Capítulo 95
A manhã de segunda começou cedo para todos no rancho, mas mais cedo ainda para Maia. Ela conseguiu acordar alguns minutos antes de Alicia e perdeu alguns deles encarando a expressão adormecida da namorada antes de, gentilmente, afastar o braço sobre sua cintura e se arrastar par fora da cama. Ela deixou a veterinária deitada de bruços com o rosto sobre o travesseiro virado para o lado onde ela havia ocupado e o braço direito esticado como se ainda estivesse sobre sua cintura e caminhou para o banheiro. Maia fez sua higiene matinal, tomou os remédios e voltou ao quarto parando ao lado de sua bolsa e alcançando uma pequena caixinha que estava dentro dela. O som do corpo se movendo sobre a cama chamou sua atenção e ela virou o rosto para o lado vendo Alicia esfregar os olhos enquanto a encarava, ainda de bruços, mas agora com os cotovelos apoiados no colchão abaixo de seu corpo.
- Bom dia – a veterinária murmurou com a voz ainda enrolada e rouca de sono antes de esfregar o rosto outra vez.
- Bom dia – Maia respondeu sorrindo e se aproximando da cama, ela estava usando a muleta como apoio e a mesma fazia um leve ruído ao se chocar contra o piso, apenas por isso que Alicia notou a aproximação da namorada mesmo de olhos fechados enquanto voltava a colocar o rosto sobre o travesseiro – Você dormiu bem?
- Melhor impossível – ela respondeu abrindo os olhos e procurando os verdes que tinha certeza estarem lhe encarando, mas seus olhos foram atraídos pela pequena caixa branca que Maia trazia nas mãos – O que é que você tem ai? – ela perguntou virando o corpo e se apoiando nas mãos para se sentar na cama.
Maia deu um sorriso mais contido, quase envergonhado, e continuou a se aproximar até se sentar na beirada da cama de frente para Alicia que continuava a observar o objeto com uma curiosidade indisfarçável. A dona do Rancho achou adorável os olhinhos castanhos curiosos e atentos que lhe observavam de forma inocente. Ela apoiou a caixinha, que não era muito maior que a palma da sua mão, sobre suas coxas e esperou ainda alguns pequenos segundos antes de responder a pergunta da mais velha.
- Com tudo o que aconteceu nesse fim de semana nós não tivemos tanto tempo para falar de coisas bobas e boas – ela começou com um sorriso cansado, mas logo sua expressão melhorou e Maia mordeu de leve o lábio inferior antes de respirar fundo e encarar os olhos castanhos claros – Eu tinha preparado isso para te entregar na sexta-feira. Com tudo o que aconteceu eu acabei me esquecendo, mas depois da nossa conversa ontem a noite eu acabei lembrando dessa caixinha que estava dentro da minha bolsa antes de adormecer.
- Eu estou muito curiosa, Maia – Alicia a interrompeu colocando suas mãos sobre as mãos da namorada que seguravam a caixa branca – E por mais lindo que esteja sendo esse seu pequeno discurso, ele só está me deixando ainda mais ansiosa e curiosa – ela completou com um olhar suplicante e ansioso que fez a menor rir antes de continuar.
- É só um presente – Maia retomou o que havia iniciado – Eu tive a ideia alguns dias depois de começarmos o namoro, demorou alguns outros dias para ficar pronto e demorei um tanto a mais para conseguir te entregar. Mas eu espero que você goste.
Assim que terminou a última frase ela afastou as mãos da veterinária e abriu a caixa. Havia um estofado branco e, preso no meio dele, o que pareciam duas placas e dois anéis. Alicia arregalou os olhos surpresa e sem fala ao perceber que eram um par e Maia se controlou para não rir do choque da namorada, mas o sorriso em seu rosto aumentou ao notar o brilho nos olhos castanhos. Delicadamente e em movimentos lentos ela pousou a caixa sobre o cobertor ao lado da perna direita da veterinária e puxou um dos pares. Uma corrente surgiu do estofado quando ela retirou as peças mostrando a Alicia que eram pingentes.
O primeiro era de fato um anel, prateado, sem detalhes, totalmente liso e mais fino do que a maioria das alianças que Alicia já havia visto. O segundo era uma placa retangular de metal prateado, não era maior que a ponta de seu polegar e havia um buraco na parte superior por onde a corrente passava. Foi esse que Maia segurou com as pontas dos dedos virando-o na direção de Alicia para que ela visse o que estava gravado. Havia um desenho, praticamente só o esboço do contorno de a cabeça de um cavalo e, dentro das linhas do pescoço dele, estavam gravadas as letras “Ag”. Antes que Alicia conseguisse recuperar a fala, Maia se pronunciou para explicar os pingentes.
