Capítulo 7 - Você está presa
Anita.
Depois que sai da biblioteca fiquei do lado de fora, parada entre as sombras, esperando Lícia sair de dentro do prédio.
Droga! Bem que John tinha me avisado! Eles realmente colocaram a tal detetive atrás de mim. Mas a pergunta que não queria calar aqui dentro era, por que logo ela? Aquele ser intrigante, de olhos difíceis de decifrar e com um corpo tão atrativo. Não! Eu não podia pensar daquele jeito. Chutei para longe uma garrafa que estava próxima ao meu pé. Eu estava possessa de raiva! Todo o meu sangue borbulhava e eu tremia. Quem era ela? Eu precisava descobrir a fundo. Eu precisava focar no perigo que ela me representava, e não nos seus atributos físicos. Eu não conseguia entender o porquê eu tinha ficado daquele jeito. Eu já estive com outras mulheres antes em minha vida. Mas, talvez aquilo tudo fosse apenas o meu instinto de sobrevivência gritando alto.
É! Era isso! Não havia dúvidas.
Pelo menos eu consegui ser seca com ela. Ótimo. Eu ainda estava em vantagem. Confusa, mas em vantagem.
Consegui perceber o momento exato em que ela colocou os pés para fora da biblioteca. A partir daquele momento, eu poderia encontra-la facilmente no meio da multidão. Observei o instante em que ela cruzou os braços se protegendo da chuva naquela jaqueta ridícula de tão fina, e atravessou a rua rumo ao seu carro.
Não me deu tempo nem mesmo de chamar um táxi para segui-la. Me xinguei mentalmente por não ter vindo de carro e foquei em memorizar o modelo do seu carro. Ela possuía uma BMW 2005. Como uma mulher que anda com uma jaqueta de couro horrível daquela tem uma BMW? Tudo bem que o veículo era quase popular devido a sua data de fabricação, mas ela precisava dar um jeito naquele casaco, ou acabaria morrendo de hipotermia qualquer dia.
Balancei a cabeça incrédula com meus pensamentos! Era só o que me faltava. Anita Jensen estava preocupada com a saúde da mulher que venderia sua cabeça. Decidi pegar o metrô, pois a minha cabeça estava muito movimentada com a chegada tão repentina daquela estranha. Tentei limpar meus pensamentos para que pudesse voltar ao trabalho assim que chegasse em casa.
Já afundada até o pescoço pela agua da banheira, repassei mentalmente os fatos mais importantes que eu tinha descoberto naquele dia. Eduard Brave tinha sido assassinado dois meses depois de o seu artigo ser publicado no jornal local. Aquilo não era coincidência. Eu sabia! Ainda mais depois de ver aquelas marcas gravadas em suas mãos. Seu amigo, o fotografo Chris Wings, repetira as mesmas palavras que Bob, o dono do bar na Itália, havia me falado uma vez. A máfia está em todo lugar e eles são perigosos. Você não vai querer se trombar com eles. Apesar do medo que começava a me invadir conforme eu ia descobrindo coisas novas, a minha resposta seria sempre a mesma. A máfia tinha mexido comigo primeiro. Fechei os olhos e procurei relaxar. Tentei focar minha atenção em cada pingo de chuva que caía lá fora.
Abri os olhos assustada e percebi que eu estava no terraço do meu apartamento. Uma fina garoa encharcava o meu corpo, mas eu não me importava. O vento batia forte sob minha pele, entretanto, foi um cheiro cítrico e sensual que me fez estremecer inteira. Não precisei me virar para perceber o inevitável, ela tinha me encontrado! Meu coração disparou dentro do peito. Durante toda aquela tarde eu acreditei que tivesse sido mais esperta ao observá-la de longe, mas, aparentemente, quem havia me seguido era ela.
Lícia me encarava como se pudesse ver muito além do meu físico. Era quase como se ela pudesse enxergar minha alma. Apesar de estar tremendo por dentro, firmei minha postura e empinei o maxilar. Ela podia vir com a força que quisesse, pois eu estava pronta para lutar. A mulher continuou me encarando enquanto caminhava lentamente em minha direção.
-- Então você é a famosa Mist...
Continuei calada. Apenas a encarando.
-- Foi difícil encontrar você, sabia?
-- Deve ser por que você não é tão boa quanto dizem.
-- Pode ser. – Ela riu irônica. – Mas fui boa o suficiente pra te achar.
Eu precisava aceitar a verdade, ela tinha conseguido o impossível. Chegar até mim. E eu não sabia se deveria me sentir apavorada ou fascinada com seu desempenho.
-- Parabéns! Tenho certeza que você vai torrar todo o prêmio em alguma praia.
O que eu estava dizendo? Pela primeira vez não consegui formular nenhuma resposta rápida e ácida o suficiente.
-- Eu não quero praia, Anita.
Droga. Ela sabia o meu nome!
Lícia deu um passo em minha direção e, por susto e puro reflexo, eu dei um pulo para trás.
-- Ah, sim... É claro! Talvez você vá comprar uma jaqueta nova, certo? A sua já está quase caindo em pedaços...
-- Também não quero uma nova jaqueta.
Sua voz era tão firma quanto o seu olhar enquanto ela dava outro passo à frente. Eu não tinha para onde fugir. Um passo a mais e eu despencaria por vinte andares. O limite era ali. Observei o precipício atrás das minhas costas e quando me virei para encará-la, percebi que, de repente, ela estava com o rosto colado no meu. Nossos olhos se prenderam um ao outro. Meu coração estava tão acelerado que eu me perguntei se ela seria capaz de ouvi-lo com aquela proximidade. Eu precisava sair dali o quanto antes, ou eu perderia tudo. Perderia a mim mesma.
