O dia amanheceu nublado e Valentina adorava entrar no mar quando o tempo estava assim. Pegou sua prancha e foi tentar esquecer a noite que teve com Rebeca. Algo dentro de si dizia que Rebeca sentia a mesma coisa, mas não entendia porque não ligava ou dava notícias.

- Oi Ricardo, desculpa aparecer de repente. Valentina está? – Ricardo engasgou quando viu Rebeca na porta.

- Desculpa – Se recompôs – Ela saiu para surfar, quer que eu te leve lá?

- Não precisa, eu encontro ela. Obrigada – Sorriu faceira.

- Que mulher é essa – Ricardo pensou alto enquanto via Rebeca se afastar.

   Depois de alguns minutos Rebeca encontrou Valentina, era a única surfista naquele horário com aquele tempo nublado que estava dentro do mar. Sentou na areia e ficou admirando aquela mulher linda. Seu plantão tinha terminado fazia umas duas horas atrás e resolveu ir atrás de Valentina, para matar a saudade que não admitia sentir.

***

- Nossa, tô impressionada, não sabia que aqui era tão espaçoso. Camila nunca me mostrou essa casa aqui. – Fernanda olhava ao redor.

- Não tem muita coisa, na verdade a minha sorte foi que eu tinha uma rede para dormir. Acordei cedo para comprar algumas comidas, se importa se comermos no chão? – Falou sem jeito.

- Claro que não, deixa eu te ajudar. – Falou pegando algumas coisas e colocando no chão. – Eu conheço uma loja de moveis usados, acho que vai gostar, tenho o dia livre hoje. Posso te levar lá – Falou displicente.

- Sinto que estou abusando de você.

- Vai ser um prazer te ajudar – Sorriu.

- Nanda, você precisa dormir, aposto que não descansou nada.

- Vamos fazer assim, a gente toma café, eu vou em casa descanso um pouco e volto mais tarde para irmos. Pode ser assim? – Felipa apenas fez um gesto afirmativo.

- Você e a Camila já tiveram algo? – Perguntou de repente e não entendeu que curiosidade era aquela.

- Já ficamos algumas vezes, mas não deu certo. Ela reclamava que eu não tinha tempo para ela, estava para me formar e realmente não conseguia dar a atenção que ela merecia, então resolvemos não ficar mais. Depois a gente se encontrou e construímos uma amizade legal. – Falava enquanto Felipa ouvia atenta. – Estou falando demais né?

- Não está, ela parece ser bem legal. Por que você não dá uma chance?

- Você sabe porque – Sorriu – Agora vamos comer que estou morrendo de fome – Mudou de assunto.

   Ali se construía uma amizade, onde uma teria a outra para chorar, rir, brincar, compreender e ajudar.

***

   Valentina saiu da água e a visão era de tirar o fôlego. Ela mexia nos cabelos e a cada passo que dava exalava sensualidade, mal sabia ela que estava sendo comida com os olhos. Teve um susto quando viu quem estava observando.

- Que surpresa, não me ligou – Estava muito feliz por ver Rebeca, não conseguia disfarçar. Não entendia como ficava tão boba perto dela.

- Desculpa Val, muito trabalho – Se aproximou e deu um selinho nela sem cerimônia.

   Valentina não estava entendendo mais nada, sempre ficava com quem queria sem se apegar a ninguém e agora estava ali, apaixonada por aquela mulher que bagunçava sua cabeça. Uma hora parecia querer muito e depois não querer mais. E aquele selinho? Pareciam namoradas.

- Quer dar uma volta comigo? – Rebeca perguntou.

- Que tipo de volta? – Arqueou a sobrancelha.

- Aquele tipo de volta – Sorriu com malicia no olhar.

- Dispenso, tenho coisas para fazer, vou começar a dar aulas de surf. – Não deu chances de Rebeca responder e saiu pisando duro.

- Espera – Puxou seu braço. – Vamos só conversar então – Insistiu.

