Talvez... por Lily Porto
Capítulo Único
Me isolei em busca de inspiração. Precisava de foco e disciplina, e perto de você essas eram as principais coisas que eu não conseguia.
Logo que cheguei aqui você me mandava mensagens, ligava e até ameaçou em um dos seus e-mails rastrear a minha localização e dar queixa a polícia alegando meu desaparecimento.
Achei graça e em muitos momentos te evitei de continuar com as suas loucas “viagens” sobre o meu paradeiro e nosso possível reencontro.
Eu não imaginava que as coisas pudessem chegar a esse ponto, as ligações e mensagens foram ficando escassas, minha caixa de e-mail não mais lotava com as suas declarações com uma letra (formando as palavras EU TE AMO) a cada e-mail.
No início achei normal, e cheguei em muitas vezes até a pensar " bom, ela entendeu que preciso me reconectar para enfim conseguir produzir", mas depois de um tempo você sumiu definitivamente, sem um "adeus", "até logo" ou até mesmo "estou indo".
Mas também, onde eu estava com a cabeça quando me enfiei no meio do nada sem te dizer ao certo o que faria e como faria? Oh merd*, como fui burra! As suas mensagens, ligações e e-mails nada mais eram que pedidos de "socorro", não desses s.o.s. mostrados nos filmes, e sim um pedido de confirmação de tudo o que vivemos e planejamos viver um dia. Só que eu parti, parti para um dia voltar, mas esqueci de te avisar. E em meio a isso você se foi, e eu nem percebi.
Não, eu não te culpo. Você precisava mesmo ir. Eu não soube te tratar da forma correta, afinal, eu sabia da sua fragilidade e da sua incerteza quanto ao "nosso futuro". E mesmo assim, não pensei duas vezes quando a oportunidade de passar um tempo em um chalé afastado de tudo e todos por tempo indeterminado apenas escrevendo surgiu.
Nem me dei conta que a minha maior e mais linda inspiração ficava na selva de pedras, a mercê de outros inspiradores da sua beleza.
O tempo passou, perdi a oportunidade de publicar o livro que sempre sonhei, e perdi VOCÊ. Quer dizer, perdi não, já que hoje posso apreciar-te mesmo que de longe, pelas lindas fotos suas que são publicadas constantemente em variados sites e revistas.
Talvez você nem lembre mais de mim, o que para mim não é um problema. Mesmo porque, para mim o importante são as lembranças que trago vivas em minha memória.
E enquanto escrevo esse breve relato, sem saber se publicarei ou não, olha pela janela do meu escritório e vejo as árvores que outrora me tomavam a visão, mas que hoje me fazem querer ser como elas, resistentes. O açaí e a xícara do café já moram sobre a minha mesa, assim como o notebook (aquele mesmo que compramos juntas, segundo você, para me dar boas alegrias). Ao lado o manuscrito nunca entregue, talvez nele falte algumas páginas, essas que escrevo diretamente para ti, não sei se endereço e espero a sua resposta, ou se apenas anexo como um epílogo sem um desfecho concreto e torço para que um dia você passe em uma livraria qualquer e se encante pela capa que lhe descrevi brevemente acima.
Mais uma vez a incerteza me assombra, queria te ter aqui, ou ao menos ainda ter contato com você para que me ajudasse nessa triste decisão, mais uma vez não sei o que fazer, mais uma vez a minha vida está lançada a sorte e mais uma vez sem ter você perto de mim.
Fim do capítulo
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sonhadora
Em: 01/02/2019
Vivendo sob esse mesmo dilema. Um pouquinho diferente, mas igual na essência....perder-se para encontrar a paz de espírito...Vivendo e sobrevivendo! Só isso!
Paciência!
Beijos
Resposta do autor:
Bom dia, Sonhadora, tudo bem?
As vezes parece que o que estamos fazendo em nada nos ajuda a "progredir" diante de certas situações, não é mesmo?! Mas aí, paramos e refletimos que nada vale mais que nossa sanidade, e para tal, em muitos momentos precisamos nos reinventar, e voltamos a dar um passo de cada vez, e isso nos traz um bem sem tamanho.
Nos tranbordar de amor e felicidade faz um bem incrivel.
Se cuida querida, bjs.
Silvanna
Em: 31/01/2019
"Viver é desenhar sem borracha."Millor Fernandes
Resposta do autor:
Bom dia, Silvanna. Tudo bem?!
Frase bem intensa. Num mundo onde andamos mais sendo do que vivendo então, rsrs; leva a uma grande amplitude nos modos de viver!
Obrigada, querida. Se cuida, bjs.
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veruskasouza
Em: 31/01/2019
Gostei da crônica...isso me lembra alguém...mas enfim, ...quem nunca se perdeu no próprio caminho?
Resposta do autor:
Bom dia, Veruska, tudo bem?
Então, é como dizem por aí, é errando que se aprende! Se perder no próprio caminho nos leva a crer que aquilo que antes para nos era certeza, virou uma incerteza e nos leva em muitos momentos a belas mudanças. Segue firme ai.
Obrigada!
Se cuida querida, bjs.
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