Capítulo 17: Juliana: Surpresas, imaginação e rancor
SÁBADO DE MANHÃ:
Os dias passaram devagar desde que eu tinha voltado ao Rio. A maior parte do tempo, incluindo quinta e sexta, eu estava triste e estranhamente desanimada. Nem o trabalho que eu tanto gostava, me proporcionava alegria. Até os meus pais reclamaram da minha falta de assunto. Muito mal, quis detalhar a viagem. Preferi cobri-los de beijos cheios de saudades, e depois me tranquei no quarto, pois os meus pensamentos só iam a um lugar: onde Bia estava.
Eu e Bia nos falávamos pelo telefone várias vezes durante esses dias. Eu driblava a minha chefe, que estava nos atormentando com o trabalho atrasado, só para ouvir a voz dela. Só não nos falamos tanto mais, porque teve um dia que Bia ficou um pouco ruim da garganta. Consequentemente sentia dificuldades em falar. Fiquei muito preocupada e me sentindo culpada por não ter ido a Búzios cuidar dela. Como eu faria, não é mesmo? Era longe e eu precisava trabalhar. As ligações diminuíram, mas, continuamos nos comunicando com mensagens pelo WhatsApp.
O Sábado começou desanimado, como todos os outros dias sem o sorriso da Bia. Pra piorar o humor, eu teria que trabalhar e não havia a menor possibilidade de ir para Búzios, tampouco Bia viria ao Rio. Era aniversário da mãe dela. Com mãe não dá pra disputar, né?
Fiquei um pouco preocupada com Bia. Eu tinha mandado algumas mensagens para o celular dela pela manhã, mas ela não me respondeu. Quando retornou, parecia ocupada. Imaginei que estivesse envolvida com a festa da mãe e parei de importuná-la, bem de vez em quando trocávamos uma mensagem.
Ainda tinha quase meia hora antes de sair de casa. Então tomei banho, coloquei uma blusa qualquer e fiquei deitada na cama com o celular ao meu lado. Olhava para ele de vez em quando. Cheguei a ouvi-lo tocar, acredita? Mas foi somente a minha vontade que se manifestou, nada de Bia ligar.
Ouvi duas batidinhas na porta, ergui a cabeça para ver quem era e Dri entrou no quarto sorridente. Acenou pra mim. E eu olhei o relógio. Marcava nove e quarenta. Eu sairia às dez horas para o trabalho.
– Esse porteiro do prédio é um saco! – Disse enquanto se aproximava e beijava o meu rosto.
– Você sempre provoca o coitado, Dri! – Retribuí o beijo.
– Nem buzinei hoje, Jú!
– Sei… – Balancei a cabeça negativamente – Caiu da cama? – perguntei curiosa pela visita tão cedo.
– Que carinha é essa? – Sentou-se ao meu lado, ignorando a minha pergunta.
– Saudade… – Puxei um travesseiro e abracei-o com força.
– Ah! – Passou a mão nos meus cabelos, ajeitou uns fios atrás da orelha – Vamos pra Farme à noite?
– Tô sem vontade… E esperando… – Peguei o telefone. Num impulso liguei novamente para Bia, mas só chamada.
– Ela já tá vacilando, né? – Sorriu, puxou-me para um abraço. Abraçou-me, mesmo tendo um travesseiro enorme entre nós – Ah, Jú! Vamos pra Farme! Todo mundo vai estar lá! A Vê…
– O que tem a Vê, Dri? – Sai do seu abraço, joguei o travesseiro para trás – Você sempre fez de tudo pra gente não se encontrar… Porque essa novidade agora de me dizer onde ela vai estar?
– Seus sentimentos por ela mudaram mesmo? – Fitou os meus olhos, a Dri sabia que não eu não sabia mentir se olhassem nos meus olhos.
– Sinto um carinho muito grande pela Vê, mas… A Bia… Bom… – Suspirei, logo tapei minha face com as mãos, devido ao pensamento que eu tive – É tudo diferente com ela. Mais intenso, entende?
