1º Caps. – Gitana
Saí do banheiro enxugando os cabelos, estava apenas de calcinha e um top preto que era meu favorito, segui para o guarda roupa e do espelho pude ver a marca roxa na altura de meu quadril, limpei o pouco do sangue que escorreu com uma gaze. Mais cedo quando estava ajudando uma égua a dar luz a um lindo potrinho, não desviei rápido de um coice que ela deu e acabou me acertando.
Passei a mão sobre o hematoma, estava dolorido, mas a satisfação de mais um trabalho cumprido era maior. Distraída não percebi que a porta se abriu e tomei um susto quando ouvi logo atrás:
– Com licença, você é a Dra. Beatriz?
– Sim, mas quem é você?
– Sou a Eduarda, desculpa! – senti os olhos dela correrem rapidamente pelo meu corpo, mas logo se recompor continuando: – Eu estava esperando por você a quase vinte minutos na outra sala.
– E por estar demorando, você invadiu meu quarto?
– Mais uma vez peço desculpa, mas é urgente. – aquilo chamou minha atenção, em dois passos alcancei ela perguntando preocupada:
– O que aconteceu?
– Estava cavalgando aqui perto, parei para tirar umas fotos e de repente minha égua empinou relinchando alto, quando me aproximei vi que uma cobra havia picado a pata dela. – senti que a moça estava realmente preocupada perguntei:
– Onde está a égua? Sabe me dizer como era a cobra?
– Eu não conheço espécies de cobras, mas a matei. – olhei admirada para ela que continuou dizendo: – Minha égua está aqui perto não quis forçar ela andar por não saber a gravidade do ferimento, pedi que um senhor a olhasse enquanto vinha procurar alguém para a ajudar e ele me indicou você.
– Claro! – inspirei fundo e gesticulei com as mãos: – Se puder esperar, em cinco minutos estarei pronta.
– Eu espero. – encostou na parede e olhei sorrindo para ela que ficou envergonhada sussurrando: – Me desculpa, espero na outra sala.
– Certo. – saiu, coloquei uma calça, minha bota e uma camiseta regata, passei um pente nos cabelos e os deixei solto, ainda estavam molhados, saí do quarto e a encontrei sentada com os cotovelos apoiados nas pernas cabisbaixa, levantou assim que me viu. – Vou pegar minha maleta e seguimos para lá.
– Obrigada e mais uma vez desculpa por estar sendo tão invasiva.
– Tudo bem moça, esse é meu trabalho. – entramos na minha caminhonete e seguimos primeiramente para onde ela havia matado a cobra, precisava ver qual era a espécie para saber quais os cuidados para com o animal.
– Eu a matei perto daquela árvore. – seguimos para lá, embora ela tenha mantido distancia, encontrei a cobra facilmente, olhei em volta e logo à frente tinha um riacho, voltei e ela perguntou: – E então?
– É uma sucuri. – colocou a mão na boca e a tranquilizei: – Tudo bem, não é venenosa, provavelmente a égua se assustou com ela e ao se sentir ameaçada acabou picando, deve ter vindo do rio. – olhei para ela que segurou meus braços perguntando preocupada:
– Gitana vai ficar boa? – sorri, devido o nome que ela batizou a égua dizendo:
– Vai sim, me leve até ela agora, por favor. – entramos na minha caminhonete e ela perguntou curiosa:
– Porque sorriu quando eu disse o nome de minha égua? – olhei de relance para ela respondendo:
– Achei interessante apenas, diferente também. – sorriu discretamente balançando a cabeça.
Não dissemos mais nada e em menos de cinco minutos estava estacionando na frente da cabana do Josias, que ao me ver sorriu e seu filho veio correndo me cumprimentar:
– Oi Dra. Bia, eu cuidei da égua. – sorri pegando na mãozinha do menino dizendo:
– Você vai ser um grande veterinário Pedrinho, pode até me ajudar um dia. – ele abriu um sorriso lindo e caminhei até o pai cumprimentando-o: – Josias, tudo bem?
– Dra. Bia, estou ótimo e a senhora, fiquei sabendo que levou um coice essa manhã? – sorri.
– Estou bem, apesar de ter pegado de raspão está doendo um pouco. – levei a mão de leve em meu quadril, senti a moça ao meu lado olhar onde coloquei minha mão e sorri perguntado:
– Onde está a égua Pedrinho? – ele saiu correndo mostrando o estábulo, enquanto o pai explicava:
– Tiramos a cela dela Dra., demos comida e água, o que aconteceu? – perguntou interessado.
– Picada de sucuri. – ele apenas balançou a cabeça, pedi que a moça ficasse de frente a égua e conversasse com ela para acalmá-la, me aproximei amarrando o cabelo e logo analisei o local do ferimento, apliquei o antibiótico e limpei o local fazendo um curativo.
