Você precisa aprimorar nossa conexão especial de gêmeas.
Três dias após o ataque, depois de insistir com o médico que fizera sua cirurgia e garantir que não se envolveria em nada potencialmente perigoso, Alex recebeu alta e deixou o hospital.
As autoridades de Istambul anunciaram a prisão de quatro responsáveis pelo ataque na boate que matou trinta e nove pessoas, mas o clima que dominava a cidade ainda era o de terror e incertezas.
- Eu só quero voltar para casa – Júlia empurrava a cadeira de rodas de Alex pelo corredor do hospital onde Natasha estava internada e esperava a visita das duas. – E esquecer que tudo isso aconteceu.
- Não sei se isso será possível algum dia – Alex sentiu uma fisgada na perna enfaixada ao tentar esticá-la.
-Amor – Júlia deu a volta na cadeira e se agachou, ficando na altura dos olhos de Alex. - Eu sei que não será fácil, sei que parece impossível pensar que um dia vamos superar tudo isso, mas também sei é que estamos juntas e é isso que me faz acreditar que teremos forças para apagar esses dias das nossas vidas.
- O que eu fiz para merecer você? – Alex perguntou com os olhos cheios de amor.
- Provavelmente algum pecado terrivelmente pecaminoso e eu sou sua punição – Júlia voltou a empurrar a cadeira. – Agora pare de pensar essas coisas, ok? Sua irmã está ansiosa para te ver e me fez jurar que você estava inteiramente bem, então me ajude a convencê-la, eu devo isso a ela.
- Amor, você não deve nada a Natasha – Alex disse ao se dar conta das marcas que Júlia carregava. – Você não tinha como saber que ela estava lá.
- Vamos entrar – Júlia abriu a porta.
Natasha dividia um quarto com outras três pessoas que também foram feridas no atentado e ao escutar sua voz Alex teve que se segurar na cadeira para não desobedecer as ordens médicas e correr até ela.
- Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas ouvir você tagarelando é como música para os meus ouvidos – Alex levantou-se vagarosamente com a ajuda de Júlia e abraçou a irmã. – Mesmo que seja com estranhos, o que não me surpreende em nada.
- Eles não são estranhos, esses são Yuga, Xim e Hui – Natasha apresentou os companheiros de quarto que sorriam acanhados balançando a cabeça. – Eles são os chineses mais engraçados que já conheci.
- Você já conheceu outros chineses? – Júlia perguntou se aproximando da cama para também abraçar a cunhada que tinha hematomas e curativos por todo o corpo.
- Não, mas esses daqui sorriem para tudo que eu falo, o que automaticamente faz com que eles sejam maravilhosos.
- Aposto que não estão entendendo uma palavra do que você está dizendo – Alex disse averiguando os rapazes.
- É totalmente possível e ainda bem que vocês chegaram porque para falar a verdade eu estava prestes a perder o juízo – Natasha confessou. – Também não entendo nada do que eles dizem. Não sou fã de conversa unilateral.
- Você é inacreditável! – Júlia revirou os olhos com um sorriso.
- Nunca mais faça isso! - Alex deu um leve soco no braço da irmã. – Eu achei que você estivesse morta.
- Você precisa aprimorar nossa conexão especial de gêmeas – Natasha provocou e Alex a fuzilou com o olhar. - Que bom que você tocou nesse assunto - Natasha se desvencilhou do abraço quase sufocante de Alex – sabe, sobe toda essa história de estar morta e tal, isso é muito bom e eu aprecio imensamente, mas tenho que te contar uma coisa e preciso que você não surte.
-Você acabou de sair de um estado de coma, não existe nada que você possa dizer que vá me fazer surtar.
- Fico extremamente feliz por saber que você gosta de mim assim bem viva, porque o que eu tenho para te contar talvez faça com que você queira me matar. Mas não se esqueça do quanto sou importante e valiosa na sua vida, que minha voz é música para seus ouvidos e...
- Eu já sei que a Mariah te salvou – Alex interrompeu o angustiante discurso de Natasha.
- Sabe?
- Sim, ela me visitou no hospital e contou tudo.
- E você está aqui conversando comigo sem tentar descaradamente me matar?
- Ela e eu estamos conversando e ainda temos muitas coisas para resolver, mas você e o pai estavam certos. Alimentar sentimentos de ódio e indiferença nunca é uma boa ideia, principalmente em tempos como esse.
-Uau, isso é uma tremenda evolução espiritual – Natasha admirou o esforço da irmã em conceder a oportunidade de perdão. - Acho que agora podemos começar a falar sobre sua dívida eterna comigo.
- Ela salvou sua vida, isso não significa que eu não possa tirá-la – Alex ameaçou firmemente.
- Ok, vamos esquecer a dívida, o que importa é que estamos todas vivas. E você vai se casar! – Natasha encarou Júlia. – Quer dizer, você aceitou o pedido, não aceitou? Por favor, diga que aceitou.
