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An Extraordinary Love por Jules_Mari

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Palavras: 8075
Acessos: 6912   |  Postado em: 01/07/2018

Notas iniciais:

Boa noite a tod@s. Antes de mais nada gostaria de pedir desculpas pela demora, mas a produção do capítulo foi difícil devido a vários fatores e portanto gostaria de me desculpar, pois irei postar o capítulo sem uma revisão geral e certamente irão passar alguns tantos erros. Mas optei pela postagem assim mesmo, afim de manter o nosso dia. 

Outra coisa, nessa capítulo tem uma música que me é muito especial e que o nomeia, portanto peço que quando chegar o momento (final do cap) leiam ouvindo-a. Link nas notas finais. 

Uma excelente leitura e ótima semana. 

Capítulo 52 Do What You Have To Do

A dança das letras no painel indicando a infinidade de chegadas e partidas mal chamava sua atenção. Os sons distantes no autofalante mal chegavam aos seus ouvidos, pessoas apressadas com suas idas e vindas nem mal a percebiam ali parada diante de um dos inúmeros painéis olhando, mas não enxergando nada.

Como companhia tinha apenas uma mala ao seu lado e sua mochila de couro já surrada. Na mão direita segurava seu passaporte e a passagem aérea comprada as pressas para um desgastante voo com várias escalas até chegar em casa. Foi tudo o que conseguiu ao procurar um lugar em um voo de volta para os EUA.

Seus olhos queimavam devido a imensa quantidade de lágrimas que derramara nos últimos dois dias, contudo, naquele instante sentia que nem tinha mais forças para continuar chorando. Sua cabeça latej*v* e os seus movimentos letárgicos indicavam a total falta de força em seus membros. Mal havia dormido, quase não comeu nas ultimas 48 horas e tudo o que desejava naquele instante era desabar em sua casa e desistir de tentar compreender o que estava acontecendo.

Sua cabeça doía e seu orgulho lhe feria ainda mais, mas nada disso conseguia lhe explicar o que a levou até aquele instante, prestes a retornar para sua casa, com um pós-doutorado interrompido e o coração despedaçado.

Como se não estivesse literalmente no fundo do poço, o anúncio de que seu voo iria atrasar algumas horas a deixou ainda mais irritada, lhe causando um riso amargurado enquanto agradecia, ironicamente, à Murphy. Arrastou-se pelos corredores do aeroporto Charles de Gaulle mal desviando das pessoas que lhe distribuíam caretas sempre que ela esbarrava em alguém mais mal-humorado. Tropeçou umas duas vezes no próprio pé, pois estava sentindo uma tontura proveniente do imenso vazio em seu estômago, só então conseguiu pensar em se alimentar. Devido ao atraso considerável, havia recebido um voucher da companhia aérea para um jantar num sofisticado e prático café ali mesmo em um dos andares do terminal de embarque. Zanzou a procura do lugar sem muito ânimo, e decidiu seguir um casal que estaria no mesmo voo que ela. Não estava nem um pouco afim de pensar em nada, uma vez que sua mente estava em verdadeiro caos tendo uma pergunta martelando em sua cabeça: “Por quê?”

Lutou contra sua mente, pois não suportava mais repassar aquela terrível conversa que tivera com sua agora ex-orientadora e que também era sua ex-amante. Sentiu o conhecido nó se formar em sua garganta, mas esforçou-se para não ceder a vontade de voltar a se debulhar em lágrimas. Tentou colocar o seu orgulho em primeiro lugar, pois havia prometido para si mesma que não iria derramar mais nenhuma lágrima por aquela que havia lhe proporcionado os momentos mais felizes de sua vida e também a lançou num abismo profundo de mágoa e sofrimento.

Finalmente chegou ao Eric Kayser, uma cafeteria charmosa e que estando dentro dela, podia-se esquecer que ela ficava em um terminal de viagem tão impessoal. Sentou-se no balcão mais próximo a entrada e deixou suas coisas no banco ao lado. Optou por um Croque Monsieur, mas com um chá de camomila para acompanhar. Desejava adormecer no voo e café não ajudaria nisso. Sua breve refeição não tardou em ser servida e com quase nenhum prazer, a degustou enquanto observava uma família de canadenses numa divertida refeição. Duas crianças gêmeas roubavam a cena com suas impertinentes perguntas que desconcertavam os pais e causavam risos de todas.

Ao observar a menina de cachos dourados, foi inevitável não lembrar da pequena Manu, a garotinha que havia conquistado seu coração com todo uma altivez incomum para alguém tão jovem. O nó em sua garganta retornou com tudo. Pois até isso lhe foi retirado por Delphine, a possibilidade de conviver com aquela criança especial. Trincou seu maxilar e obrigou o choro a retornar para o seu lugar de origem. Estava fortemente tentada a deixar que o poderoso amor que sentia por aquela mulher pudesse ser convertido em mágoa, para em seguida poder odiá-la e então, finalmente, esquecê-la. Esse deveria ser o caminho lógico para alguém que fora rejeitada tão bruscamente. E ela sabia que estava se iludindo, ao achar que aquele processo aconteceria com ela, até porque o amor que as unia era algo poderoso e ancestral. O que só dificultava ainda mais a sua compreensão.

- Covarde! – Disse entre dentes após bater com o punho fechado contra o balcão, chamando a atenção da atendente que a olhou com receio, obrigando Cosima a se desculpar. Passou a encarar o fundo de sua xicara de chá de forma perdida e mal percebeu o seu nome ser chamado ao longe.

- Cosima?! Ela está aqui próxima ao Terminal 2E, num café! – Amélia falou ao telefone enquanto se aproximava da amiga que ainda não percebeu a presença dela. – Cos! – Lhe tocou o ombro causando um pequeno sobressalto dela. Virou-se para amiga que falhou terrivelmente em esconder o espanto e a pena ao ver o estado em que ela estava. Não conseguiu esboçar nenhuma reação mais significativa e surpreendeu-se ainda mais quando percebeu a chegada esbaforida dos demais Semideuses e junto a eles o próprio Félix.

- O que vocês estão fazendo aqui? – Finalmente disse diante da expressão preocupada de todos. Havia optado por sair sem se despedir pessoalmente, deixando apenas uma carta para cada um sob os cuidados de Gracie. Não estava pronta para se despedir definitivamente de nenhuma deles, pois a amizade verdadeira que desenvolveu por todos, lhe doía demais pensar em lhes dizer adeus.