-- O que você quer então, Lícia?
Tentei dizer seu nome de modo firme, para que ela soubesse que não era somente ela quem estava atualizada. Eu também estava por dentro de quem era Lícia Riley. Mas, por incrível que pareça, ela não se intimidou. Apenas se aproximou ainda mais de mim. Aspirou meu perfume mirou minha boca.
-- Meu Deus! O que estava acontecendo? Mais insano do que toda a situação em si, era o meu desejo de que ela diminuísse a distância entre nossos rostos e me beijasse. Aquilo era loucura! – Senti o ar quente da sua respiração e aquilo causou uma erupção enorme dentro de mim. Como se fosse capaz de ler meus pensamentos, ela se aproximou e grudou seus lábios nos meus de forma tímida. Eu não me afastei e talvez tal atitude fez com que Lícia tomasse coragem o suficiente para colar seu corpo de forma intensa contra o meu. Ouvi um trovão ecoando em algum ponto distante, mas, na verdade, aquele estrondo fora apenas tudo dentro de mim se rachando gradativamente com aquele toque.
Ela pausou o beijo apenas para dizer em um tom intenso:
-- Quero você!
Depois disso, percebi que estávamos em meu quarto, sem que eu me lembrasse de como fomos parar ali. Eu a empurrava contra as paredes e ela me empurrava de volta. Uma briga feroz onde uma tentava dominar a outra. Seus lábios eram doces e intensos. Sua língua explorava cada canto da minha boca.
De maneira selvagem, tentei tirar aquela jaqueta horrorosa dela. Joguei a peça em qualquer lugar da casa, nós nos preocuparíamos com isso mais tarde. Empurrei Lícia contra a cama e, sem deixar tempo para que ela revidasse, sentei no seu colo lhe arrancando o resto das roupas. Ela mordiscou meu pescoço enquanto me despia e eu fechei os olhos para poder sentir ainda mais o seu toque. Rebolei em cima dela e soltei um gemido de prazer no instante em que ela sugou meu seio esquerdo. Agarrei seus cabelos por trás da nuca, puxando-a para mais perto.
Eu que sempre me orgulhei de ter total domínio sobre minhas emoções, estava perdendo todo o controle. Lícia me jogou no colchão e escalou meu corpo. Prendeu minhas mãos acima da cabeça e distribuiu mordidinhas pelo meu pescoço.
Eu estava ansiosa para que ela descesse ainda mais a boca quando ela parou o que estava fazendo. Abri os olhos e a encarei sem entender. O que ela queria? Me enlouquecer? Lícia sorriu pra mim com aqueles dentes brancos e a boca vermelha. Um sorriso sacana de quem está tramando algo. Lícia me beijou uma última vez, me distraindo enquanto algemava minhas mãos na cabeceira da cama. Eu não tive tempo nem de me perguntar de onde surgiram tais algemas.
Senti o sangue esvair do meu corpo devido ao pânico que tomou conta de mim.
-- Anita Jensen, você está presa!
Acordei suada e com a respiração acelerada. Tudo não passara de um pesadelo. Sentei na cama, assustada e olhei para os lados procurando algum sinal de Lícia. Alisei meus pulsos só pra me certificar de que não havia algema nenhuma presa neles. Ela não estava ali e nunca estivera. Eu simplesmente estava com a mente sobrecarregada demais e apaguei assim que saí do banho.
Eu estava salva dentro do meu apartamento. Segura das garras daquela mulher. Mas aquele sonho fora tão real. Ela tinha me encontrado! Sabia quem eu era, onde morava e o que eu estava fazendo! E se ela realmente soubesse da verdade? Tremi só de pensar. Não consegui mais dormir naquela noite. Pior do que o medo que dominava todo o meu ser, era perceber que, apesar de tudo, aquele sonho tinha bagunçado totalmente com os meus sentimentos e a minha libido.
Fim do capítulo
Oi meninas, tudo bem??
Me desculpem a demora, segue capítulo novo e como vocês sabem, no blog sempre tem um cap a mais, OK?
Eu sou nova aqui no Lettera, orfã do ABCLES, mas poxa, os comentários aqui caíram muito, ajudem ai, girls! Se vocês soubessem como motiva a gente ter as palavras de vocês e como dá um desanimo quando não tem, a gente pensa, "por que continuar postando? ninguém tá lendo!"
Vamos sair da moita?
Beijos
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Donaria
Em: 31/05/2018
Oi autora!! Esse futuro casal é fogo e gasolina, se em sonhos já tá assim, imagina quando realmente se entregarem. Morri de rir da Anita até sonhando ela é implicada com a jaqueta horrosa da Licia....kkkkkk. Essa jaqueta deve ser um terror, troca a jaqueta dela Autora, vai acabar com o clima ...rsrsrsrs. Adorando a trama e so aguardando o desenrolar. Beijos e vê se não demora.
Eva Bahia
Em: 25/05/2018
Caramba Jessy, que maravilha estas duas hein...intenso demais o "encontro" delas. Olha que foi só o sonho, imagina só qdo elas se encontrarem de fato...aiaiii...srr..Feliz em tê-l de volta nobre autora? Volte sempre e volte logo rsr...amoooo este romance!! bjss
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