— Acho que nem precisa responder. – Mamãe respondeu a própria pergunta. — Cabelos molhados… Provavelmente estava em algum motel.

— É, eu estava sim. E com a Lígia. – Sorri feito boba.

— Podia ter avisado que ia chegar tarde, Alex. – Papai falou.

— Desculpa, foi sem querer.

— Pelo seu sorriso e seus olhos que não param de brilhar... Você se acertou com a Lígia, não é? – Mamãe falou dando um suspiro.

— Sim. – Sorri. — Agora é oficial, ela vai se separar do Júlio.

— Ela disse isso? – Mamãe perguntou.

— Sim. – Respondi. — Ela me ama e quer ficar comigo.

— Alex, vai com calma. Não deposita todas as esperanças nisso. — Mamãe falou.

— Poxa mãe, a senhora parece que não quer que eu fique com a Lígia. – Me irritei. — Não quer me ver feliz?

— Não é isso. Só não quero te ver sofrendo novamente.

— Eu já entendi, não se preocupe. – Suspirei.

— Bom, já que a Alex chegou sã e salva... podemos dormir não é? — Papai falou e mamãe o olhou irritada.

— Você é inacreditável sabia Eric? – Ela falou e saiu pisando duro.

— Tudo bem, logo ela se acalma. – Papai falou e me desejou boa noite.

            Sei que mamãe estava preocupada comigo, em me machucar novamente. Mas o que eu poderia fazer? A Lígia plantou a sementinha da esperança aqui dentro de mim quando falou que ia se divorciar do Júlio e que queria ficar comigo, então não havia nada que eu pudesse fazer a não ser ver onde isso vai dar.

            Cheguei ao meu quarto e caí na cama, adormecendo logo em seguida. O dia havia sido cansativo e maravilhoso.

            Acordei ansiosa na quarta feira, doida para ver a Lígia novamente. Cheguei na faculdade e me sentei, esperando pelos meus mais novos amigos. Flávio chegou e puxou assunto comigo.

— Então Alex, percebi que você e a professora gostosinha parecem ter… alguma coisa. – Ele falou com um sorriso.

            O olhei com raiva.

— Mais respeito com ela. – Falei entre dentes. — E se temos alguma coisa… isso não lhe diz respeito. – Tentei encerrar a conversa.

— Mas seria ruim pra ela se alguém da coordenação soubesse que vocês têm encontros aqui na faculdade, não é? – O tom de voz dele era sarcástico.

— Do que você está falando? – Perguntei analisando-o. Será se era ele que havia nos filmado dentro da sala?

— Ah, não é nada. Só pegaria mal pra ela, só isso.

— É… pegaria sim. Mas só se alguém der com a língua nos dentes. – Falei.

— Isso é verdade. – Ele sorriu.

            Kimi havia acabado de chegar e Flávio arrumou um jeito de sair o mais rápido possível dali.

— Kimi, preciso da sua ajuda… e da do Caio também.

— Para quê? – Ela quis saber.

— Preciso pegar o celular do Flávio escondida.

— Alex, você ficou maluca? – Kimi sussurrou olhando ao redor. — Vai roubar o celular dele?

— Não exatamente roubar, mas pegar emprestado… depois eu devolvo.

— Mas por quê?

— Alguém me filmou com a Lígia aqui na sala enquanto… bem, nos beijávamos. – É claro que eu não ia contar o que rolou por completo. — E essa pessoa nos enviou essa filmagem. Tenho certeza que foi o Flávio.

            Só agora que eu tinha me dado conta de que ontem ele viu a Lígia e eu saindo juntas. Se eu recebesse outro DVD, com certeza pode ter sido ele quem filmou, já que o tom que Flávio usou foi de que soubesse do que fizemos no estacionamento. Mas como acusar alguém sem provas? Eu teria que vasculhar o celular dele imediatamente.

— E como vamos fazer? Pelo que sei, ele não parece ser do tipo que deixa o celular dentro da mochila e vai para o intervalo? – Kimi perguntou tirando-me de meus pensamentos.

