Capítulo 1
Uma tempestade de fim de verão assola a cidade, então resolvo ir até uma cafeteria charmosa, que fica no caminho de casa. O lugar está vazio. Me sento perto da janela e já peço meu cappuccino e um pedaço de bolo de nozes. Tiro meu notebook e resolvo pesquisar sobre o tema que meu chefe pediu para escrever: “O que há após a morte física?”.
Não sou religiosa e confesso que nunca pensei muito profundamente sobre isso. Sou um tanto cética e como jornalista de uma revista virtual sempre escrevi sobre psicologia comportamental. Igor, meu chefe, disse que eu estava ficando um tanto acomodada por escrever quase sempre sobre temas parecidos e que iria me desafiar. Conhecendo meu ponto de vista um tanto quanto lógico demais, resolveu me presentear com esse tema tão distante de mim.
Dentre todas as religiões, seitas e sites científicos que pesquisei, um site de Umbanda me chamou a atenção. Salvei nos meus favoritos e resolvi que iria visitar.
Acordo no dia seguinte e quando abro a janela, me deparo com um sol escaldante e um céu de um azul lindíssimo. Impossível acreditar que na noite passada caiu aquela tempestade. Faço meu ritual de sempre, dou bom dia para Frida minha gata indomada, me espreguiço e me alongo, vou até a cozinha preparar meu café forte e sem açúcar. Sento na cadeira de vime que fica na varanda do meu apartamento e ligo meu notebook. Café em mãos, continuo minha pesquisa de ontem.
Leio milhares de artigos, estudos e até algumas bobeiras que falam sobre vida após a morte. Incrível como a internet disponibiliza uma gama infinda de informações, é preciso muito cuidado para não cair nas notícias falsas, sem nenhuma base, apenas especulações. Fica a dica!
Abro o site que salvei ontem sobre Umbanda. Leio cada artigo sobre os Orixás, pontos cantados, a história de como nasceu a religião. Vou navegando por ele até que me deparo com um ícone onde mostra o perfil da autora do site. Sofia Meireles, uma mulher de rosto delicado, pele alva, cabelos lisos e castanhos, olhos com um brilho bonito e leve. O perfil descreve uma psicóloga formada na USP e com doutorado em Teologia. Pelo que entendi, ela está há uns bons anos à frente desse site. Nele mostram os dias e horários que a casa de Umbanda funciona. Hoje é terça e resolvo ir na quinta-feira dessa mesma semana. Algo naqueles olhos me intriga.
Bom, depois de tanto falar, deixe-me me apresentar. Me chamo Claudia e tenho 32 anos, sou formada em psicologia e jornalismo. Solteira por opção e sem filhos por falta de opção. Me considero bonitinha, normal. Tenho 1,67 e esqueçamos o peso. Sou o que chamam de mulher encorpada, quase cheinha. Cabelos até os ombros e castanhos como meus olhos, traços comuns. Nada linda e nada feia. Apenas comum. Sou lésbica assumida e vivo com a Frida, que já apresentei certo? No momento sem nenhum relacionamento romântico, acho que estou num período sabático da minha vida.
Nos dias que antecedem minha visita ao centro, continuo minhas pesquisas e minha vida normal. Adoro cozinhar e mesmo sozinha, sempre preparo minhas refeições. Se pensou que sou daquelas que amam programas culinários, acertou!
Chega quinta e me dirijo ao centro. Como abre às 20 horas, resolvo chegar mais cedo para tentar conversar com alguém que possa me tirar tantas dúvidas.
A casa fica no Cambuci, numa rua pequena e arborizada. Ela é térrea e toda branca, tem um pequeno jardim na frente, o portão é baixo e na cor azul claro. Parece uma casinha do interior. A porta principal está aberta e resolvo entrar, olho para os lados e avisto um senhor dentro de uma sala que tem várias cadeiras de plástico.
- Boa noite.
Ele me olha e dá um sorriso doce.
- Boa noite menina, em que posso ajudar?
- Me chamo Claudia e sou jornalista, gostaria de conversar com o dirigente da casa.
- Sobre o que a menina gostaria de conversar?
De forma sucinta explico meu motivo por estar ali. Ele pede licença e sai da sala. Ando pelo lugar e vejo alguns avisos, imagens de santos e uma parte toda fechada por uma cortina branca rendada. O lugar é bem limpo e fico intrigada com a cortina que fecha uma boa parte da sala.
- Aí é o terreiro, só abrimos quando iniciamos a gira. – uma voz suave me faz virar.
Ela se aproxima e estende sua mão.
- Prazer, sou a Sofia.
Devolvo o cumprimento e ao tocar sua mão, sinto um arrepio. Não consigo tirar meus olhos dos seus. Realmente são encantadores! Ela é pouca coisa menor que eu, sua pele de uma brancura linda, seu sorriso traz luz.
- Prazer sou a Claudia. – finalmente consigo falar.
- Sr. Manoel me disse que é jornalista.
- Sim. Estou fazendo uma pesquisa e gostaria de conversar com alguém que consiga tirar minhas milhares de dúvidas. – sinto meu sorriso trêmulo.
- Temos uma pequena sala aqui, podemos conversar mais tranquilamente.
A sala fica logo depois da porta principal e de fato é pequena. Tem apenas uma mesa, três cadeiras e uma armário de madeira.
- Me diga, no que posso te ajudar?
Explico sobre minha reportagem e como achei aquele centro. Ela me ouve sem interromper. Com voz calma e suave, começa a falar e eu vou anotando tudo.
- Aqui somos um terreiro de Umbanda, como popularmente esse diz, de mesa branca. Só trabalhamos com gira de direita. O local fechado com a cortina é o terreiro propriamente dito, onde tem o Congá e onde as pessoas se consultam com os médiuns.
Percebendo minha cara confusa, ela se encosta na cadeira, me brinda com mais um lindo sorriso e me diz:
- E que tal então você assistir hoje a gira e marcarmos outro dia, para eu te explicar melhor?
- Com certeza!! – não poderia ser mais perfeito para mim.
Fim do capítulo
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Cristiane Schwinden
Em: 03/05/2019
opa, vem continuação por aí! parabéns!
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