- Rebeca – Olhou dentro de seus olhos – Você não me conhece, já usei esse papinho com muitas mulheres e sei o tipo de conversa que você quer ter. Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas estou me apaixonando por você e acho que o mundo se virou contra mim, porque usei tantas mulheres e agora você está querendo me usar, talvez eu mereça isso, e hoje posso dizer que não me orgulho das coisas que fiz. Então eu não sou seu brinquedo. Tenha um bom dia doutora – Deu as costas e saiu, não era fácil admitir que estava apaixonada por uma pessoa que fazia quase as mesmas coisas que ela já fez um dia. Sabia que iria ser um caminho de amadurecimento. Apesar do pouco tempo, sonhava em namorar e construir algo legal com Rebeca, mas pelo jeito não iria dar muito certo.

- Rebeca você é uma burra mesmo – Pensava alto enquanto via Valentina se afastar, desde que viu Valentina pela primeira vez sentiu algo bom, sabia que o cuidado que tinha com ela era diferente dos outros pacientes, mas não entendia o porquê. Depois da noite que tiveram, teve certeza que não teria mais volta, estava apaixonada, mas não sabia lhe dar com a situação. Aos 17 anos tinha se apaixonado perdidamente por uma garota da escola, mas essa só debochou de si, tanto que Rebeca prometeu a si mesma que não iria se apaixonar mais. Sentia que chegara a hora de esquecer e tentar ser feliz, mas ainda tinha que aprender muitas coisas.

***

- Você demorou demais, tô cheio de fome – Maicon reclamava.

- Oi para você também, não temos muito tempo, você vai ter que comer no carro – Estava nervosa, mas fazia de tudo para não demonstrar.

- Relaxa priminha, todo material que me mandou eu olhei com cuidado.

- Você se garante demais, todo cuidado é pouco. Não quero rastros, entendeu? Qualquer falha sua, você já sabe o que acontece.

- Não me ameace, lembre-se que também tenho contatos. – Encarou ríspido.

- Vamos parar com isso Maicon, diga de quanto precisa...

***

- Hummm – Ariel de olhos fechados recebia os carinhos de Gabriela.

- Amor, acorda – Falava com carinho, acariciando seus cabelos – Vamos aproveitar o dia – Tentava acordar a noiva com beijos.

- Se eu for acordada todos os dias assim vai ser perfeito – Falou ainda de olhos fechados sentindo os beijos em seu rosto.

- Sempre vou cuidar de você, agora vamos amor, por favor – Fez dengo.

   Ariel acordou e as duas foram tomar banho juntas para depois irem tomar café na padaria que ficava a poucos metros da casa delas.

***

   Manuela e Dandara foram acordadas com Camelo em cima da cama lambendo seus rostos.

- Oi Mau? – Dandara atendeu o telefone.

- Mauricio isso são horas de ligar – Manuela interrompeu falando perto do celular para o amigo ouvir.

- Fala pra essa criatura parar de ser abusada, eu ligo a hora que eu quiser a amiga é minha – Dandara colocou no viva voz enquanto Manuela ria, adorava provocar ele.

- Vou tomar banho amor – Falou dando um selinho na mulher – A amiga pode ser sua, mas a mulher é minha – Levantou e foi ao banheiro.

- Chata – Mauricio falou e Dandara desativou o viva voz.

- Vocês dois são um caso sério – Dandara falou.

- Amiga, vamos a praia? Faz tempo que não saímos juntos. Precisamos descansar gata – Falou animado. – Falei com Felipa, ela vai nos encontrar lá.

- Quenga você viu o tempo lá fora, vamos levar a maior chuva.

- E você é feita de açúcar mulher? Porfavorzinho Princesa linda do meu coração.

- Vou ver se Manu quer ir, te mando mensagem.

- Deixa essa criatura em casa – Brincou.

- Vocês não tem jeito mesmo, isso tudo é amor reprimido.

- Tá amarrado, meu negócio é outro. – Sorriu.

- Gata, posso te dizer uma coisa?

- Hum

- Você e Felipa são meus amores eternos, estava com saudade dos nossos apelidos e conversas, as coisas estão tão corridas pra gente.

- Vai me fazer chorar por telefone? Também amamos você e vamos realizar nosso sonho juntos. Agora vamos parar com isso, se você quer mesmo ir à praia tenho que falar com o amor da sua vida.

