Capítulo 25 - Nunca será um fim!
8 anos depois...
- Saaaaai da frente! Mãe furiosa atrás...
Uma pequena e veloz menininha passou por uma Juliane que ficou sem entender absolutamente nada. A morena coçou a cabeça, olhando para a porta de madeira escancarada.
- Salve-se quem puder... – outro ser, igualmente rápido, passou por ela. – Salve-se quem puder...
Dessa vez foi um pequeno menino de cabelos que beiravam o loiro. As roupas estavam sujas e faltava um de seus sapatos.
- Mas, o que...
Juliane ficou assustada.
- Voltem aqui! - Micaela atravessou a porta, carregando duas mochilas com desenhos infantis. A morena estava de óculos escuro, mas era notória a sua fúria.
“Meu Deus, me proteja”. Juliane pediu em pensamentos.
- Amor, o que aconteceu? – perguntou com toda a calma do mundo.
- O que aconteceu? – Micaela bufou. – Deixa eu te contar o que aconteceu...
Juliane engoliu em seco.
- Aconteceu que os teus filhos andaram brigando na escola, Juliane... – Mica retirou os óculos. Seu rosto estava corado.
Mas não era pelo sol lá fora.
“Quando eles aprontam, são MEUS filhos”. Juliane não se atreveu a dizer aquilo, pois não queria multiplicar a fúria da esposa.
Sábia decisão.
- Mas, por quê? Eles nunca fizeram uma coisa dessas. – ela estava confusa e não se aproximava da esposa.
8 anos de convivência e havia aprendido os seus limites.
- Não me disseram. A mamãe disse que eles foram suspensos por quatro dias. Converse com seus filhos, Juliane... – Micaela saiu da presença da esposa, quase deixando um rastro de fogo.
Juliane respirou fundo, amarrando as madeixas longas e subiu as escadas para encontrar os filhos no andar de cima. Entrou no cômodo que os pequenos dividiam, pois Oliver, o mais novo, não gostava de dormir sozinho em seu quarto.
- Júlia, Oliver... Precisamos conversar. – se fez uns segundos de silencio e só então os dois saíram debaixo da cama com um sorriso que ganharia qualquer pessoa e Juliane quase se deixou levar, mas precisava saber o motivo da briga. Não podia cair naquela fofura. – Sentem aqui...
Ela bateu no colchão, sentando logo em seguida. Júlia segurou a mão do irmão, fazendo o que a mãe pediu. A menina havia herdado todos os traços físicos de Micaela. Mas, a sua personalidade era completamente diferente.
A mais velha sorriu, orgulhosa.
- Quero saber o que aconteceu. Quero que não me escondam nada. – ela falou o mais serena possível, tentando passar confiança aos filhos.
Eram sua vida.
- A culpa foi minha, mãe. – Júlia se pronunciou.
- Não foi, não. A culpa foi minha, mãe. – Oliver, que tinha uma doçura tão característica de Micaela, defendeu a irmã.
Eles estavam protegendo um ao outro. Juliane se sentiu orgulhosa dos pequenos, que aprenderam o primeiro mandamento dos três: nunca dedurar o outro.
- Meus filhos, a mãe de vocês está uma fera. Precisamos os três conversar com ela, mas primeiro vocês vão me contar o que aconteceu e eu prometo tentar livrar vocês dessa.
Os dois se entreolharam.
- Tudo bem, mamãe. A gente conta o que aconteceu.
Micaela olhava para o porta retrato em cima da mesa do seu escritório. Na foto, Juliane, Júlia e Oliver estavam fantasiados. Naquele dia, a família havia ido a festa de halloween da escola e Juliane fez questão de vestir a roupa de mulher-maravilha. Oliver trajava uma fantasia do personagem Flash e Júlia o de Super Moça.
Sorriu.
Júlia e Oliver nasceram com apenas alguns dias de diferença. Ela e Juliane decidiram fazer o procedimento, os dois eram irmãos de sangue, filhos do mesmo doador. Lembrou do batalhão que havia praticamente se mudado para a sua casa quando os filhos nasceram.
Suas melhores amigas.
Saiu de seus pensamentos quando ouviu as batidas na porta. Ajeitou-se em sua poltrona, assumindo uma expressão mais seria. Queria saber o porquê dos filhos terem brigado na escola.
- Podemos entrar? – Juliane, assim como os filhos, carregavam um sorriso. Ela conhecia muito bem aquela estratégia e mesmo não sendo totalmente imune, manteve a seriedade.
- Podem sim. Sentem... – viu a esposa sentar, Oliver e Júlia sentaram-se na mesma cadeira. Os três se encararam e depois olharam para a morena. – Já estou pronta para saber o que aconteceu.
- Não tenham medo... – Juliane incentivou.
Micaela cerrou os olhos, se indignando com o fato dos filhos terem dito a Juliane o que aconteceu e não a ela. Não sabia qual mágica a esposa utilizava para aquilo.
- Eu bati no Pedro, mamãe... – Júlia fiou séria. Micaela abriu a boca.
- Minha filha, por que fez isso? – a pequena olhou para Juliane.
- Conta, filha... – a morena incentivou a pequena.
- Porque ele bateu no Oliver e disse que erámos uma família de gente esquisita... – Micaela sentiu um peso no coração. Olhou para Juliane, que havia endurecido suas feições.
Viu que a esposa estava totalmente séria.
- Continue, filha...
- Ele chamou o Caleb de filho de sapatão... Eu não aguentei, mamãe... – a pequena ficou com os olhos cheios de lágrimas. Micaela saiu de seu lugar e se agachou de frente a filha, lhe dando um abraço apertado. Trouxe Oliver para o afeto.
Sabia que os filhos sofreriam preconceitos, mas mesmo assim não estava totalmente preparada para aquilo.
- Minha filha, o que você fez foi errado, mas mesmo assim eu ficou feliz que você tenha defendido seu irmão e o Caleb. Saiba que eu tenho muito orgulho dos filhos que vocês são. – a morena se emocionou. – A mamãe vai cuidar disso tudo... Tá bom?
- Tá bom, mamãe...
- Promete que não vai mais brigar com alguém? E você, rapazinho?
- Prometemos!
Micaela beijou demoradamente cada um.
- Subam e tomem banho. Daqui a pouco vamos almoçar, tudo bem?
- Sim, mamãe...
Os pequenos olharam para Juliane, que sorria boba. Saíram do escritório, deixando as mães a sós.
- Como consegue? – Micaela encostou-se na mesa, cruzando os braços sobre os seios. Encarou a sua esposa.
- Consigo o quê? – Juliane levantou, abraçando Micaela pela cintura.
- Fazer eles te contarem tudo? – a mais velha gargalhou, apertando a sua esposa.
- É segredo... – piscou, não dando tempo para a Mica dizer algo e a beijou com paixão, excitação. – Um dia te conto...
Micaela apenas revirou os olhos diante do convencimento de Juliane.
Cássia olhava chocada para as filhas, que acabavam de contar para ela sobre a briga que tiveram na escola com um menino mais velho que elas. Priscila, que tinha seis anos e Isadora de quatro, estavam sentadas ao lado de Caleb, filho de Melissa e Camila. O garotinho de cabelos negros, encarava o chão. Isadora segurava a sua mão.
Paloma iria ficar uma fera por saber que as duas levaram quatro dias de suspensão.
- Júlia e Oliver se machucaram? – perguntou para a filha mais velha. Sentia um misto de orgulho, preocupação e raiva.
Raiva por saber que os pequenos haviam sofrido tamanho preconceito na escola.
- O Oliver levou um soco, mas a Júlia acabou com aquele valentão... – Priscila sorriu. Caleb não dizia nada.
Cássia passou a mão pelos cabelos um pouco mais curtos.
- Caleb, você está bem? – a mais velha se agachou diante do menino, que a olhou com lagrimas escorrendo por sua face.
- Por que ele é mau, tia Cássia? – as palavras saíram um pouco emboladas por conta do choro que se iniciava.
- Porque há pessoas assim, pequeno. – ela o puxou para um abraço. – Mas, você deve mostrar a eles que no seu coração não há espaços pra isso... Vocês todos... – olhou para as filhas.
- Vim assim que a Micaela me ligou... – Melissa entrou como um foguete. Cássia soltou o pequeno que correu para os braços da mãe. – Oh, meu filho...
Melissa abraçou com força o filho que era dono de uma meiguice que ganhava qualquer pessoa. Beijou a cabeça do filho, sendo observada por Cássia, que sentou ao lado das filhas.
- O que aconteceu? – a morena perguntou. Cássia mostrou um sorriso amarelo.