O menino animado ao meu lado me ajudou, ele não tinha medo e isso era bom. Assim como todos os animais sentem as vibrações de nossos corpos, o medo é perceptível e o cavalo é um tipo de animal que se sentir esse medo vindo das pessoas, normalmente ficam arredios. Mas, estávamos indo bem, ela era mansinha.
Estava cuidando da pata e sentia o olhar da moça em minha direção, as vezes nossos olhos se cruzavam, noutras ela desviava disfarçando, sorri terminando.
– Acha que ela vai ficar boa Dra. Beatriz? – perguntou preocupada.
– Pode me chamar de Bia. – arrumei minha maleta e me dirigi até ela dizendo: – Como a cobra não era peçonhenta, quer dizer que não era venenosa, o tratamento será por meio de antibióticos, apliquei a primeira dose nela agora a pouco e vamos monitorizar.
– Quanto tempo mais ou menos?
– Depende muito do organismo de cada animal, vejo que ela é forte e sadia, provavelmente alguns dias, uma semana mais ou menos, mas é bom mantê-la em repouso por mais tempo até estar totalmente recuperada.
– Obrigada Bia, não sei como agradecer, além é claro de pagar pelos seus serviços.
– Não se preocupe com isso moça, está tudo bem.
– Por favor, eu insisto. – peguei minha maleta e olhei para ela sorrindo, parecia determinada, me aproximei dizendo:
– Podemos ver isso ao final do tratamento, já que insiste, concorda?
– Claro, ficarei grata!
– Certo, agora precisamos levá-la para casa. – passei a mão na cabeça da égua perguntando: – Onde vocês moram?
– Do outro lado da colina, na Fazenda Recanto Bela Vista.
– Na Fazenda do Coronel Antônio?
– Conhece meu avô? – sorri concordando:
– Dona Laura era muito amiga de minha tia e eu praticamente cresci naquela Fazenda. – olhei admirada para ela perguntando: – Porque eu nunca te vi por lá?
– Cheguei faz menos de um mês, sempre morei fora do Brasil, meu avô e meu pai não se davam muito bem, infelizmente isso me afastou da convivência com meus avós, até completar maior idade, terminar minha faculdade, segui minha própria vida e carreira e resolvi dar um basta nisso.
– Voltou para o Brasil e agora está correndo atrás do prejuízo.
– Mais ou menos isso. – sorriu lindamente, ficamos em silêncio por alguns minutos, mas o quebrei dizendo:
– Eu levo vocês até lá, só preciso ir até a minha casa pegar o trailer.
– Não precisa se incomodar, ligarei em casa e peço para alguém vir nos buscar.
– Por favor, agora sou eu quem insiste. – sorri e ela concordou.
Segui até minha casa com o pequeno Pedrinho, engatamos o trailer na caminhonete e voltamos. A égua estava mancando, a colocamos com jeito e ajustei os cintos em volta dela, a moça agradeceu ao Josias e ao pequeno menino que cuidaram delas. Nos despedimos e seguimos para a Fazenda, menos de meia hora estava estacionando próximo aos estábulos, os rapazes que estavam por ali nos ajudaram a levar a égua.
Expliquei exatamente o que havia acontecido e os cuidados que deveriam tomar com ela durante algum tempo. Depois de respondido muitas perguntas, certifiquei de que me avisariam se algo acontecesse, e marquei de vir aos finais das tardes daquela semana para aplicar a medicação.
Me despedi deles seguindo de volta para minha caminhonete, dona Laura apareceu sorrindo, estava cavalgando. Desceu do cavalo me abraçando forte, e depois a neta perguntando:
– A que devemos a sua visita Dra. Beatriz?
– Somente de passagem dona Laura, estava ajudando a sua neta. – ela olhou para a moça que narrou o que havia acontecido, ao final de toda a história a senhora me olhou dizendo:
– Nesse caso, a senhorita irá jantar conosco. – e antes que eu dissesse alguma coisa ela disse: – Não aceito não como resposta.
– Como posso dizer não para a senhora? – sorriu e se dirigiu ao interior da casa, ajeitei o trailer na caminhonete, a moça ao meu lado me ajudando, sorri agradecendo e depois seguimos para a escadaria onde sentei com ela perguntando:
– Há quanto tempo trabalha na área?
– Tenho a minha clínica há dois anos, e antes disso trabalhava e ainda trabalho na região atendendo as fazendas e ranchos, no total pode se dizer que uns seis anos.
– Muito tempo. – sorriu me olhando, sorri também e nos perdemos por alguns minutos até perguntar novamente: – O senhor disse que você levou um coice essa manhã, verdade?