- Como assim “o que estamos fazendo aqui?” – Marc postou-se com ambas as mãos pousadas em seu quadril. – A Srta pensou que isso aqui seria suficiente? – Indicou a carta deixada por ela, lhe obrigando a encarar todos e baixar os olhos.

- Desculpa gente... – Foi o que conseguiu dizer.

- Você achava mesmo que nós a deixaríamos ir embora sem ao menos nos despedirmos? – René deu o seu mais carinhoso sorriso, tentando transmitir um mínimo de calor para a amiga que não conseguiu segurar um meio sorriso para ele e os demais. Todos ficaram se olhando por alguns instantes sem saberem o que dizer a seguir e isso só fazia o aperto no coração partido de Cosima aumentar. Baixou o olhar sentindo que não seria mais capaz de segurar o choro e, num ultimo esforço, sucumbiu a tristeza iminente e voltou a derrubar as lágrimas que irritavam ainda mais seus olhos.

- Oh Cos... – Marc disse já à passos largos para abraça-la, procurando proporcionar algum tipo de carinho para ela. Logo os outros três juntaram-se naquele abraço e assim permaneceram por um bom tempo, chamando a atenção dos passantes que assistiam comovidos aquela calorosa despedida. O afetuoso abraço só teve fim quando ouviram o nome de Cosima Niehaus ser chamado pelos autofalantes do aeroporto, solicitando que ela se dirigisse até o balcão da empresa aérea.

Os cinco caminharam lentamente falando amenidades e evitando tocar no delicado assunto que estava fazendo com que sua amiga fosse embora. Eles apenas desejavam que ela, de alguma maneira, se sentisse um pouco melhor.

Assim que chegaram viram que havia uma pequena fila formada e funcionária disse a um grupo de quatro pessoas, que houve uma confusão com as passagens e os cinco foram mudados da classe econômica para a primeira classe do avião.

- Ao menos sofrerei em alto estilo... – Cosima conseguiu brincar com sua situação.

- Isso é que é uma confusão bem-vinda! – Uma mulher de cabelos negros e curtos disse atrás dela. Cosima a olhou e viu que ela lhe sorria educadamente enquanto segurava a mão de uma loira. As observou também serem atendidas e ganhar a mesma regalia dela. As duas trocavam carinho de forma acentuada e Cos viu que ambas usavam alianças. Foi impossível não lembrar da recente viagem que fez à Índia com sua amada e os sentimentos que vieram a tona ficaram evidentes em sua expressão sofrida. O que foi percebido pelos amigos que trataram de mudar de assunto.

- Diga-me o que tem de bom para se fazer em São Francisco? – Amélia brincou.

- Isso mesmo. E acho bom você arrumar lugar para todos nós quando formos visita-la viu? – Sophie ajudou.

A verdade era que todos estavam quase tão confusos e perdidos quanto ela. Não conseguiam compreender o que aconteceu e desde a manhã anterior, quando a amiga foi barrada de assistir a aula da Professora Cormier, que o caos se instaurou. Eles queriam perguntar a Cosima o que havia acontecido, mas a pedido de Marc, não insistiam na indagação, no máximo só conseguiam demonstrar a sua revolta pelo tratamento que a professora dera a amiga sem aparente motivo.

O arrastar das horas foi um pouco mais suavizado pela companhia dos amigos, que conseguiram, inclusive fazê-la rir um pouco, e todos estavam impressionados com a velocidade com que Marc e Félix decidiram morar juntos, inclusive o rapaz disse que estava pretendendo retomar os estudos, graças ao incentivo do namorado. Riam também das tentativas de Amélia de conseguir o telefone de Amanda Guerra, o qual Cosima acabou cedendo e dando. Relembraram também os bons momentos que passaram juntos, especialmente na viagem à Índia, mas o tempo todo era perceptível o cuidado que estavam tendo para não tocar no nome de Delphine.

O clima de despedida foi retomado quando o voo de Cosima foi anunciado e confirmado, solicitando o embarque de todos os passageiros. O cinco foram com ela até o limite possível e caminhavam lentamente, abraçados com ela.

- Cos, sentiremos muito a sua falta! – Sophie foi a primeira a abraça-la e a transmitir com o marejar dos olhos, o que os demais estavam sentindo. Um a um todos a abraçaram demoradamente e prometeram que iriam visita-la nos EUA.

O ultimo a se despedir foi Marc que fez questão de segurar apertado a amiga contra o corpo.

- Minha amiga, não sei exatamente o que a está levando embora, mas tenho a impressão que, por tudo o que você contou, a professora Cormier fez o que precisava ser feito. – Cochichou em seu ouvido, lhe causando um sobressalto quase revoltado.

- Não Marc! Ela fez o que era mais fácil! Ela foi uma covarde de merd*. – Disse com a voz embargada pelo misto de mágoa e ódio. O rapaz baixou os ombros e suspirou tristemente. Sabia que Cosima havia escolhido aquele caminho para tentar entorpecer a sua dor. Lembrou-se então do estado em que encontrou Delphine, logo após Cosima sair correndo da universidade. A dor do choro copioso da mulher não condizia com alguém que simplesmente dizia que não poderia mais ficar com quem a amava, ou com a frieza com que conduziu a aula, pouco tempo depois daquilo, como se nada tivesse acontecido.

Ele também estava dividido, tentando odiar sua orientadora, mas ao mesmo tempo se compadeceu do sofrimento dela. Por algum motivo bem sério, ela precisou afastar Cosima e essa era a maior prova de amor que ele poderia imaginar. Sabia que ambas estavam envolvidas em uma espécie de trama ancestral e os acontecimentos dos últimos dias lhe diziam que as consequências poderiam ser a piores possíveis. Mas infelizmente Cosima estava magoada demais para conseguir enxergar tudo isso.

Largou-a relutantemente e ainda segurou suas mãos, apertando-as com delicadeza.