– Safada! – Jogou-me uma almofada que estava na poltrona ao seu lado – Mais um motivo pra você ir pra Farme. Seria bom encontrar com a Vê, não acha? Tirar a prova dos “nove”. Que tal?
– Que grande besteira, Dri! – olhei o relógio, estava quase na hora de sair para o trabalho, levantei-me e fui até o guarda-roupa – Estou muito envolvida com a Bia, não preciso me submeter a nenhum teste.
– Acho que você tá fugindo de um… “cara a cara” com a Vê.
– Estou fugindo de uma ressaca de carnaval que não terá graça sem a Bia!
– Será mesmo? – Terminou de dizer a frase ao meu lado. Pegou uma blusa em uma das minhas gavetas – Veste essa! – Disse – Você fica linda com essa.
Peguei a blusa das mãos dela.
– Eu não vou! Vou trabalhar hoje, estarei cansada.
– Ah, Jú! Vamos comigo! – Fez aquela cara de pedinte que só ela tinha – Hoje também deve tá rolando a maior ressaca de carnaval lá em Búzios. Duvido que a Bia não vai… Isso se ela já não estiver por aí aproveitando o sábado.
– Deixa de ser venenosa. A Bia estava doente e hoje é a festa de aniversário da mãe dela.
– Falou como se a Bianca fizesse questão de ficar em festa de velhos.
Olhei o telefone em cima da cama. Se Dri queria me deixar com a pulga atrás da orelha, ela conseguiu, viu? Tava estranho mesmo a falta de notícias da Bia. Dormindo eu acho que ela não estava, pois tinha ficado online a poucos minutos. Mas não me respondia. Só de imaginá-la sozinha em uma ressaca de carnaval, o meu coração saltava do peito e uma dor inexplicável queimava dentro de mim.
– Vamos! Vamos! Vamos! Vou te dar uma carona pro trabalho. – disse enquanto eu terminava de calçar os sapatos – Vai trabalhar, depois eu te ligo pra gente combinar certinho o encontro com a galra hoje à noite.
– Vou pensar. Mas fique você sabendo: se eu for, será apenas para reencontrar os nossos amigos e me distrair. Não tem nada a ver com a Vê. Eu nem tenho vontade de vê-la.
– Olha, se você não se sentir bem, eu venho embora contigo!
– Vou pensar.
SÁBADO ÀTARDE:
O meu expediente foi terrível. Uma correria sem fim. Minha chefe pedindo milhões de coisas, falando nos prazos e cobrando que déssemos conta de tudo o que estava atrasado. Meus pés doíam, minha cabeça doía, meu coração doía, porque mal falei com Bia. Quando deu 18h eu consegui fechar o meu computador, com quase 100% das tarefas concluídas e saí da empresa. Eu estava na calçada indo para o ponto de ônibus quando o meu telefone tocou.
Era Dri, e não Bia. Lembrei da conversa que tivemos de manhã. Era cobrança, na certa.
– Oi, miga! – eu disse.
– Oi. Que voz triste.
– Tô cansada, só isso.
– Seguinte, vou encontrar a nossa galerinha na Farme pra tomar alguma coisa e jogar conversa fora. Você vai, né? – eu não respondi e ela continuou – Sabadão, Jú! Não vou te deixar ficar em casa.
– Não estou muito no clima.
– Fala sério! Sacanagem você não ir. Eu não vou aceitar desculpinhas. Pode dar seus pulos. Vamos tomar uma cerveja e tá acabado!
Respirei fundo. Ela falou, falou... Bom, tomar uma cerveja e conversar um pouco com o pessoal talvez fosse legal para que desencanar um pouco daquela tristeza e saudade que eu estava sentido da Bia. Infelizmente ela tinha um jantar de família e não poderia vir me encontrar.
– Tá bom, eu vou passar em casa, tomar um banho e depois te encontro lá. – Eu disse. Nos despedimos e eu desliguei.
Fiquei esperando a Bia me ligar, como disse que faria, mas nem sinal dela. Controlei a minha vontade de ligar para ela e controlei mais ainda os meus pensamentos por ser sábado, e saber que em Búzios as noites de sábado eram bem agitadas. No entanto, para onde eu ia também tinha muita agitação. Embora eu quisesse somente estar com ela. E se eu soubesse, pudesse prever o que estaria por vir, teria ficado em casa.
