- A última coisa que queria agora é sair de perto de você – Alicia disse com o rosto escondido no pescoço da namorada e seus braços envolvendo a cintura dela colando os corpos das duas.

Depois de Giulio terminar toda a história da amizade entre o pai de Renato e Talitha e o filho mais velho do Velho Augustus eles continuaram por um tempo na sala. Cada um com seus pensamentos até Antonieta voltar a cozinha e Carlos e o pai retornassem a seus serviços deixando apenas as duas ali. Maia ainda estava um tanto abalada com a história, parte dela não conseguia acreditar que aquilo tudo havia acontecido e outra parte entendia perfeitamente como aquela história tinha acabado daquela maneira.

Naquele momento elas estavam nas escadarias em frente a varanda do casarão, Maia num degrau acima da veterinária de forma que elas estivessem na mesma altura. Era nítido o incomodo de Alicia em se afastar da mais nova, a preocupação ainda com a notícia da liberdade de Renato. Os olhos verdes encaravam o horizonte onde a estrada se perdia de vista com uma curva, suas mãos nas laterais do rosto e pescoço da namorada que tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo alto.

- Acredite, também é a última coisa que eu queria que fizesse, mas temos compromissos e obrigações a cumprir – ela respondeu puxando o rosto de Alicia de seu pescoço para que elas se encarassem – Tem pacientes para atender, senhorita veterinária – ela disse sorrindo e acariciando com os polegares a linha do maxilar da outra enquanto seus dedos e palma da mão estavam próximos ao pescoço da namorada.

- Eu sei – Alicia fechou os olhos com o carinho e soltou um suspiro cansado – Mas não me sinto bem sabendo que não vou estar ao seu alcance pelos próximos dias.

- Não tem que se preocupar comigo – Maia fala aproximando os lábios das duas para sussurrar contra os da veterinária – Vai ficar tudo bem, estarei em casa a semana toda trabalhando com contas e documentos. Ninguém além de Antonieta vai chegar perto de mim nesses próximos dias até sexta-feira.

- Eu venho te buscar ok? – Alicia abriu os olhos só para encarar o rosto próximo da namorada que olhava para baixo e não em seus olhos – Saímos do Rancho juntas pra sua consulta. Se der tudo certo eu venho dormir aqui de quinta para sexta, assim saímos bem cedo – ela completou sussurrando e apertando mais os braços em volta da cintura de Maia que deu um sorriso antes de colar as bocas em um beijo calmo e delicado.

- Vou estar te esperando – ela responde depois de alguns selinhos e elas afastam os rostos para se encararem, ainda sem saírem da posição em que se encontravam – Sabe, depois dessa história que Giulio nos contou eu comecei a pensar em algo – Maia voltou a falar com um pequeno sorriso causando outro maior ainda.

- Ah é? – a veterinária falou segurando o riso – Isso pra mim parece você tentando me fazer ficar aqui por mais tempo.

- Ninguém disse que não era – Maia falou mordendo o canto do lábio enquanto tentava e não conseguia não sorrir – Mas realmente me fez pensar em algo.

- Certo – Alicia riu baixo apertando um pouco mais seus braços em volta da cintura da outra para controlar a vontade que cresceu de beija-la por ela ter continuado a morder o canto de lábio – Em que pensou?

Maia desceu as mãos para o pescoço da namorada, seus dedos acariciando a nuca da veterinária, e sorriu soltando um pequeno suspiro ao se perder por alguns segundos nos olhos castanhos mel.

- Pensei que acho que tenho vontade de passar a usar o sobrenome da minha mãe – falou por fim enquanto deixava seus olhos vagarem pelo rosto da outra – Eu sempre usei Almeida, mas acho que agora quero usar o sobrenome da família do meu tio-avô.

- Tem certeza? – Alicia perguntou surpresa e viu os olhos verdes se fecharem enquanto Maia acenava positivamente com a cabeça antes de voltar a encará-la esperando por uma reação e uma opinião – Mas não seria uma enorme complicação? Digo... teria que alterar vários documentos, assinaturas entre outras coisas. Seria um processo complexo não? Seus documentos pessoais, assinatura registrada em cartório, essas coisas.

- Não – Maia riu pela preocupação – Não digo que vou alterar meu nome oficialmente, em cartório, ou reconhecer firma com uma assinatura diferente – ela começou explicando e inclinou a cabeça levemente para a esquerda – Na verdade seria mais eu me fazer conhecer com o sobrenome Augustus. Me apresentar assim, ser chamada dessa forma. Seria uma imensa burocracia alterar meu nome em cartório sim, mas mesmo que eu faça algo assim também não penso em mudar a assinatura. Na minha assinatura registrada em cartório eu uso apenas dois A’s e não o sobrenome por extenso.

- Aah, compreendo – Alicia respondeu finalmente entendendo a intenção da namorada – Você quer vincular sua imagem a família Augustus de uma forma mais clara e consistente. Talvez, pensando pelo lado econômico isso seja uma coisa boa. Esse sobrenome traz um peso na região que pode ajudar você nos negócios.

- Eu não pensei exatamente pelo lado financeiro – Maia deu um sorriso bobo deixando um selinho em Alicia antes de continuar – É que...bem, depois de toda aquela história eu apenas estou sentindo um certo orgulho da família Augustus, me identificando muito mais com esse sobrenome do que com Almeida que vem do lado do meu pai. Futuramente eu provavelmente altere meu sobrenome sim – ela disse contendo um sorriso – Mas aproveitarei para fazê-lo de forma oficial apenas quando me casar.

- Casar? – Alicia perguntou contendo seu próprio sorriso – Isso é uma proposta, Senhorita Augustus? – ela questionou usando intencionalmente o outro sobrenome.

- Talvez, senhorita Ferraz – Maia respondeu finalmente sorrindo e se inclinando para beijar a namorada, mas antes ela parou com seus lábios colados para sussurrar – Você vai descobrir no futuro.

Elas sorriram e se beijaram. Depois disso Alicia teve que realmente ir embora ou não chegaria a tempo de atender uma consulta marcada, mas elas combinaram que a veterinária e Maia iriam para a consulta da mais nova na sexta feira e, na volta, passariam o fim de semana juntas na cidade. Mesmo que Alicia preferisse que a namorada ficasse no Rancho onde ela realmente teria mais segurança para se manter o mais longe possível de Renato. Elas desconheciam que o rapaz havia saído da cidade e ido para uma das cidades vizinhas com a permissão de um juiz e com a condição de manter sua localização diariamente atualizada para as autoridades policiais. Apesar dos protestos do advogado de Maia, Renato poderia responder em liberdade, mas a dona do Rancho só saberia disso em alguns dias quando Márcio esgotasse seus recursos para manter o rapaz preso. De toda forma, aquela semana seria muito calma para ambas, até a sexta-feira onde Maia iria para a primeira consulta com quem seria seu novo fisioterapeuta.

Fim do capítulo