16.

Minha quinta-feira foi tranquila, na academia tudo em ordem e foi bom o retorno na faculdade, já estava com saudades. Neste semestre, as quintas, tenho aula de atletismo, nas sextas, anatomia humana II, já nas segundas, cinesiologia, terça, psicologia da educação e nas quartas, estudos do lazer. Estou ainda mais animada. Sei que vou perder uma semana de aula, devido ao mundial, mas sei que nem serei prejudicada, vou conseguir correr atrás, recuperar conteúdos e obter o máximo de aprendizado que eu conseguir.

Na sexta-feira, no começo da manhã treinei com o Bruno e marcamos um treino intensivo para o sábado de manhã, estamos determinados e focados. No trabalho, foi bem sossegado, no meu horário de almoço liguei para o meu pai, aniversário dele, papeamos um pouco, almocei na faculdade e quando voltei a Zípora já estava na academia. Fui ao encontro dela, que estava acomodada no leg spress, abaixei e a cumprimentei com um beijo no rosto.

- Parabéns pela convocação, fiquei muito feliz por ti.

- Obrigada! Eu trouxe seu livro, antes de ir embora, lembra de pegar comigo.

- Comprei nossos ingressos para amanhã.

- Conseguiu? Que legal. Quanto foi?

- Eu convidei e vamos comemorar sua convocação.

- Mas...

- Pode parar.

- Então eu pago o jantar.

- Fechou!

- Vamos comer onde?

- Você escolhe. Posso passar para te buscar por volta das oito?

- Sim, combinadas. Agora tenho que trabalhar e este seu peso está muito leve.

- Nem invente não quero ficar com as pernas doloridas.

- Olha a moleza hein (brinquei com ela e fui para o escritório trabalhar).

Após ela concluir sua série, pegou o livro comigo, despediu-se e deixou a academia.

Minha aula foi muito puxada, fiquei até com a mente cansada devido ao conteúdo denso e extenso. Cheguei em casa, tomei um banho e adormeci rapidamente.

Sábado, queria ficar mais na cama, porém, o Bruno é pontual e o Francisco exigente. Por falar nele, o novo treino que nos preparou, é rigorosíssimo, visando excelência no nosso desenvolvimento.

- Vamos treinar arduamente, pois, quero bons resultados e medalhas. Sejam perseverantes (ele apontou e instruiu).

Treinamos durante a manhã toda, foi muito produtivo e também exaustivo.

- Vou agendar a participação de vocês em atividades de aprimoramento e concentrações. Então, não marquem nenhum compromisso para o próximo final de semana. Participar de grupos que objetivam aprimorar as técnicas, fortalece e melhora o desempenho de todos os atletas. Sim, serão treinamentos penosos, pois, vocês enfrentarão veteranos, não vai ter nenhum amador, todos estarão dispostos e focados nas medalhas de ouro (Francisco voltou a nos orientar).

Tomei um banho na academia mesmo, almocei na faculdade e dormi a tarde inteira. Acordei já passava das dezenove horas, até assustei quando olhei o horário, tomei banho, vesti uma calça jeans, uma blusinha e calcei um tênis. Optei por usar meu cabelo solto. Pesquisei rapidamente e escolhi um local para jantarmos. Uns quinze minutos depois, a Zípora buzinou e ela estava ainda mais bela que o habitual; muito bem vestida e toda maquiada.   

- Tudo bem para ti o restaurante Dom Pimenta?

- Sim, gosto de lá e uns grelhados vão cair bem.

Ficamos por lá por aproximadamente uma hora, jantamos, papeamos, eu escolhi pudim de sobremesa e ela petit gateau. Depois seguimos para a festa, que já estava bem movimentada e agitada. Nós duas nem somos de beber, preferimos sucos e refrigerantes. Dançamos bastante, uma noite muito agradável e feliz. Nos divertimos muito e já era madrugada quando fomos embora.