SÁBADO À NOITE:
Peguei um ônibus e fui para casa. Tomei um banho rápido para tirar um pouco o cansaço de um dia cheio de trabalho. Quando terminei de secar os cabelos o meu telefone tocou. Novamente corri para ver se era Bia, mas era Dri.
– Oie! – eu disse.
– Já saiu? – perguntou.
– Saio em dez minutos, vou pegar um táxi pra chegar mais rápido.
– Tudo bem, vem logo.
Desligamos o telefone. Eu terminei de me arrumar e saí de casa. Acenei para o porteiro, ele abriu o portão e eu ouvi um assovio. Olhei para o outro lado da calçada e vi Dri dentro do carro. Sorri enquanto balançava a cabeça negativamente. Ela não tinha jeito. Atravessei a rua, entrei no carro e me sentei no banco do carona.
– Queria garantir que você iria. – disse sorridente e me entregou um cordão de flores amarelas. – Ressaca de carnaval, aí vamos nós! – disse animada.
– Você nunca desiste, hein? – coloquei o cinto de segurança – Eu falei que iria, oras. Mesmo sem vontade, eu te dei a minha palavra e cumpriria.
Uma meia hora depois Adriana estava procurando uma vaga de estacionamento perto do posto nove, em Ipanema. Por sorte havia um senhor saindo de uma. Encontrar uma vaga tão boa como aquela era quase como acertar na loteria.
Depois de estacionar o veículo, Dri começou a ligar para as meninas. Descobrimos onde elas estavam concentradas e rompemos a multidãozinha animada que não queria que o carnaval acabasse nunca. Eu também não queria que tivesse acabado. Ficaria para sempre com Bia, em Búzios, um eterno bloco de amor. Nossa! Que pensamento brega.
Bom, andar naquele tumulto estava sendo praticamente insuportável, as pessoas se esbarrando umas nas outras, ao som de marchinhas. Nem parecia que era só ressaca de carnaval, os foliões pulavam o tempo inteiro com as latinhas de cerveja nas mãos. Nos esprememos um pouco, pedimos licença e enfim, depois de muitas cotoveladas, encontramos o nosso grupinho animado em frente ao bar Rota 66.
A primeira pessoa que eu vi foi Verônica, ela abriu um sorriso ao me ver. O que eu senti? Não sei explicar, mas, posso garantir que não era nada comparado com dor, nem saudade, nem amor, nem paixão… Era algo bem próximo ao carinho. Tivemos momentos bem legais, mas haviam, de fato, ficado para trás. Cumprimentei as cinco meninas que estavam com ela, depois recebi um abraço apertado de Verônica.
– Que saudade, Jú! – Beijou o meu rosto.
– Também senti saudades, Vê! – Retribuí o beijo, percebi que Verônica estava um pouco bêbada.
– Você tá linda! – Abraçou-me novamente. – Precisamos conversar – Sussurrou no meu ouvido.
Afastei-me dela. Olhei para Dri, mas a mesma estava berrando no telefone. Algo do tipo:
“Na Farme! Isso mesmo! Em frente ao Rota 66”.
Sem que eu pudesse perguntar quem era, ou simplesmente chamá-la para darmos uma volta, senti os braços de Verônica envolverem a minha cintura. Ela apertou-me forte, grudando o seu corpo no meu, logo capturou os meus lábios sem dar-me nenhuma chance de impedi-la. Fiquei tonta, sem ação e com os lábios dela presos no meu. Tentei afastá-la, mas meus braços estavam presos naquele abraço cada vez mais apertado. Assim que ela desgrudou os seus lábios dos meus, eu a olhei com toda a raiva que estava dentro de mim naquele momento. Verônica havia me agarrado à força, como aqueles carinhas idiotas que não aceitam que a mulher não quer nada com eles. Eu queria esganá-la naquele momento. Para duplicar a minha indignação ela sorria.