- Esse não é um adeus minha amiga! É apenas um “até logo.” – Sorriu e piscou um dos olhos. A insistente e fria voz no autofalante precisou apressá-los e com pesar, ela afastou-se dos amigos ainda dando passos para trás e só quando o homem a alertou para o horário de seu voo, que ela lhe mostrou a passagem e seguiu pelo corredor que a levaria até a inspeção da bagagem. Ainda olhou por sobre os ombros, como se buscasse mais alguém ali com seus amigos, mas sabia que essa era uma ilusão. Delphine foi categórica com ela. Precisavam ficar longe uma da outra.

- Aquela cretina idiota! – Falou um pouco mais alto do que deveria, chamando a atenção de uma senhora que estava a sua frente na fila. Ela lhe olhou com ar de reprovação e Cosima esboçou um pedido de desculpas, mas ela foi chamada pela funcionária do aeroporto antes disso. Ainda olhou ao redor para ver se iria receber mais olharas de repreensão, mas encontrou apenas aquele casal de mulheres, que estavam muito mais preocupadas uma com a outra do que com qualquer outra coisa.

Foi liberada sem maiores problemas e seguiu com sua bagagem pela plataforma de acesso que a levaria até seu Airbus A380 imenso. Já era madrugada e Cosima via que uma pesada chuva caía do lado de fora. Identificou-se aos comissários e assim que viram o seu cartão para a primeira classe, percebeu a evidente mudança de expressão na face do rapaz.

- Boa noite Srta. Niehaus... Queira me seguira por favor. – Ele lhe sorriu forçadamente e a guiou até uma escada de acesso ao compartimento mais alto da aeronave onde ficava a primeira classe. Assim que chegou, teve lhe sendo oferecido uma taça de espumante que ela educadamente recusou e impressionou-se com a suntuosidade daqueles assentos individuais e extremamente exclusivos. Como já estava no final do embarque, percebeu que viajaria sozinha e sem ninguém no assento ao lado, o que ela cogitou ser positivo, pois tudo o que menos precisaria naquele momento era de alguém puxando conversa ou a questionando por estar se derramando em lágrimas, o que sabia que inevitavelmente aconteceria assim que o avião decolasse. E não se enganou. Foi só apenas as luzes da cabine diminuírem e o comandante anunciar a decolagem que todas as emoções que tentou represar vieram a tona e um choro copioso teve inicio silenciosamente. Checou ao redor, para ver se mais alguém via aquele pequeno espetáculo e as pessoas mais próximas a ela era exatamente aquelas duas mulheres que, assim como ela, ganharam aquela regalia. Observou o cuidado e o carinho compartilhado entre as duas e constatou que tratava-se de um belíssimo casal. Suspirou em derrota e deixou-se guiar por suas emoções e lembranças. Elas seriam suas companhias durante o longo e doloroso voo de volta.

O que Cosima não conseguiu perceber é que, antes de o comandante da nave solicitar que os equipamentos eletrônicos fossem desligados, a mulher morena enviou uma mensagem via celular, com as seguintes palavras:

“Ela embarcou e estamos com ela na primeira classe como foi solicitado! Não a perderemos de vista.”

Fora daquela aeronave, ainda no aeroporto, Helena lia a mensagem resignada e em seguida acionou seu celular em uma ligação.

- Alô Siobhan? Sim, o avião acabou de partir e ela embarcou com nossas meninas junto a ela. – Ouviu algo do outro lado da linha. – Sim, Stella e o pessoal dela a esperará nos EUA. E... – Baixou seu tom de voz enquanto via ao longe, os amigos de Cosima saírem do aeroporto. – Como ela está? – E assim que obteve a resposta, fechou os olhos e deixou duas lágrimas caírem. Sofria pela dor que a amiga querida estava sentindo, mas assim como ela, sabia que aquela era a melhor solução para as ameaças do Martelo que se aproximavam cada vez. Num suspiro demorado, desligou a ligação e partiu para pegar o seu voo.

De volta ao avião, Cosima buscava uma posição confortável na agradável cadeira, mas não conseguia, estava com dores pelo corpo e estava sendo assolada por uma poderosa enxaqueca devido a tudo que passou nos dois últimos dias. E como uma avalanche, todas essas lembranças vieram a tona e como se um filme passasse por sua cabeça, deixou sua mente viajar até a manhã do dia anterior, quando acordou de um sono agitado e se viu deitada em sua cama, contudo quando esticou-se nela, percebeu que estava sozinha e que Delphine não estava mais ali.

- Del? – Chamou por ela algumas vezes e não obteve resposta alguma. Ainda sonolenta, levantou-se meio zonza e percorreu toda a extensão de seu diminuto loft apenas para constatar que a mulher não estava mais lá.

Despertou imediatamente quando uma desconfortável sensação acionou um alerta em sua mente. Procurou seu celular, tentando verificar se havia alguma mensagem dela e não havia nada. Apenas algumas dos amigos e de sua mãe. Olhou novamente ao seu redor na esperança dela ter lhe deixado um bilhete à moda antiga, mas também não havia nada.

Sentou-se em seu sofá e tentou tranquilizar a sua descontrolada mente que já estava fantasiando inúmeras possibilidades, e todas elas eram ruins. Ergue-se de uma vez só e se enrolou em seu casaco marrom surrado e desceu as escadas as pressas. Alcançou a rua e foi direto em direção ao carro preto de suas seguranças que mal tiveram tempo de cumprimenta-la e foram logo inqueridas.

- A Delphine... Digo, a Srta Cormier? Ela saiu daqui? – As duas mulheres se entreolharam e hesitaram na resposta. – Que droga, só preciso que me digam se ela saiu. – Insistiu exagerado na dureza do tom.

- Nós acabamos de começar o nosso turno, mas as seguranças anteriores nos relataram que ela saiu no meio da noite. – Disse com denotado receio. Cosima as olhou, mas não as estava enxergando, pois sua mente já a havia levado para bem longe, tentando imaginar o motivo dela precisar ir embora e deixa-la sozinha num momento tão difícil como aquele.

“Calma Cosima! Ela deve ter tido um bom motivo para isso!” Repetiu isso para si quase como um mantar enquanto se afastou e retornou para seu apartamento sem se quer despedir-se ou agradecer às suas seguranças. Em algum momento enquanto se banhava, lembrou-se da má educação para com elas e prometeu que se desculparia, mas logo deixou essa ideia de lado, novamente cogitando milhões de hipóteses para a saída sorrateira de sua amada.

