Capítulo Único
Não sei quanto tempo passei somente observando a fumaça que saía da minha xicara de café, pude sentir o vapor bater contra a meu rosto e em questão de segundos o amargo e quente líquido invadia a minha boca. Percebi então que o sabor não era tão amargo quanto à dor que me acompanhava desde o momento que você passou daquela porta decidida a não mais voltar. Minha consciência agora tinha o tom da sua voz e constantemente me questionava “Como pôde?” “Por que fez isso comigo?” de modo confuso e abstrato parte de mim sentia alívio em não ter a resposta e mais uma vez com a intenção de calar meus pensamentos eu me levantei e despejei o café pelo ralo da pia.
Apanho aquela garrafa de conhaque que já está empoeirada no fundo do armário e despejo o líquido âmbar reluzente em meu copo, aguentar a sua ausência sóbria é demais para mim e eu preciso entorpecer as malditas lembranças que se repetem feito um filme no fundo da minha mente, por que você não as levou contigo na mala quando partiu? Beber sozinha já está se tornando um hábito recorrente justamente pelo motivo que já estava tão cansada de beber em bares onde por sorte ou azar eu acabava encontrando alguns dos seus amigos, no principio eu bancava a desapegada, pedia várias doses seguidas e me desmanchava em sorrisos para estranhos que ali estavam. Eu queria que seus amigos vissem e te contassem como eu não sentia a sua falta, como a minha vida estava mais livre e leve desde quando você se foi, eles não podiam saber que em cada estranho eu buscava seus olhos, em cada sorriso minha mente embriagada enxergava traços dos seus, eu vendia há eles uma mentira que nem mesmo eu acreditava.
Depois de toda essa noite de teatro e encenação eu chegava em casa e deixava meu corpo cair no meio da cama, foi assim que eu passei a dormir no meio da cama e não mais do lado direito, foi assim que eu aceitei que você não iria mais voltar pro lado esquerdo do meu peito e nem da cama. E ali deitada nem do lado esquerdo e nem do lado direito eu fechei meus olhos e desejei profundamente que meu coração pudesse ser como aquela cama que eu ocupava como se nunca tivesse tido espaço para você.
Fim do capítulo
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RosanePatell
Em: 26/07/2018
... esta é uma ferida que nunca cicatriza!
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