– Olha… – tentei dizer.
– Olha você Juliana! – Continuou sorrindo – Fiz a maior burrada da minha vida deixando você, quero corrigir isso, está bem? Eu te amo!
– Eu… Eu… – Num reflexo olhei para trás e vi Bia parada ao lado de Dri que a segurava pelo braço, provavelmente impedindo a sua dispersão, mas isso foi impossível. Quando nos encaramos, Bianca soltou-se das mãos de Dri e saiu correndo pela multidão. Virei-me novamente para Verônica e olhei bem dentro dos olhos dela ao dizer: – Eu não te amo mais! Agora é tarde pra gente. – puxei o meu braço que ela segurava e fui correndo atrás de Bia. Como o meu coração estava? Completamente dilacerado, pode apostar. Eu amava Bia, disso eu não tinha a menor dúvida. Pedia licença ao esbarrar nas pessoas. Num determinado momento parei. Olhei ao meu redor com as mãos na cabeça. Eu havia perdido a Bia de vista. Quando meus olhos a encontraram novamente, ela estava do outro lado da calçada. Gritei, mesmo que meu grito tenha sido sufocado pelo barulho das pessoas a nossa volta:
– Bia! Bia! Espera!!! – Disse e atravessei a rua em direção a ela. De repente, quando eu estava quase perto dela, vi a cena mais triste da minha vida. Bia agarrou uma diaba e a beijou loucamente. Fiquei atônita enquanto ela desaparecia na multidão com aquela menina a tira colo.
Fim do capítulo
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Val Maria
Em: 26/04/2019
Olá autoras!
Quero matar essa Adriana,pois ela aprontou direitinho e o romance das duas foi para o espaço.
Dri cobra maldita,espero que as meninas descubra sua safadeza e te der um pau.
JULIANA que mancada,beijar a ex! aff, mesmo ela forçando você não podia meter a mão nela.
Ju é você quem tem que ir atrás da Bianca e tentar conversar.
Entendo a Ju ,faria o mesmo ,a dor cega e o que mais se quer é ferir a outra parte.
Que elas se acertem logo viu autoras.
Beijos e até o breve capítulo.
Val Castro
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Mille
Em: 26/04/2019
Menina Adriana você está na nossa lista negra. Armou bonito para a Bianca e Ju se separar. O certo aeria sentar e conversar mais quem diz faz isso, no momento da cena??? Ninguém só nós leitoras.
Bjus e até o próximo capítulo
O livro ja pode ser comprado????
Resposta do autor:
OI MILLE!!!
Como assim a Dri tá na lista negra? Nem sabemos se ela fez algo! rsrs
Livro? Nunca pensamos... mas vai que um dia sai, né? BOa ideia!!
Obrigada!
Bjs
J. Hunter
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HelOliveira
Em: 25/04/2019
Poxa que triste, a Juh confiou demais na pessoa errada e agora vai sofrer até dá um jeito nessa bagunça.
Bia tb foi no impulso na hora raiva
Gnt quero ver como essa duas vão se entender agora
Aqui já esperando o próximo capitulo
Parabéns
Bjos
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Val_Az
Em: 25/04/2019
Porra! Indignada estou. A fantasia de diaba cairia perfeitamente em Adriana, essa sim merece esse título. Tá afim da menina e fica tentando fazer inferninho entre o novo casal. Puta que pariu!(desculpa pelo palavrão).
Certeza que ela armou esse encontro da Veronica com a Juliana, mas tinha que ser bem na hora que Bianca apareceria? Puts!
Estou cada vez mais apaixonada pela história e conto os dias para a próxima atualização de capítulo. Volto a dizer que há tempos não lia uma história tão boa e que dispertasse em mim essa ansiedade e felicidade por tamanha história de amor. Parabéns autoras, continuem nesse caminho... Um cheiro de uma potiguar fã dos seus trabalhos.
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Renata Cassia
Em: 25/04/2019
Essa Adriana é uma cobra mesmo . Armaou tudo. Volta logo autora. Espero q não demore pra descobrirem essa armação.!!
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