- Segundo o que elas me contaram, um garoto mais velho na escola disse coisas feias a ele e aos filhos da Juliane. Júlia bateu no menino... – Cássia sabia que não deveria, mas não pode conter o riso.
Se recompôs.
- Micaela pediu que fossemos a escola amanhã. As provas acabaram hoje e amanha a escola estará vazia. – Melissa levantou com o filho no colo.
- Obrigada por ter buscado ele, Cássia. Vou pra casa, conversar com ele. Camila ainda não sabe disso. – pegou a mochila do filho que estava sobre o sofá. – Passa em casa mais tarde.
- Irei sim... Cuida desse garotão. – sorriu para Caleb. O menino adorava Cássia, pois ela sempre brincava com ele quando estava em sua casa.
- Tchau meninas... – Melissa se despediu, deixando o apartamento.
Cássia e Paloma, assim como Melissa e Camila, decidiram morar no mesmo edifício que Emily e Rebecca. Por ficar mais próxima ao condomínio que os pais de Paloma moravam com os irmãos.
- Vamos tomar banho... Ao menos quando a mãe de vocês chegar, não vai poder reclamar disso. – Cássia pegou as mochilas das filhas, indo para o quarto das mesmas.
- Mãe, a senhora esta brava com a gente? – Priscila perguntou, com os cabelos cheios de espuma. Isadora brincava com as bolhas.
- E por que estaria, meu amor? – beijou a ponta do nariz de Priscila. – Você e sua irmã são as coisas mais importantes que existe na minha vida. Fico orgulhosa que tenham defendido seus amigos.
- De verdade? – sorriu, mostrando um dente faltando.
Cássia se derreteu, não contendo uma lagrima que teimou em cair.
Sua família era a sua vida.
- De verdade!
Paloma abriu a porta de casa e a primeira coisa que notou ao passar foi a sala totalmente arrumada. Não era boba, nem nada e sabia que aquilo só ocorria quando a esposa ou as filhas aprontavam algo. Porque na maioria das vezes, o cômodo estava sempre com objetos fora do lugar.
Jogou a bolsa, junto com o blazer sobre o sofá e sentou, massageando as têmporas. O trabalho estava exigindo muito de si e depois de um plantão de várias horas, queria muito relaxar. Sentiu o aroma agradável vindo da cozinha e o estomago reagiu, mas antes de levantar para comer algo, retirou o celular da bolsa e desbloqueou o aparelho. Havia uma mensagem da escola das filhas e somente naquele momento havia notado. Ela abriu o recado e na mesma hora respirou fundo.
- Não acredito nisso! – contou de um até dez e se acalmou.
- Amor, nossa... Não ouvi você chegar... – Cássia sorriu e caminhou até a esposa. Lhe beijou carinhosamente. – A comida tá quase pronta... – falou empolgada, secando as mãos em uma guardanapo sobre o ombro.
- Oi, amor... O cheiro tá maravilhoso... – Paloma estava calma. Preferiu esperar Cássia abordar o assunto.
- Depois do almoço, precisamos conversas. As meninas e nós. – não esperava menos da esposa.
- Amor, recebi uma mensagem da escola. Só pude ler agora... Mas, não estão explicando nada. Não me diz que elas aprontaram... – Paloma se dirigia a cozinha com a esposa, ambas abraçadas de lado.
- É um pouco complicado, amor. Mas, prometa que vai ouvir tudo de mente aberta? – Paloma encarou os olhos da mulher. Sabia que Cássia sempre defendia o máximo que podia as filhas, ficando com ela a tarefa de ser mais dura, porém sentiu algo na esposa que a fez prometer o pedido.
- Prometo... – ela beijou a boca de Cássia.
- Isadora, Priscila... A mãe de vocês chegou! Desçam!
As meninas desceram, mas estavam bastante apreensivas. Abraçaram e beijaram Paloma, que apertou as pequenas contra si. Estava morrendo de saudades das filhas que não via desde o dia anterior. Trabalhar em hospital público era muito desgastante e consumia muito seu tempo. Se sentia mal por não estar acompanhando como deveria o crescimento das filhas.
- Perdoem a mamãe pela ausência, minhas pequenas... – se agachou diante das filhas. – Prometo que vou compensar todo esse tempo...
- Tá tudo bem mamãe... – Priscila segurou o rosto da mãe entre as suas mãos. – Eu sei que a senhora tava salva vidas... Digo isso pra todos os meus amigos.
Paloma sorriu emocionada.
- Mamãe ama muito vocês... Muito mesmo!
Nicole aproveitava o sinal vermelho e observava o filho pelo retrovisor, que estava distraído lendo um livro sobre ciências. O interesse pela matéria foi notada desde muito cedo. Ele havia herdado aquela inteligência toda de Isa. Nick sorriu com os pensamentos. Olhou para cada detalhe do filho. Os cabelos castanhos estavam grandes, pois ele dizia que gostava daquele jeito. Os olhos, esses eram copias fies dos de Isabela.
O carro entrou em movimento.
- Mamãe, por que tem crianças más? – Nicole também se fez a mesma pergunta. Sabia do que o filho se referia.
- Você viu o que aconteceu? Meu filho, alguém na escola anda te incomodando também? – Nicole torcia para que a resposta fosse negativa.
- Na verdade, mamãe... – o menino não terminou a frase, preocupando a mãe.
- Alessandro, você pode me contar qualquer coisa. – um aperto tomou o peito de Nick.
- Tinha uma menina na escola que... Gostava de me prender no banheiro... – a mais velha arregalou os olhos. Sentiu vontade de parar o carro, mas não podia pois estava no meio da avenida.
- Me explique, filho... – pediu com calma. Queria que o pequeno dissesse tudo sem medo.
- Ela me dizia coisas feias e me trancava no banheiro, mamãe... Mas, a Iara me defendeu. – Nicole sorriu.
- Te defendeu como? – a morena iria até a escola com Isa. Precisava falar com Micaela sobre aquilo.
- Ela chamou a Lisa e disse que se ela não me deixasse em paz, iria partir a cara dela... – a mais velha quis rir, mas não o fez. Imaginou a sobrinha, tão doce e gentil, dizendo aquilo a alguém.
- E funcionou, filho? – Alessandro sorriu.
- Sim, mamãe. Ela não faz mais isso... Me pediu desculpa e tudo. – Nick se sentiu aliviada, mas mesmo assim não deixaria aquilo passar.
- Filho, você sabe que pode confia na mamãe. Por que não me disse nada? Ale, você pode esconder uma coisa assim, filho. Sua mãe e eu somos suas amigas... Seu irmão.
- Desculpe, mãe... Eu não queria deixar vocês chateadas... E o Mano estava ocupado... – Nicole ficou com o coração murcho. Olhou rapidamente para o pequeno e naquele momento quis acolhe-lo em seus braços.
Amava demais o pequeno, amava infinitamente os filhos.
- Meu amor, você pode me contar qualquer coisa... Promete pra mamãe que se algo assim ocorrer novamente, vai me dizer?
- Prometo, mamãe. Nunca mais vou esconder nada... – o pequeno se encheu de determinação.
- Vamos buscar a mamãe e o Mano pra almoçar e você vai ter que dizer a eles também, viu?
- A senhora me ajuda? – Nicole ficou totalmente boba.
- Claro que ajudo...
Sorriu, mas ainda sentia certa preocupação. Os sobrinhos e os filhos das duas amigas estavam sofrendo bullying e até mesmo agressões físicas na escola. Não poderia fingir que nada estava se passando e procuraria a diretoria da escola. Tentaria chamar a atenção de todos os pais na escola para a importância de respeitar o próximo.
- Filho, você sabe o que a sua mãe pensa sobre datas comemorativas... – Isa riu, pois Manoel fez uma expressão de cão abandonado.
- Mãe, eu passo o dia com vocês, mas só peço que me deixem sair com os meus amigos... Por favor. – Isabela que atendia a um paciente, se colocou a pensar.
Manoel era um ótimo filho, completaria dezessete anos no dia seguinte e queria sair com seus amigos como adolescentes da sua idade. Iria ajuda-lo a convencer Nicole, pois ele merecia um pouco mais de confiança. No ano seguinte iria iniciar a vida na universidade e não poderia dar mais orgulho a elas.
- Tudo bem, filho. – o menino comemorou com soquinho no ar. – Prontinho, Felipe. Sua boca tá muito saudável.
- Obrigada doutora Isabela. – o paciente se pós de pé. – Até mês que vem.
- Até, meu querido.
Mãe e filho ficaram a sós.
