Capítulo 29: LIÇÃO 24 – Cresça, independente do que aconteça
Marcela continuava parada diante da porta com os olhos arregalados, e eu, com o coração galopando pelo esforço e pelo medo de ser rejeitada mais uma vez, e em uma fração de segundos pensei que ela poderia não estar sozinha no apartamento, o que me deixou ainda mais apavorada.
-- Desculpa Marcela, eu não devia ter vindo, é que fui tão estúpida com você, e enfim, eu tinha que te pedir desculpas...
-- Como a senhora me encon... Como sabia que eu estava aqui?
Marcela tentava entender e eu reticente em revelar minha espionagem.
-- Eu... Bem, eu te segui e...
-- Seguiu? Mas...
-- Agora estou me sentindo uma psicótica, eu vou embora, era só para te pedir desculpas.
-- Desculpas aceitas.
-- Que bom, ótimo. – Sorri amarelo, esfreguei as mãos suadas na calça e fui caminhando em direção a escada. – Então amanhã nos falamos na faculdade.
Marcela acenou em acordo, visivelmente surpresa com minha presença e imagino que com minha atitude de segui-la. Quando eu pus os pés no primeiro degrau da escada, ouvi a voz dela no corredor.
-- Professora, espera.
-- Olha Marcela, eu tenho que me desculpar também por invadir assim sua privacidade...
-- Professora Luiza, calma. Devia escutar um pouco antes de fazer comentários precipitados.
-- Eu sei... O Lucas me falou e...
-- Ah, o Lucas... Bem eu só ia dizer, que, já que a senhora se deu ao trabalho de me seguir e me descobrir aqui, eu ia pedir que entrasse um pouco.
A surpresa dessa vez foi minha, e pela terceira vez na noite eu me senti uma imbecil.
-- Estou me superando hoje... Quantas mancadas...
-- Por favor, venha.
Marcela segurou a porta e fez um gesto para que eu entrasse. Aquela quitinete não parecia tão pequena. Talvez por que estava vazia, nenhum móvel na sala conjugada com a cozinha separada por um balcão em granito, ali, poucos utensílios, um forno micro-ondas, um frigobar e um fogão de duas bocas. Olhei em volta, e Marcela sem graça, prendendo os cabelos disse:
-- Não posso pedir que se sente, por que como pode ver, minha decoração é minimalista.
Sorri, e completei:
-- Dizem que é a tendência mais moderna. Deu mais espaço ao ambiente. Você tem bom gosto.
-- Ajuda a me concentrar, sem distrações.
Alguns segundos em silêncio, e eu nem sabia mais o que falar a sós com Marcela depois de tanto tempo, em um lugar tão íntimo. Tanto a dizer, e tudo tão mascarado.
-- Bom, eu...
-- Aceita água?
Falamos ao mesmo tempo e obviamente sorrimos tímidas.
-- Eu aceito água se não for incômodo, eu estou meio fora de forma, os lances de escadas me confirmaram isso... – falei ainda ofegante.
-- Pelo menos água eu tenho.
-- Como eu ia dizendo, vim te pedir desculpas, como você mesma disse, me precipitei e descarreguei em você aquele monte de asneira.
-- É compreensível, a senhora passou por alguns maus bocados esses dias.
-- Mas, você foi gentil comigo nesse tempo, não tinha esse direito. Fui uma estúpida.
Marcela me entregou o copo de água, e nossas mãos roçaram uma na outra e uma troca de olhares aconteceu, forte o suficiente para me tirar o ar.
-- Acho que também consigo entender o que é estupidez. Foi só um mal entendido, professora. Está tudo bem, não precisava vir aqui por isso.
-- É, agora você deve me julgar uma doida de pedra perseguidora. Eu não pensei direito...
Marcela dessa vez sorriu mais levemente, e aquele sorriso era uma covardia comigo, minhas pernas voltaram a tremer e não era por falta de atividade física.
-- Não esperava isso da senhora, confesso. Mas, nunca a julgaria como doida...
-- Menos mal. – Bebi o copo de água avidamente. – E sobre seu assunto, eu vou tentar resolver isso amanhã mesmo, se eu já soubesse, teria feito antes.
-- Ficamos constrangidos em importunar no meio dessa confusão que foram esses dias para a senhora.
-- Mas, é minha obrigação como orientadora, sei que contam com essa bolsa.
-- É, eu só fui falar por que acho que sou a que mais está sentindo a falta desse dinheirinho.
Marcela abriu os braços revirando os olhos.
-- Desculpe-me ser tão invasiva, mas, já estou aqui... O que houve com seu antigo apartamento?
-- Estou morando sozinha agora, para arcar com esse custo, vendi meu carro, por que meus pais não concordaram com minha decisão. Preferi morar perto do campus, e aqui não tem garagem, enfim... O carro seria mais uma despesa também...
-- Entendi... Mas, naquele dia que me deu carona, estava com seu carro ainda, se mudou agora, recentemente?
-- Na verdade, eu já tinha vendido o carro, é que vendi a Jessica, e naquele dia, pedi emprestado a ela...
-- Ah sim, e... Jessica também se mudou?
-- Não, só eu. Uma prima da Jessica está na minha antiga vaga lá.
-- Só você se mudou?
