Chuva
Sexta feira é dia do meu filho Juan ir dormir na casa da vó. Ele adora aquele lugar, pois, todas as sextas-feiras seus primos também dormem lá e vira uma bagunça, coisa de criança. Deixo ele lá por volta das 4 horas da tarde e vou para casa de Briana.
Briana é meu caos eminente. Ela é minha vizinha de apartamento, nós nos conhecemos no elevador quando eu ofereci para ajudar com algumas sacolas que ela carregava e, não sei como aconteceu até hoje, mas desde então temos relações sexuais vários dias da semana com uma intensidade que me quebra todas as vezes, de um jeito bom, de um jeito que me tira da minha realidade. Não é só sex*, existe uma ligação que não sei explicar mas eu gosto e não consigo me desprender disso, mesmo tendo um marido em casa. As vezes penso que é justamente por causa dele que me envolvo com ela, por causa da bebida, por causa dos gritos, por causa da impaciência com meu filho, por causa dos tapas, dos chutes, da agressão.
Sexta-feira é meu dia favorito, o dia em que posso ficar mais com Briana, porque ele demora mais para chegar e por que meu filho está na casa da vó. Mas hoje ela não está em casa sinto um leve pesar, gostaria de vê-la, não para fazer sex* só para conversar.
Vou pra casa e para minha surpresa meu marido já está aqui. Nós não conversamos, sigo até a cozinha para preparar a janta e ele está vendo o jogo. Penso em algo rápido: macarrão de panela de pressão. Ouço seus gritos quando seu time marca gols, me lembro que nós nos conhecemos em um bar quando estava passando o jogo do Brasil na Copa e nos damos tão bem, ele era outra pessoa, divertido, atencioso e não bebia, porém, agora sobre a mesa de centro da sala já tem várias garrafinhas de cerveja, ou seja, vai ser uma noite longa.
Termino o macarrão e vou tomar banho. Banho é minha segunda coisa favorita, a sensação da água caindo sobre mim é como se estivesse levando todo meu cansaço, esgotamento físico e mental. Fecho os olhos e tento esvaziar a mente por alguns segundos.
Abro os olhos e vejo Robert, ele me olha com desejo estampado, fico imóvel. O vejo tirar a roupa e penso que depois de quase 4 meses sem me tocar com desejo ele finalmente vai fazer isso. Se aproxima e dá uma risadinha, olho nos olhos, não tenho mais palavras com meu marido, não sinto desejo e também não posso terminar. Então eu tento, sempre, toco sua nuca pensando em beijar sua boca, mas ele segura em minha cintura e me vira bruscamente contra a parede e me penetra. Isso dói porque eu não estava preparada, dói porque não tem carinho, não tem amor. Robert segura as minhas mãos contra parede e penetra continuamente com força e minhas lágrimas se misturam a água que cai do chuveiro. Não é prazeroso nem por um segundo, só preciso que acabe, que ele fique satisfeito. Me movimento para baixo e para cima, escutando-o me xingar, sentindo uns tapas ardidos, mas, sei que está acabando, porque ele começa a gem*r e penetrar mais rápido. Alguns segundos e acabou. Deslizo pela parede assim que ele sai, não contenho as lágrimas, quero gritar.
Mas não posso fazer isso. Não posso fazer escândalo. Saio do banho, vejo que escureceu e lá fora chove sinto que a chuva é um reflexo do meu interior. Pego o guarda-chuva vermelho que fica atrás da porta e saio. Robert me chama, contudo ignoro. Respiro ar fresco, sinto cheiro de terra molhada, eu amava isso quando era criança e agora depois de adulta perdi todas essas coisas pequenas que amava e dei lugar há várias coisas que detesto, como sol quente, leite morno, água fria, cerveja, Robert gritando..
Caminho sem destino, não me importo que as pessoas vejam as minhas lágrimas, mas nem tem pessoas porque está chovendo demais. Penso que meus olhos me traem quando vejo Briana vindo em minha direção, ela está com sobretudo preto, um guarda-chuva também preto e salto alto. A conhecendo como a conheço sei que também deve ter feito sex*, mas deve ter sido bom, consensual, talvez, memorável.
Paramos em frente uma para outra.
- Emma o que aconteceu? - Pergunta passando o polegar sobre minhas lágrimas.
- O de sempre.. - Pego sua mão, apertado.
- Você precisa largar esse cara, isso vai durar para sempre?
- Ele me mata, Briana. vai tomar meu filho e eu não consigo manter a casa ainda, preciso dele em casa e meu filho precisa também. Hoje é sexta-feira eu só queria paz passei no seu apartamento, mas você não estava lá e quando cheguei em casa ele já estava em bebendo cerṿeja. Sei lá, hoje foi demais e a chuva combina comigo.
Briana pega meu guarda-chuva vermelho e fecha, assim como fecha o seu. Agora as gotas de chuva se misturam as minhas lágrimas, ela pega minha mão e me encaminha até a parede de um prédio, gentilmente me encosta, toca minha nuca e me beija. Briana transborda carinho e sinto necessidade de seus toques. A chuva nos molha, mas, o beijo é quente, uma Brasa em meio ao frio, sinto que Briana nunca vai me deixar cair. A abraço encostando a cabeça no vão do seu pescoço e esse é meu lugar favorito agora, esse é meu porto seguro.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
RosanePatell
Em: 15/05/2018
É triste, é pertubador... mas é preciso que se fale dessas ''coisas ruins'', para que elas não se perpetuem.
Mas como na vida da personagem, sempre há algo ou alguém que pode nos levar para o lado bom!!!
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]