Levantei a camiseta, estava sangrando um pouco e nem tinha me dado conta disso, levantei indo até a caminhonete dizendo:
– Devo ter machucado quando estávamos forçando a égua a entrar no trailer mais cedo. – peguei umas gazes da maleta e limpei dizendo: – Estava ajudando no parto de uma égua essa manhã, e não desviei a tempo da patada que deu quando estava fazendo força. – ela se aproximou e disse:
– Não era o caso de você ir até o hospital para ver esse ferimento? – olhei para ela e disse sorrindo:
– Eu fui mais cedo moça, acontece que esqueci de fazer um novo curativo quando a senhorita apareceu no meu quarto me chamando.
– Desculpa... – sorri a tranquilizando:
– Relaxa, está tudo bem! – fechei a maleta e abaixei a camiseta dizendo: – Pode avisar sua avó por favor, vou na minha casa tomar um banho, trocar de roupa e aproveito e faço o curativo também, depois retorno.
– Não... – olhei para ela estranhando, se recompôs dizendo: – Você não precisa ir, pode tomar banho aqui, temos mais ou menos o mesmo manequim, pode usar uma roupa minha, e tenho certeza que o quite de primeiro socorros da casa está completo e pode te ajudar, evitando assim que você... – olhei para ela que falava sem parar, sorri e perguntou em seguida: – O que foi?
– Estava tentando associar o que você disse, foi tudo tão rápido. – vi um leve rubor no rosto dela, sorriu dizendo:
– Só quis dizer que você não precisar ir, podemos dar um jeito aqui mesmo.
Fechei a porta encostando as costa no carro cruzando os braços, olhei atentamente para ela e sorri balançando a cabeça dizendo apenas:
– Não quero incomodar moça...
– Duda...
– Oi?
– Me chame de Duda ou Eduarda. – sorriu colocando uma mecha de cabelos atrás da orelha: – Você me chama de moça o tempo todo, não que isso me irrite, mas gostaria que me chamasse pelo nome ou apelido.
– Certo, peço desculpa. – sorri e ia explicar algo quando dona Laura apareceu.
– Meninas, o jantar está quase pronto. – fiz menção de falar e ela mesma disse: – Bia, porque não toma um banho, seu quarto ainda continua do mesmo jeitinho que você deixou, acredito que ainda tenha algumas roupas sua lá, certo?
– Sim senhora.
– Então faça isso! – olhei para a moça ao meu lado que me olhava intrigada e curiosa, ia falar algo, mas a vó também interrompeu dizendo: – Eduarda, acredito que a senhorita precisa de um banho também, estou aguardando as duas em meia hora para jantarmos.
– Sim senhora! – dissemos as duas, nos olhamos e sorrimos, seguimos para o interior da casa com ela perguntando ao meu lado:
– Então a senhora tem um quarto aqui com roupas e tudo mais?
– Ainn! Não me chame de senhora, me sinto velha assim. – sorri e vi que ela esperava uma resposta, inspirei fundo dizendo: – Minha tia morava aqui, cuidava da casa e de toda a família. – seguimos para a escada que levava para os quartos superiores e o corredor onde ficava o meu, encostei no corrimão com ela me olhando do segundo degrau e conclui: – Costumava dormi aqui quando vinha visitá-la ou tinha algum trabalho grande na fazenda para fazer, mas tem um tempo que não venho, então não seria justo me oferecer para ficar.
– Entendi! Nesse caso, sinta-se à vontade para ficar. – começou a subir as escadas, segurei o braço dela de leve dizendo:
– Não vou ficar moça... – sorri: – Eduarda, tenho a minha casa... – me interrompeu:
– Depois conversamos sobre isso, pode ser?
– Não temos o que conversar moça! – ela me olhou e ainda sorrindo dizendo: – É só um banho, depois que jantarmos, irei para minha casa.
Virei as costas e segui pelo corredor antes que ela questionasse, estava sentindo dores na região lombar, logo acima de onde estava o ferimento. Entrei no quarto e dele para o banheiro, quando retornei vi que tudo estava do mesmo jeito que havia deixado a um ano atrás. Embora as roupas tivessem sobre a cama, provavelmente foram lavadas a pouco tempo pelo cheirinho gostoso que tinha nelas.
Inspirei fundo lembrando, logo depois que minha tia faleceu, saí de viagem e fiquei fora seis meses fazendo um curso especializado em Reprodução Equina, aproveitei para espairecer e dar um tempo.
Quando voltei para a cidade, quase não vinha a Fazenda, sentia falta de minha tia e vir aqui abria certas feridas dolorosas. Como por exemplo agora, estava eu aqui saudosa em frente do espelho limpando e preparando um curativo no meu ferimento. Quando terminei, peguei uma mochila e joguei a roupa suja dentro dela e alguns pertences em outra bolsa.
