Capítulo 12 MENTE CRIMINOSA
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 12
MENTE CRIMINOSA
Marcela abriu a porta do apartamento, para que o detetive Vanderlei entrasse. Os quatro ficaram por algum tempo em silêncio observando o homem que caminhava receoso até o meio da sala. Finalmente, ao perceber que estavam sendo indelicados, Marcela fechou a porta atrás de si e indicou o sofá para que ele se sentasse.
-- Meu nome é Marcela -- apresentou-se sentando-se ao lado dele no sofá -- A Sibele você já conhece, aquela é a Andreia, minha irmã e o seu amigo Sidney.
Andreia, que estava sentada ao lado de Sidney em uma poltrona no canto da sala, olhou para ele, fez um gesto discreto com a mão, mas não se levantou. Sabia que o detetive era figura importante nessa trama, e isso a incomodava profundamente. Ele deu uma olhada ao redor, antes de falar com Sibele:
-- Então você tem algo muito importante para me dizer. Espero que seja sobre a irmã da senhorita Natasha.
Percebendo que ele esperava por uma resposta, Sibele começou a falar:
-- Você tem um problema, nós temos um problema. Quem sabe juntos não resolvemos esse problema?
Vanderlei fitou-a, confuso, sem entender onde Sibele queria chegar com toda aquela conversa sobre problema.
-- Seja mais clara, Sibele -- pediu o detetive.
-- Serei bem realista, você nunca encontrará a Carolina. Essa garota deve estar morta ou, perdida nesse mundão de Deus. É um caso perdido -- Sibele caminhou pela sala, enquanto falava, e parou junto à poltrona em que Vanderlei e Marcela estavam sentados -- Os dois milhões que a Natasha prometeu, nunca chegarão as suas mãos.
O detetive engoliu em seco, o tom da voz da médica era duro e frio, porém, realista.
-- E qual é a solução que você encontrou? -- ele perguntou, curioso.
-- Tenho uma solução muito simples -- Sibele apontou para Andreia -- Nossa querida ruiva também é adotiva, tem os olhos castanhos e pode tranquilamente se passar por Carolina.
O detetive olhou para Andreia atentamente.
-- Ser simplesmente parecida com Carolina não basta. Existem milhares de ruivas de cabelos castanhos espalhadas pelo Brasil. Algumas até mais parecidas do que ela. Precisamos de mais provas.
-- Nós daremos mais provas -- comentou Sibele com um sorriso -- Daremos até um exame de DNA.
Vanderlei ergueu uma sobrancelha. A ideia começava a ficar bem interessante.
-- Exame de DNA positivo. Hum, como conseguirá isso? -- perguntou Vanderlei, olhando para Andreia -- Se bem que... -- Mais uma vez, ele voltou a atenção para Sibele -- Você é a médica de confiança da Natasha, será fácil manipular o resultado.
Marcela caminhou até o bar, pegou uma garrafa de uísque da prateleira e colocou sobre o balcão.
-- Deixe-me ver se adivinho. Já sei, você vai falsificar o resultado -- disse ela, enquanto preparava os drinks.
-- Exatamente -- Sibele sentou em uma poltrona de frente para Vanderlei e curvou um pouco o corpo para frente -- Eu farei a coleta de material para enviar para análise.
-- Como será realizado o exame de DNA? Ela vai ter que mandar desenterrar o pai? -- Andreia não conseguiu segurar a curiosidade. Era tudo novo, complicado demais, estranho demais -- Que horror!
-- Nesses casos, em que o pai está morto, há duas alternativas para determinar a paternidade. A primeira é tentar extrair o DNA da ossada, mas pode fracassar, por causa da má qualidade do DNA, já exposto ao ambiente. A outra solução é compor características genéticas do falecido por meio de material colhido de parentes próximos. Provavelmente essa será a alternativa que Natasha escolherá.
-- Difícil vai ser esconder essa história da imprensa. Natasha é uma celebridade, a notícia repercutirá por todo o país, os jornalistas começarão a fazer especulações e a investigar a vida da Andreia -- comentou Sidney -- Tem muita gente que a conhece e sabe de que forma ela foi adotada. Inclusive seu pai, meu amor. Ele vai ficar revoltadíssimo quando souber.