- Sua mãe acabou de chegar. Vamos?
Os dois deixaram o consultório, indo para o estacionamento. Isabela e Rafael, com muito sacrifício e determinação, conseguiram montar o seu próprio consultório que com o passar do anos, cresceu e empregou mais alguns funcionários. Era uma das maiores conquistas da jovem dentista.
Ao chegar no estacionamento, Isabela viu a esposa e o filho encostados no carro. O pequeno quando viu a mãe, saiu correndo para lhe abraçar. O cheiro de shampoo infantil invadiu oas narinas da mais velha.
- Isso tudo é saudade? – Isa riu abobalhada.
- Muita, mamãe...
- Eu vou ganhar um abraço desses? – Isabela ficou d e pé com Ale no colo.
As duas mulheres se abraçaram com saudade. Um abraço forte e cheio de carinho.
- Vocês estão começando a ficar melosas... – Mano reclamou, fazendo as mães se separarem.
- Vem cá, hominho... – Nick agarrou o filho, que apenas gargalhou quando a mãe fez cocegas.
Brincadeira antiga entre os dois.
- Vamos comer? Acho que tá todo mundo morrendo de fome... – Nick chamou. A família entrou no carro.
Nicole olhou rapidamente para Ale, que entendeu o recado. Era a hora de abordar o assunto da escola. O pequeno passou a relatar todo o ocorrido, fazendo Isabela, sempre tão calma, ficar de sangue quente e Manoel, que era louco pelo irmão, ficar irritado. Já havia passado pelo mesmo depois de ter sido adotado pelas duas. Na época, foi uma grande confusão, pois todas as meninas se revoltaram e foram fazer protesto na escola.
Isabela e Nicole decidiram tirar Mano da escola, que não fez absolutamente nada sobre o caso.
- Vamos até a escola conversar com a Micaela. Isso precisa parar... – Isa falou determinada. Olhou para Ale, que era abraçado por Manoel no banco detrás. – Filho, não deixa isso te entristecer. Nem todas as pessoas pensam assim. Tem muita gente boa no mundo... Você é um ótimo menino. Promete pra mamãe que se algo assim acontecer novamente, você vai contar pra nós?
- Eu prometo, mãe. – ele sorriu.
Isabela sorriu de volta, mas seu coração estava inquieto. Queria e iria fazer algo para que aquele tipo de situação não ocorresse mais na escola do filho. Iria chamar as amigas para isso.
- Como, Mel? COMO?
- Calma, Camila. Caleb tá dormindo no quarto do lado. – Melissa estava sentada na beirada da cama. Via a esposa andar de um lado para o outro, totalmente irritada. A entendia, pois apesar de aparentar calma, seu sangue também fervia. - São crianças e não sabemos que tipo de criação elas têm. Vamos até a escola e chamar os responsáveis do garoto. Eu sei que tá puta, também estou, mas a gente vai resolver isso... – Mel ficou de pé, abraçando a esposa.
- Nosso filho é tão bom, Mel. Me deixa possessa que ele tenha que passar por isso... – os olhos de Camila se encheram de lágrimas. Mel sentiu o coração doer ao ver a esposa daquele jeito. A abraçou o mais forte que podia.
Sabia que Caleb, assim como os filhos das amigas iriam passar por aquilo em algum momento da vida, mas mesmo assim não estava preparada. Ver seu filho, um ser tão pacifico e gentil, ser alvo de tamanha maldade a deixava um pouco descrente na humanidade.
- Vamos resolver isso... Não ficará impune. Mas, vamos fazer isso da melhor forma possível... – Camila bufou, fazendo Melissa ri.
- Eu tenho vontade é de dizer umas poucas e boas para os pais desse menino. – Melissa beijou a testa da esposa e a fez lhe encarar.
- Amor, por favor... Não surta.
- O que você quer dizer com isso? – Cami cerrou os olhos. Melissa olhou para a mulher desacreditada com tamanho cinismo.
- Quem não te conhece, que te compre, amor... – Mel gargalhou. Soltou Camila, que colocou as mãos na cintura.
- Como é? Não sei do que você tá falando... – ela realmente pareceu indignada. Melissa deixou o quarto, indo para a sala. Precisava voltar para o trabalho. Ela e Camila haviam abrido uma loja de roupas no centro da cidade, tendo como garota propaganda a Juliane. O lugar era sempre muito procurado.
- Não é? Então vamos ver se isso refresca a tua ideia. – sabia que estava mexendo com fogo, mas continuou. – Trinta de dezembro...
- Não vai falar disso de novo... – Camila bufou. – Foi só uma vez...
- Uma? Amor, por favor... – Melissa gargalhou, fazendo a fúria de Camila aumentar e antes que a esposa dissesse algo, a pegou pela cintura, tomando sua boca em um beijo que a calou de vez. – Eu te amo... Espero vocês na loja.
- Golpe baixo... – Melissa jogou um sorriso cafajeste para a esposa. – Eu te amo...
Melissa saiu de sua casa sorrindo, mas em seu coração a preocupação com o filho. Iria fazer o possível e o impossível para que aquilo não passasse sem consequências. Iria pensar em algo que pudesse chegar ao maior número de pessoas possível.
Foi com essa determinação que saiu de casa.
Camila digitava uma extensa mensagem no celular. Leu o conteúdo várias vezes até se convencer que estava bom e enviou para as amigas. Iria iniciar uma campanha contra aquele preconceito besta. Assim como Melissa, Camila não estava preparada para aquele momento em que o filho estava passando. Não era justo um ser tão inocente ser vitima de tamanha crueldade.
A resposta veio em imediato, fazendo Camila comemorar. Pegou o aparelho e colocou na bolsa e foi para o quarto do filho que ainda dormia. Iria espera-lo acordar para leva-lo a loja. Não confiava em babas, então Melissa e ela sempre reversavam para não deixar o pequeno com estranhos. Sabia que era certo exagero, mas se palavras ofensivas vieram de uma criança, imagina um adulto.
- Eu te amo muito, meu pequeno. Farei de tudo pra preservar esse seu coração tão bom... – sorriu boba, tocando o cabelo do filho.
Quando Caleb nasceu, lembra que passou várias horas olhando para ele. Se recordava da cena com perfeição: Caleb em seus braços, enquanto Melissa, que dormia depois de um dia longo, segurava a sua mão. A esposa não os deixou nem por um segundo e mesmo inconsciente, o instinto de proteção não tirou folga.
Escutou a campainha da porta e antes que o barulho acordasse seu pequeno, saiu correndo para abrir.
- Sam? Miguel? – os dois sorriam com cara de quem haviam aprontado. Não era a primeira vez que os dois chegavam a casa de Camila do nada e a cada vez era por algo que aprontavam. – O que vocês fizeram dessa vez?
- Credo, Cami. Até parece que vivemos fazendo isso... – Samantha entrou com o filho, que abraçou forte a mais velha.
- Tia, cadê o Caleb? – o pequeno ruivo perguntou.
- Dormindo, meu amor. Vai lá acordar ele, que eu quero conversar com essa desmiolada da tua mãe... – Sam sorriu amarelo. O pequeno ruivo saiu do cômodo, indo atrás do amigo. – O que aconteceu?
- Ana Clara disse que estávamos enlouquecendo ela e mandou dar uma volta... – Samantha sentou no sofá. – Depois converso com ela... O que pensa em fazer sobre o que aconteceu na escola? – Samantha claramente queria desviar do assunto. Camila apenas aceitou, pois sabia que Sam era um pouco fechada em certos momentos.
Escutou o celular, era uma mensagem de notificação de um aplicativo de vídeos. Samantha também recebeu algo.
- Queria aproveitar o espaço e todas as pessoas que ainda acompanham o meu trabalho pra falar de algo muito sério. Bullying movido a preconceito... – Camila olhou rapidamente para Samantha. – Como todas sabem, sou casada e com uma mulher... – Juliane mostrou a aliança. – Lésbica assumida desde a minha juventude... Sofri preconceito e já tive de ouvir coisas horríveis ao longo da minha vida e aprendi muito com isso... Meus filhos brigaram na escola hoje com um garotinho que disse coisas horríveis pra outro, sangue do meu sangue, que não fez nada de errado... E agrediu o meu filho física e moralmente, também...
Camila não estava acreditando que a tia estava mesmo fazendo aquilo.