- Ully, sua vez de dirigir, estou cansadinha.

- Também, dançamos como se não houvesse amanhã. Nos empolgamos (comentei).

Ela colocou músicas do duo AnaVitória e cantou com elas o trajeto todo. Quando estacionei na frente da minha casa, estava tocando, a música “Me abraça”, que eu só conhecia a versão da Banda Eva, já com as duas moças parece até outra canção, fica até mais doce. Desta vez eu também cantei junto delas.

ME ABRAÇA

“Quando você passa eu sinto seu cheiro

Aguça o meu faro e disparo em sua caça, ai ai ai

O tempo inteiro a te admirar

Perco o tino, paro de pensar

Seguindo seus passos aonde quer que vá

Me abraça e me beija

Me chama de meu amor

Me abraça e deseja

Vem mostrar pra mim o seu calor

Eu vejo em seus braços

Um laço perfeito

Me dá essa chance meu bem, me veste de beijos

Me dá essa chance meu bem, me cobre de beijos”.

Não sei precisar em qual momento paramos de cantar. Só sei que eu fiquei atordoada, quando dei conta que ela me beijava, o mais surreal, foi o que senti e que nem sei descrever. Também não sei quanto tempo durou, só sei que correspondi, não tive coragem de interromper e o beijo dela é bom. Ela tem os lábios macios, é delicada e ao mesmo tempo precisa. Acho que eu nunca tinha beijado daquela forma. Talvez tenha sido a música que acabou instigando aquele momento. Porém, quando o beijo acabou, se estabeleceu um silêncio constrangedor. Tenho certeza que as minhas bochechas estão vermelhas, pois, estou sentindo elas queimarem, além disso, nem sei como olhar para ela e muito menos o que dizer. Alguns minutos depois, ela apanhou a minha mão direita e depositou um beijo.

- Eu gosto muito de ti (ela afirmou).

Eu não esperava por aquele beijo e muito menos ouvir o que ela acabará de dizer. Fiquei sem reação e apatetada com a situação.

- A sua mão está gelada (ela comentou).

E a minha voz? Deve ter sumido.

- Nervosa?

Eu apenas assenti balançando a cabeça.

- Suas bochechas estão vermelhas (voltou a dizer).

Enquanto eu estava totalmente sem reação, perdida e atônita.

- Por favor, fale comigo (ela pediu).

- Me desculpa, eu não sei o que dizer (foi tudo o que eu consegui dizer).

- Eu compreendo. Ully, fui extremamente cautelosa, não te falei nada sobre o que sinto antes, pois, achei melhor ir com calma e também nem queria te assustar. Eu te amo!

Meu coração ficou acelerado e descompassado. Comecei a tremer.

Eu engasguei, comecei a tossir, faltou ar, ou seja, um vexame.

- Calma, respira. Anjo, está tudo bem, não precisa ficar assim (ela disse tentando me acalmar).

Aos poucos minha respiração foi voltando ao normal e eu consegui me acalmar.

- Preciso tomar água (eu disse envergonhada).

- Mais calma?

- Estou. Quer entrar?

- Acredito que você precise de um tempo para pensar. Estou certa?

- Sim.

- Quando você se sentir confortável, voltamos a conversar, tudo bem?

- Obrigada!

Ela depositou mais um beijo na minha mão e sorriu toda atenciosa.

- Boa noite e durma bem.

- Você também (respondi e nem sei de onde tirei coragem, mas a abracei).

O nosso abraço não durou muito, mas de alguma forma me fez bem, me senti melhor, deixei o carro e corri para dentro de casa. Tomei uma garrafa de água em um só gole.

Mesmo depois de tomar um longo banho, por estar tarde e eu cansada; nada de conseguir dormir, eu ainda estava perplexa, me sentindo perdida e perturbada. Fiquei tão confusa, que até chorei e adormeci só quando já estava amanhecendo.

Fim do capítulo