Capítulo 1
Eu nunca vi o mar. Sempre morei na região das serras, criada entre cachoeiras e trilhas. O mar sempre exerceu certo fascínio em mim, talvez por nunca ter visto pessoalmente ou simplesmente pelas suas várias faces. Belo, calmo, inquieto, gigante, intenso.
Foi extremamente obvio escolher para onde fugiria quando tudo começou. Eu tinha algum dinheiro guardado e algumas amigas virtuais que poderiam me ajudar na adaptação para uma pequena cidade litorânea. Passagens compradas, suporte confirmado e fuga na madrugada, quando acordar sentirei o odor da maresia entrando por minhas narinas. Um casal de amigas ficou de me encontrar no aeroporto, mas acabei desmarcando, queria um momento só meu com a cidade, com o mar. Peguei um táxi, e pedi que me levasse para qualquer praia, o motorista me olhou meio estranho, talvez pela minha mala enorme e o meu destino.
Não demoramos muito tempo para chegar ao nosso destino, desci arrastando minha mala em meio ao calçadão, emocionada ao sentir a brisa fria me atingir ao mesmo tempo em que avistava a imensidão azul na minha frente. Parei de caminhar e apenas senti, senti o cheiro de esperança, o medo se dissipando pouco a pouco. Pude sentir o cheiro da felicidade me acariciando. Continuei arrastando minha mala e decidi seguir para a areia, não antes de tirar meus sapatos, queria sentir a areia e chegar mais perto do mar. Que sensação maravilhosa (não me achem boba, ta? Mas tentem lembrar da primeira vez de vocês na praia e o quão incrível foi.). Parei numa mesinha disponibilizada pelo bar e sentei na areia, apesar de ter cadeiras. O sol das 15:30 castigava um pouco minha pele, mas até isso era bem-vindo, não consigo precisar por quanto tempo permaneci contemplando o mar, as pessoas indo e vindo. Pedi uma água de coco e enquanto tomava decidi finalmente tomar um banho, fui me trocar e colocar um biquíni, voltei e permaneci sentada, ainda contemplando.
Uma surfista linda passou por mim, parecia até cena de filme. Pele levemente bronzeada, cabelos castanho claro com californianas loiras, provavelmente pelo sol que pegava surfando, e um corpo que era um pecado aos meus olhos. Ela passou sorrindo, me olhando de lado, e eu quase tive um pequeno ataque. Agora tinha motivos a mais para olhar para o mar. Observei seus movimentos, suas manobras, a forma como parecia fazer parte do mar. Decidida, resolvi entrar no mar também, permanecendo numa parte que julguei segura. A sensação maravilhosa das ondas batendo no meu corpo foi quebrada pelo desespero.
Eu sei que você deve estar julgando que a moça aqui entrou em apuros e adivinha? Errou feio! O meu desespero se deu ao olhar a surfista e ver a onda enorme que estava se aproximando, enquanto ela estava de costas, apoiada na prancha e brincando com o mar. O que aquela louca estava pensando? Comecei a gritar e gesticular loucamente para chamar sua atenção, quando ela me notou e ficou com uma expressão confusa, até entender o que eu estava falando. Foi tudo muito rápido. Ela levou um caldo do mar, acho que só teve tempo de se preparar para o impacto. Fui ao seu encontro quase tremendo, com medo de algo ter acontecido a mulher linda naquele fim de tarde.
Quando cheguei, por incrível que pareça, ela estava rindo enquanto tossia e buscava respirar. Tentei ajudá-la, desenroscando o cordão que a prendia a prancha e puxando-a com prancha e tudo, a garota ainda ria e eu começava a me preocupar com isso.
Chegamos na areia e nos jogamos no chão, com pequenas ondas chegando aos nossos pés. Perguntei se estava tudo bem e o motivo de tanto riso. Ainda sorrindo, ela me respondeu.
- Desde a hora que cheguei que penso a melhor forma de iniciar uma conversa com você, pensei em questionar sobre a mala, sobre tua cara de contemplação ou como o dia está quente, mas olha só como nos aproximamos. O mar é realmente imprevisível.
Até eu começo a sorrir depois da explicação, permanecemos mais um pouco deitadas, nossas mãos próximas. Até que decidi chamá-la para tomar alguma coisa, nos levantamos e nossas mãos permaneceram próximas, naquele jogo de quem segura primeiro.
Sentamos próximas, ainda trocando olhares e começamos uma conversa mole sobre várias coisas da vida. O sol já estava quase se pondo quando ela chamou o garçom e pediu para ele guardar minha bagagem que daríamos uma caminhada. Deixei meu chinelo na areia e caminhamos juntas, agora de mãos dadas.
Ela me levou até uma parte com pedra, onde me fez sentar entre suas pernas e me abraçou. Se você me perguntar como chegamos até aqui, nesse clima tão intimo, eu só poderia colocar a ‘'culpa'' disso no mar, sempre tão intenso. Seu abraço apertado foi só o começo, selamos esse encontro com um beijo envolvente, repleto de carinho e desejo.
Eu não sei o que vai acontecer quando esse dia terminar, sei que mal a conheço, que estou fugindo dos meus fantasmas e que ainda nem sei onde vou morar direito, mas até aqui, tudo bem.
Fim do capítulo
Feito por teimosia e com o prazo quase no limite, mas consegui chegar até o final do desafio o/
Cris, obrigada pelo desafio, motivou bastante e finalmente decidi escrever. Por mais interações por aqui!
Comentar este capítulo:
RosanePatell
Em: 01/06/2018
Muito bom! Aqueceu o coração! Continua! Continua!
Resposta do autor:
Imensamente feliz por ter gostado. Obrigada!!
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