Assim que saiu do banhou, ligou pela quinta vez para ela, e pela quinta vez a ligação foi direto para a caixa postal, aumentando ainda mais a sua apreensão. Procurou se acalmar e se contentar com a ideia de que em algumas horas estaria com ela na Universidade e para o velório do amigo.

Essas horas pareceram uma eternidade para passar e mal conseguiu se alimentar, pois o nó em seu estômago lhe impedia de ingerir qualquer coisa. Finalmente e bastante adiantada para seu feitio, saiu de seu apartamento andando a passos rápidos. Estava tão preocupada, que mal se importou com o carro a seguindo um pouco ao longe. Tudo o que ela mais queria e precisava naquele momento era olhar para Delphine, estar com ela e descobrir porque ela a deixou no meio da madrugada. 

Pouco mais de vinte minutos de caminhada depois, já estava passando pelo estacionamento que antecedia o Bloco A e ele já estava bastante movimentado, exceto pela parte onde algumas fitas amarelas da polícia e cones isolavam o espaço onde havia ocorrido o terrível incidente do dia anterior. Tentou evitar olhar para aquele local, e focou nos degraus a sua frente. Subiu cada um deles sentindo o estranho peso em seus ombros, uma desconfortável sensação de opressão em seu peito e foi se deixando preencher por um angustiante sentimento. Caminhou entre as pilastras que ladeavam o corredor até o acesso aos elevadores.

Apertou o botão e ficou aguardando que um dos quatro abrisse suas portas. Assim que um deles chegou, mergulhou nele e precisou forçar toda a sua simpatia para responder ao cumprimento da Professora Bowles que a recebeu com escancarado sorriso e, como de costume, a comeu com os olhos.

- Boa tarde Srta. Niehaus! Algum problema? – Questionou percebendo o evidente semblante triste dela.

- Algumas questões pessoais apenas professora. – E virou o rosto, deixando claro que não desejava estender aquele assunto. Sentiu o peso dos olhos dela sobre si, mas não disse mais nada. Estava mais preocupada com algo que lia em seu celular.

– Não é seu andar? – Ela questionou assim que os estudantes presentes saíram em direção ao pavimento das salas de aula.

- Não professora pretendo encontrar com a Del... Professora Cormier! – Corrigiu-se a tempo.

- Ah sim... Então vamos! – Ficaram apenas as duas percorrendo os últimos cinco andares em silêncio. – Primeiro você. – Indicou a passagem para ela com um gesto de mão. Cosima agradeceu com um aceno de cabeça e sentiu a inconveniente inspeção da professora enquanto ela caminhava em direção ao final do corredor. Para o seu alívio, a sala de Marion Bowles era uma das primeiras. Olhou por cima do ombro e a viu entrar e trancar a porta. Seguiu até parar diante da porta daquela sala onde já esteve por várias vezes e, naquele instante, parecia que estava indo ali pela primeira vez.

Após alguns instantes de dúvida, bateu na porta e insistiu mais duas vezes e não obteve resposta. Sua angustia começou a aumentar. Bateu novamente e dessa vez resolveu chamar por ela, mas nem assim obteve resposta. Foi então que decidiu apelar para a conexão que tinham e chamou.

“Delphine?” “Você está ai?” Novamente só obteve o silêncio de volta. Indicando que ela realmente não estava lá. Checou seu relógio e viu que ainda estava um pouco cedo. Pensou em espera-la ali, mas uma mensagem em seu celular chamou sua atenção. Era de Gracie, pedindo que ela fosse até a departamento acadêmico.

A mensagem lacônica só potencializou seus receios, mas pensou que não adiantava mais ficar conjecturando milhões de teorias e decidiu ir até lá imediatamente.

Assim que entrou no departamento, se apresentou e disse que havia sido chamada até lá. Estranhamente, os três funcionários que estavam ali se entreolharam sugestivamente, como se decidindo que iria falar com ela, até que um homem de cabelos levemente grisalhos se aproximou do balcão.

- Boa tarde Srta. Niehaus. Temos alguns documentos para lhe repassar. – E lhe entregou um envelope pardo. – Sinto muito. – O homem disse evitando lhe olhar nos olhos. Ela não entendeu a principio aquele pedido do homem e sentiu que o que quer que houvesse ali dentro, não seria nada bom para ela. Com receio, abriu o envelope e retirou de lá um documento de cinco páginas, cujo o titulo fez sua cabeça girar.

“Contrato de Desligamento de Orientação!” Leu e releu aquelas palavras completamente atônita.

- O que significa isso? – Questionou os funcionários, que apenas lhe olharam e baixaram os ombros, voltando às suas tarefas.

Parecia que alguém estava lhe roubando o chão sob os pés! Recuou alguns passos e praticamente caiu sentada num banco de madeira nem um pouco confortável. Com a mão tremula, foi lendo o conteúdo daquele detestável documento e a confusão que já lhe dominava, a fez perder completamente a razão.

- Que merd* é essa? – Levantou a voz, embora o pavor começou a ameaçar a sua frágil ira.

- É o que tem ai Srta. – O homem disse com denotado pesar.

- Quem pediu isso? Eu não fui. – Ela sabia em seu intimo a resposta para aquele questionamento, pois quem assinou o documento, para o seu completo estarrecimento, foi Delphine. Ainda insistiu em questionar aqueles funcionários, mas de fato eles não poderiam lhe ajudar em mais nada.

Saiu cambaleante de lá, tentando compreender o que aquilo poderia representar e em uma ideia assustadora começou a ganhar força em seu peito.

- Gracie?! – Viu a jovem secretária de sua professora, que caminhava apressadamente. A moça a olhou e claramente mudou seu semblante ao encarar Cosima e em seguida olhar para os lados, procurando uma rota de fuga.  – Você sabe o que é isso? – Sacudiu o documento em mãos, assim que a alcançou.

- Cosima... É que... – A jovem gaguejava, indicando que não estava nem um pouco confortável com aquela situação, e após soltar os ombros e o ar dos pulmões despejou. – Eu não faço ideia do porque Cos, mas recebi uma mensagem da Professora Cormier no meio da madrugada me solicitando que desse entrada no processo de seu... Desligamento. – Havia pesar nos olhos e na fala dela.