-- Ele tem razão, Marcela -- concordou, Andreia -- As pessoas vão comentar e duvidar de nós.
Marcela olhou séria para Sibele esperando por uma luz.
-- Vamos dizer que seus pais adotivos esconderam a verdade com medo da justiça e de perderem o bebê. Quanto ao seu pai, Andreia, somente vocês poderão convencê-lo a guardar segredo.
-- Papai vai levar um bom tempo para se recuperar, até isso acontecer, pensaremos em uma forma.
-- Mentes criminosas em ação -- resmungou Sidney.
Sibele foi até a estante, tirou a foto de Andreia do porta-retratos e entregou para o detetive.
-- Você já se encontrou com o especialista em retratos?
-- Ainda não -- respondeu o detetive, olhando para a foto em sua mão -- Por que?
Sibele sorriu e balançou a cabeça.
-- Porque o retrato de como Carolina pode estar atualmente, deve ser parecido com esse retrato da Andreia -- Sibele ergueu bem a cabeça e falou em tom sério: Foi distribuindo esse retrato pelo Rio que você chegou até a Carolina.
-- Entendi - o detetive sorriu, satisfeito.
-- Para que tudo fique ainda mais confiável, será bom que você procure a impressa e peça para eles divulgarem a foto.
-- Meu Deus, isso já está indo longe demais -- Andreia encostou a cabeça no ombro do amigo e fechou os olhos -- Me diz que isso é um pesadelo, Sid.
-- Pior que não, amiga. E olha que a tortura ainda nem começou. Espera quando a tal da Natasha ficar sabendo que encontraram a irmã desaparecida.
-- Nem me lembre disso, eu acho que vou entrar em ebulição na frente dela.
Sibele deu uma gargalhada.
-- Você não faz ideia de como Natasha espera por esse momento. Não tem um só dia em que ela não fale em seu nome.
-- Meu nome? No nome da Carolina, você quis dizer -- Andreia sorriu, ironicamente.
-- Que seja -- Sibele levantou as mãos ao alto -- Enfim, a Marcela deu uma boa ideia. Você pode fazer isso, Vanderlei?
-- Claro, tenho amigos na imprensa que podem fazer essa divulgação.
Marcela entregou um copo de bebida para o detetive e sentou novamente ao seu lado.
-- Vou dizer que assisti a reportagem e avisei a Andreia.
-- Não, não -- Sidney deu um pulo e ficou de pé -- Eu assisti a reportagem e avisei a Andreia.
-- Sidney! Até você? -- berrou Andreia, indignada.
-- O que tem de errado? Eu só vou assistir a reportagem e te contar.
-- Amanhã mesmo vou embarcar de volta para a Ilha do Falcão. Vou agir como se não soubesse de nada -- Sibele, como todos os presentes, estava nervosa e ansiosa -- Fiquem cientes de que quando o Vanderlei der a notícia para a Natasha, colocarei em dúvida a veracidade da história e me oferecerei para providenciar o exame de DNA. Natasha com certeza vai aceitar.
-- Você é o máximo -- Marcela sorriu.
Recostada no sofá, Andreia viu Marcela abraçar Sibele. A atmosfera como um todo estava bem carregada e a maldade presente no apartamento era quase palpável e sufocante para Andreia. Sentia-se suja. Uma criminosa
Depois de tomar um gole do uísque, Marcela olhou para Andreia e a fitou com ar sério -- Tem certeza que não vai pular fora?
O olhar que Andreia lançou a irmã foi frio e pouco amistoso, e não passou despercebido a todos.
-- Não estaria aqui se não tivesse certeza - respondeu, rudemente.
Natasha acordou cedo. Correu para o banheiro e ligou o chuveiro. Cantou umas cinco músicas e saiu do boxe, o banheiro mais parecia uma sauna de tanta fumaça.
