Capítulo 29 – Suporte de equipe
Acordei sozinho na enorme cama de casal das minhas mãos. Tomei um instante para me esticar e então olhei ao redor encontrando o visor digital do despertador. Estava uma hora e meia atrasado, não teria tempo de correr nem me exercitar. Diferente de mim, Erika não precisava de nenhum despertador para acordar na hora, então elas provavelmente acordaram antes de mim e decidiram me deixar dormir mais do que o normal hoje. Sai, com muito custo, de cima da cama e fui para meu quarto desejando poder dormir e pular todo esse dia de hoje, mas sabendo que seria impossível.
Depois de um banho parei em frente ao closet do meu quarto, um aposento quase inútil visto que eu não conseguia ter roupas para ocupar nem metade do espaço, mas veio na casa quando a compramos. Tive vontade de pegar um dos meus agasalhos, uma regata e um moletom, mas desisti. Não estaria confortável assim na escola, por isso fui em direção as minhas camisas. Vesti o jeans preto, o all star da mesma cor e tirei do cabide uma camisa de mangas compridas azul a vestindo por cima da regata branca que eu tinha colocado por dentro da calça. Abotoei todos os botões, menos o da gola e passei pela minha mesa jogando as folhas impressas na noite anterior dentro da mochila que logo coloquei sobre o ombro esquerdo. Peguei também as chaves do meu carro.
Minhas mães estavam na cozinha, Alex sentada sobre a bancada com uma tigela de cereais nas mãos, Erika estava em pé ao lado da guitarrista de costas para a entrada da cozinha e dava para notar a xícara de café que ela tinha na mão direita enquanto sua mão esquerda estava sobre as coxas de Alex. Me permiti parar por um segundo olhando-as, era sempre assim quando elas estavam juntas em casa, sempre próximas, se tocando, compartilhando momentos e olhares. Às vezes me perguntava se teria algo assim um dia, mas era um questionamento que sumia logo, se fosse para acontecer eu teria, se não, paciência. A gente só descobre o que a vida nos reserva quando ela decide nos mostrar.
Alex foi a primeira a me notar, seus olhos encontraram os meus e ela me deu um sorriso encorajador que me chamou para perto, Erika se virou e sorriu também e eu me aproximei delas. Minha mãe me estendeu a tigela de cereais junto da colher e eu peguei comendo um pouco do conteúdo antes de Erika me estender outra caneca com café. A lutadora colocou a mão nos meus cabelos arrumando-os um pouco mais antes de deixar um beijo na minha testa e me mandar sentar na mesa para comer. Sorri e olhei para Alex que piscou para mim, mas não falei nada sobre minha mãe estar comendo sentada em cima do balcão.
Estava terminando meu café da manhã quando James apareceu na cozinha. Silencioso como nunca foi ele se sentou ao meu lado para me esperar. Aliás, parecia que todos a minha volta haviam acordado num clima silencioso essa manhã porque nem as brincadeiras de Alex foram ouvidas na cozinha. Era incomodo, mas eu também não me sentia com vontade de conversar. Talvez eles apenas estivessem espelhando o meu ânimo.
James e eu saímos no meu carro. Tia Melissa havia convocado os interessados em estar na exclusiva em que eu me manifestaria para se cadastrarem em algum endereço no centro bem longe da escola, algum prédio para escritórios onde ela havia alugado uma sala. Assim os portões tinham apenas um ou outro abutre solitário com suas lentes focadas de longe. Chegamos quase atrasados o que, consequentemente, nos proporcionou corredores quase vazios. Quando entrei na sala encontrei Jill sentada na segunda fileira com sua mochila sobre um dos bancos. Assim que me viu ela jogou a mochila no chão me chamando para me sentar ali.
Ela também estava no clima silencioso, mas era algo comum entre nós dois então não senti a sensação de que era de propósito. As aulas seguintes foram mais difíceis exatamente por não ter nenhuma presença conhecida por perto. Sentia os olhares constantemente cravados as minhas costas por onde quer que eu andasse, em todas as aulas. Me forcei a não mudar meu comportamento e buscar as cadeiras das filas do fundo, mas em diversos momentos considerei essa uma boa estratégia. Meu único momento de alívio foi o horário de almoço, mas logo voltei a mesma situação.
Quando o último sinal finalmente soou fazendo a grande massa de alunos fluir pelas saídas da escola eu consegui pela primeira vez respirar aliviado, mas não durou muito. Antes que terminasse de guardar meus materiais com toda a paciência que eu tinha meu celular vibrou com uma mensagem de Tia Melissa avisando que era melhor eu chegar ao lugar mais cedo antes de as entradas começarem a ficar tumultuadas. Me passou o novo endereço, o salão de eventos de um dos hotéis da cidade, e me pediu para não demorar pois ela enviaria a nova localização para a imprensa em alguns minutos.
