Capítulo 1
Cheguei em casa cansada, mais um dia longo de trabalho vencido. Quanta fome! A caminho da geladeira, vejo sobre a mesa algo surpreendente! Radiante, cheio de vida, essa pequenina muda meu rosto acabado para uma face rosada, enternecida pela delicadeza do gesto, pelo perfume do afeto. De fato, o amor nos transforma, daquela assalariada sofrida fez-se uma mulher feliz e desejada como num passe de mágica. O presente me lembrou dela, com seu corpo esguio como uma haste, segurando a cabeça onde repousa pétalas sempre presas em um coque, seus lábios adocicados por pólen me chamando como a uma abelha diante desta bela flor. Descobri que uma flor, uma mulher e o amor podem ter muito em comum. Eu estava abobada como um mero vasinho de lírio desvelaria o amor entre nós, antes tão bem escondido. Nossa relação tinha altos e baixos, mas, em momentos românticos como esses, eu sentia que valia a pena. Me pergunto como minha namorada descobriu meu gosto por essas coisas simples, aquelas que aquecem o coração, e ao corpo. Talvez ela reparasse mais em mim do que pensei! Por vezes, eu a sentia tão insensível, tão imersa nesse mundo do trabalho, tão distante de mim. Nunca imaginaria que por trás daqueles olhos gelados haveria tamanha primavera! Dar flores em um dia comum parece até um filme de cinema. Mas esse não seria mais um dia comum, ficaria marcado para o resto da minha vida na certa. Então mimei a pequenina flor, peguei o celular e mandei uma linda mensagem de amor. Horas depois, veio a resposta:
- Obrigada pela mensagem, amorzinho! Você sabe que te amo muito, mas aconteceu alguma coisa? Estranhei você vir tão assim do nada.
- Claro que sim! Essas flores são lindas! Assim como nosso amor! Venha logo para casa, gostosa!
- Ah...eu não sabia que gostava tanto assim de flores!
- Mas eu gosto mesmo, sempre gostei. Acertou em cheio no meu presente.
- Se eu soubesse antes, tinha te comprado mais...
- Imagina! Essa já está ótima!
- Mas é que essa aí da mesa eu pensei que seria...sabe...para outra pessoa...lembra, o dia das mães está chegando né?
- Qual o nome dessa mamazita aí?
- Aquela que me pariu oras - nessa hora eu fiquei possuída. As flores não eram para mim! Logicamente ela só poderia estar dando a florzinha dela para aquelazinha mesmo.
- Calma, amorzinho, não pensa besteira, já estou estacionando e já falo com você.
- Nem precisa, já estou devolvendo essa flor - peguei esse vaso e levei até a sacada do apartamento, vi logo o carro paradinho bem embaixo. Não tive dúvidas.
- Como assim? Amor, não pula dai! São 7 andares pelo amor de Deus! Sai da sacada já!!!!
- Claro que não! Aguentei você durante 7 meses! Só fico com dó da planta. - soltei e caiu bem em cheio no vidro do carro. Orgulhosa! Vamos pensar nisso com uma finalidade terapêutica, ok? Agora fiz ela entender o que ela me fez! De certo modo, isso foi uma forma violenta e inusitada de promover empatia na nossa desgastada relação. E então, ela sai do carro do lado daquele que eu detonei! Eles eram tão parecidos aqui do alto, essa mania que as pessoas têm de comprar carro preto não ajuda nessas horas.
A noite, fui a procura do dono do carro. Com a ajuda do porteiro, descobri que morava no oitavo andar. Eu estava com muita vergonha do que fiz, sacrifiquei a pobre flor num vidro inocente. Se bem que, nem se tivesse acertado no alvo, eu estaria errada. A cada vez que eu fico toda quebrada minha vida não anda para frente, nem quando as outras pessoas que se machucam. Eu estava pronta para me redimir de meus erros e nem aceitei que a minha namorada, agora ex, pagasse a conta. Não queria ver ela nem como depósito milionário na minha conta corrente. Então, chegou a hora de assumir o que fiz. Assim que parei em frente ao apartamento 802, uma mulher abriu a porta. Os cachos de seus cabelos cintilando contornavam a pele negra reluzente, seus olhos sinceros e afetuosos abriram as portas para eu entrar. E desde aquela noite moro lá com a mulher da minha vida. Quem iria acreditar que essa história acabaria assim? Ainda bem que as flores não eram para mim.
Fim do capítulo
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Manamundi
Em: 23/05/2018
HAHAHA... a-do-rei!!!! Fala sério, amei esse final, baita sorte hein?
Parabéns!!
Abração.
Resposta do autor:
Obrigada pelo comentário! Esse foi meu primeiro texto e não imagina o quanto me fez bem saber que propiciei um bom momento a minha leitora!
=]
Abraços
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