- E soube que o filho da minha sobrinha passava pelo mesmo, mas seu agressor era uma menina... O que quero que todos vejam é a educação que essas crianças recebem em casa. Como mãe, estou indignada. A culpa não é das crianças, mas sim dos adultos que são responsáveis por esses pequenos. Meu apelo é: não ensinem seus filhos a odiarem os seus semelhantes. Os ensinem a plantar amor, a espalhar coisas boas. Ensinem seus filhos que o diferente não é ruim, que todos os seres existentes merecem respeito... – Samantha viu a tia se emocionar e foi impossível não ficar da mesma forma. Caleb e Miguel entravam na sala naquele momento. – Até quando iremos suportar tanto preconceito? Mães, pais... Não passem suas mentalidades pequenas para os seus filhos, queiram que eles sejam pessoas de bem e de bom coração... Se você concorda comigo e quer um ambiente escolar tranquilo para seus pequenos, convidamos a fazer parte desse protesto...
O vídeo acabou, Samantha respirou fundo.
- Vem cá, parceiro... – chamou Caleb, que fez o que a mais velha pediu. Miguel abraçou Camila. Sam sabia que o filho tinha adoração por ela. Um amor platônico. – Você tá bem?
- Tô tia... Eu não ligo muito. Mamãe me disse que vou encontrar pessoas ruins, mas que jamais serei como elas... Porque meu coração é bom. Meu coração é bom, tia? – Samantha sorriu.
A inocência nos olhos de Caleb amolecia qualquer coração.
- Você tem um coração maravilhoso. Não vai mudar, porque nele só há bondade... – Caleb sorriu, seus olhos se encheram de lágrimas. – Tua doçura foi presente de Melissa...
- E eu? – Camila se indignou, fazendo Samantha ri.
- E você, parceiro. Tá tudo bem na escola? – Miguel riu. Samantha não cansava de admirar o filho. O seu gênio era forte, imperativo e muito criativo, mas também adoçava a vida delas de uma forma que Sam só podia sentir, não explicar.
- Tá sim, mamãe. Ninguém mexe comigo... – Samantha sabia muito bem o porquê. Miguel estava cheio de bilhetes de reclamação por aprontar na escola. O filho era incapaz de machucar qualquer ser vivo, mas isso não o impedia de levar sapos para a escola, pintar o próprio cabelo com tinta para tecido e uma infinidade de coisas.
- Esse é meu garoto... Mamãe tem muito orgulho de você. – os dois fizeram um cumprimento maluco. Coisas que somente eles entediam. – Vamos pra loja com vocês... Quero tá perto quando a metida da Juliane chegar lá...
- Vou trocar o Caleb. – Camila sumiu com o filho, deixando Sam com Miguel. O pequeno sentou no colo da mãe e a encarou.
- Mãe, eu sou mal? – Sam franziu o cenho. – É porque você e a mamãe sempre tem reclamação de mim na escola... – Samantha olhou para o filho de seis anos e passou a mão sobre os fios ruivos, de uma tonalidade diferente de Ana Clara.
- Claro que não, Miguel. Você é um ótimo menino e um filho maravilhoso. Você é perfeito, filho. Nunca machucou ninguém... Você tem um coração bem grandão...
- Bem grandão?
- Bem grandão...
Miguel passou a gargalhar com as cocegas feita pela mãe tão babona.
- Ana, cadê o Miguel? E a Sam? – Lívia perguntou. Fazia vinte minutos que estava na casa da irmã e ainda não tinha visto o sobrinho e a cunhada.
- Pedi pra darem uma volta... – Ana gritou da cozinha.
- O que eles aprontaram dessa vez? – Ana, que terminava de corrigir alguns exercícios, respirou fundo. – Vou ai...
Segundos depois, Lívia entrou a cozinha e sentou ao seu lado.
- Samantha e ele pintaram a parede com um monte de desenhos. Esconderam tudo com um quadro gigante e acharam mesmo que eu não ia notar acredita nisso? – Lívia gargalhou.
- Ana, seu filho é muito talentoso com desenhos. Deixa de ser rabugenta... – a ruiva mais nova tentou aliviar o lado do sobrinho. – Por que não transforma aquele quartinho em um ateliê pra ele?
Ana tirou os olhos das folhas de papel e encarou a irmã. Não havia pensado naquilo e se sentiu muito idiota por isso.
- Tem razão. Vai fazer algo agora a tarde?
- Não...
- Ótimo... Vamos pintar o quarto de branco... – Lívia sorriu.
- Vamos...
As duas trocaram de roupa, e passaram a pintar o cômodo. Ana se sentiu culpada por ter se alterando tanto com o filho e a esposa. Os dois aprontavam muito, isso não se podia negar, mas ela também sabia que estava descarregando neles os últimos meses de estresse. Ana Clara havia se formado em educação física e feito especialização em fisioterapia. A paixão surgiu de repente e nem ao menos imaginava, mas passou amar as profissões.
Depois de quase duas horas, o quarto estava totalmente branco.
- Bom trabalho... Tô morta. – Lívia se jogou no chão. – O Miguel vai adorar isso aqui...
- Tem que comprar uns pinceis, tintas e telas. – Ana também se jogou no chão, ao lado da irmã. – Você pode fazer isso pra mim? Se conheço a Sam, ela só irá aparecer aqui quando o Miguel não aguentar ficar mais de pé...
- Vou tomar banho e faço isso... – Lívia ficou de pé. – Pega leve com a tua esposa, Ana. Lembra do quão você sofreu quando se separaram aqueles dois meses?
Ana fechou os olhos, recordando do ocorrido há mais de dois anos. Depois de uma briga feia por causa de coisa bobas do dia-a-dia. Ana Clara reconhece que a culpada foi ela e Sam, muito magoada, saiu de casa.
- E como lembro... Quando ela chegar, prometo que vou acertar tudo. Eu amo a minha esposa e você sabe disso.
- Sei e é por isso que digo pra pegar leve. Samantha apronta muito, parece criança quando se junta com o Miguel, mas ela te ama e é louca por você...
Ana sorriu, sentindo saudade de sua loira irritante.
- Quero ver a cara do Miguel quando ver isso...
Lívia saiu falando sozinha, fazendo Ana Clara ri. A ruiva sentou-se, olhando para o cômodo.
- Meu pimentinha vai adorar isso... Na verdade, os dois pimentinhas...
Ana riu sozinha, sentindo saudade do filho e da esposa. Eles a enlouqueciam, mas eram sua vida e o amor que sentia por eles era incondicional.
Marcela organizava alguns papeis de matricula. Passou a ficar a frente do centro, que agora pertencia a família. Ajudou a esposa, ao longo daqueles anos, a decidir para quais lugares doar parte da fortuna que o avô de Jaqueline havia deixado. Escola, igrejas e muitos outros lugares foram presenteados com a ajuda.
- Mãe, olha esse vídeo... – Fernando se colocou atrás da mãe e deu play.
Durante alguns poucos minutos, puderam ver o discurso emocionado de Juliane. Marcela já havia lido a mensagem que Camila tinha enviado e pensava em algo que pudesse ajudar também. Fernando passou por isso nos primeiros anos de escola e algumas vezes na atual escola, ouvia algum tipo de brincadeira dos colegas, mas como Jaqueline e ela já haviam conversado com o filho, muitas vezes, sabiam que o loiro não se importava. Com quase quatorze anos, tinha muitos amigos e era um menino extremamente livre de preconceitos bobos.
- Amanhã iremos a escola dos meninos, fazer um protesto pacifico. – Marcela disse ao filho.
- Posso ir, mãe? Amanhã não tenho aula. – Nando adorava estar no centro e como fez aulas de violão durante anos com a tia Flávia, passou a ensinar no período da tarde uma pequena turma. Então era normal o loiro estar sempre por ali.
- Pode sim, filho. Sua mãe vem daqui a pouco, quando chegarmos em casa vamos fazer alguns cartazes. Camila pediu...
- Tá bom, mãe. Vou na papelaria comprar algumas cartolinas... Não demoro.
- Cuidado, Nando... – Marcela alertou e viu o filho deixar a sala.
Ficou de pé, caminhou até um quadro enorme onde estavam todas as amigas e seus filhos. A foto foi tirada no primeiro verão em que foram para a casa de praia. Foram as férias mais divertidas da sua vida. Relembraram os velhos tempos.
Sentiu saudades, pois fazia algum tempo que não se reuniam daquela forma.
- Dona Marcela, será que eu posso conversar com a senhora? – Marcela olhou para a porta e uma jovem de cabelos pretos lhe sorria.
- Claro Tamires. Entra e senta... – Marcela imaginava do que se tratava. Não era nenhuma jovenzinha de dezessete anos.