Esperava ter passado tempo suficiente para que os estacionamentos esvaziassem quando sai da sala. Quando saí do prédio tive a sorte de encontrar poucos carros, mas em volta do meu Dodge meus amigos pareciam me esperar. James estava entre eles, provavelmente havia recebido a mesma mensagem que eu e decidiu me acompanhar, mas não entendo o motivo de ter reunido todos eles. Abri o carro e joguei a mochila no banco de trás antes de dar atenção ao grupo a minha volta.
- Qual a razão dessa reunião? – perguntei me encostando a porta do motorista e abrindo o primeiro botão da camisa.
- Queremos ir com você – quem me respondeu foi Jill, mas eu mantive meu olhar em James que me encarava com uma expressão firme e decidida.
Meu melhor amigo estava parado de braços cruzados sobre o peitoral largo e musculoso logo a minha frente, ao lado direito dele estava Jill, com a jaqueta de sempre cobrindo a regata vermelha. Ao lado dela, um pouco mais atrás, estavam Lillian e Carlos. O semicírculo se encerrava na traseira do meu carro com Louis, Georgia e Frederick, nessa ordem. E todos me encaravam de um jeito decidido, a maioria, excluindo Jill e Carlos, imitando a postura do jogador. Ele claramente era o ‘líder’ daquele pequeno movimento.
Por um lado, eu não sabia se queria mais gente envolvida nisso, mais pessoas poderiam gerar mais perguntas e mais complexidade para aquela situação toda. Por outro, era uma sensação estranhamente boa ter tantas pessoas me apoiando em algo. Fiquei alguns segundos encarando um por um de forma séria, todos estavam decididos, mas a maioria eu sabia que poderia convencer a não ir, entretanto, alguns deles tinham claro em seus olhares que viriam comigo sendo autorizados ou não. James e Jill eram os que pareciam mais decididos, logo depois Lillian e Carlos. Desisti de argumentar e apenas abri a porta do carro me sentando atrás do volante e fechando a porta com uma força calculada e esperei alguns segundos enquanto eles se encaravam confusos.
- O que estão esperando para entrarem no carro? – perguntei colocando a cabeça para fora da janela que eu havia acabado de abrir e dando um meio sorriso.
James foi o que mais sorriu e logo estava dando a volta e abrindo a porta do passageiro. Os rapazes entraram no banco de trás, meu melhor amigo se espremendo no canto atrás do meu banco seguido de Carlos, Frederick e Louis que quis se sentar sobre as pernas dos dois anteriores, mas foi obrigado a se espremer contra a outra janela. Georgia se sentou na frente comigo enquanto eu via Lillian subir na garupa da moto de Jill. Fiz sinal para que ela me seguisse e guiei o caminho para o tal hotel.
Um segurança de terno preto nos viu chegar e indicou o caminho da garagem do hotel, parei explicando que a moto estava comigo e ele deixou Jill passar logo atrás do Dodge. Nos apertamos no elevador que nos levaria ao saguão e encontrei Tia Melissa em um conjunto de calça e blazer sociais na cor preta que combinavam com o salto alto também preto e reluzente. Ela tinha um pequeno fone na orelha esquerda cujo fio sumia pela gola da camisa de seda branca e parecia ter contato direto com os seguranças. Quando saímos ela ergueu uma sobrancelha para meus amigos que vinham atrás, mas apenas rolou os olhos e se aproximou me dando um beijo na testa e depois limpando o batom rosa que havia ficado marcado na minha pele.
- Vamos, todos vocês, vou dar um jeito de colocar seus amigos junto das suas mães atrás da mesa onde você vai ficar – disse ela passando o braço em volta do meu e movimentando a mão esquerda que segurava uma prancheta indicando que meus amigos deveriam nos seguir – Eu dei uma filtrada em quem vai ter acesso a coletiva, acredito que evitei os mais indiscretos, mas mesmo assim eles serão inconvenientes, como sempre são. Você está pronto pra isso? – me perguntou em tom baixo e soltei um suspiro.
- Tenho que estar. É hora de encarar o mesmo que minhas mães tem encarado por mim todo esse tempo – respondi enquanto elas nos guiava por alguns corredores de serviço que nos colocaria no lugar certo sem termos que passar pelas pessoas no saguão e na porta do salão.
Havia um pequeno palco com cortinas e um backstage com duas salas e um camarim. Uma das salas tinha a porta aberta e eu vi o “centro de operações” de Tia Melissa com o chefe da nossa segurança, o chefe da segurança do hotel e mais alguns funcionários que lidava com a aparelhagem de rádio e computadores. Na outra sala encontrei minhas mães que logo me abraçaram por um longo tempo antes de darem um pouco de atenção aos meus amigos. Dali alguns minutos eu entraria para enfrentar a mídia.
Fim do capítulo
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