- Fala pra ela que mandei um cascudo de presente. – Desligaram entre gargalhadas.

- A festa estava boa hein – Manuela falou assim que Dandara entrou no banheiro.

- Mauricio chamou a gente para ir à praia, o que acha?

- Vamos sim, agora vem aqui – Puxou Dandara para si, ficaram embaixo do chuveiro. Se perderam entre caricias e beijos, Dandara nem se deu conta que ainda estava de pijama.

***

   Depois de conversarem bastante, Fernanda foi para casa prometendo passar na casa de Felipa para irem na loja dos móveis.

- Nanda, podemos conversar? – Rebeca entrou no quarto da irmã, sentou na beirada da cama ao lado de Fernanda que estava deitada quase cochilando.

- Beca, por favor, preciso descansar. Hoje o plantão foi puxado.

- Desculpa – Falou levantando e Fernanda percebeu que alguma coisa estava errada.

- Espera, senta aqui – Falou se sentando e chamando a irmã para fazer o mesmo. – O que está acontecendo?

- Acho que estou apaixonada pela Valentina – Falou triste. Contou o que tinha acontecido na praia e a confusão que estava dentro de si.

- Vocês se conhecem a tão pouco tempo.

- Não precisou mais de um dia para você se apaixonar por Dandara. – Disse séria.

- Desculpa, você tem razão. Não fica assim, estou aqui com você. – Abraçou Rebeca. – Sei que está assustada com tantos sentimentos, mas você merece ser feliz. – Pegou sua mão – Deixa o tempo dizer os próximos passos, deixa o rio correr livremente e tenta não fazer besteira – Sorriu.

- Posso ficar um pouco com você? – Falou carente.

- Deita aqui minha criançona – Colocou a cabeça da irmã em seu colo, fez cafuné até Rebeca dormir e depois de alguns minutos acabou dormindo também.

***

- Por que demorou tanto linda? – Dandara perguntou assim que Felipa se juntou a eles na praia.

- Tava arrumando algumas coisas e acabei perdendo a hora, Fernanda estava lá em casa.

- Não acredito que seus melhores amigos ainda não foram ver sua casa nova e você já convidou alguém antes de nós – Mauricio se doeu.

- Olha o drama, ela me ajudou a encontrar a casa que aliás é de uma amiga dela. Mas hoje à noite vocês dois iram dormir comigo e não aceito não como resposta.

- Já estou lá – Mauricio esqueceu que estava magoado.

- Que vendido – Dandara brincou – Eu super aceito – Fazia tempo que os três não dormiam juntos.

- Cadê Vitor e Manuela? Deixaram em casa? – Felipa perguntou vendo que só estavam os três.

- Foram dar uma volta, daqui a pouco acho que estão voltando – Dandara respondeu.

- Agora vamos falar de você, como estão as coisas mocinha? – Mauricio perguntou.

- Do jeito que está falando parece que nem trabalhamos a semana toda juntos – Felipa respondeu sorrindo.

- Bicha bruta, não quero mais – Mauricio respondeu e as duas riam do bico que o amigo fazia.

- Não fica assim Quenguinha. – Felipa brincou.

- Gente vocês não tinham um apelido melhor pra mim?

- Não – Falaram em uma só voz.

- Eu sei que vocês estão preocupados comigo, mas tô melhorando. Sinto muita saudade, mas sempre vou sentir. Foi bom eu ter encontrado um lugar para ficar, parece muito bacana. Já consigo dormir melhor a noite. Sinto que ele sempre vai estar comigo, aqui dentro – Apontou para seu coração.

- Ele quer que você seja feliz – Dandara pegou a mão da amiga.

- E você vai ser muito feliz – Mauricio fez o mesmo.

- Seremos – Felipa concluiu.

   Felipa a cada dia lutava para esquecer a dor. A partida de Daniel deixou muitas tristezas e amadurecimentos. Sempre iria existir saudades no coração de todos ali, os amigos nunca iriam esquecê-lo. Começavam a tentar deixar aquele dia horrível no passado e lembrar do amigo com amor, alegria, boas energias e boas lembranças.

Fim do capítulo