Cosima abriu e fechou a boca algumas vezes, tentando dizer algo, mas a violência implícita no que Gracie acabou de lhe confessar estavam lhe roubando qualquer resquício de razão e as perguntas só se acumulavam em sua cabeça.

“O que porr* Delphine está fazendo?”

- Gracie, tem como eu reverter isso? – Suplicou. A jovem arriou os ombros e ajustou as pastas que trazia nas mãos.

- Infelizmente não Cosima. Do mesmo jeito que foi a professora quem lhe aceitou como orientanda, cabe a ela essa decisão e ela é... Irreversível. – Lamentou sinceramente. – Cos... Agora eu preciso realmente ir... Mas, se tiveres mais dúvidas, podes me ligar. – Falou já se afastando. – Embora que agora só cabe a você assinar e entregar uma das vias. – Deu de ombros e percebeu que a mulher diante dela estava completamente atônita com aquela notícia.

Cosima não mais enxergou a jovem e se viu completamente sozinha em meio ao ir e vir dos estudantes que passavam por ela. Caminhou a esmo por alguns minutos até chegar ao topo da escadaria para o estacionamento e sentiu a força de suas pernas fraquejarem. Arriou e sentou-se ali mesmo, enquanto olhava para os papeis em mãos e não acreditava no que estava acontecendo.

- Cos? – Marc disse quanto subia os degraus em direção a ela. O homem assustou-se quando sua amiga ergueu a cabeça e viu a expressão desesperada dela. – O que aconteceu dessa vez? – Ela apenas lhe entregou o documento e o queixo do rapaz foi ao chão. – O que significa isso? Você tá sendo desligada do programa? Mas por quê? Tem alguma coisa errada! – Falava sem parar, denotando que também estava alterado.

- Oi gente... Qual o problema? – Sophie e Amélia juntaram-se a eles e ambas leram o documento e juntaram-se a Marc em plena confusão.

- Eu não sei gente! – Cosima respondeu as inúmeras perguntas repetidas e se arrependeu do tom impaciente assim que o usou. – Tô tão perdida quanto vocês.

- Fazia tempo que a Professora Cormier não desligava ninguém... – Sophie ponderou displicentemente e foi repreendida pelos amigos.

- Você tem que falar com ela Cos! – Marc disse.

- Eu tô tentando... – Falou quase sem forças. – Mas o telefone dela está desligado. – Mal disse isso e Amélia sacou seu celular e discou o número pessoal de Delphine, cogitando que nunca havia ligado para sua orientadora diretamente. Sempre se comunicavam via mensagens ou e-mails.

- Alô? Professora Cormier? – Para a surpresa de Cosima, Delphine atendeu aquela ligação. – Sim, sou eu. É que... – Hesitou e olhou para os amigos como se pedisse ajuda a respeito do que deveria dizer.

- Me dê o telefone! – Cosima solicitou e, hesitantemente o recebeu. Assim que aproximou o aparelho do ouvido, recebeu aquela amada voz.

- Alô? Srta Mayfair? Ainda está ai? – O tom impaciente se fez presente.

- Não Delphine, sou eu... – Respondeu de olhos fechados, apoiando a cabeça na mão. Foi perceptível o silêncio repentino do outro lado da linha - Del? Por favor, o que está acontecendo? – A voz chorosa foi inevitável e quando pensou ter ouvido a respiração emitida antes da fala, o som da interrupção da ligação soou como um soco na boca do estômago de Cosima. – Ela... Desligou! – A confusão se instalou definitivamente nela e foi compartilhada por todos. - Ela... Não quer falar comigo! – Disse o olhar perdido.

- A Delphine enlouqueceu? – Marc elevou a voz, apoiando ambas as mãos na cintura e alertando as pessoas que passavam mais próximas e surpreendo Amélia e Sophie pela aparente intimidade dele.

- Acho que você deveria falar com ela Cos... – Amélia percebeu que a amiga estava a beira do desespero causado pela confusão que estava vivendo.

- Eu tentei... Fui até a sala dela... Tentei ligar... Ela está me evitando? – Suplicou aos amigos por algum tipo de resposta que certamente eles não teriam. Conheciam sua professora superficialmente e mesmo assim até a chegada de Cosima, só tratavam com ela assuntos profissionais e acadêmicos. Porém todos conheciam o comportamento de alguém que, por algum motivo, demonstrava estar se afastando, só não conseguiam enxergar a razão, uma vez que há poucos dias elas estavam transbordando felicidade durante a viagem à Índia e o estado de confusão da amiga, indicava quem nem ela mesma conseguia compreender.

- Cos... Não sei o que de fato acontece entre vocês, mas eu sou do tipo de pessoa que defendo uma boa conversa para tudo. – Amélia insistiu. – Portanto, vamos atrás de Delphine. – Se pôs de pé, procurando compartilhar seu entusiasmo com a sua cabisbaixa amiga.

- Além do mais, essa não é a Cosima que conhecemos! – Marc juntou-se à campanha de tentar animar a amiga. Contagiada pelo entusiasmo dos amigos, ela se levantou e decidiu que não deixaria aquela história sem uma explicação.

Delphine não estava apenas a evitando, com aquele documento de desligamento, parecia que ela estava pretendendo cortar qualquer laço que a prendesse a ela e isso não fazia sentido algum. Se ela desejava que Cosima não escrevesse ou pesquisasse mais sobre a Ordem, era uma coisa, mas cancelar a orientação era outra bem diferente. Além do mais, aquela atitude não condizia com alguém que havia lhe jurado amor eterno.

- Isso mesmo! A srta Delphine Cormier me deve algumas explicações. – Disse enquanto caminhavam em direção ao carro de Sophie e seguiram para o endereço que ela os passou. Pouco mais de dez minutos depois estavam parando em frente ao luxuosíssimo edifício de Delphine.

- Isso é que é morar bem! – Amélia disse após um lingo assovio. Cosima pensou em responder que aquilo não era nada se comparado ao ostensivo castelo que sua amada possuía. Estava muito mais preocupada em encontra-la para conversar.

- Te esperamos aqui! – Marc disse enquanto apertou gentilmente os braços da amiga. Ela apenas o olhou com pesar e forçou um meio sorriso. Respirou fundo e atravessou a rua e ainda conseguiu enxergar com o canto do olho, a SUV preta de suas seguranças encostar mais atrás do carro que viera.

