Capítulo 69
Carlos ficou calado por vários segundos. Era claro que ele não sabia o que dizer, mas era nítida a confusão e surpresa na expressão dele.
- Eu compreendo que você possa ter uma opinião a respeito – disse Maia de forma seria – Seja ela contrária ou não. Mas eu espero que exista um bom senso da sua parte sobre verbalizar isso ou...
- Senhorita eu não... – Carlos a interrompeu, mas ainda parecia confuso – Eu não tenho nenhuma opinião. Eu...Acho que...Vou deixa-las mais à vontade. Com licença – ele concluiu abrindo a porta e descendo do carro.
As duas observaram o rapaz atravessar a rua e parar embaixo da sombra de uma árvore na calçada oposta à onde elas estavam. Ambas se olharam confusas.
- Isso foi estranho – Maia finalmente falou.
- Sim. Muito estranho – concordou Alicia abrindo a porta do carro e recebendo um olhar questionador de Maia enquanto ela se aproximava mais da menor colocando um braço em volta da cintura dela e se esticando um pouco até conseguir alcançar o rosto dela – Primeira vez que acho esse carro alto demais – a veterinária reclamou antes de deixar um beijo próximo ao maxilar de Maia.
Os olhos verdes se fecharam enquanto ela sorria e virava o tronco para abraçar o pescoço da mais velha. Elas trocaram um beijo, mas logo Maia se afastou um pouco.
- Eu realmente preciso ir e resolver essa questão do maquinário – ela sussurrou aproximando os rostos delas e Alicia lhe deu um selinho demorado – Juro que gostaria de ficar.
- Eu sei. Entendo que precisa ir. Vou te soltar, só me dê mais alguns segundos – pediu a veterinária sussurrando antes de beijar a mais nova outra vez.
Elas logo se separaram e Alicia fechou novamente a porta antes de erguer o braço chamando Carlos que atravessou a rua e voltou a assumir sua posição atrás do volante.
- Se tudo der certo eu vou para o Rancho amanhã à tarde – avisou Alicia enquanto o rapaz colocava seu cinto.
- Certo. Mas avise quando sair – Maia pediu, as duas notaram os olhares de Carlos que parecia inquieto e pensativo.
-Carlos – chamou Alicia com um olhar sério – Se você tem algo a dizer, apenas diga de uma vez.
Ele as encarou e parecia estar em algum tipo de dilema interno. Por fim soltou um longo suspiro, virou-se para frente apoiando as mãos no volante.
- Eu não tenho nenhuma opinião contaria, mas admito que já tive – ele sussurrou, mas as duas conseguiram ouvir, depois de alguns segundos de pausa ele continuou a falar – A doutora sabe que os pais da Lúcia são separados não é? – ele questionou olhando para elas rapidamente e desviando o olhar outra vez após ver Alicia concordar – O pai dela mora na capital com a irmã mais velha. Ela veio com a mãe e o padrasto muito cedo para cá, mas nunca perdeu o contato com o pai e a irmã. Alguns meses atrás eu nós fomos numa viagem, para um jantar onde eu conheceria meu sogro e minha cunhada – ele contava em voz baixa sem olhar para o lado – Na viagem ela me falou sobre a irmã....sobre a irmã dela talvez levar para o jantar uma garota. Nós...discutimos no carro....discutimos depois do jantar...e discutimos quando voltamos.
- A briga de vocês de dois ou três meses atrás? – Alicia questionou interrompendo Carlos que a encarou concordando com um movimento de cabeça antes de continuar.
- Sim, logo antes do Patrão falecer – ele disse voltando a encarar o volante – Ela me disse tanta coisa. Mas algo que ela me falou na última discussão...Me fez pensar tanto. Nós estávamos planejando nosso casamento. Para isso que fui conhecer o pai dela. Ninguém sabia, mas eu já havia feito o pedido. Mas ela terminou comigo. E me disse que por mais que ainda me amasse não permitiria que seus filhos fossem criados por nenhum preconceituoso hipócrita capaz de negar amor e carinho a uma criança apenas por ela sentir diferente. Que não se casaria com um homem como eu para ver seus filhos sofrerem como ela viu a irmã sofrer com a mãe e o padrasto preconceituosos. Depois que ela me disse isso e foi embora eu fiquei em choque...porque...Eu pensei nos meus pais, no carinho e amor que recebi deles. E me perguntei se eu seria capaz de dizer a uma filha minha o que eu disse a Lúcia sobre a irmã dela. Se eu seria capaz de fazer as coisas ruins que ela me falou que a irmã passou com uma filha minha. E eu me dei conta de que não. Eu não iria querer que meus filhos sofressem.
- Quem escolhemos para estar conosco não define quem somos – falou Maia colocando a mão esquerda sobre o ombro do rapaz que a olhou com uma expressão de alívio – Lúcia e você voltaram correto?
- Sim, algumas semanas depois da discussão – ele confirmou soltando o volante e Maia recolheu sua mão – Eu só...Só queria dizer que eu não entendo, mas Lúcia e eu ainda conversamos muito sobre isso. Eu só não sei bem como agira.