- Eu acabei tendo muita vontade de simbolizar nosso relacionamento em algo físico que pudesse levar comigo sempre – ela falou baixinho encarando os pingentes nas suas mãos, os olhos verdes envergonhados fugindo de encarar os castanhos – Mas então me recordei de uma conversa nossa sobre acessórios e da sua explicação para não usar nada nas mãos e pensei que era melhor deixar de lado essa vontade. Mas depois de alguns dias eu tive a ideia para essa solução. Você não pode usar um anel nos dedos, mas pode usar uma corrente, então poderia usar o anel preso a essa corrente. Então fui atrás de como fazer os anéis – ela comentou com um riso baixo e curto que fez Alicia rir junto, a veterinária percebeu que Maia começava a divagar enquanto contava toda a história das correntes e pingentes e só conseguiu sorrir como boba – Mas então fiquei pensando que poderia haver a possibilidade de eu ficar incomodada em usar a aliança e você não. E ai pensei em fazer a mesma coisa para nós duas, a mesma corrente e deixar de lado as alianças. Mandei fazer as correntes e me perguntaram qual seria o pingente. Me dei conta de que não havia pensado nele e que seria interessante um pingente que nos representasse. Então me veio a ideia de usar as alianças como pingente, só que o que melhor nos representava na minha cabeça eram cavalos, de certa forma foi o motivo de termos nos aproximado tão imediatamente. Conversando com o ourives a quem fiz o pedido acabamos idealizando essa placa, simples e mais representativa impossível – ela completou com um pequeno sorriso e, finalmente, voltando a encarar Alicia – Espero muito que você goste e aceite esse presente – ela completou segurando a corrente e estendendo em direção a Alicia.
A veterinária estendeu ambas as mãos e Maia soltou a corrente com os pingentes sobre as palmas abertas. Segurando o presente com a mão esquerda Alicia tocou o pingente e depois o anel com admiração e delicadeza. Era nítida a surpresa e alegria em sua expressão enquanto ela encarava os pequenos objetos. Percebendo que a namorada estava ainda sem reação com o presente, Maia delicadamente retomou em suas mãos a corrente. Os olhos castanhos a encararam enquanto ela sorriu segurando o metal com ambas as mãos e erguendo-as até conseguir passar a corrente pela cabeça de Alicia, o pingente e o anel pendendo no peito da veterinária que seguiu o movimento dos mesmos com o olhar acabando com o rosto virado para baixo.
- Não se mova – Alicia sussurrou ainda encarando a corrente e chutando os cobertores para longe de suas pernas depois de colocar sobre as mãos da menor a caixinha que ainda tinha o outro par da corrente.
Confusa Maia viu sua namorada correr para o banheiro quase tropeçando nos próprios pés enquanto corria descalça pelo piso de madeira que estava frio. Logo depois escurou os sons de Alicia se movendo pelo banheiro, aparentemente lavando o rosto e escovando os dentes. Logo em seguida, não muito mais do que três minutos depois, Alicia voltou correndo pelo piso frio. Maia estava rindo e abriu a boca para perguntar o que estava acontecendo, mas nesse momento a veterinária pisou no tapete que ficava sob a cama segurando o rosto da dona do Rancho e a beijando com delicadeza, mas de um jeito apaixonado.
Seus lábios ficaram colados por vários instantes, Maia com o rosto para cima enquanto que Alicia se inclinava para alcançar a boca da namorada. As mãos de Maia seguraram a cintura da veterinária, seus dedos frios no limite do elástico do short de malha que Alicia havia colocado na noite anterior para dormir. O beijo se tornou selinhos longos e curtos até que os olhos castanhos se abriram enquanto elas mantinham seus lábios quase colados.
- Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci na minha vida – Alicia sussurrou antes de juntar os lábios das duas outra vez no momento em que Maia deixava um sorriso surgir em seu rosto.
- Acho que isso significa que você gostou do presente – ela conseguiu sussurrar contra os lábios da veterinária que não parava de beijá-la.
- Sério que você tinha dúvidas sobre isso? – Alicia questionou rindo e se sentando de frente para a namorada – Eu tinha pensado em fazer algo, mas meus planos agora parecem medíocres depois desse presente.
- Quais eram seus planos? – Maia perguntou pegando a outra corrente, colocando em volta de seu pescoço, deixando a caixinha no chão e subindo na cama sendo acompanhada pela outra até estarem embaixo das cobertas outra vez.
- Te convidar para um passeio – Alicia respondeu enquanto passava seus braços em volta de Maia e ambas se ajeitavam na cama – Que provavelmente envolveria cinema, uma sorveteria, talvez um parque e um restaurante.
- Aceito – Maia disse se aconchegando contra o corpo da namorada e fechando os olhos – E, por favor, escolha um bom filme.
Alicia gargalhou abraçando Maia mais apertado por um segundo antes de soltar sua mão direita levando-a para o pescoço agarrando o pingente e o anel antes de sorrir boba e voltar a abraçar a cintura da namorada.
- Nunca reclamou das minhas escolhas cinematográficas – ela afirmou divertida beijando a testa de Maia – Garanto que não vai começar agora – garantiu sentindo seus corpos relaxarem no calor do conforto daquela cama e sabendo que elas acabariam por cochilar por mais alguns minutos.
Fim do capítulo
VOLTEI!
Com um pequeno presentinho de Natal pra vocês. Espero que gostem.
Um feliz Natal pessoinhas, com muito amor e alegria pra todos nós. E que 2019 seja como aquela comida exótica que a gente experimenta pela primeira vez achando que vai ser péssimo e já fazendo cara feia, mas que depois descobrimos que é uma delícia.
Até ano que vem
Bjinhos
;]
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