Passou pelo simpático porteiro que a reconheceu e lhe recebeu com um belo e educado sorriso, permitindo, sem maiores questionamentos, que Cosima subisse. Dentro do elevador ela apertou o código correto que a levaria até a cobertura e a medida que aquele cubículo subia, a sua repentina e fugaz coragem se esvaiu, dando lugar aquela já conhecida apreensão. Como se antevisse algo ruim.

As portas metálicas se abriram e ela saiu hesitante, parando em frente a porta de madeira negra. Levou sua mão até a campainha, mas não tocou, deixando-a suspensa enquanto pensava se realmente queria enfrentar o que estava por vir. E se Delphine estivesse mesmo lá? O que será que ela tinha a lhe dizer? Iria gostar? Sentia em seu intimo que não. Mas precisava desesperadamente vê-la, confrontá-la e não permitiria jamais que ela fugisse daquela maneira. Juntando os fragmentos de sua tênue coragem, levou sua mão novamente ao interruptor e antes mesmo que o som pudesse ser ouvido, a porta foi destrancada, lhe causando um sobressalto.

- Cosima?! – A mulher morena que abriu a porta se mostrou realmente surpresa com a presença dela.

- Oi Helena... A Delphine está? – Disse com fingida firmeza. Percebeu que a mulher estava numa posição desconfortável e que a dúvida a fez se trair e olhar de canto de olho rapidamente e voltar a focar em Cosima. – Que droga! Saia da minha frente! – Pegando Helena de surpresa, a empurrou para o lado e mergulho no apartamento e finalmente encontrar Delphine sentada em seu sofá, tendo Genevieve e Siobhan como companhias.

- Me desculpe Delphine... – Helena tentou se justificar, mas foi interrompida por um gesto que sua Mestra fez.

- Oi Cosima... – Disse com uma estranha frieza.

- “Oi?” É apenas isso que tens para me dizer? – Ergueu o documento que não largava. As demais mulheres se entreolharam e perceberam o quão tenso o clima se tornou.

- Delphine? Acho melhor irmos embora e continuarmos depois... – S disse já de pé. Ela nem se quer a olhou, pois não conseguia quebrar o olhar com a mulher que acabou de entrar impetuosamente.

Siobhan e Genevieve seguiram em direção a porta e olharam compadecidas para a jovem que estava com o corpo tremulo e o maxilar trincado. S ainda ousou tocar o braço dela, obrigando-a a olhá-la e a mulher mais velha precisou se esforçar demais para não demonstrar o quanto estava sentida por ela.

- Tudo bem Helena! – Finalmente Delphine falou, tranquilizando a amiga que não sabia se permaneceria ali ou se deveria sair.

- Vamos! – Genevieve a puxou e as três olharam para Delphine e simultaneamente acenaram positivamente com a cabeça, concordando. Demonstrando assim que haviam concordado com a decisão de sua mestra e tentavam lhe transmitir força, pois sabiam que ela iria precisar para dar continuidade ao seu doloroso plano.

Finalmente ficaram sozinhas e a raiva, misturada com a confusão que perturbava Cosima, faziam-na estremecer. Ela assistiu Delphine recostar-se em seu sofá com aparente tranquilidade, o que só a enervou ainda mais.

- Não vais mesmo me dizer o que significa isso? – Deu alguns passos em direção a ela.

- Acredito que está claro. É um documento de desligamento do programa de pós. – Cruzou os braços e as pernas. A calma que forçava em sua voz contrastava com o nervosismo de Cosima.

- Você está me desligando? Certo! Mas por quê? Não queres que eu pesquise mais sobre a Ordem, é isso? – Silêncio foi o que obteve de resposta. Levou ambas as mãos a cabeça e respirou fundo, tentando conciliar suas emoções. Sentia que estava no limiar da perda do controle, contudo parecia que não estava diante da mulher apaixonada que tanto amava. Delphine emanava uma frieza, como se tivesse reerguido todas as suas defesas, tivesse vestido novamente aquela dura armadura.

- Sabes que não podes nem deves mencionar a Ordem. – Permaneceu imóvel, exalando confiança e autocontrole.

- Del... Bastava me pedir que eu não escreveria. Por que precisou disso? – Ela lutava e inconscientemente estava se agarrando aquele documento, como se aquele fosse o único motivo para a sua professora estar agindo daquela maneira. Contudo, a angustia em seu peito lhe dizia que não e a tranquilidade de Delphine só lhe enervava ainda mais.

- Tudo bem! Mas achei melhor desliga-la mesmo assim. – Levantou-se no exato instante em que Cosima sentou-se ao seu lado.

- Del... – Engoliu em seco e esfregou as mãos, temia o que estava por vir, mas não conseguiria mais permanecer sem resposta. – O que está acontecendo? Por favor, fala comigo.

De costas para ela Delphine lutava, com todas as suas forças para não deixar as lágrimas voltarem a escorrer de seu rosto. Sabia que não havia mais volta para o que iniciara e que magoar seria preciso, mesmo que isso a devastasse por dentro. Sentiu a presença dela bem próxima e pensou que vacilaria em seu plano, mas não poderia. Era para o bem dela.

- Fala comigo, caramba! – Puxou-a pelo braço, forçando que ela se virasse. Com o desespero como companhia, viu um desprezo nunca antes visto no rosto amado.

- Você precisa ir embora Cosima! – As palavras pareceram vacilar um pouco, mas o poder devastador delas foi suficiente para faze-la cambalear para trás.

- Que brincadeira é essa? – Tentou sorrir e suavizar o clima, mas a expressão impassível de Delphine mostrou que ela estava muito longe de estar brincando.

- Vá embora Cosima! – Repetiu só que dessa vez havia aquele tom de comando.

A morena sacudiu a cabeça em negação e tentou cogitar os motivos que a estavam levando a ter aquela atitude.

- Não! Você está com medo, eu sei disso. Eu sinto e entendo, mas não é agindo assim que vamos resolver isso meu amor. – A sacudiu levemente, exigindo que ela se despisse daquela máscara de frieza.

