Ela sai do banheiro e pergunta:

- Amiga, te dei muito trabalho ontem? Fiquei muito louca, hem? Minha cabeça ta um breu. Quase em coma alcoólica eu fiquei né?

O que? Ela não se lembra de nada? Como assim, Lombardi? E eu aqui sofrendo à toa, com medo dela nunca mais olhar na minha cara.

- Você não se lembra de nada?

- Lembro até a hora que fui ao banheiro, no baile e sair te encontrando, o resto é uma nebulosa geral. Mas vou ficar bem, já aconteceu antes, depois vou ter uns flashes. Você cuidou bem de mim que eu sei. Vou chamar um uber, já dei muito trabalho pra você que eu sei como fico chata bêbada.

- Não, eu levo você, vou só tomar um banho. Você quer um café?

- Não, meu estômago não agüenta nada. Olha aqui na janela, está chovendo. Só me empreste um guarda-chuva que o uber já está vindo, 2 minutos pra chegar.

- Se você tem certeza, tudo bem, ta aqui o guarda-chuva – Ela me beijou o rosto, agradecendo novamente por tudo e saiu por afora. Fui até a janela olhá-la. Um ponto vermelho na calçada. Chegou o carro e ela se foi. A água caía lá fora e as lágrimas dos meus olhos, aqui neste quarto frio, não sei o que era pior: ela não lembrar ou ela lembrar e ficar com raiva, no fundo eu tinha esperança que ela lembrasse e tivesse gostado e nos desse uma chance de sermos mais do que amigas.

Foi um dia triste, foi um dia de muita chuva. Não passava, parece que a natureza estava compartilhando da minha dor, da minha tristeza. O telefone toca, já era umas 5 horas da tarde eu ainda estava naquela autocomiseração. Era ela.

- Oi amiga, acabei de acordar, acredita? Cheguei em casa, tomei um remédio pra dor de cabeça e apaguei. Acordei a pouco e consegui comer um lanche. Estomago embrulhado ainda. E você como está? Aproveitando este dia chuvoso?

- Oi amiga. To deitada, com preguiça, mas estou bem. Já dormi, já acordei, dormi de novo. Você sabe que eu amo uma chuva.

 - To sentindo sua voz bem murcha. Tá tudo bem mesmo? Acredita que tive um sonho muito louco? Sonhei que nós estávamos num amasso bem gostoso aí na sua cama, kkkkkk. Loucura.

- O que? – Dei um pulo da poltrona neste momento, será que ela estava lembrando? Eu ouvi a palavra amasso gostoso?

- Ei, calma, foi somente um sonho. Certo? Se tivesse acontecido algo você me contaria, né?

- Oiii, claarooo. Simmm. – Gaguejei e fiquei muito nervosa. Oh idiota. Acorda.

- Ah ta. Então fica bem e a gente se fala amanhã. Você ta meio estranha hoje, aproveita e dorme mais. Beijos.

- Caralh*ooooo!!! O que faço se ela lembrar? É melhor eu contar? – comecei a andar pelo quarto e falar sozinha, roendo a unha – E se eu contar e ela ficar chateada? E se em vez de ficar chateada, ela quiser provar, sóbria? Oh sonho. Tanto será e eu não sei o que fazer. Tenho que pedir opinião da Cláudia, ela é amiga de nós duas.

- Oi Cláudia, tudo bem linda?

- Oi gata, tudo bem. O que você ta fazendo neste dia chuvoso? Tá só ou de costela? Kkkkk.

- Solamente, só, amiga. Numa enrascada e preciso da tua ajuda. Tõ em casa. Vem aqui.

- Porr* amiga! Quer que eu saia nessa chuva? Só vou se for um motivo muito forte.

- E é, cara. Eu fiquei com a Bianca, ontem no baile do Havaí.

- O queeeeee? Putz. Esse babado é forte. To indo. Bjs

Eu sabia que ela viria, oh bichinha curiosa. Contei tudo.

- E agora, mana. O que eu faço? Conto pra ela?

- Eu acho melhor você contar e espera o que ela vai dizer. Pois se você não contar e ela lembra, vai ser pior. Conta que você não se aproveitou da embriaguês dela, só aconteceu uns beijos e tal. Ou, sei lá, abre logo o jogo com ela e diz o que você sente. Te joga. Melhor do que ficar aí sofrendo.

- Tá, obrigada. Vou pensar.

Na segunda, marquei com ela,aqui em casa mesmo. É mais tranqüilo e é meu território.

- Oi linda. Tudo bem? Que houve? Você estava tão séria na ligação.

- Oi amiga, tudo bem. Senta aqui no sofá. Você lembrou de alguma coisa do que aconteceu sábado?

- Hum... Pouca coisa, só flashes, por quê? Algum problema? Fiz alguma coisa que não deveria?

- Bom, fez e não fez, quer dizer, nós fizemos – comecei toda atrapalhada, tava nervosa.

- Ei para de andar e remexer essas mãos, senta aqui e me conta, vai? Fizemos o que? Sei que dançamos, nos divertimos e o que mais? Falei muita besteira?

- Primeiro de tudo, saiba que lhe respeito muito e que em nenhum momento eu me aproveitei da sua condição, só foram as circunstâncias.

- Eita que assim você ta me assustando. Fala mais devagar, respira.

E eu contei tudo. Desde o momento em que ela saiu do banheiro até o momento em que eu a deixei dormindo na minha cama.

- Você tá dizendo que está apaixonada por mim? É isso? Você tem certeza? Você sabe que eu ainda to com o coração em reconstrução.

- Eu sei, mas não consigo mais ficar assim, parece que estou te enganando. Não contei antes porque eu não quero perder sua amizade. Eu sei que você não lembra, mas você correspondeu aos meus carinhos e até tomou a iniciativa e eu não resisti. Eu estou apaixonada por você, essa é a verdade. Mas não to te cobrando nada. Só acredito que era o certo a fazer.

- Bom, tenho um lema comigo: se eu não lembro, não aconteceu. Gosto de você, te admiro muito, mas não posso corresponder ao seu sentimento.

E ela saiu pela porta afora, me deixando em pedaços.

Fim do capítulo