Até onde você iria por amor?! Sabe quantas vezes já me fiz essa pergunta? No mínimo, por dia me pergunto umas dez vezes. Porque faço isso? Não sei bem, mas, talvez seja por ter amado uma vez e aberto mão desse amor para viver outro.

Não me entenda mal, esse amor ao qual me referi foi a minha profissão. Desde cedo queria cursar Gastronomia, mas queria me graduar na melhor faculdade parisiense e me tornar uma renomada chef, e para tal, precisava abrir mão de qualquer coisa que me prendesse no Brasil, neste caso, Luana.

Quando o momento chegou eu não hesitei, dei um ponto final no meu lance de quase 2 anos e fui para a França. Estava com 20 anos na época, e lembro como se fosse hoje da minha covardia.

– Você não ia me contar? – sacudia a carta que tinha acabado de encontrar na minha mochila.

Por descuido pedi para que ela pegasse minha camiseta, e ela encontrou a tal carta.

– Não vi necessidade!

– Você está indo embora, Amanda! Que história é essa de que não viu necessidade de me contar?

– Não vamos ser radicais, eu vou apenas estudar! Depois eu volto.

Gargalhou nervosa, passando a mão no rosto como se duvidasse de tudo aquilo. Tentei abraça-la, mas ela evitou o contato gritando:

– Suma da minha vida. Eu não quero mais ouvir falar em você. Saia daqui.

– Calma, Lu. Não precisa tudo isso, vamos conversar.

– Pra que? Pra você me enrolar? Não, eu cansei de ser o seu brinquedinho barato, que você busca em casa e traz para o motel toda vez que quer trans*r.

A olhei incrédula, não era possível que ela estivesse falando daquele jeito comigo. E as nossas juras de amor, os planos? Eu só estava indo estudar, será que ela não podia esperar? E também, nem tínhamos um compromisso sério.

– É isso mesmo que você quer?

– Me deixa em paz! Finja que nunca me conheceu.

Resolvi fazer o que ela queria, não tinha porque alimentar aquela discussão. Antes de sair, olhei para a cama bagunçada, ela estava em pé de frente a grande janela que tinha ali. Nem se virou quando me escutou sair do banheiro.

– Tchau, Lu! Te desejo toda felicidade do mundo.

Essas foram as últimas palavras que eu disse a única mulher que amei na vida. 8 anos depois voltei ao Brasil para vê-la. Não da forma que eu queria, afinal, a minha amada estava dentro de um caixão. Ela voltava do trabalho quando o carro em que estava, acompanhada de um amigo, capotou diversas vezes caindo em uma ribanceira.

Quando minha irmã me ligou informando o ocorrido larguei tudo lá e vim para cá. O pai dela estava em choque, alheio ao que acontecia ao seu redor. Perdeu a única filha e precisou ser dopado, a todos ele dizia “que ela estava trabalhando e que não demorava a chegar”.

Foi algo muito triste de ver, eu estava “bem” por fora, por dentro meu coração estava despedaçado, e ao abraça-lo não consegui segurar meu pranto ao ouvi-lo dizer:

– Ela disse que você ia voltar, e que juntas me dariam muitos netos.

Tentei não chorar na frente dele, embora as lagrimas rolassem sem controle pela minha face. Me afastei, quando sai da capela encontrei minha irmã e me joguei em seus braços chorando toda a minha dor. Porque eu tive que ser tão egoísta? Porque deixei meu orgulho falar tão alto assim? Eu deveria ter voltado antes.

Mas, ao invés disso mergulhei no trabalho, e embora minha irmã sempre pedisse, não quis mais voltar a essa cidade. Onde descobri a felicidade, e por egoísmo, medo e orgulho, pouco desfrutei do sentimento mais lindo que existe no mundo, o amor!

Aprendi da pior forma possível que dinheiro e uma bela carreira de nada servem, se não temos com quem desfrutar os “frutos” que essas duas coisas nos trazem. 

Fim do capítulo