Capítulo 1
Como diria Mario Quintana: “O passado não reconhece seu lugar: está sempre presente...”. Eu não poderia discordar desse cara. Olhando como essa linha tênue no horizonte transforma algo em tão infinito que nossos olhos nem ao menos podem captar sua grandeza. É como tentar visualizar o futuro, nunca passamos dessa linha.
Por medo de que o nosso passado nos alcance antes mesmo de podermos cruzar a linha, ou antes, mesmo de molhar os pés naquela água. Distinguem o tempo em três partes: passado, presente e futuro. Só não percebem que não há distinção de nenhum deles.
O meu futuro se transformou em meu presente que logo ao pôr do sol se tornará meu passado. Não há uma lógica para isso, apenas nossos sentimentos numa colisão esmagadora. Raiva, medo, amor, mágoa... Sempre buscamos em nós, os defeitos, nos martirizamos por eles... E é assim, que fincamos os pés no passado.
Não aceitamos que somos mutáveis, que não mudamos com o tempo, mudamos com nossas ações, nossos erros, com as pessoas que passam por nossa... Mudamos por consequência de cada decisão nossa. E é isso que faz o passado tão presente.
Seja ele o mais alegre possível ou aquele mais doloroso possível. Lidar com ele é como lutar numa batalha de cinco exércitos, onde seu exército só há você. Não vem no manual como passar por isso, é como ler o último capítulo de um livro antes mesmo de começar a lê-lo.
Como as ondas que quebram na areia, nossa grandeza começa com uma grande força, para se transformar em espuma quando encontrasse a pequenez. Sonhamos alto, para duvidar dos sonhos, por causa do nosso passado. Para quem sabe, ele pode ser o bicho papão que está embaixo da sua cama a noite. E para quem não sabe, ele é feito apenas de memórias.
Eu calcei os meus chinelos, sentindo os grãos de areia em meus pés, úmidos pela água salgada. Encarei mais uma vez o pôr do sol que se ia, findando meu presente e trazendo meu passado com a noite. Os monstros poderiam até aparecer essa noite, mas eu já não teria mais medo.
Eu já tinha o suficiente para não temer mais, para sorrir diante deles. Eu já tinha tudo o que era importante.
Eu tinha a mim e isso seria o bastante para não ligar para nenhum momento do tempo, apenas aproveitar a vento gelado que começava a se formar e o barulho agradável dos coqueiros ao longe, dançando como se estivessem diante da mais perfeita canção.
Eles tinham passado, mas eram grandes o suficiente para saberem que os monstros estavam abaixo, enquanto eles sempre estivessem em cima. E isso era a paz.
Se no fundo do mar, de beleza ímpar, há grilhões, embarcações e sonhos em forma de corpos, ainda sim navegaremos por essas águas sentindo o calor do sol bater em nossos corpos. E isso, definitivamente é um passado que se formou futuro.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
RosanePatell
Em: 30/05/2018
Eu quero o pensar-sentir hoje e, não, tê-lo apenas tido ontem ou ir tê-lo amanhã. Tenho certa pressa em sentir tudo.
Clarice Lispector
Arrasou Bronte!
Resposta do autor:
Olá, Rosane.
Belas verdades ditas por Lispector, mas a nossa certa pressa em sentir às vezes nos prende além ou atrás, quase nem sempre no presente.
E obrigada pela leitura!
Beijos - Bronte.
Tatta
Em: 29/05/2018
Texto maravilhoso e cheio de verdades!
Complemento dizendo que as vezes o nosso medo maior nem é do passado, mas sim da possibilidade de viver sem ele. Temos uma grande dificuldade de deixá-lo ir embora, porque é mais confortável lidar com aquilo que conhecemos do que seguir em frente e ter que lidar com o novo.
como você bem disse, não aceitamos que somos mutáveis e que pra mudar são necessárias ações e não tempo! Aí, acabamos justificando tudo no tempo, quando na realidade o que falta são ações.
beijo Bronte!
Resposta do autor:
Olá, Tatta.
Primeiramente, obrigada pelo incentivo ou esse texto seria só mais um arquivo no meu computador.
E obrigada, eu achei que ficaria confuso, mas a vida é assim, então as verdades aparecem mesmo na confusão.
Concordo com você, o medo que temos do passado é de pêrde-lo em si. Como se ele fosse algum tipo de bússula que usamos para justificar a nossa comodidade diante de um futuro tão incerto. De decisões assustadoras. O mundo tem seu tempo, mas nós escolhemos correr nessa linha ou ir com a nossa.
Beijos, Tatta. E obrigada pelo carinho de aparecer por aqui. - Bronte.
[Faça o login para poder comentar]
sonhadora
Em: 29/05/2018
Lindo o texto! Que nossos recomeços comecem no pôr-do-sol ou no seu nascer... você escreve muito bem gostei mesmo!
Beijos de Luz!
P.s. @lalu. Nick Sonhadora.
Resposta do autor:
Olá, sonhadora.
Muito obrigada, fico imensamente feliz que tenha gostado do texto. E que para nosso recomeços só tenhamos a chance de tê-los.
E obrigada novamente!
Beijos - Bronte.
[Faça o login para poder comentar]
MellMaia
Em: 28/05/2018
Nossa arrasou .. Amo histórias assim. Como diz o ditado você foi curta , porém foi bem direta . Passado não é algo que devamos temer. Parabéns amei seu texto: -)
Resposta do autor:
Olá, Mell.
Muito obrigada pelo carinho do comentário e fico feliz que tenha adorado. Às vezes o que pasta são as entrelinhas e o sentimento, as palavras se criam por si mesmas.
E sim, não devemos, mas tememos, como nosso bicho papão. E cada passado reflete no futuro e presente.
Obrigada pelo carinho, beijos. - Bronte.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]