CapÃtulo 66 – Traumas
Traumas
Dou um suspiro cansado. Estou sentada encolhida em meu recamier. Estou abraçada as minhas pernas há horas. A mulher de olhos amarelados acaba de descobrir um dos meus segredos sujo. A toda corajosa Lizandra Arantes D´Barriel não passa de uma mentira. Ela é apenas uma mulher cheia de traumas e medo.
-Por que você tinha que fazer isso? - Digo baixinho.
Sim, eu morro de medo de cavalos. Morro de medo de está tão próxima a um. Imagine montar?! Isso foi mais uma das coisas que me roubaram. Simplesmente entro em pânico. Não consigo evitar. E agora ela sabe.
-Ela sabe! - Reclamo indignada.
Se eu ao menos disser tudo o que eu perdi. Tudo o que me fazia ser aquela garota, já não existe mais. Me arrancaram pedacinhos tão meus. E as vezes nem eu mesma me reconheço.
Se eu disser que tenho tantos traumas quanto forem possíveis, tenho tantos acúmulos de sujeira e lamaçal. Tenho todos os medos do mundo. Quem amaria alguém como eu? Quem se jogaria na chuva? Quem me salvaria da tempestade de ser quem eu sou? Existem coisas além da superfície. E até mesma eu tenho medo de mergulhar profundamente nessa melancólica certeza de ser eu.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Meu coração doe com uma saudade que nunca vai embora. Saudade de quem eu fui. De quem eu me tornaria. Saudade da garota que tinha todos os sonhos do mundo. Todas as certezas e confirmações. Saudade de uma fé genuína, pura e real. Saudade da profundidade em que eu sentia. Agora tudo é tão raso. Tão... Minha coragem é tão miserável diante de meus traumas e medos. Por que eu tenho medo, medo de coisas que eu já amei algum dia.
Não chego perto de um cavalo desde o momento em que minha última lembrança foi de uma pata caindo sobre mim e destruindo o meu mundo. Desde o momento em que perdi o meu melhor amigo. A última vez que eu montei, foi com Júpiter. Não que eu não sinta saudade de cavalgar, de sentir a liberdade de correr livre sobre os campos. Mas o meu medo é maior que esse ato. É como se algo disparasse em meu subconsciente, e simplesmente entro em pânico. Passei por coisas parecidas durantes esses longos dez anos. Os primeiros foram os piores. Mas eu tinha a vovó comigo para me resgatar.
-Vovó. - Sussurro saudosa.
Lembro-me da primeira vez que entrei em pânico em Nova York. Foi assustador. Pensei que não sobreviveria. Mas eu estou aqui, estou aqui depois de tudo. Eu continuo respirando. Continuo respirando apensar da dor.
Tinha dificuldades para dormir, e sempre que isso acontecia, acordava assustada após os mesmos pesadelos consecutivos. Eles duraram anos. Uma certa noite foi tão intenso que acordei com falta de ar. Havia acabado de sonhar com minha garota de olhos amarelados. Foi uma semana após minha partida do Brasil. Era uma dor tão intensa. Tudo era tão ressente. Eu tinha uma saudade tão grande que não cabia no peito. Mas eu estava tão magoada. Tão destruída com tudo o que aconteceu. Vovó Rúbia ficou tão assustada quando me encontrou quase desmaiada no chão. Eu só não conseguia respirar. Era como se os meus pulmões se negassem a trabalhar.
Com o tempo surgiram os gatilhos. Pra falar a verdade, eu apenas os descobrir. Por que eles estavam ali, apenas me esperando. Como um demônio espreitando a minha fragilidade. Sugando cada detalhe que me fazia ser eu. Destruindo mansamente meus sonhos. E minha realidade já não me pertencia. Por que tudo me foi arrancado bruscamente pelas mãos trágicas do meu destino. Por que estamos destinados a grandes acontecimentos, assim como a grandes tragédias.
Então passei até pavor de está perto de certas coisas que antes me eram preciosas. Passei anos evitando algumas situações. Não chegava perto de nenhum instrumento musical. Era como se a música não me pertencesse mais. Éramos como duas estranhas. Por que todas às vezes em que tentei e fracassei, era um pedaço meu que eu perdia. Era o meu elo precioso sendo maculado pela minha incapacidade. E eu já não a sentia.
Cavalgar?! Como eu poderia?
Então fui deixando pequenos pedaços meus pelo caminho. Eu perdi tanto. Bem mais do que qualquer pessoa imaginaria. Existem mais estragos em minhas profundezas. Existem muito mais cicatrizes do que as que estão expostas em minha superfície. Há mais estrago em minha alma do que há pessoas para culpar.