- Droga Cosima, que parte do “vá embora” você não entendeu? – Bufou, finalmente demonstrando alguma emoção. A morena estremeceu com a violência daquelas palavras e paralisou com a boca entreaberta em total descrença. – Você não pode ficar mais aqui! Peço que entenda e que me obedeça... – Delphine não conseguia se lembrar de ter sentindo uma dor como aquela. Nem mesmo com a morte de Melanie... Nada era igual aquele sofrimento, pois ela estava machucando, talvez definitivamente, aquela que mais amava. E então, sem mais suportar, deixou uma lágrima impertinente cair.

Cosima agarrou-se aquele singelo sinal de fraqueza dela, como se vislumbrasse uma pequena esperança de que ela houvesse mudado de ideia ou de que ainda estivesse com dúvidas sobre aquela decisão absurda.

- Você não quer que eu vá! Estou vendo em seus olhos! – Pareceu mais firme. Delphine a essa altura já andava de um lado para o outro, procurando se esquivar de qualquer contato de Cosima.

- Por favor... Entenda. Eu preciso que você vá embora! – Disse desnudando a sua real intenção. – Tenho muito que fazer aqui e não posso me preocupar com você. – Lá estava a sinceridade desnuda do que ela queria, mas não justificava. Nada que Delphine pudesse dizer faria algum sentido para Cosima, que estava decidida a não aceitar aquela decisão, pois não cabia apenas a outra decidir a felicidade de ambas.

- Eu não irei Delphine! Não adianta, sei que você pensa que tem razões para me mandar para longe, mas não será assim que resolveremos isso. Não podemos enfrentar o que quer que esteja por vir separadas. Entenda isso! – Havia verdade na fala de Cosima, todas haviam dito a mesma coisa para ela, contudo nenhuma delas, nem mesmo sua amada, viram o que ela viu na previsão de Manu. Virou-se e encarou a morena, cogitando se deveria ou não usar aquele ultimo argumento para manda-la embora. Mas desistiu, seria cruel demais informar que havia visto a quase inevitável morte dela. Não poderia fazer aquilo.

- Já chega! – Desvencilhou-se bruscamente e se afastou. – Eu realmente quero que você saia daqui... Da minha casa, de Paris, da França... – O tom de firmeza deu lugar a quase suplica.

Cosima sentiu-se despedaçar por dentro, pois parecia que Delphine estava mesmo decidida, mesmo que fosse evidente que ela também estava sofrendo. Todo seu orgulho e raiva começaram a ser remexidos pela crescente mágoa que tomava conta dela. E em momentos como esse, sempre corre-se o risco de serem proferidas palavras que poderiam gerar arrependimentos. Mas a raiva que começava a ganhar espaço em seu peito apagou todo o resquício de razão que ainda pudesse existir nela.

- Você quer mesmo que eu vá embora? – A raiva assumiu o controle e o tom de suas palavras. – Que eu saia de Paris? – Delphine anuiu com a cabeça. – Que eu sai da porr* da França? – Anuiu mais lentamente e então Cosima deu o golpe de misericórdia. – Quer que eu saia... Da sua vida? – Mal abriu a boca para dizer essas palavras finais. Delphine paralisou de imediato diante da agressividade contida naquela ameaça velada. – Anda Delphine, responda! Quero ver a sua segurança agora! – Cuspia as palavras com uma mágoa feroz.

E lá estava o que Delphine mais temia, a ferida aberta em carne viva, sangrando e totalmente exposta. Ela estava vulnerável e no limiar de um caminho sombrio e, talvez, sem volta. Aquela era a sua chance! Pensou Delphine. A encruzilhada que pensou evitar, mas que na verdade era inevitável. Magoá-la definitivamente ou mandar toda a razão para o espaço e enfrentar tudo com ela e, com isso, segurar o corpo sem vida dela em seus braços. Sacudiu a cabeça tentando afastar aquela pavorosa imagem que insistia em assombrá-la.

“Inferno!” Era agora ou nunca! Cerrou os olhos e os abriu enquanto fitava o teto de seu apartamento e via as luzes e as sombras dos carros passando na movimentada avenida. Juntou os últimos resquícios de força e coragem que pode encontrar em si e desferiu as palavras que poderiam selar o fim da história delas.

- Sim Cosima! – Falou com um filete de voz. A morena inclinou a cabeça, como se não houvesse ouvido ou que ouviu muito bem, mas rezou às deusas para ter se enganado. Infelizmente não era seu dia de sorte! – Sim... Quero que saia da minha vida. – Disse com um pouco mais de firmeza, mas ainda sem encará-la nos olhos.

Um frio dolorido arranhou todos os membros de Cosima, como alguém tivesse roubado todo o seu calor, toda a sua força vital. E toda aquela dolorosa sensação começou a se tornar evidente no tremor de seu queixo e no rebulir da pouca comida que ainda resistia em seu estômago. A dor que estava sentindo naquele instante era tão excruciante que o choro veio a tona numa velocidade impressionante e incontrolável e, qualquer resquício de maturidade ou dignidade que desejasse manter, ruíram com uma tosse forte, seguida pelo choro dolorido.

- Covarde! – Disse com a voz tremula, refletindo todo o seu estado. Tremia da cabeça aos pés e cerrava os punhos de uma forma que suas unhas feriram as palmas de suas mãos.

Delphine apenas esfregava suas mãos nas laterais de suas coxas e mordia o lábio inferior no intuito de segurar a sua enxurrada de lágrimas. Foi um pouco mais eficiente que a morena, que chorava sem medidas, deixando evidente toda a dor que a estava despedaçando por dentro. Desejou que o mundo fosse um lugar diferente. Que ela fosse uma pessoa diferente, que nçao tivesse uma maldita missão, tantas dividas e simplesmente pudesse correr em direção a mulher diante de si e abraça-la, implorando por seu perdão. Mas a vida era injusta demais e ela era Evelyne Chermont. Aquela que fora escolhida para suportar as dores mais inimagináveis, que passou pelas piores provações conjuradas pela mente doentia de seu maior inimigo e estava magoando quem mais amava justamente para evitar que ela passasse por algo parecido com aquilo.

Antes ela sofrer todos os males que aquele mostro estava planejando, do que ter de se quer imaginar em seu grande amor ser mortalmente ferido por ele novamente. Não suportaria aquilo.

Pensou tudo aquilo de olhos fechados, e assim que os abriu com relutância, temendo o que encontraria diante de si, viu Cosima debruçada sobre a mesa de centro, com uma caneta em sua mão trêmula assinando o terrível documento de desligamento.