- Desculpa vim falar disso, mas alguém me disse que a senhora ouviu quando falei aquelas coisas e eu só queria esclarecer tudo. – a mais velha respirou fundo. Se Jaqueline soubesse do que estava se passando.
Tamires trabalhava no centro e fazia alguns dias que ouviu a moça dizer a outro funcionário sobre seu interesse sobre ela. Não queria aquele tipo de situação e deixaria bem claro para a moça.
- Pode falar, Tamires. – a loira estava séria.
- Queria pedir desculpa. Não quero de forma alguma atrapalhar seu casamento e menos ainda sair do centro. Eu gosto muito de trabalhar aqui. Prometo que jamais voltarei a falar sobre esse tipo de assunto...
Jaqueline ouviu, sem querer, a conversa e se sentiu um pouco desconfortável. Se afastou e aguardou o dialogo terminar para poder entrar na sala da esposa. Olhou ao redor e por já se passar das cinco da tarde, o lugar estava vazio. Viu Nando se aproximar com alguns objetos na mão.
- Oi mãe... O que tá fazendo aqui? – o filho franziu o cenho.
- Sua mãe tá tendo uma conversa importante. Tô esperando... Pra que isso tudo? – mudou o foco.
- São para os cartazes do protesto pacifico... – Jaqueline lembrou da mensagem que recebeu de Camila.
- Pacifico? Com todas as meninas juntas? – Jaqueline e Fernando se encararam.
- Não vai dá certo! – falaram juntos, rindo em seguida.
- Boa tarde dona Jaqueline... Fernando... – a moça que estava na sala de Marcela cumprimentou os dois, ficando sem jeito ao ver a mais velha ali.
- Boa tarde Tamires... – a moça, totalmente desconfortável, sorriu e saiu dali.
- O que deu nela? – Nando franziu o cenho.
- Deve ser vergonha... Vamos, filho. – entraram na sala. Marcela guardava o celular. As duas mulheres se encaram por breves segundos, para em seguida encurtar a distancia com um abraço apertado.
- Vamos passar na loja da Cami e da Mel? Quero comprar o presente do Mano. – Marcela sorriu. – E precisamos conversar, amor...
- Iiiih... – Nando riu. – O que você fez, mãe?
- Que eu me lembre, nada... – Jaqueline fez cara de medo.
- São muito bobos mesmo... Vamos, que tô morta de fome... – os três saíram do centro.
Jaqueline sentia ciúmes da esposa, porém não era de dar surtos. Esperaria Marcela iniciar o assunto para poder sanar suas duvidas. Não era a primeira vez que passavam por algo assim.
- Nicole tá reclamando que o filho não quer mais passar os aniversários com ela... – Marcela riu, respondendo Isabela.
- Nick precisava afrouxar as amarras. Manoel é um menino muito responsável e nunca deu dor de cabeça a elas. – Jaqueline falou, colocando os óculos escuros.
- Ele quer sair com os amigos... Quando eu fizer dezessete, vou poder fazer isso? – Fernando se aproveitou da situação.
- Se continuar se comportando, quando você fizer dezessete, vai ter muito mais liberdade. – Marcela respondeu. – Enquanto isso, vai curtir a adolescência...
- Não tem pressa de crescer, parceiro. Curti cada fase... – Jaque aconselhou o filho. – A vida depois dos dezoito passa incrivelmente rápido e quando vamos ver, estamos sentindo saudade de ser jovens...
- Mãe, a senhora fala como se fosse uma velha de cinquenta anos... – Fernando zombou, fazendo Marcela gargalhar.
- Ah, então debochando de mim? – Jaque fingiu indignação. – Um dia vai me dá razão... E eu já não sou tão nova assim.
- Amor, você não tem nem trinta ainda. Tá fazendo drama cedo. Deixa ao menos chegar nos quarenta...
- É verdade... Olha, tenho uns amigos que acham a senhora muito gata. – apesar de ser verdade, Nando falou aquilo para ver a reação de Marcela.
- Vamos mudar de assunto, não é?
O mais novo gargalhou, vendo que a mãe ficou exatamente do jeito que ele esperava.
- Ciumenta!
Ele e Jaqueline disseram juntos.
Rebecca fotografava o entardecer as margens do ponto turístico de Belém. O rio corria tranquilo, enquanto as pessoas passeavam despreocupadas. Thomas estava ao seu lado com uma pequena câmera em mãos. Becca olhou para o pequeno, rindo em seguida. Será que o filho herdaria dela a paixão pela fotografia?
- Vamos tomar sorvete, filho?
- Vamos, mamãe. – Becca colocou a câmera no pescoço e segurou a mão do filho. – Quero de açaí...
Rebecca apenas gargalhou, pois o filho não negava o sangue paraense que corria em suas veias.
Adoraria que Emily estivesse ali, mas a esposa ainda estava em um avião, a caminho da cidade paraense. Em pouco mais de três horas chegaria. Precisou viajar para resolver problemas relacionados ao trabalho. Estava morrendo de saudade da esposa. Olhou para relógio pela milésima vez. Iria buscar Emi no aeroporto.
- Mãe, quando a mãe Emi chega? – Thomas estava todo sujo.
- Hoje, filho... Ainda bem que trouxe outra blusa pra você... – Becca tirou a roupa do pequeno.
Thomas era criado com liberdade, Becca e Emi estavam sempre incentivando o filho com brinquedos e brincadeiras das suas infâncias, pois evitavam que o pequeno não tivesse tanto contato com tecnologia. Thomas aprendeu desde cedo a ter uma vida humilde, sem frescuras. E esse seria o principal legado que as mães queriam deixar para ele.
- Filho, vamos? Mamãe daqui a pouco tá chegando.
- Vamos levar sorvete pra ela? Mamãe adora de açaí também...
- Quando chegarmos lá, compramos pra ela. Agora, vamos trocar essa roupa no carro.
Becca trocou a roupa do filho e logo estavam indo para o aeroporto. Dentro do veiculo, uma canção infantil tocava. Thomas cantava junto, enquanto desenhava algo. Rebecca sentia o coração reagir. Um estranho incomodo apertava seu peito.
- Isso não deve ser coisa boa... – Becca se preocupou. O Celular tocou no momento em que Rebecca estacionava no aeroporto. Pegou o aparelho. - Alô?
- Becca, aonde você tá? – era a mãe de Emi.
- Acabei de chegar no aeroporto, Juliana. Aconteceu algo?
- Estou indo... Me espera, filha. – e sem dizer mais nada, a sogra desligou, deixando Becca sem reação.
O que estava acontecendo?
Becca desligou o rádio e saiu do carro com o filho. Foi quando ouviu duas mulheres que passavam ao seu lado comentarem, bastante aflitas.
- Não sei, só sei que o avião vinha pra cá... Pelo que disseram, ninguém sobreviveu.
Rebecca sentiu as pernas falharem. Segurou a mão do filho e entrou no aeroporto em busca de informações. Olhou para os aparelhos de televisão e todos noticiavam uma tragédia envolvendo a queda de um avião.
O celular de Rebecca passou a tocar insistentemente. De repente, ela sentiu a visão escurecer e não conseguiu segurar quando ouviu o número e nome do voo, desmaiou. Thomas entrou em desespero.
Emily estava muito nervosa, pois chegaria atrasada em casa. Não acreditava que havia mesmo perdido o voo e para deixar tudo ainda mais difícil, o celular estava totalmente descarregado e não havia achado o carregador. Não pode avisar a esposa. Saiu do banheiro do aeroporto de São Paulo e estranhou a movimentação. Muitas pessoas olhavam atentas para o noticiário. Decidiu parar e ver do que se tratava.
Levou a mão ao peito, não acreditando naquilo.
- Meu Deus!
Emily ficou desesperada ao constatar que o acidente de avião noticiado era o mesmo em que ela deveria estar. No mesmo momento, passou a pedir o celular das pessoas que ali passavam. Precisava avisar a família que não estava no voo. Uma jovem emprestou o celular. Como sabia o número da esposa decorado, discou o número, mas apenas chamava, aumentando o desespero da morena.
Entrou em sua rede social e inúmeras mensagens passou a chegar no aplicativo. Emi imediatamente respondeu a de Flávia. Ela nem imaginava o alivio que todas as amigas sentiram, pois aquelas alturas, todos já sabiam do acidente e sabiam também que a amiga viria naquele voo. Soube que a esposa havia passado mal e foi parar no hospital. Perguntou pelo filho e depois de vários minutos conversando, Emi devolveu o celular da moça.
- Muito obrigada... – a morena saiu em busca de informações de seu voo. Só ficaria tranquila quando estive com a esposa e o filho.