- Aceitei sim – Júlia respondeu animada e mostrou a aliança na mão direita.
-Graças a Deus! O presente de casamento que comprei para vocês não tem reembolso – Natasha suspirou aliviada. – E eu dividi em dezoito vezes no cartão.
- Como você está lidando com tudo, Nat? – Júlia perguntou. – Conseguiu dormir desde a última vez que estive aqui?
- Passei a metade do tempo anestesiada e a outra metade tentando aprender chinês. Acho que estou bem – Natasha balançou os ombros pensativa.
- O que você viu lá dentro? Os investigadores nos disseram que pegaram seu depoimento hoje mais cedo.
- Sim, eles estiveram aqui. E eu disse a eles que não vi nada – Natasha revirou os olhos brava consigo mesma. – Eu fui a pessoa que esteve fisicamente mais próxima dos atiradores e a única que não viu nada.
- Como você pode não ter visto nada? Eram balas por todos os lados – Alex perguntou pasma.
- Eu estava com os fones de ouvido quando o ataque começou, olhei para frente e o palco imediatamente caiu em cima de mim – Natasha explicou encolhendo os ombros. – Quando acordei estava aqui e não tinha a menor ideia do que tinha acontecido. Vi a Mariah ao lado da minha cama achei que estivesse morta e aquilo era meu julgamento. mas ela só chorava e pedia perdão, foi quando eu entendi que alguma coisa muito ruim havia acontecido.
- Ela salvou mesmo a sua vida – Júlia disse reflexiva. – EU nunca teria encontrado você embaixo dos escombros.
- Ninguém teria pensado em me procurar ali, Juh – Natasha segurou a mão da cunhada. – Mariah só conseguiu me tirar de lá porque ela viu o momento exato em que o palco desabou em cima de mim.
- Estive tão perto, eu deveria ter procurado melhor – Júlia sentiu uma lágrima escorrer ao se lembrar da cena. – Se tivesse te achado naquela hora talvez seu estado não tivesse sido tão grave.
- A única coisa com a qual eu me importo é que você tirou a Alex de lá – Natasha falou séria, como poucas vezes falara na vida. – Você não me deve nada, eu é que tenho uma dívida imensa com você.
- Se você concordar podemos parcelar em 18 vezes – Júlia limpou as lágrimas com as costas das mãos.
- É uma ótima ideia – Natasha fez uma careta de dor para a enfermeira que acabara de trocar um dos curativos em sua perna - O que você queria me dizer antes de sairmos do hotel? – ela perguntou para irmã, mudando completamente de assunto.
- Use nossa conexão especial de gêmeas para descobrir – Alex deu uma piscadela vingativa.
- Já tentei, acredite. Mas tudo que consigo visualizar é você admitindo que Vikings é infinitamente melhor que Game Of Thrones.
- Esquece, isso nunca vai acontecer – Alex disse convicta das suas preferências de entretenimento. – O que eu queria na verdade é te pedir outro favor e esse é muito sério e importante para mim.
- Depois de sobreviver a um ataque terrorista eu faço qualquer coisa, até assistir a horrível última temporada de Game Of Thrones com você, ou quem sabe assaltar um banco.
- Obrigada – Alex agradeceu sem saber se aquilo era realmente uma coisa boa. – Mas dessa vez juro que não é nada que coloque sua vida em risco.
- Ufa, eu odiei essa temporada. Prefiro mais dez dias de conversas com os meus amigos chineses do que ver o Jon Snow, mas o plano do banco ainda está de pé se você quiser.
- Ahnnn, definitivamente não. O que eu quero te pedir - Alex tirou a pequena caixinha embrulhada que carregara consigo desde que saíra do hotel na noite do ataque. – É que você seja minha madrinha.
- Eu? – Natasha abriu a caixinha e tirou de lá uma pulseira com pingentes.
- Sim, você fez com que eu e a Júlia voltássemos a acontecer – Alex puxou a noiva pela cintura e a trouxe para perto de si. – Claro que quando pensei em te perguntar isso eu não tinha ideia de que um ataque terrorista nos esperava, o que só reforça ainda mais o meu pedido. Eu quero muito que você esteja ao meu lado no dia do meu casamento e em todos os outros.
- Uau, isso é lindo, sis – Natasha se ajeitou na cama – eu me sinto extremamente honrada, mas infelizmente não posso aceitar.
Fim do capítulo
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Bia08
Em: 17/09/2018
Que bom que minhas meninas estao bem. Agora não entendi a Natasha, aí aí. Acho que ela está aprontando kkkkkk
Resposta do autor:
A Natasha aprontando? Acho que não! Kkk
Estão todas bem \o/
Postei os últimos capítulos, obrigada por ter acompanhado ;))
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