhe perguntando se eu voltaria a cantar.

-Gostaria de lhe ouvir a cantar mais uma vez, pode ser? 

-Claro...qual é a música que gostaria de ouvir?! 

-Can’t enough oh your love baby – Barry White...conheces? 

-Conheço sim… -Todas vez que você ouvir essa música, lembre-se de mim...adoro!  -Seu pedido é uma ordem.. sorri para ela...

Oferecir a música para ela e para todos os casais apaixonados. Ao fim da música, fui aplaudida.  para mesa e ela agradeceu. Sorrimos uma para a outra, ficamos conversando com as meninas. Vanessa e a namorada se juntaram a nós na conversa e um tempo depois Gustavo. Assim, transcorreu a noite. Todavia, como tudo que é bom dura pouco já estava na hora de Gustavo e Ana Carolina irem embora..Júlia e Juliana como estavam sem carro acertei com elas que as levariam. Vanessa estava de carro e falou que daria uma esticadinha com a namorada, todos rimos. Pagamos a conta e fomos embora.

Estava entrando no carro, quando vejo Ana vim correndo em minha direção e me entregar um papel.

-Tenho todos os seus números, está aqui o meu e estendeu a mão para me entregar o papel...

-Ah ta..obrigado...abri o papel e vi que era seu número de celular.. sorri para ela

-Me liga?!- falou sorrindo

-Claro que sim.. sorri de volta

-Estarei esperando!

Me deu um beijo no rosto e voltou para seu carro. O jeito dela, de menina me encantava. Entrei no carro e recomeçaram as gracinhas de Júlia e Juliana. Estava tão feliz, que nem estava ligando para as duas. Deixei-as em suas casas e segui para a minha. Estava com um sorriso bobo, estampado no rosto e o motivo daquele sorriso tinha nome: Ana Carolina. Antes de dormir, fiz o que prometi, liguei para ela.

-Alô?!  -Sabe quem está falando?! falei rindo...

-Claro que sei- sorriu também...

-Para lhe provar que sou uma mulher de palavra, estou ligando...liguei apenas para lhe desejar um bom dia...

-Bom dia para você também... Já ia desligar quando ela falou  -Obrigado pela noite quando lhe verei novamente?! 

Fui pega de surpresa que fiquei muda...

-Oi?! Laura?! você ainda está ae?! estava preocupada

-Ah?! to...estou...aqui sim...

-O que houve?! o gato comeu sua língua?! ouviu o que falei?! 

-Ouvi o que disse e não foi gato que comeu minha língua, mas uma bela gata- comecei a rir...

-Besta...então quando nos veremos?! 

-Quando você quiser...estava toda boba...isso será um encontro?!

 -Hum encontro?! hum...poderá, só depende de você...

-De mim?! como assim?!

 -Mais tarde ligo para você e acertamos de sair, pode ser?!

 -Pode ser sim...ficarei aguardando...

-Beijos... -Beijos...

Desligamos com a certeza que mais tarde nos veríamos novamente. Adormeci, com um sorriso nos lábios e Ana no pensamento.

Fim do capítulo