Já se passavam das oito da noite, quando Emi embarcou. Chegaria na capital paraense por volta das onze e meia da noite. Olhava para a janela, pensando no trágico acidente. Não parava de imaginar que era para ela estar dentro daquele avião. Uma lágrima solitária escorreu por sua face. Lamentou pelas vidas perdidas, mas também agradeceu a Deus pelo grande livramento.
Finalmente havia chegado em sua cidade. Desembarcou e quando avistou a família, seus olhos não suportaram. Thomas veio correndo em sua direção e lhe abraçou com força. O pequeno chorava bastante. Becca se aproximou aos poucos, também chorava. O abraço em família aconteceu entre beijos e soluços. As amigas e a mãe acompanhavam tudo de longe. Decidiram esperar que Becca e Thomas aproveitassem a chegada.
- Eu... Eu pensei que... – Becca não conseguia terminar a frase. Soluçava muito.
- Tô bem, amor... Tá tudo bem. – Emily beijou a testa da esposa e voltou a lhe abraçar com força. – Eu te amo muito...
- Eu te amo... Te amo...
- Você nos deu um grande susto, Emi... – Flávia estava com os olhos vermelhos. As amigas se abraçaram. Foi assim com cada uma das meninas.
Emily esclareceu todas as duvidas das amigas. Explicou como perdeu o voo e depois alguns minutos de conversa, elas decidiram deixar a morena ir para casa com a família. Emily estava muito cansada e só queria chegar em casa e poder dormir agarrada com a esposa e filho. E foi exatamente isso que fez. Se despediu das amigas e da mãe, a pedindo para ir até sua casa no dia seguinte.
Voltou a agradecer a Deus por tamanho livramento.
Amanda observava o tanto de gente em frente a escola da filha. Muitas mulheres com cartazes e mãos. As amigas se preparavam para soltar a voz. Uma emissora de televisão estava presente. A loira segurou firme a mão da filha, que estava rindo bastante das palhaçadas de Cássia e Samantha.
- A Flávia não vem? – Becca perguntou.
- Falou que chegaria um pouco atrasada. O Benício tá com ela... Becca, ela levou meu filho pra cortar cabelo. Nem quero ver o que vai vim dessa vez. – Rebecca gargalhou.
- Iara, a tia Nick tá te chamando... – Thomas chamou a pequena.
- Posso ir, mãe? – a loirinha de olhos penetrantes pediu com carinho.
- Pode sim filha... – Amanda beijou a face corada da filha.
- Nicole te falou sobre a menina que andava incomodando o Ale? – Jaque perguntou a loira.
- Não... Ele também?
- Ale contou a elas que foi a Iara quem fez a menina deixa-lo em paz. – Amanda franziu o cenho. Não sabia daquilo.
Olhou para Isabela.
- Ela mandou a menina deixar o meu filho em paz, ou partiria a cara dela. – Amanda levou a mão a boca.
- Isso só pode ser coisa da Flávia... – Jaqueline, Rebecca, Isabela e Ana Clara riram.
- Disso não há dúvida... - elas responderam juntas.
- Amanda, cadê a Flávia? – Cássia perguntou a loira. Paloma conversava com Micaela um pouco distante de onde elas estavam. – E a Emi?
- Flávia foi levar o Beni pra cortar cabelo...
- Deixei a Emi dormindo. Depois do que aconteceu ontem, ela merece... – Becca respirou fundo.
- Chegamos! – Camila e Mel, junto do filho, sorriam animadas ao ver quantas pessoas estavam ali.
- Meninas, a Juliane quer saber se alguma de vocês vai fazer um discurso... – Marcela quis rir da cara de pavor das amigas.
- Chegamos! – Flávia chegou como filho sobre os ombros.
Todas olharam para ela.
Alguns minutos depois.
- Obrigada a todas que estão aqui. Nossa querida Flávia irá falar um pouco! – Juliane sorriu. Flávia queria matar a todas.
Amanda que observava a esposa, olhou para o filho que estava com o cabelo perfeitamente cortado. Se espantou ao ver que a esposa não mandou fazer nenhuma loucura no cabelo do filho daquela vez.
- Bom dia a todos aqui presente... – Flávia iniciou. Não sabia muito bem o que dizer, então só se deixou levar.
Flávia falou absolutamente tudo que pensava. Deu ideias de como combater aquele tipo de situação na escola e na vida. Amanda observava a esposa e se sentia muito orgulhosa da mulher que Flávia era.
- Tua mãe é muito legal... – um coleguinha disse a Iara.
- Ela é muito legal... – a loirinha sorriu.
Amanda fez o mesmo, recordando do dia em que descobriram que o procedimento para a gravidez havia sido um sucesso. Flávia chorou tanto, que levou todos as lágrimas. Quando Iara nasceu, a esposa não a deixava por nada.
Os mimos e cuidados, o carinho.
“Como eu amo essa mulher.”
Flávia olhava para Iara, que dormia profundamente. A loirinha estava exausta daquele dia cheio de atividades. Em seguida, olhou para Benício, que diferente da filha, estava todo torto em seu berço. Os cobriu, observou os dois por mais alguns minutos e então deixou o quarto.
- Vamos pra sala? – Amanda estava a sua espera no corredor.
- Vamos pra sacada. A noite tá linda... – Flávia cobriu os ombros da esposa e juntas foram para a sacada.
A mais nova sentou primeiro e fez a esposa sentar entre suas pernas. O vento batia fraco, mas muito agradável. As luzes no céu e as da cidade davam uma paisagem mais que perfeita. Nada poderia atrapalhar aquele momento. Flávia ligou o rádio e uma canção já antiga e um pouco diferente da original começou, dando ainda mais romantismo ao momento.
- Você ainda me ama da mesma forma? Amanda pegou Flávia de surpresa com aquela pergunta.
Flávia sorriu timidamente e falou:
- É claro que não te amo da mesma forma. É impossível continuar te amando da mesma forma... Amanda, você me deu dois filhos lindos e uma vida que eu não trocaria por nada nesse mundo. O amor que eu sentia se modificou e amor, já não tem mais tamanho... – Amanda sorriu. – Tá muito além da minha compreensão. Eu te amo de uma forma que não posso explicar...
- Eu amo o fato de você continuar a ser romântica depois de tantos anos... – a mais nova sorriu e apertou a esposa contra seu corpo. – Hoje, naquele palco... Você foi incrível!
- Fui? Amor, eu estava tremendo. Eu tive que ser séria e responsável perante uma plateia... – as duas gargalharam.
- As meninas apostaram que você iria dizer alguma bobagem...
- Ah, então estava rolando dinheiro as minhas custas...
- Juliane jamais perderia aquela oportunidade. Amor, você viu quantas visualizações e comentários o vídeo teve?
- Vi amor... Juliane tem grande influencia. Espero que isso possa de alguma forma modificar a vida de alguém por ai. Soube que a nossa garotinha afugentou a valentona que perseguia o Alessandro.
- Flávia, que tipo de conselho você anda dando pra nossa filha? Ela ameaçou partir a cara da menina... – Flávia riu, não podendo se conter, deixando a esposa furiosa.
- Amor, apenas disse que ela deveria defender os amigos quando visse algum em perigo. – é claro que ela não havia dito daquela forma e Amanda sabia muito bem.
- Flávia, você engana uma desavisada com essa história, mas não comigo... – a mais nova gargalhou alto, apertando Amanda.
- Você é a minha vida, loira. Me deixa louca quando fica brava. – fez a esposa ficar de frente para si e ambas deitaram sobre o sofá da sacada. – Louca...
Flávia tomou a boca da esposa com sede, fazendo ambos os corpos esquentarem em excitação. A mãos já estavam ficando bobas e o ar faltando. A paixão entre elas não se apagava.
Flávia e Amanda construíram uma vida solida, nem todos os dias eram fáceis, mas elas tinham o principal.
Amor e respeito.
Suas vidas ainda iriam encontrar um mundo de novidades, mas a certeza era uma só: estariam sempre uma com a outra.
Marilia terminava de tomar banho. Estava muito cansada daquele dia que havia sido uma verdadeira loucura. Queria apenas comer algo e deitar um pouco com o filho. Chegou ao quarto e viu o pequeno assistindo um filme. Imediatamente procurou por mais alguém, mas a decepcionante constatação foi a de que ela não voltaria.
Queria poder ligar, mas o orgulho estava lhe cegando.
- Filho, vamos jantar? – o menino de cabelos negros e rosto tão familiar, encarou a mãe.
- Mãe, eu quero que a mamãe coma com a gente... – sua face fez Marilia ficar de coração partido.