Se sou uma pessoa covarde? Às vezes, só às vezes eu sou a mais covarde de todas. Mas quem pode me julgar depois que...
-Chega! - Digo me pondo de pé. –Com coragem ou não a vida continua. - Sussurro baixinho limpando as lágrimas que insistiam em embaça a minha visão. “Você já enfrentou tanta coisa. Não vai ser isso que...” Penso irritada.
-Seja uma garota valente. - Sussurro como um mantra. –Apenas seja uma garota valente.
-Hey gostosa! - A mulher sorridente do outro lado da tela me cumprimenta alegre.
-Oi Lena. - Digo sorrindo-lhe de volta. Me acomodo na cama para conversamos melhor. –Estou com saudades. - Sussurro sincera.
-Também estou. - A mulher de olhos verdes diz me encarando amorosa.
-Como estão as coisas por ai? - Pergunto com calma. –Como estão Víctor e Henri? Espero que não tenham colocado a baixo o atelier?! - Digo fazendo careta pela ultima vez em que conversei com Helena.
-Você não faz ideia do quer é ter que ficar de olho naqueles dois. - Helena segura o sorriso.
-Posso imaginar. - Digo com saudade dos meus três mosqueteiros. –Espero que tenham resolvido a questão dos modelos da próxima coleção.
-Resolvemos, mas teremos que mudar a campanha da Rarson.
-Por quê? - Questiono sem entender o motivo da mudança se estava tudo pronto para a produção e o lançamento da nova coleção.
-Eles não aceitaram a antiga proposta. Falaram que não faz jus ao que eles querem para a nova campanha.
-Por que isso agora? - Digo sem entender. –Eles haviam aprovado a proposta. Então o que há de errado?
-A Darion veio com uma proposta diferente. E parece que eles ficaram com duvida se assinava com a gente ou com eles.
-Podemos fazer uma parceria com a Nika. – Minha voz soa calma. –Sei que eles adorariam. - Vejo a mulher me encarar com um semblante supresso. –Todos os lados sairiam ganhado. A Nika teria uma mega divulgação de sua nova linha de joias, a Rarson alcançaria a meta da nova campanha, e nós, a divulgação da nossa nova linha de roupas casuais.
-Como não pensamos nisso antes? - Ela sussurra mais para si mesma do que para mim. –Realmente você é neta de Rúbia. Você tem um timing perfeito para isso. - Seus olhos me encaram admirados.
-Não foi nada demais. - Digo acanhada. –Vovó pensaria em algo melhor do que uma simples parceria com uma linha de joias.
-Não é uma simples linha de joias, é a Nika! A maior fabricante de diamantes do mundo. Então não se subestime Liz. - Helena diz em tom sério. –Você tem se saído muito bem. Você com essas suas viagens malucas nós trouxeram os maiores e melhores parceiros do mundo.
-Não é o que parece. - Respiro fundo. –Tudo o que fiz foi fugir de minhas responsabilidades. Preciso voltar Helena. Preciso assumir o meu lugar na Arantes Model. Esse é o legado de vovó. E tudo o que eu tenho feito foi coloca-lo de lado.
-Você sabe muito bem que as coisas não são assim Liz. - Helena reclama me repreendendo. –Você pode até ter embarcado no primeiro avião que viu pela frente, mas você vem comandando muito bem a Arantes Model mesmo de longe. Você a fez crescer ainda mais nesses últimos dois anos. Então não menospreze sua capacidade.
-Que tipo de pessoa joga um legado no lixo? Por que eu estou fazendo exatamente isso com o legado de vovó, Helena. Estou deixando-o...
-Lizandra! - A mulher de olhos verdes reclama me chamando a atenção. –Já conversamos sobre isso. Então pare.
-Desculpe. - Digo contendo minhas emoções. Estou tão melancólica desde o episódio de hoje cedo com Samantha. -Obrigado por tudo Lena. - Sussurro sincera. –Não sei o que seria de mim se não fosse por você e os meninos.
-Não por isso. Como estão as coisas por ai? - Meu coração acelera apenas com essa pergunta. “Se ela soubesse? Se ela ao menos soubesse”. Penso mordendo levemente o meu lábio inferior. Contendo ainda mais o choro.
-Está tudo bem. - Desvio meus olhos da tela do notebook a minha frente. –Estou pensando em voltar logo depois da festa de aniversario de vovó. - Meus olhos se encontram novamente com os seus. –Chegou o momento de crescer.
-O que aconteceu? - Helena me pergunta com uma expressão agora séria e preocupada.
-Nada. - Exclamo sem muita convicção.
-Vamos Lizandra, te conheço muito bem, o que está acontecendo? - Ela diz se acomodando melhor na poltrona. –Da última vez que conversamos por vídeo chamada você não estava assim. Então pode ir falando.