- Apenas continue da mesma forma que agia antes, Carlos – falou Alicia com um sorriso – Maia e eu não mudamos em absolutamente nada. Não precisa mudar a forma como age conosco também.
Carlos concordou e soltou um suspiro. Alicia então estendeu a mão direita na direção dele que retribuiu o aperto, logo depois pegando a chave do carro que estava em seu bolso e colocando na ignição. Maia virou seu rosto na direção da veterinária e esticou-se até seu rosto estar quase do lado de fora da janela. Alicia lhe deu outro selinho e se despediu de ambos antes de se afastar do carro que Carlos ligou. A veterinária observou o veículo se afastar e então soltou um longo suspiro, ligaria para Maia a noite, enquanto isso prepararia suas próximas consultas para ir até o Rancho no dia seguinte.
No dia seguinte Talitha e Dona Catarina estavam sentadas uma ao lado da outra almoçando. A mais nova estava comendo mais cedo porque iria para a clínica ajudar Alicia.
- A consulta é agora as 12h30, mas é apenas um retorno. Vou chegar lá antes de acabar e fico para arrumar tudo pra Alicia – falou ela enquanto servia mais salada em seu prato.
- Então ela vai para o Rancho? – questionou Catarina com um sorriso.
Havia conversado com Marta e a melhor amiga lhe contou praticamente tudo sobre o novo relacionamento da filha e como ela estava feliz. Talitha concordou rindo do interesse da mãe.
- Sim. Elas são tão fofas juntas mãe – Talita disse rindo.
Naquele momento Renato entrou na cozinha ouvindo a última frase da irmã mais nova. Ele olhou para as duas que pararam de conversar encarando-o de volta.
- Meu filho – disse a mãe deles se levantando – Achei que você estaria no trabalho até mais tarde.
- Saí mais cedo hoje – ele respondeu a mãe e voltou a encarar Talitha – De quem estavam falando?
- De Alicia e Maia, querido – respondeu a mãe deles – Vou servir seu almoço.
- Por que motivo elas poderiam ser fofas juntas? – ele questionou a irmã ao se sentar.
- Talitha estava me contando que elas começaram a namorar. E que Alicia está muito feliz – falou Catarina enquanto estava de costas para a mesa servindo o prato do filho com almoço – É tão bom saber que que ela finalmente encontrou alguém.
- Como é? – o rapaz se levantou falando alto e colocando as mãos sobre a mesa assumindo uma expressão séria.
- Foi isso mesmo que você ouviu, Renato – respondeu Talitha fingindo calma pela reação do irmão e continuando a comer – Minha amiga está namorando e muito feliz com isso.
- Você quer me dizer que Alicia está com uma mulher e vocês estão achando isso normal? Vocês estão apoiando ela? É isso mesmo? – disse ele revoltado se levantado da cadeira.
- Ih o machista preconceituoso vai começar o discurso imbecil sobre querer dar palpite na vida alheia – Talitha falou rolando os olhos e afastando o prato que estava a sua frente – Até perdi a fome.
- Veja bem como fala comigo garota – ele falou alterado e apontando o indicador direito na direção da irmã – Sou seu irmão e tu me deves respeito!
- Só no dia em que você respeitar as outras pessoas é que vai merecer respeito de mim ou de qualquer outro – respondeu Talitha acertando um tapa na mão do rapaz – E se desrespeitar minha amiga pode ter certeza de que não vou abaixar a cabeça para as suas opiniões ridículas.
- Parem com isso, vocês dois! – disse a mãe de ambos se aproximando da mesa – Talitha, não ameace seu irmão. E você, Renato, espero que essa reação seja apenas algo relacionado a sua surpresa. Porque eu não acredito que possa ter criado um filho capaz de ser preconceituoso com algo que não lhe diz respeito sequer.
- Desculpe-me mãe. Mas apesar da ótima pessoa que a senhora é e de ter dado os melhores exemplos para nos dois, meu irmão não seguiu os exemplos corretos –Talitha falou erguendo-se de seu lugar, afastando a cadeira – Ele prefere seguir o que os amigos babacas e os homens machistas que o cercam tem a dizer – ela continuou se aproximando da mãe e deixando um beijo em seu rosto – Vou para o meu trabalho. Até mais tarde mãe.
- Renato! – falou Catarina tentando manter o filho na mesa, queria conversar sério com ele sobre a forma que o ouviu falar, mas o rapaz a ignorou e saiu com uma expressão irritada de quem não queria falar coisa alguma – Era só o que me faltava – ela murmurou ao ouvi-lo bater a porta da frente.
Fim do capítulo
Olha quem voltou!!!!
Acho q não vão ter gostado nada desse final, mas é oq tem pra hoje gente kkkkk. E tbm pq quero o próximo cap sendo todo fofo pra subir a glicose de vcs (cuidado com a diabete pro próximos heinkkkkkk).
Mas então gente, eu tentarei (arduamente) escrever mais um para soltar até domingo. Até já comecei ele, mas tenho um trabalho pra entregar segunda e um livro pra ler pra prova na terça. Então me deem um desconto se eu não conseguir tá?
Era isso pessoinhas. Até o próximo ;]
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