Pietro era pequeno e não entendia o que se passava entre Alex e ela. Não poderia dizer ao filho que haviam brigado e se separado. Talvez depois de um tempo, mas aquele ainda não era o momento.
- Filho... Ela vai vim buscar você amanhã pra passear. Agora, vamos jantar... – pequeno levantou, sua expressão era de tristeza.
Marilia serviu o filho e em seguida a si mesma. Fizeram uma pequena oração e quando iriam comer, a campainha tocou. Já se passavam das oito e meia e não poderia ser a Alice. Levantou e foi até a porta, ficando surpresa com a pessoa parada diante de si.
- Marilia, eu não aguento ficar mais longe de você... Longe do nosso filho. Por favor, vamos conversar. – o coração da loira estava na boca. Alex estava com um lindo buque de suas flores preferidas e uma pequena porção de morangos.
Há um mês estavam separadas depois de uma grande confusão. Uma conhecida de Marilia inventou que Alex a estava traindo. No primeiro momento, a loira não acreditou, mas foi envenenada pela “amiga”. Aly e Nanda tentaram de tudo para convencer a loira que aquilo era mentira, mas ela simplesmente acabou por acreditar.
Disse coisas horríveis para a amada, mas depois de um tempo descobriu que tudo não passava de invenção. Que a “amiga”, na verdade, havia dado em cima de Alex, e a morena a rejeitou sem pensar duas vezes. Isso causou a fúria da mulher, que decidiu se vingar da morena. Marilia tentou pedir desculpas, mas Alex estava muito ferida. A magoa era enorme por Marilia simplesmente não ter acreditado nela e não aceitou as desculpas. Deixou a fúria comandar suas ações.
Mas naquela noite, parecia que o amor estava a frente novamente.
Marilia se jogou nos braços da esposa, chorando bastante, soluçando. Estava sufocando Alex, que não reclamou e retribuía o ato. A saudade era tamanha, que não deu espaço nem para respirar. As duas estavam precisando daquele contato.
- Mamãe!
Pietro se agarrou as pernas da mãe, que somente assim soltou a esposa e pegou no colo o filho. O beijava, o abraçava e as lágrimas não deixaram seus olhos nem por um momento.
- Meu pequeno... Que saudade. Meu Deus!
- Entra, mamãe... – Pietro saiu puxando a mãe, que enxugava as lágrimas. – Senta...
O pequeno fez as duas mães sentarem lado a lado e fez o mesmo, mas no colo de Alex. Os olhares não se deixavam e Alexandra se sentia inquieta. Queria dizer muitas coisas a esposa.
Aqueles dias longe quase a enlouqueceram. Fernanda diariamente lhe aconselhava a deixar o orgulho de lado e se acertar com a esposa. Foi na casa da amiga que buscou refugio quando saiu de casa.
- Marilia, me perdoa. Me perdoa por ter sido tão cabeça dura. Amor, eu não aguento mais ficar sem você... Sem nosso filho. – a morena segurou a mão da amada. – Me perdoa?
Marilia colou os lábios nos de Alex, não podiam ir além por causa do filho.
- É claro que te perdoo, amor... Por favor, volta pra casa. Não aguento mais viver sem você...
A loira voltou a abraçar a esposa, não queria mais solta-la, com medo que ela partisse novamente. Naquele momento, não disseram mais nada. Apenas deitaram os três no sofá, como era de costume. Pietro sobre o peito de Alex e Marilia deitada ao lado, sobre o braço da morena.
Alexandra ouvia atentamente o dia falar sobre o dia que teve na escola.
- Você tirou zero em matemática? – o pequeno gargalhou.
Alex quis ri, mas sabia que não podia. O filho era péssimo com números, mas ela descobriu que o pequeno tinha um grande dom, Pietro cantava e tocava violão. Ainda não havia contado a esposa que estava pagando aulas de música para o filho desenvolver o talento.
Queria fazer uma surpresa.
- Alex, não ria... – Marilia advertiu.
A esposa a conhecia.
- Não vou amor, prometo. – tentou ficar séria. – Filho, vamos contar a mamãe sobre aquele nosso segredo? – os dois se olharam.
- Do que tão falando? Agora tem segredos e eu não sei? – a loira realmente ficou indignada.
- Amor, calma... Só queríamos fazer uma surpresa... – beijou os lábios da esposa. – Filho, canta aquela que te ensinei...
- Era uma vez...
O dia em que todo dia era bom...
Delicioso gosto e o bom gosto das nuvens serem feitas de algodão...
Dava pra ser herói no mesmo dia em que escolhia ser vilão...
E acabava tudo em lanche...
Um banho quente e talvez um arranhão...
Alex viu a esposa fica de boca aberta quando o filho terminou de cantar o pequeno trecho da bela e antiga canção. Quis ri, pois foi exatamente assim que ficou quando o ouviu pela primeira vez.
- Não temos um gênio em matemática, mas... – a morena beijou a bochecha do filho.
- Desde quando sabe disso? Filho, que voz linda você tem!
- Obrigada mamãe. – Pietro ficou tímido.
- Faz pouco tempo... Amor, nosso menino é um artista. – Alex sorriu convencida.
Marilia estava ainda mais encantada com o filho.
- Meu filho vai ser um popstar... – fez cocegas no pequeno, que gargalhou.
As brincadeiras continuaram entre a pequena família. As mais velhas fortaleceram os laços e a partir daquele momento, nada seria capaz de abalar as estruturas que se tornaram firmes, indestrutíveis.
- Isso, filha... Muito bem! Agora resolve mais essas aqui...
- Isso é muito fácil, mãe... – Alice estava impressionada com a facilidade que Camila tinha com os números.
Olhou o relógio e eram quase dez horas da noite. Haviam chegada da casa do pai há poucos minutos. Camila pediu a ajuda da mãe para fazer alguns exercícios importantes de matemática para a aula seguinte. Na verdade, Camila entendia muito mais do que dizia, mas queria muito passar mais tempo com a mãe que andava tão ocupada com a galeria e o pequeno Cristian. O menino era cheio de energia. A pequena amava o irmão e ajudava bastante, mas estava carente das mães.
- Aqui, mãe... – entregou o caderno para Alice, que sorriu satisfeita.
- Que orgulho, filha. Agora, vai tomar banho e trocar de roupa. A mãe vai fazer um leite quente pra você. – Aly beijo a testa de Camila.
- Tá bom, mamãe... Já volto. – a jovem saiu da cozinha muito feliz.
Alice colocou a água para esquentar, enquanto lia a mensagem que Marilia havia enviado. O sorriso foi sincero ao saber que a amiga finalmente havia se acertado com a esposa. Iria contar a Fernanda, que com certeza ficaria muito feliz.
- Amor, ele já dormiu... – Aly arregalou os olhos e gargalhou.
- Vida, você tá toda molhada... – ficou com dó da esposa.
- Você sabe o desafio que é banhar aquele anão... – Aly gargalhou e se aproximou da mulher.
- Vai tomar banho, amor... Vou fazer leite pra Mila e colocar ela pra dormir. Tá?
- Tá bom, amor... Já volto.
Alice riu.
- Para de ri de mim, patricinha! – Aly gargalhou mais ainda.
- Não paro, metida! – Maria Fernanda cerrou o olhar.
- Você me paga, senhorita Alice...
Fernanda deixou a cozinha, deixando a esposa com um sorriso largo. Poderia passar mil anos, mas jamais deixariam de se provocar ou usar aqueles apelidos de quando ainda se odiavam. As lembranças começaram a invadir a cabeça de Aly, que fazia o leite da filha.
O casamento...
O nascimento de Cristian...
Seria história para outro momento.
Depois que a filha tomou o leite, Alice a levou para o quarto. Camila já deveria estar dormindo há horas, mas naquele dia foi por um motivo especial. O dia na casa do pai foi incrível. Ele estava fora do país fazia dois meses e a saudade era gigantesca. Decidiram comemorar a volta dele com uma pequena festa.
- Boa noite minha vida. Eu te amo muito. – Alice beijou a testa de Mila.
- Boa noite mamãe. Eu te amo muito...
Mila estava com doze anos, mas jamais deixava o jeito doce com Aly. Diferente das meninas de sua idade que tinham vergonha dos pais, Camila adorava exibir as mães, porque sentia muito orgulho delas. A sua maturidade deixas Alice e Maria Fernanda babando pela filha.
Alice seguiu para a sala e viu Maria Fernanda olhando pela porta da sala.
Suspirou.