Marcela sorriu só com o canto dos lábios e se antecipou:
-- A senhora quer saber se a Laura continua morando lá? Se é isso, a resposta é sim, e eu saí de lá por que estava intolerável nossa convivência sob o mesmo teto depois que terminamos o namoro.
Respirei fundo, segurando a vontade de abrir um grande riso ao ouvir a última informação.
-- Era isso, que queria saber, não era?
-- Desculpa, Marcela. Juro que não sou tão intrometida e curiosa assim, nunca fui, assim, nunca com ninguém antes de você...
-- Antes de mim?
-- Antes de te conhecer, de me apa...
Autocensura. Foi automático, assim como o sorriso se fazendo nos olhos e lábios de Marcela.
-- Então, não foi depois da Cléo Moraes?
-- Ah Marcela! Até você?
Ela não segurou o riso.
-- Desculpa vai, foi mais forte que eu.
O silêncio de novo se fez, entretanto, dessa vez de uma maneira mais leve, nos encaramos com brilho nos olhos, desarmadas.
-- Eu tenho que ir, deixei meu carro, minhas coisas no campus e... Já tomei seu tempo, invadi seu espaço, enfim, está na minha hora.
-- Espaço eu tenho de sobra, como você pode ver.
-- Bom saber.
Marcela mordeu o lábio inferior, e eu, provavelmente senti o equivalente a um micro orgasmo, se é que isso existe. Nossa troca de olhares estava tão intensa, minha vontade era de avançar na boca dela e sentir seu gosto de novo, me contive, simplesmente me faltou coragem ou na melhor hipótese meu instinto de autopreservação clamava “Keep calm”, esse terreno exige cuidado.
-- Boa noite, Marcela.
-- Boa noite, professora Luiza.
Bandeira branca hasteada, e no coração um rio de esperança de finalmente seguir minha história com Marcela.
***************
Almoço de sábado com Cris no verão era uma tradição que eu protelei para cumprir depois dos meus quinze minutos de fama. Nossos almoços sempre se estendiam até a noite, com direito a caminhada pelo calçadão até o melhor ponto da praia para ver o pôr do sol.
-- Então, vai me contar o motivo da animação? Não me deu bolo, está aí parecendo uma gazela saltitante batendo os dedinhos na mesa...
-- Cris! Samba, feijoada, sente o clima! – Bati no ombro da minha amiga.
-- Sei, esse clima está me desidratando, isso sim, que chopp quente!
-- Xi, está de mau humor, heim? Por que isso?
-- Meu humor está bem normal, não sou imune a esse calor, Luiza! Já você... Desembucha criatura! Isso tem algo com a volta de uma certa atriz para o território brasileiro?
-- Atriz? Ah desencana, Cris. Vamos pedir cerveja, pode ser que esteja mais gelada.
-- Luiza, você não me enrola! Isso é alegria de piriquita, te conheço!
-- Só me faltava essa! Você conhecer a alegria da minha piriquita, olha aí uma coisa que você não sabe sobre, e nunca vai saber.
-- Eu farejo isso, entendo tudo de piriquita, da sua inclusive. Não é preciso ir no Japão pra saber que lá tem japonês de olho puxado!
-- Oi? Cris você está passando bem?
-- Teu cu! Fala, quem é que está te deixando assim, piriquita cantora?
-- Ela está estressadinha... Ninguém está alegrando minha piriquita não, Cris, mas... Quem sabe possa me dar uma alegria um dia desses...
-- Sabia! Se não é a Cléo, então... A novinha?
-- Cris para com esses apelidos, até parece letra de funk! Você sabe o nome dela.
-- Ui, ui, tem que respeitar a Marcela, olha como ela fica ofendida!
Gargalhamos, não me contive diante dos olhos de Cris piscando rápido como um personagem de desenho animado.
-- Você e a Marcela, se entenderam?
-- Talvez estejamos caminhando para isso.
Resumi o que aconteceu para Cris e ela logo manifestou sua torcida a favor.
-- Luiza, que tal uma conversa sincera entre vocês agora? Chega de drama, de lenga-lenga, você precisa viver isso, se for paixão, atração ou algo mais sério, não dá pra fugir mais!
-- Eu nunca quis tanto viver algo de maneira inteira e intensa como quero com a Marcela. Eu voltei a adolescência com esse frenesi de sentimentos, mas, quem vai viver essa história, vai ser a mulher Luiza.
-- Brindemos a isso!
Fim do capítulo
Oi pessoas!
Estamos caminhando... Já penso até em desfechos para essa história, está na hora não é?
Tentarei postar capítulo antes do carnaval, pra ficar em dívida só na festança, por que é hora de dedicar meu feriado exclusivamente para minha digníssima futura esposa =)
Dêem suas opiniões sobre os próximos passos de nossas protagonistas, e aguardem a volta de personagens esquecidos como os amigos de Luiza, e Beatriz? Será?
Beijos a todas e boa semana
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NovaAqui
Em: 31/01/2018
Mel,
Se ex fosse bom, Deus não mandava amar a próxima kkkk deixa a louca, descontrolada, desmiolada, desalmada da Beatriz para lá kkll
Que MALU se entendam logo. Já está na hora, ou melhor, já passou da hora delas se acertarem.
Abraços fraternos procês aí!
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