Conversávamos todos os dias, mas era mais por mensagens. Então era mais fácil de esconder de Helena, Víctor e Henri. Eles estávamos em uma correria doida por causa da campanha da Rarson e do desfile de verão. Nunca deixei de estar por dentro do que acontecia com a Arantes Model durante esses dois anos. Demorei um tempo para me estabilizar emocionalmente. E eles seguraram toda a barra no começo. Mas agora não sou tão negligente.
Helena além de ser minha advogada é minha vise diretora, e uma amiga querida. Víctor está na frente do Atelier. Ele foi um achado. Acho que ele se surpreendeu tanto quanto todos nós com o seu talento escondido. Henri está na frente da agencia. Não poderia ter escolhido alguém melhor. Pra falar a verdade formamos uma excelente equipe. Só faltou vovó.
-Lena... - Digo momentos depois de um longo silêncio.
-Vamos lá Lizandra! Não fazem nem mesmo uma semana que conversamos por vídeo. E tudo estava bem. Então o que está acontecendo para te deixar assim? - Aqueles olhos verdes predem os meus. –E por que diabos não me falou nada hoje cedo por mensagem?
-Estou bem! - Minto.
-Não me venha com essa. - Ela suspira indignada. –Vamos lá, o que está acontecendo?
-Sam... - Digo com a voz embargada.
-Como? - Helena pergunta sem entender.
-Samantha. - Vejo os olhos da mulher a minha frente se arregalarem supressos.
De todos os meus traumas, amar a mulher de olhos amarelados é o mais assustador de todos.
Fim do capítulo
Boa tarde meninas! Estou adorando escrever essa estória fascinante. Estou viciada. Rsrsrs...
Então me digam o que estão achando. Por que é sempre bom ter essa certeza.
Esse capítulo explica um pouco mais sobre os traumas de Liz. Sobre os seus fantasmas e demônios. Talvez ela se faça entender um pouco mais.
Aproveitem, por que no momento estou transbordando inspiração. Rsrsrs... Agradeçam a música e a uma pequena decepção. kkkkk....
Bjus...
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LeticiaFed
Em: 08/04/2019
Geeeente, estou amando essa criatividade, mega inspiração e alta produção da nossa querida autora rsrs Está otimo, adorando ver Liz se soltando mais da carapaça que criou para se proteger. Entendo os traumas, mágoas, imensas perdas que teve. E a reação intensa, “exagerada” que vc explicou. Até passarei a implicar um pouquinho menos com ela hahaha Mas falando bem sério aqui: ela não fez algum tipo de terapia nesse meio tempo?? Porque está mais do que indicado, não lembro de ter sido mencionado isso, mas certo que faria um bem danado pra ela. Urgente! E Sam, como foram esses anos em que ficaram afastadas? Concordo com o outro comentário, quem sabe um capítulo narrado pela Sam? Mas acho que ela sofreu, sim, em menor intensidade mas claro que sofreu. Aproveita a inspiração e manda um extra by Sam ;) Beijos, boa semana!
Resposta do autor:
Boa noite!
Bom, vamos lá. Vou ficar devendo um capítulo narrado pela Sam, por que essa estória é toda em primeira pessoa. Então... Rsrsrs... É tudo pela visão de Liz. Conforme nossa garota de olhos azuis vai descobrir e vendo as coisas. Tudo vai se encaixando com o tempo. No momento certo.
Bjus..
Leitora anonima
Em: 07/04/2019
Menina cê num demorou nadinha eu tô gostando de vê. Pode mandar drama que nós gosta!!!
Resposta do autor:
Pode deixar! Rsrsrs... Também amooo drama.
Bjus...
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Kiss Potter
Em: 07/04/2019
Eu amei o capítulo. Gosto desse tema reflexivo sobre a vida. É sempre interessante ler sobre os "monólogos" internos da Liz.
Aproveita essa inspiração, eu também escrevo(não tão bem quanto vc) e sei como é difícil, estamos amando essa inspiração. Rsrsrs
Bjs e até o próximo
Resposta do autor:
Boa noite!
Realmente, ler sobre os dilemas internos de Liz é intrigante. Rsrsrs... E enquanto a aproveitar essa inspiração?! Pode ter certeza que estou. Apesar da correria de minha rotina.
Que ótimo! Escrever é algo fantástico. Mas jamais diminua o seu mundo escrito comparando-o com outro. Escreva, escreva pra você. Esse é o primeiro passo. Jamais deixe que interfiram nesse algo tão seu de forma negativa. Se deixe mergulhar. Viva cada virgular escrita. Se permita.
Bjus...
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