-- Eu se não fosse eu, sentiria inveja de mim -- disse para o seu reflexo. Suspirou longamente. Queria tanto encontrar Carolina, ter a irmã ao seu lado seria maravilhoso. Uma pessoa fiel, amiga e inseparável. Uma pessoa para cuidar e ser cuidada.
Era uma das empresárias mais ricas do país, mas havia aprendido, pela falta de uma, a dar valor à riqueza de uma família.
Abriu uma gaveta e pegou uma barra de chocolate. Era o único alimento que seria capaz de comer naquele momento. Estava sem fome e nauseada.
-- Bom dia, fantástica -- a voz familiar soou estridente, como sempre.
-- Bom dia, Leopoldo.
O secretário levantou-se do sofá e caminhou até ela com um tablet na mão.
-- Estou aqui nesse sofá há horas. Nunca conheci alguém que demorasse tanto no banho. Credo -- ele fez um gesto de impaciência, e olhou para o tablet -- Temos uma agenda lotada hoje. Reuniões a manhã toda e no período da tarde...
-- Que interessante! -- Natasha o interrompeu, impaciente -- Só que não.
-- Mas... Mestra, temos...
-- Não insista, Léo. Posso até cumprir a agenda da manhã, mas os compromissos da tarde, pode cancelar todos -- abriu o chocolate e colocou um pedaço na boca -- Vou surfar.
-- Que nojo! -- Léozinho resmungou.
-- O que você falou? -- Natasha mordeu outro pedaço do chocolate.
-- Que fofo!
-- Fofo não, radical.
Natasha sentou em frente ao computador e ficou concentrada por alguns minutos na tela.
Léozinho aproximou-se lentamente da mesa.
-- Chefe?
-- Hum.
-- Posso falar uma coisa?
-- Se for besteira, nem abre a boca. Estou ocupada.
Léozinho não falou nada, em vez disso, ele meramente inclinou a cabeça, então se virou e saiu da sala.
O delicado som da porta sendo fechada, chamou a atenção de Natasha. Ela afastou os olhos da tela e com uma expressão pensativa, apoiou o queixo na mão.
-- O que será que ele queria dizer?
Sibele espiou pela janela do avião, os olhos negros brilharam ao observar o oceano a milhares de pés lá embaixo. Uma olhada no relógio confirmou que em menos de meia hora aterrissaria no aeroporto de Florianópolis.
Apanhou uma revista de informações turísticas e logo na primeira página reconheceu a Ilha do Falcão. As fotos foram tiradas no hotel e nas praias centrais.
Sibele virou a página: Natasha Falcão, a princesa dos mares do Sul, era o título da reportagem.
-- Você a conhece? -- perguntou a moça que estava sentada ao seu lado.
-- Claro, trabalho para ela -- respondeu, divertida.
-- Ela deve ser uma pessoa inteligente, sofisticada e educada.
Sibele deu uma gargalhada.
-- Você não faz ideia de como.
O percurso de Florianópolis até a ilha foi feito de lancha. O dia estava lindo, o que fez a paisagem ficar ainda mais deslumbrante. Àquela hora da manhã, o oceano estava azul cristalino e a brisa soprava de maneira delicada.
Assim que chegou ao cais, Sibele pegou um taxi e foi direto para o hotel.
-- Seja bem-vinda, doutora! -- a recepcionista abriu um largo sorriso -- Não se preocupe, vamos cuidar da sua bagagem.
-- Obrigada, Paloma. A Natasha está no hotel?
-- Ela acabou de sair de uma reunião. Provavelmente ainda está na sala.
-- Bem, vou para o meu apartamento, caso veja a chefa, diga que eu voltei.
-- Claro, pode deixar -- a recepcionista sorriu com simpatia.
Sibele cruzou o saguão na direção do elevador. Tinha que voltar o mais rápido possível a sua rotina de trabalho. Mostrar-se alheia a tudo que envolvesse Carolina era o melhor a fazer, ao menos por enquanto.
A porta do elevador se abriu e Natasha saiu acompanhada de Talita. Assim que a viu, a empresária arqueou as sobrancelhas.
-- Já de volta! Cansou da namoradinha mimada?
Sibele sorriu e deu um abraço na empresária.