Organizei tudo e fui de encontro aos donos da casa que nos esperavam na sala. Coronel Antônio quando me viu, levantou e veio em minha direção me cumprimentando e dizendo:
– Menina Bia, Laura estava me contando o que aconteceu hoje, você está bem, espero.
– Sim senhor, estou ótima. – apertou minha mão e me puxou para um abraço, quando nos separamos disse feliz:
– Conheceu nossa neta pelo que vejo.
– Eu praticamente invadi o quarto dela essa tarde vovô. – olhamos para a porta e lá estava a bela moça, em um vestido na altura das coxas, cabelos soltos e uma sandália nos pés, me perdi nos olhos divertidos dela e na conversa também, porque o Coronel perguntou preocupado ao lado:
– Você está bem minha filha?
– Estou sim senhor! – sorri encabulada.
– Nesse caso vamos jantar! – seguiu com dona Laura na frente, e a moça se aproximou dizendo:
– Vamos jantar Dra. Beatriz?
– Vamos sim.
Seguimos animadamente para a sala de jantar onde fomos agraciados com uma belíssima refeição. Conversamos animadamente, contamos o que aconteceu durante a tarde e respondi algumas perguntas referente ao tratamento da égua nos próximos dias.
A moça de sorriso sincero e divertido estava sentada a minha frente, impossível nossos olhos não se cruzarem a cada instante, sentia a curiosidade exalar dos dela todas as vezes que isso acontecia, e eu tentando não me deixar levar por eles. Descobri que ela era Fotógrafa profissional, onde morava trabalhou alguns anos com artistas locais, mas deu um tempo quando resolveu vir embora.
Assim o tempo foi passando, trocamos algumas informações além de olhares claro, logo estávamos na sala, com eles me oferendo vinho, levantei dizendo:
– Agradeço a hospitalidade de vocês e o jantar que estava uma delícia, mas eu preciso ir.
– Porque não passa a noite conosco menina Bia? – dona Laura disse também se levantando: – Sempre é bem vinda em nossa Fazenda.
– Eu até gostaria dona Laura, mas preciso organizar alguns papéis na Clínica e separar a medicação que chegou essa manhã. – olhei para a senhora que provavelmente sentia a tensão em minhas palavras, provavelmente associando a falta de minha tia na casa, não que isso não fosse relevante, mas não era o único motivo, fui de encontro ao casal, recebendo abraços: – Prometo que numa próxima oportunidade ficarei.
– Sendo assim, está convidada para meu aniversário no final do mês, será o final de semana todo, afinal, você é de casa, e precisa aparecer mais vezes para conversarmos.
– Obrigada Coronel, agradeço o carinho, sei que estou em falta com vocês, mas os meus dias andam tão corridos.
– Entendemos minha filha! – dona Laura disse me abraçando também: – Mas não some viu, sentimos sua falta.
– Farei o possível para passar mais vezes por aqui. – sorri: – Com certeza virei ao seu aniversário Coronel, preciso me divertir um pouco.
Nos despedimos, avisei que levaria algumas roupas e assim segui para o quarto para pegar as bolsas, em seguida Eduarda me acompanhou, fomos em silêncio até minha caminhonete, quando cheguei ela apoiou de leve a mão em minha cintura e me deu um beijo no rosto agradecendo, quando apertou levei minha mão sobre a dela fazendo uma careta, logo ela disse sentida:
– Me desculpa, esqueci.
– Tudo bem, não foi nada. – sorri, nos perdemos naquele contato e logo saí do transe novamente abrindo a porta e entrando, abaixei o vidro e entreguei meu cartão dizendo: – Qualquer coisa, pode me ligar.
– Ligarei sim, mais uma vez obrigada por tudo.
– Disponha moça! – sorri e ela devolveu com outro sorriso lindo, inspirei fundo e liguei a caminhonete seguindo para minha casa.
Segui o caminho todo com aquele sorriso na cabeça, quando cheguei em minha casa organizei a clínica, separei a medicação. Passava das onze quando tomei outro banho, aquela noite estava quente, fiz outro curativo, tomei um suco e voltei para minha cama, precisava descansar, e aquele dia foi exaustivo. Assim que deitei o sono bateu e logo adormeci, acordei na madrugada apenas para tomar um remédio para dor e adormeci novamente.
Fim do capítulo
Bjs, até a próxima meninas!!
Bia
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Thayb
Em: 30/10/2018
Eiii Bia.Que saudades de "ler" você. Não nos abandone moça. Adorei a Bia veterinária misteriosa.bjs linda
Resposta do autor:
Oiie Thay, tudo bem?
Feliz em retornar moça... Bom, eis que surge mais uma história para vc me "ler"... hehe
Vamos ver o que a Bia vai aprontar dessa vez...
Bjs, se cuida
Bia
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