- Será que eu posso ficar aqui ao lado dessa mulher maravilhosa? – Maria Fernanda sorriu e puxou a esposa para junto do seu corpo.
- Já te disse que você é linda demais? – Aly corou.
Não importava quantas vezes Nanda dissesse aquilo a esposa, a resposta era sempre a mesma: um sorriso tímido e um rosto corado.
Maria Fernanda adorava quando isso ocorria.
- Você tem o dom de me deixar sem graça. Mesmo depois de todos esses anos. – Fernanda contornou os traços do rosto da esposa.
- Obrigada, Aly... Obrigada por essa família linda que me deu. – os olhos castanhos se encheram de lágrimas. – Você mudou a minha vida, amor...
Aa voz sumiu e o choro tomou o lugar.
Alice acolheu a esposa em um abraço apertado, cheio de amor. Ali era o porto seguro de Fernanda, que estava muito emotiva devido a aproximação da data da morte dos pais. Ela não se isolava mais, pelo contrario, procurava o colo da esposa e os carinhos dos filhos.
Camila, que estava se tornando um grande ser humano. Maria Fernanda morria de orgulho de sua mais velha. E Cristian, que tinha apenas três anos e trazia uma bagunça gostosa para casa e para a estrutura de todos.
- Eu te amo, minha Nanda. Amo a cada dia mais... Vou está sempre aqui... – Aly segurou o choro. – Por você... Seus filhos e eu...
Fernanda não disse nada, não conseguia. Abraçou ainda mais a esposa e ficaram daquela forma por vários minutos, até decidirem conversar em seus aposentos. Passaram nos quartos dos filhos, coisa que faziam todos os dias, e foram para o próprio cômodo.
Deitadas, abraçadas.
- Não importa o que aconteça, eu sempre estarei com você, Maria Fernanda. – Alice olhava a esposa nos olhos. – Você é a mulher da minha vida, o amor da minha vida e a o amor pra minha vida... Pode contar comigo sempre... Sempre!
Fernanda deixou uma lágrima correr.
- Eu te amo, Aly... Minha Aly...
- Eu te amo, Nanda... Minha Nanda...
Fim
Nunca será um fim!
Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si
É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti
É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz
É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós
É saber se sentir infinito
Num universo tão vasto e bonito, é saber sonhar
Então fazer valer a pena
Cada verso daquele poema sobre acreditar
Não é sobre chegar
No topo do mundo e saber que venceu
É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu
É sobre ser abrigo
E também ter morada em outros corações
E assim ter amigos contigo em todas as situações
A gente não pode ter tudo
Qual seria a graça do mundo se fosse assim?
Por isso eu prefiro sorrisos
E os presentes que a vida trouxe pra perto de mim
Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de comprar
E sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar
Também não é sobre
Correr contra o tempo pra ter sempre mais
Porque quando menos se espera a vida já ficou pra trás
Segura teu filho no colo
Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
Segura teu filho no colo
Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir
“Um dia eu disse a mim mesma que o amor era uma droga destrutiva, que deixava rastros de destruição por onde passava, mas eu estava enganada. Eu encontrei um amor que entrou em minha vida como um furacão e deixou tudo fora do lugar. E foi, ainda é, a bagunça mais gostosa que já vivi.”
Para a Metida da minha vida.
Letícia Corrêa.
Fim do capítulo
Chegamos ao fim de mais uma jornada, que infelizmente não exatamente o que eu esperava, mas que ajudou como um aprendizado. Inicialmente, a estória seria fechada em 30 capítulos e com bastante coisas sobre as duas estórias, mas o primeiro golpe veio quando houve a duplicação e na hora de excluir, todo o trabalho foi apagado e assim as visualizações e comentários. Foi difícil retomar, pois cada comentário é muito importante e dá um gás a mais para quem escreve. O segundo golpe foi a mudança de cidade e com ela a perda do meu notebook, levando com ele as minhas novas estórias. Estórias que jamais conseguirem ter novamente.
Dai, foi como se a minha vida tivesse ladeira a baixo e ainda é assim até este momento. Afetou tudo, em absoluto. Deus tem sido muito generoso ao me dar forças para seguir, porque se dependesse unicamente de mim, já teria desistido de tudo.
Peço perdão se não foi o que esperavam, eu esperava muito mais, porém a vida não tem colaborado comigo.
Não vou fazer deste um texto de drama... Parei.
Aqui nos despedimos de Tudo de Nós e Por que demoramos tanto. Foi muito divertido estar com vocês e compartilhar as loucuras da minha cabeça. Quero muito poder contar com vocês nas próximas e fazer do nosso próximo projeto o mais comentado desse site. Posso sonhar, né
Muito obrigada, meus amores. Não há palavras suficientes para dizer o quanto sou grata.
Nos falaremos em breve, um super beijo.
Letícia.
Olááá adoraveis leitoras.
Bom só queria dizer que foi uma grande honra e um prazer enorme fazer parte dessa história incrível que foi Tudo de Nós, foi através dela que conheci pessoas maravilhosas tais como minha amiga Leh e meu amor Lenna, foram noites saboreando cada paragrafo dessa que é uma das minhas historias favoritas... Cada personagem foi escrito com muito carinho e amor. Espero que tenha sido especial pra vcs, assim como foi pra mim. Só tenho a agradecer a elas e a vocês pelos inúmeros comentários dados, e por nunca desistirem de nós.
Até a próxima.
Luh.
Quero agradecer por ter feito parte dessa obra maravilhosa que foi Tudo de nós, mesmo que tenha sido uma pequena participação, eu nunca imaginei que uma história mudaria tanto minha vida, através dela conheci a mulher da minha vida e de quebra ganhei uma amiga que quero levar para vida toda, obrigada Letícia por essa oportunidade e você Luane obrigada por ser o meu amor... A vocês leitoras obrigada por não desisti da gente. Amo vocês! Ass: Lenna...!
Comentar este capítulo:
Lea
Em: 20/08/2021
Com toda certeza foi o capítulo que me arrepiou e chorei de verdade,desde o que aconteceu com as crianças,os preconceitos com seres tão indefesos,o acidente de avião ( chorei junto com a Rebecca);
Essa grande família encheu meu coração de amor!!
Estou aqui preparada para uma terceira parte dessa história linda!!!!
Parabéns autoras!!!
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Viviane1
Em: 14/06/2020
Boa tarde, meninas!
Meus parabéns pela história, muito boa. Ri bastante na 1a. temporada e mais ainda na 2a. Alguns trechos meio loucos. O espírito infantil (no sentido da pureza e bondade) é muito cativante.
Nunca ri tanto em uma leitura do site como aconteceu agora. Bela dupla. Das historias de vocês que li, ate agora, essa foi a que mais gostei sem dúvidas. Forte abraço.
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manuca
Em: 14/02/2020
Quantas emoções!história magnífica assim como a primeira,já virei fã de carteirinha,cheguei meio atrasada,eu acho...
Mais ta valendo cada segundo de leitura,só tenho que parabenizá las pelas belas obras e palavras,e digo a vcs que jamais desistam,independente de problemas enfim,estaremos aqui sempre pr dar forças a vcs...
Grande abraço!!!
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AMANDA
Em: 17/04/2019
Linda e encantadora história! Nao imagino o quão difícil
e desgastante deve ser se dedicar, a um talento maravilhoso que
muda vidas, mas também tem aquela galera invejosa pra jogar
pra baixo. Pra mim o talento de vocês, a escrita
sim muda vidas, e sim ajuda a lidar com nossas vidas.
A história é maravilhosa uma mistura de friends com TLW
magnífica e que deixará saudades Parabéns meninas!
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MartaGamaAurelia
Em: 14/02/2019
Obrigada meninas. Parabéns! Vocês nos mostraram que independente da dificuldade vocês vão a luta. A estória ficou fantástica, assim cono as outras. Muito obrigada. Bjs????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????
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patty-321
Em: 01/02/2019
Meninas lindas que Deus abencoe suas vidas sempre. Foi lindo e vcs tem um talento da porra. Kkkk. Gratidão. Gratidão. E acreditem sempre em vcs e em Deus tb. Mantenham sentimentos de gratidão mesmo quando a vida tiver menos fácil. Tentem, faz toda indiferença. Bjs de luz.
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preguicella
Em: 01/02/2019
Ah, adorei a saga das meninas. Aproveitei e reli as histórias e me diverti mais uma vez.
Letícia, mesmo que as coisas não estejam indo bem não perca a esperança de que dias melhores virão!
Voltem logo com outras histórias, adorarei contribuir para que sejam as mais lidas e comentadas!
Bjãoooo
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