Ao fechar a porta do quarto, Cecília ainda escutou o barulho do travesseiro que Sofia jogou.

Sentiu vontade de voltar para pedir desculpas e abraçá-la. Estava se sentindo péssima por ter agido daquela maneira, mas sabia que era preciso, pois não podia dar esperanças à loira, apesar de que estava mais do que provado que sentia algo além de desejo. Afinal, por que ficaria preocupada se Sofia estava ou não apaixonada por Manuela?

Durante aqueles dias, tentou reprimir ao máximo qualquer tipo de sentimento que pudesse nascer depois da noite no motel e, mesmo assim, foi inevitável. Não podia assumir, entretanto, que estava apaixonada por uma mulher, principalmente se a mulher em questão fosse Sofia.

A morena nunca teve dúvidas de que era hétero. Sequer já teve curiosidade para experimentar como seria beijar uma pessoa do mesmo sex*, e agora estava ali... Depois daqueles turbulentos dias... Tentando negar a si mesma que estava desejando e se apaixonando por uma.

Acreditava que ter agido daquela forma com Sofia encerraria toda aquela situação, pois, após ter dito que amava Edu, trans*ram e,  ter saído sem falar nada, daria a entender que o que sentia era apenas carnal.

****

Cecília retornou ao quintal e logo foi questionada por Edu:

- O que estava fazendo? - Perguntou sério.

- Conversando com a Sofia.

Léo, que estava desconfiado com aquela demora de Cecília e crente de que não estavam conversando coisa nenhuma, não perdeu a chance de cutucar:

- Ah, é? Sobre o quê?

A morena ficou alguns segundos calada encarando a cara de poucos amigos de Léo, antes de responder:

- Ela estava me contando sobre o passeio que fez com Manuela. - Respondeu a contragosto.

Léo estava pronto para perguntar sobre o passeio quando Edu o atropelou dizendo:

- Conseguiu descobrir se ela está mesmo apaixonada pela Manuela? - Perguntou demonstrando sua curiosidade e empolgação.

- Não... Acho que está muito recente para ela dizer o que de fato sente.

- Hum... É. - Edu resmungou.

- Vou lá ver se ela não vem para cá. - Léo levantou dizendo.

Temendo que Sofia contasse o que havia acontecido, Cecília tentou impedir:

- Acho que ela não vem não! Disse que estava cansada...

- Mas vou lá assim mesmo. - E saiu para dentro da casa.

****

Léo bateu na porta do quarto de Sofia e já foi entrando.

A cena que viu cortou o coração do amigo: a loira estava deitada de lado, escolhida e abraçada a um travesseiro. Assim que chegou mais perto, Léo viu que a amiga estava chorando.

- Ei... O que foi? - Perguntou sentando-se na beirada da cama perto de Sofia, a qual não respondeu.

- Sofia... O que aconteceu? - O amigo insistiu.

- Não quero falar, Léo...

- Mas, Sofia... Olha como você está! É por causa da Cecília?

Sofia balançou a cabeça afirmando.

- Vocês brigaram?

- Não exatamente.

- O que foi então? Sabe que não vou sossegar enquanto não me contar!

- Aff. Como você é chato!

- Vamos! Levanta e vai lavar esse rosto. Depois senta aqui e me explica o que aconteceu. - Disse puxando o braço da amiga.

Sofia fez exatamente o que o amigo ordenou.

Voltou e se sentou na cama de frente para Léo.

- Sofia... Eu já sei da história de vocês e não vou julgar. Só quero saber o que aconteceu, já que ela disse que você estava contando sobre o passeio com a Manu e claramente percebe-se que não foi isso que aconteceu. - Léo disse após perceber o receio da amiga em falar.  

- Cínica! - Sofia bufou.

- E então, o que ela veio fazer aqui?

- Perguntar se eu estou apaixonada pela Manuela.

- E você está?

- Não... Léo. Queria estar, mas não estou.

- Sofia, conta logo o que aconteceu. Desde o começo!

- Bem. Depois de ter negado que estava apaixonada pela Manuela, eu confessei que, na verdade, estava apaixonada por ela.

- Sofia, você ficou louca?! - Léo a interrompeu com indignação.

- Eu sei... Léo. Não quer saber o resto antes de ficar dando pitaco?

- Tá... Continue então.

- Aí ela se revoltou dizendo que eu não devia estar. Me acusou de estar usando e enganando a Manuela, eu estressei e saí para tomar banho. Quando voltei, ela ainda estava aqui alegando que precisávamos resolver aquela situação. Mas era óbvio que não tinha como resolver... A gente acabou trans*ndo de novo. E a saída dela foi cruel... Nem olhou para a minha cara, Léo.

Léo suspirou forte antes de dizer:

- Eu não vou perder meu tempo pagando sapo para você. Tanto você quanto ela sabem muito bem o que fazem. Mas se ela saiu assim... Talvez não esteja sentindo o mesmo que você.

- Ela disse que ama o Edu... E eu sei que ama. Mas duvido que depois de tudo o que passamos, ela só sinta desejo. Não tem lógica, ela é hétero! Se não sentisse algo a mais, não ficaria trans*ndo comigo assim...

- Sofia, pelo amor de Deus, tira isso da sua cabeça! O que ela sente ou deixa de sentir, não importa para você! Ela e o Edu são namorados há anos, tenho certeza que ele vai pedi-la em casamento logo logo. E você fica com essas nóias... Acorda para a vida, meu amor... O Edu é seu melhor amigo...

- Eu sei, Leonardo! - Respondeu com raiva.

- Então, reprima esse sentimento! Não seja egoísta. Continuar com isso só vai trazer problemas.

- Já me convenceu... Léo. Vou organizar meus pensamentos e esquecê-la.

- Faça isso, querida. Quando voltar para casa, saia mais... Combine de encontrar com a Manu... Quem sabe assim esquecer a Cecília se torne mais fácil, não é?

- Pode ser... - Disse com um tom de tristeza.

Fim do capítulo