-- Acho que estou sofrendo do mesmo mal que você. Não consigo mais, sair dessa ilha. Estava lá, mas com o pensamento aqui.
-- Essa ilha é magica e nos prende a ela -- Natasha disse, com uma voz que demonstrava satisfação consigo mesma.
-- Não querendo ser impertinente, como fica a minha situação com a volta da Sibele?
Sibele olhou para Natasha com expressão interrogativa.
A empresária deu de ombros e começou a caminhar em direção a enorme porta.
-- Natasha -- Sibele a chamou.
Ela se virou para olhar.
-- O que eu faço?
-- Você não é a responsável pelo setor? Então decida.
Andreia acordou na manhã seguinte e foi ao banheiro, olhou sua imagem no espelho, não parecia nada bem, as olheiras rodeavam seus olhos e as faces estavam pálidas.
-- Coitada da minha nova irmã, vai levar um susto quando me ver -- agitou a cabeça e riu intimamente da própria melancolia.
Andreia lavou o rosto, penteou os cabelos e foi para a cozinha.
Marcela a esperava com a mesa posta com o café da manhã. Como já era de se esperar, ela franziu a testa e lançou um olhar de desagrado.
-- Está bem acabadinha para quem vai reencontrar a irmã depois de vinte e um anos -- disse friamente -- Ontem nem tocou no jantar.
-- Não estava com fome -- ela respondeu sentando-se a mesa -- Marcela, podemos conversar?
Marcela a olhou irritada, já prevendo problemas.
-- Não me diga que está querendo desistir, nem inventa, Andreia.
-- Não, não -- respondeu de imediato -- Agora não tem mais volta. Já dei carta branca para o doutor Vicente fazer o que for necessário.
-- Então o que é?
-- Até quando vamos manter essa farsa? Não sei se vou conseguir manter essa mentira por muito tempo.
-- Por que ficar se preocupando com isso agora? Vamos deixar para pensar nisso só depois que o papai estiver longe daquele hospital. No momento concentre-se apenas em fazer a Natasha acreditar que você é a irmã dela.
Andreia colocou a mão sobre a mesa e suspirou longamente. Quem sabe Natasha fosse até melhor irmã que Marcela. A moça só pensa em dinheiro, faz tudo por dinheiro, vive apenas para o dinheiro. Chega a esquecer do mundo, do amor, das pessoas. Ela pensa que tudo se pode comprar.
Mensagem
Certa vez, Chico Xavier, visitando o cemitério de Uberaba, notou a presença de um espírito que, rente ao seu próprio túmulo, chorava arrependido.
Fora um rico comerciante na cidade e cometera suicídio. Chico o conhecera de nome.
Percebendo que podia conversar com o médium, após lamentar o gesto infeliz, que praticara por causa dos negócios que não iam bem, ele disse:
- Chico, vocês, os espíritas, são os verdadeiros milionários da Terra!
Chico Xavier ficou com muita pena dele, porque, de fato, o dinheiro, para quem apenas aprendeu a valoriza-lo, é um transtorno muito grande.
Fazia muito tempo que ele estava ali, preso aos despojos, se lamentando . . .
Conversaram por alguns minutos, e apesar da consciência que revelava de sua situação, ele não se mostrava com a menor disposição íntima de abandonar o local; aquilo era uma autopunição . . ." (Do livro: O Evangelho de Chico Xavier)
O apóstolo Paulo, disse: "se temos o que comer e com que nos vestir, fiquemos contentes com isso. Aqueles, porém, que querem tornar-se ricos, caem na armadilha da tentação e em muitos desejos insensatos e perniciosos, que fazem os homens afundarem na ruína e perdição.
Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por causa dessa ânsia de dinheiro, alguns se afastam da fé e afligem a si mesmos com muitos tormentos.
Fim do capítulo
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Mille
Em: 17/01/2018
Boa noite Vandinha
Sibele que se cuide que a Talita pode ser uma peça que vai atrapalhar em seus planos.
E essa exposição da foto, vai atrair mais um ambicioso.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Boa tarde, Mille.
Será que o plano vai realmente dar certo?
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