— Não sei, vou pensar num jeito de fazer isso.

— E se for ele que filmou vocês duas?

— Ele vai sentir o gostinho de ter mexido comigo. Estou ficando boa em dar socos. – Sorri.

— Você não toma jeito. – Kimi balançou a cabeça negativamente sorrindo.

            Ficamos conversando sobre outras coisas até o Caio chegar. Assistimos à primeira aula e depois fomos à lanchonete comprar coisas para comermos. Demoramos mais do que o previsto e quando voltamos Lígia já estava na sala.

            Encaramo-nos e eu sorri, ganhei um sorriso e uma piscadela por parte dela. Nos sentamos e logo depois Lígia começou a aula. Lígia explicava a matéria com uma paixão nos olhos e fervor na voz, mostrando que era aquilo que gostava de fazer… ensinar. Hoje em comparação do outro dia, ela conseguia prender a atenção de cada um na sala, dando exemplos e nos fazendo sorrir enquanto andava pela sala. Seus saltos altos faziam barulho quando andava, dando uma pose elegante à Lígia. E enquanto ela ia falando e andando, todas as cabeças na sala se movimentavam acompanhando aquela figura majestosa.

            Ela pouco escrevia no quadro negro, somente quando não tinha jeito. Sua matéria era fácil de entender e mesmo para os que não entendiam de primeira, Lígia repetia sem se importar. O que ela queria era que todos aprendessem sem ter que decorar um quadro negro ou o caderno.

            Depois que a aula terminou, Lígia permaneceu na sala querendo falar comigo. Despedi-me de Caio e Kimi e me encostei na mesa dela, esperando que falasse.

— Alex, o Júlio não está nada feliz. – Ela falou enquanto se levantava e parava na minha frente, soltando um suspiro em seguida. — Ele disse que vai dificultar até o último momento para nós duas.

— Ele disse isso? – Perguntei.

— Sim. – Lígia respondeu com a voz cansada.

            Desencostei da mesa e puxei-a para um abraço. Afundei meu rosto em seu pescoço, aspirando seu cheiro divino. Lígia logo depois encostou a testa na minha e fechou os olhos.

— A única coisa que quero é ser feliz com você. – Ela comentou.

— E vamos. Nem que pra isso eu quebre a cara do Júlio quantas vezes forem necessárias. – Lígia sorriu.

— Minha menina rebelde. – Sorri.

            Beijei seus lábios com leveza sendo correspondida, mas logo Lígia me afastou. Ela jogou o cabelo para trás com a mão, sinal de que estava nervosa ou preocupada.

— O que foi? – Perguntei.

— Alex... Eu estou com medo. O Júlio tem mostrado um lado dele que eu nunca conheci... Tenho medo de que ele faça alguma coisa com você.

— Ele não vai me fazer nada. – Segurei suas mãos. — Sei me defender.

— Eu sei que você sabe se defender, mas... Tenho medo do mesmo jeito.

— Ele te ameaçou? É por isso que você está com medo? – Interroguei.

— Mais ou menos.

— O que quer dizer com mais ou menos, Lígia?

— Ele não me ameaçou... Mas de certa forma deixou um recado para você.

— O que ele disse exatamente?

— Ele disse que se não pode me ter... Você também não me teria. – Ela abaixou a cabeça.

— Só isso?

— Alex, você não viu como ele falou. Ele tinha um brilho diferente nos olhos... Um brilho maníaco. Eu não sei explicar.

Lembrei do olhar que o Júlio me deu no elevador, depois da confusão, parecia ser o mesmo tipo de olhar do qual Lígia estava falando.

— Olha pra mim. — Segurei seu rosto. — Vai dar tudo certo ok?

            Lígia confirmou com a cabeça e me beijou. Ficamos mais um tempo na sala e depois fomos para casa.

            Eu não cheguei a falar com a Lígia das minhas desconfianças sobre o Flávio e o DVD, ela estava preocupada com o fator Júlio e eu não queria preocupá-la ainda mais com isso.

Fim do capítulo