Era exatamente 18h quando enfim Mirella Ferreira desembarcou no aeroporto Internacional de Guarulhos, devido a alguns problemas seu voo atrasou quase uma hora. Desceu do avião apressadamente e sentiu intensos calafrios percorrerem seu corpo, os termômetros registravam 12°graus, o que era um clima normal para os paulistas, mas para ela, típica cearense acostumada a temperaturas quentes e elevadas, o clima estava congelante.

Adentrou o portão de desembarque tremendo muito, parou abruptamente e sentiu-se perdida em meio àquele enorme aeroporto lotado. Sem saber o que fazer, perguntou a um dos guardas do aeroporto onde poderia pegar suas malas. O guarda lhe mostrou as esteiras e orientou que ela aguardasse.

Enquanto aguardava Mirella lembrou-se de tudo que a trouxe até ali.

Há oito meses, NADA no mundo seria capaz de fazê-la viajar até outro estado sozinha, muito menos uma namorada, sempre foi muito racional e sincera em suas relações, nunca sentiu confiança ou coragem o bastante para se jogar assim na relação, jamais havia saído de sua cidade por ninguém, sempre suas namoradas vinham até ela.

Mas tudo mudou ao conhecer Janaína, a mulher que conquistou seu coração , conheceram-se através de um grupo de leitoras chamado “Amigas do Lettera “ no Whatsapp. De todas as namoradas que teve desde que se assumiu, tanto as de longe quanto as de perto, essa foi a única que sempre demonstrou que realmente a amava e queria estar com ela, mesmo estando distante ela se fazia presente.

Sorriu ao lembrar das noites que passavam em claro conversando, todos os dias se viam por vídeo chamada e foi a vontade incontrolável de estar perto de Janaína que as trouxe até ali. Decidiu confiar no sentimento que as unia e esperava não se arrepender. O barulho das malas vindo na esteira interrompeu seus devaneios.

Pegou as malas, ligou o celular e verificou as horas, o relógio marcava 19h. Desesperou-se, pois combinou de encontrar-se com Janaína num bar próximo ao aeroporto às 18h e como seu voo atrasou, já estava atrasada.

Olhou ao redor e encontrou a porta de saída do aeroporto, andou rapidamente até lá, ao ver um táxi do lado de fora correu e entrou no carro. Repassou o endereço ao taxista e acomodou-se sentindo o aquecedor do táxi amenizando-lhe momentaneamente o intenso frio.

30 minutos depois o táxi parou em frente ao Arena Bar, local marcado para se encontrarem pela primeira vez.

Ao sair do táxi uma rajada forte de vento assanhou-lhe os cabelos negros, o clima estava ainda mais frio, porém Mirella nada disso sentiu, seu coração estava agitado, suas mãos suavam de tão nervosa que estava e tudo em que pensava era em ver Janaína, estar com ela.

Entrou rapidamente no bar e constrangeu-se ao ver todos olharem em sua direção, sentiu-se deslocada ao notar que todos usavam roupas adequadas para frio, enquanto ela usava apenas um vestido colado ao corpo, vinho de mangas longas, e sapatilhas. Baixou a cabeça, dirigiu-se até o bar, sentou-se, pediu uma dose dupla de whisky e cigarros, e começou a observar ansiosamente o local à procura de Janaína.

Ao lado do bar havia um palco onde uma banda tocava, e à frente dele alguns casais dançavam. O bar estava animado, repleto de pessoas interessantes, porém para Mirella isso não fazia a mínima diferença, pois não via Janaína em lugar nenhum.

Perguntava-se onde ela estava, quando o garçom interrompeu-lhe dizendo:

— Aqui está seu whisky duplo e cigarros... Como está sua noite? Está esperando alguém? — Perguntou o barman de maneira simpática, ao perceber que ela estava nervosa.

— Minha noite está horrível, estou esperando minha namorada, namoramos a distância há 8 meses e eu vim do Ceara até aqui para vê-la pessoalmente pela primeira vez, ela me prometeu uma noite repleta de surpresas. — Sorriu ironicamente. — Mas pelo que vejo a maior surpresa será ela não aparecer, pois era para ela estar aqui desde as 18h, e mesmo eu tendo me atrasado ela ainda não chegou. — Respondeu Mirella, revelando assim toda sua angústia e decepção diante a espera por Janaína. O barman serviu-lhe outra bebida e a deixou novamente sozinha perguntando-se por ela.

                                   ******

Até que enfim. — Exclamou Janaína aliviada ao chegar na frente do bar em que marcou de encontrar-se com Mirella.

Às 18h saiu de casa para encontrá-la, mas seu carro pifou no caminho e ela precisou pegar três ônibus, para enfim chegar ao local. Lembrou-se que tentou falar com ela por ligações e mensagens e nada deu certo, sentiu-se ignorada, o medo dela ter ido embora decepcionada com ela a deixou desesperada.

Entrou no bar e começou a observar o lugar, na esperança de ainda poder encontrá-la por lá, sorriu aliviada ao vê-la sentada diante do bar com um copo de bebida numa mão e um cigarro na outra, estava linda, porém angustiou-se ao notar seu semblante triste e decepcionado ao levantar-se para ir embora.

Decidida correu até Mirella segurou firme em sua mão e disse:

— Mi, enfim eu cheguei por favor me perdoa por fazer-te esperar, irei compensar cada segundo seu de espera. Podemos conversar? — Olhou-a esperançosa e com um sorriso nervoso nos lábios.

— Não, eu não te perdoo, Janaína, e muito menos irei conversar com você. — A olhou e com um safanão livrou-se da mão que a segurava, saindo imediatamente do bar.

— Aonde vai? — Perguntou Janaína confusa, seguindo-a até um ponto de táxi.

— Vou embora. — A fitou decepcionada.

— Por que? Precisamos conversar, eu te liguei e mandei várias mensagens no Whatsapp, mas nada deu certo. Tudo tem uma explicação. — A olhou desesperada ao vê-la  chamar um táxi.

— Eu não posso conversar com você agora, estou muito confusa e decepcionada, você sabia o quanto era importante para mim esse encontro e mesmo assim você fez o que fez.  Não sei o que será de nós daqui pra frente, mas no momento só quero ir embora. — Encarou-a tristemente e partiu sem esperar resposta deixando para trás uma Janaína triste e confusa.

Fim do capítulo