Capítulo 4 - Do outro lado do Sol
Acordamos pela manhã naquele quarto de hotel, com uma vista fantástica, fizemos amor como quem realmente faz pela última vez, acordei e você não estava mais lá, era o dia do seu baile de formatura, estávamos empolgadas, cada uma por seus motivos particulares, você pela realização de um sonho, eu porque iria te provar todo meu amor, a pediria em casamento, mesmo contrariando tudo que você gostava. É! Você não amava surpresas, mas essa valeria a pena.
Então sei que mesmo apesar da chuva, você foi ao salão, ficar mais fantástica do que é, como se um humano fosse capaz de tal proeza por si, nada se compara a sua pele, aos seus olhos brilhantes, a sua boca que sempre pede por mais e mais beijos, textura única, como casar queijo com goiabada, como algum tipo de néctar dos deuses a me presentear na terra.
Eu ignorava o quanto talvez já poderia ter perdido do teu coração. Não via os sinais, porque na cama jamais apresentamos problemas, mas não sei até onde era de fato meu desejo, meu amor ou só sua capacidade de me fazer flutuar.
Muitas a desejavam, você gostava desse cortejo, mas eu me sentia única, pois, realmente sempre acreditei que éramos únicas, eu era a única a te possuir com doçura, com amor, paixão e verdadeira devoção.
Consigo estranhamente me lembrar de tudo daquele dia, mas parece que não estou a flutuar, estranho, tudo muito confuso, porque todos os dias eu sei que me encontrava com você, tudo voltava ao ponto inicial, o quarto de hotel, a chuva, o carro, a freada brusca porque não parei no sinal vermelho! – É isso! Só pode ser isso! – Mas não sinto que tenha partido dessa vida, ainda estou leve demais, ainda vejo luzes demais! – Ainda sinto teus toques a segurar e acariciar minhas mãos todos os dias! Escuto você cantar para mim a versão de “Fora de Foco – com Manu Gavassi e Ana Caetano”.
Agora sei, não era você no carro, era eu, saí, fugi, porque simplesmente deduzi que teus olhos tinham dito não, meu ciúme novamente não me deixou ver mais nada, apenas peguei o carro e saí, chovia dentro de mim, chovia lá fora, chovia em meu rosto, claro que sinais vermelhos nesse momento seriam detalhes de alguém a brincar com a vida.
Como pude voltar todos os dias nesses noventa dias ao mesmo lugar, a pedir das formas mais diferentes e surpreendentes que se casasse comigo, que fosse minha assim como sou para sempre sua?
Surpreendentemente a vida nos deu uma nova chance, só pode ser algo de muito bom que fiz para o cara lá de cima, pois, você sempre tão aflita, você que sempre anda pra lá e pra cá nos quartos de hotéis e na nossa casa, você permaneceu ao meu lado, fazendo todas as promessas que eu já fiz a você, implorando com seus olhos pedintes que eu acordasse e pudesse te olhar novamente?!
Foram dias pesados, foram dias de luta, até eu retomar novamente a minha vida, a nossa vida, a falar, a andar, a segurar tua mão e te escutar: “Raquel és uma tonta, como não aceitaria me casar com você, nunca fugi minha Vida, eu estava aqui, estava sempre a sua volta, estava sempre a te olhar, seja nas minhas andanças, porque você é tudo que eu vivo! – E por favor, é uma ordem, nunca mais ache que sinais vermelhos são para serem atravessados, são vermelhos RAQUEL, verdes só teus olhos que me permitiram que eu pudesse ser só tua! – AHHHH! SIM!!! Eu aceito me casar com você sua boba, basta apenas nossas férias e vamos para onde sempre desejamos... Não chore sua bobona linda, não há mulher que eu queira mais que você, não importa quantas possam vir a me olhar, pois quem me devora e me queima é você! Só você!”
Imaginem uma criança que ganhou “o presente” de Natal, o cãozinho que ganha o afago quando o dono chega, tomar sorvete no verão, tentem, apenas tentem, vislumbrar minha alegria, minhas neuroses caírem por terra, como poderia uma mulher ser tão mágica e intensa como Isabela?! - Minha vida, minha devoção e minha metade, tudo que me faz inteira vem com o pacote complexo dessa mulher que sabe ser vendaval e calmaria.
Sim! Eu iria para onde o vento me levasse dessa vez, a segunda chance da vida me fez ver muitas coisas que eu não compreendia, meus erros, meus acertos, minhas manias e defeitos, todos diferentes e tão complementares ao dela.
Após um longo período decidimos, eu estava totalmente recuperada, ela totalmente entregue a mim, como se tivesse me perdido e recuperado naqueles insanos 90 dias, pegamos o caminho do mar, ainda não conseguia dirigir, ainda não conseguia acreditar, como a verdade, o amor e uma pitada de drama (daqueles que lavam a alma de tanto chorar), podem nos libertar ao ponto de aceitarmos uma vida a dois com respeito e carinho, com individualidades e cumplicidade.
Depois de descer a serra, de quatro a cinco horas, lá, bem lá, onde a conheci naquele luau de estudantes, naquela leveza que só ela sabe dançar “Vamos fugir” – realmente fugimos, do mundo, das luzes artificiais, como não contemplar o pôr do sol, como não simplesmente mergulhar de cabeça e junto a ela mergulhar até restar somente o sol de testemunha, ele fazendo nossa sinfonia, tocando a água, tocando através das águas nossos corpos, era apenas um par de chinelos, que sejam velhos, para ela e para mim, eram o primeiro, era nossa aliança o significado real de “juntar as escovas de dentes”, a partir dali seríamos uma só caminhada, uma só pegada e um só amor, almas únicas, almas independentes, dissidentes e almas sempre amantes!
Nada termina, se permanece vivo no coração de alguém, ela em mim e eu nela, sempre?! Talvez até o sempre seja pouco demais, com ela sempre haverá amor após o amor bem como pedidos diários de case-se comigo, por que? – Assim é o Outro Lado, o lado do amor! E se amor tem nome?! – Amigas, digo que sim, é o Outro Lado do Sol e todos ângulos de Isabela!
Fim do capítulo
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RosanePatell
Em: 02/06/2018
Ai que poesia linda! Poucos sabem com fazer poesia, acho que tu conseguiste!
AngelPaz
Em: 30/05/2018
Srta Ladislau, quer me matar do coração???
Achei realmente que uma delas tinha
ido dessa pra melhor.
Está de parabéns, uma estória que poderia ser "pesada" vc transformou em leveza brincando com as palavras...uma delícia de ler,
fez com que eu me envolvesse.
Eu senti cada palavra escrita, como se estivesse assistindo à uma peça de teatro!!!
Continue escrevendo e nos alegrando com
lindas e maravilhosas estórias!!!
PARABÉNS!!!
Beijos!
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LMdreams
Em: 29/05/2018
Caramba senhorita Ladislau quase tive uma síncope pensando que Raquel era um anjo... ufaa!!
Mais uma vez quero parabenizá-la por conduzir com maestria poética o desenrolar desse conto tão lindo... Queria mais, uma pena que acabou. :(
bjo Lara
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