Nada mais foi dito! Nenhuma outra palavra foi trocada entre elas, pois aquela assinatura estava carregada de significados. E, sem nem se quer olhar para ela, Cosima largou a caneta e o contrato ali mesmo e saiu a passos ritmados, e passou pela porta, mas não a bateu violentamente. Não! Apenas saiu agora silenciosamente, sem mais soluçar, estava amargurada e irada demais para aquilo.

E ali, no voo que a estava levando de volta para casa e a tirando definitivamente da vida de Delphine Cormier, permitiu-se retomar o choro, mais contido, porém não menos doloroso.

 

______

 

A solidão sombria que a envolvia só tornava a sufocante sensação de perda ainda mais excruciante. Ainda encarava Siobhan que lhe disse que Cosima acabara de embarcar no avião como ela desejou.

- Pronto Delphine, ela foi na primeira classe como você solicitou e nossas meninas estão com ela. – Ouvia aquelas palavras como se elas estivessem sendo proferidas ao longe. Ordenou que mudassem a passagem de Cosima para a primeira classe, pois seria mais confortável para ela e mais fácil dela ser vigiada de perto. Sabia que quando ela estivesse do outro lado do Atlântico, seria um pouco mais difícil, mas Stella havia garantido que a manteria sob o mais severo esquema de segurança.

Porém nada naquilo amenizava a dor descomunal que sentia.

Desde que Cosima saiu de seu apartamento e de sua vida, não conseguiu mais provar nenhum instante de paz ou felicidade. Apenas se conformava que ela estaria indo para longe de qualquer ameaça iminente. Mas nem isso acalentava seu coração.

- Tem algo mais que eu possa fazer por você? – Siobhan lhe tocou o ombro que parecia carregar o mundo sobre eles. Apenas a olhou com os olhos rajados de vermelho e negou com a cabeça. Desejava apenas ficar sozinha e sumir. – Tudo bem então... Estou voltando para Dublin amanhã pela manhã e Helena deverá chegar em Atenas em poucas horas. Por favor Delphine, nos ligue se precisar de qualquer coisa.

Decidiu apenas anuiu positivamente, fingindo que faria aquilo e S também fingiu que acreditou, mas sabia que ela não ligaria para ninguém. Não era do feitio de Delphine Cormier. Não! Ela sofria sozinha... Enfrentava seus demônios sozinha e assim ela iria enfrentar mais uma vez aquela escuridão.

Siobhan suspirou derrotada, sentindo-se impotente e saiu lentamente da gigantesca biblioteca do castelo Chermont.

E assim que se viu novamente sozinha, a poderosa Mestra da Ordem despencou de seu pedestal e literalmente foi ao chão, levando ambas as mãos ao estômago apertando-o enquanto chorava o mais doloroso dos choros, urrando toda a dor dilacerante que parecia que a iria partir ao meio. E para o seu absurdo tormento ela sentia a cada instante o afastamento de Cosima, como se alguém estivesse lhe arrancando um pedaço de si.

Levantou-se cambaleante e desejou, com todas as suas forças, ser capaz de entorpecer seus sentidos com qualquer substância possível. Foi até sua adega e não optou por vinho algum. Foi direto a uma garrafa antiguíssima de Macallan e se serviu de uma farta dose que virou de uma vez só e mal sentiu o calor do malte em sua garganta. Serviu uma segunda dose e essa fez menos efeito ainda. Encarou a garrafa e ficou pensativa. Caminhou até uma das prateleiras e de lá retirou um pequeno canivete que usava para abrir seus vinhos e arranhou a palma de sua mão esquerda com a lâmina afiadíssima. Onde deveria existir um corte de uma significativa profundidade, apenas uma linha mais branca indicando uma breve descoloração de sua pele.

Riu sem vontade nenhuma e percebeu que aquela maldita imortalidade retornava para seu corpo a cada milha que o avião de Cosima percorria. A ironia daquela merd* de maldição não lhe permitia se quer a liberdade para entorpecer sua mente ou se quer tirar a própria vida.

Chorou o mais amargos dos choros e sofria violentamente. Mas mesmo assim continuou bebendo aquele poderoso elixir, tentando aproveitar os instantes finais da tênue mortalidade que lhe foi brevemente presenteada.

Em determinado momento, engasgou, mas não com o whisky que sorvia a goles volumosos e sim a dor que parecia que iria lhe sufocar. Precisa desesperadamente extravasar para não enlouquecer. Caminhou tropegamente até seu velho amigo, o piano de calda negro como a noite e sentou-se diante dele, sentindo o sal de suas lágrimas se misturarem com o álcool da bebida e num dedilhar rápido, tocou os primeiros acordes de uma antiga música que não tocava há muito tempo e que tinha o poder de traduzir tudo o que sentia naquele momento e escancarou sua alma deixando cada fragmento daquela tortura lhe ferir a carne e a alma...


What ravages of spirit
Conjured this tempestuous rage
Created you a monster
Broken by the rules of love
And fate has led you through it
You do what you have to do
And fate has led you through it
You do what you have to do
And I have the sense to recognize that
I don't know how to let you go
Every moment marked
With apparitions of your soul
I'm ever swiftly moving
Trying to escape this desire
The yearning to be near you
I do what I have to do
The yearning to be near you
I do what I have to do
And I have the sense to recognize that
I don't know how to let you go
I don't know how to let you go
A glowing ember
Burning hot
And burning slow
Deep within I'm shaken by the violence
Of existing for only you
I know I can't be with you
I do what I have to do
I know I can't be with you
I do what I have to do
And I have sense to recognize but
I don't know how to let you go
I don't know how to let you go
(I don't know how to let you go)
 

 

Fim do capítulo

Notas finais: Do What You Have To Do (Sarah Mclachlan): https://www.letras.mus.br/sarah-mclachlan/25345/traducao.html

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Comentários para 52 - Capítulo 52 Do What You Have To Do:
patty-321
patty-321

Em: 05/07/2018

Eu demorei a ler o capítulo pq eu sabia q iria sofrer junto com elas. Que dor. Será q vai cair a ficha da cosima? Do pq a del a afastou? Não encontrei erro nenhum, perfeito o capítulo, muito sofrido. Bjs

 

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