Capítulo 10 O MELHOR AMIGO
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 10
O MELHOR AMIGO
Natasha serviu o café e Talita tomou um gole antes de comentar:
-- Não estou brincando, Natasha. O que aconteceu ontem foi muito grave.
-- Basta, Talita! -- berrou a empresária, sem paciência. A médica estava deixando-a nervosa com aquele papo de sequestradores, assassinos, ladrões -- Não se preocupe, prometo que vou acionar a minha equipe de segurança e conversar com eles a respeito. Por hora, gostaria que não saísse por aí falando sobre a minha vida particular. Você já deve ter percebido que sou uma pessoa bem discreta com relação a isso -- Natasha pegou a xícara e bebeu um pouco do café para depois deixá-la sobre a mesa -- Fui clara?
Talita concordou balançando a cabeça afirmativamente. Natasha era uma mula, até quando teimaria em não dar importância ao ocorrido?
-- Preciosíssima! -- Léozinho puxou uma cadeira e sentou-se diante de Natasha -- O detetive Vanderlei, está querendo falar com você.
-- Aonde ele está?
-- Na recepção.
-- Traga ele até aqui, Leopoldo.
Léozinho fez uma careta e saiu. Odiava quando Natasha o chamava pelo nome.
-- Leopoldo, Leopoldo... que raiva! Odeio esse nome.
-- Detetive? -- perguntou Talita.
-- Há anos estou à procura de minha irmã desaparecida. Durante esse tempo contratei vários detetives, mas nenhum deles teve sucesso.
-- Será que esse tal de Vanderlei tem alguma novidade?
-- Não sei. Já vamos saber, olhe ele aí -- Natasha tomou um gole de café e ficou esperando o homem se aproximar.
-- Bom dia, senhorita Falcão.
-- Sente-se Vanderlei -- Natasha observou ele passar a mão pela bochecha fingindo ignorar o brilho nos olhos dela, deixou a pasta sobre a mesa e sentou-se em uma cadeira próxima, tendo o cuidado de não olhar diretamente para ela -- Novidades?
-- Ainda não encontrei nenhuma pista da sua irmã. Estou viajando para outros estados, pois aqui em Santa Catarina não tenho mais aonde procurar.
-- Droga! Será que vou ter que contratar outro detetive? -- Natasha jogou o guardanapo na mesa e o encarou irritada.
-- Entendo que está decepcionada, senhorita, mas penso que deveria esperar um pouco mais, não tive tempo de procurar direito -- abriu a pasta e retirou a foto de Carolina com três anos -- No Rio de Janeiro, vou procurar um especialista em retratos. Usando essa foto da época do desaparecimento ele, através de um programa de computador, conseguirá nos dar a ideia de como ela pode estar atualmente.
Natasha apoiou a cabeça nas mãos, e olhou para ele longamente.
-- Está bem -- ela conseguiu se acalmar um pouco, mas o corpo ainda estava rígido e o olhar, severo -- Vou esperar mais um pouco.
Vanderlei Levantou-se da cadeira.
-- Obrigado pela oportunidade, senhorita Falcão. Não se arrependerá por ter me contratado.
Natasha pegou a bombinha do bolso e aspirou algumas vezes.
-- Vou subir para a minha suíte. Não me incomodem -- ela fez cara feia para eles e saiu.
Talita olhou para Léozinho, angustiada.
-- Não vai fazer nada?
-- Eu hein, tá louca é? -- Léozinho enfiou um pedaço de bolo na boca -- Não ouviu o que ela falou?
-- Vou atrás dela -- disse decidida.
-- Se eu fosse você, ficaria quietinha aonde está. A Natasha não gosta de ser contrariada.
Talita ficou sentada olhando para ele, subitamente muda, o que dizer? Sacudiu a cabeça, inconformada.
-- Andreiaaaaa... -- Um rapaz magro e espalhafatoso, jogou-se à sua frente assim que Andreia surgiu no saguão de desembarque do aeroporto.
-- Sidney! -- Andreia mergulhou em um entusiasmado abraço -- Que saudade, meu querido.
-- Ei! -- disse ele, rindo alto -- Foram apenas alguns dias, miguxa.
-- Pois para mim, parece que fazem meses.
Andreia e Sidney eram melhores amigos desde o dia que Andreia chegou nos Estados Unidos. O rapaz era dois anos mais velho que ela, mas sua idade mental de longe condizia com a sua idade cronológica.
Frequentavam a mesma faculdade. Os dois eram inseparáveis, Sidney era do tipo que não parava de falar nem mesmo durante as aulas, já Andreia, era calada e estudiosa. Duas pessoas de personalidades tão diferentes, mas que se davam tão bem.
Eles se adoravam e as indiferenças eram compensadas com um amor de irmão, pensou Andreia, afetuosa, esperando que a amizade que tinham jamais mudasse.
Andreia pegou o braço do amigo.
-- Vamos sair logo dessa muvuca.
Pegaram a mala na esteira e saíram rapidamente do tumultuado terminal de passageiros.
Assim que entraram no carro, Sidney se virou para a amiga e abriu os braços.
-- Então -- disse com seu jeito afeminado -- O que está acontecendo? Confesso que estou muito preocupado. Você está acabada, meu amor.
-- Obrigada Sidney. Você me fez se sentir bem melhor.
-- Sou sincera, kirida -- Sidney olhou para fora, mas logo voltou a olhar para a amiga -- Nem adianta tentar fugir do assunto. Vai logo, desembucha, o que está rolando?
-- Droga, Sid. Nem sei por onde começar -- Andreia coçou a cabeça.
-- Que tal começar pelo seu pai. Que coisa né Déia, assim que recebi a sua mensagem, larguei tudo e peguei o primeiro voo para o Brasil.
-- Você é um amor -- sorriu com carinho para ele -- Papai não está nada bem. O seu estado é crítico. Os médicos estão mantendo-o em coma induzido.
-- Por que?
-- Ele precisa passar por uma cirurgia muito delicada nos próximos dias.
-- Hum... -- Sidney a olhou preocupado quando o carro parou em um semáforo -- Você parece pálida, cansada. Tem mais coisas, não é mesmo?
Dizer que não havia mais nada seria o melhor, pensou Andreia, enquanto dirigia. Mas não era verdade. Tinha tanto para contar que precisariam de uma noite inteirinha em uma mesa de bar e, de preferência bebericando uma cerveja bem gelada.
-- Tem muitas coisas que quero lhe contar -- disse Andreia sorrindo de maneira fraca -- Mas, prefiro que seja em outro lugar. Que tal em um barzinho no calçadão?
-- Ai, Déia. Amei o programa. Mal posso esperar para rever Copacabana e os garotões bronzeados que desfilam por lá. É tão bom estar de volta ao Brasil.
-- Me sinto mais tranquila com você ao meu lado. Gosto de compartilhar os meus medos com você, Sidney -- ela sorriu e piscou delicadamente.
Sidney deu uma risada e a mão dele tocou com carinho o braço dela.
Eliza se virou e deu de cara com Natasha.
-- Aiii... Meu Deus!
-- O que foi? Tá fazendo coisa errada é? -- Natasha sentou no sofá com a respiração difícil e irregular causada pela asma -- Hoje o dia começou mal.
-- Já usou a bombinha? -- perguntou Eliza, nervosa -- Quer que eu chame um médico?
-- Não usei ainda. Estou esperando entrar em coma para ficar mais emocionante -- disse malcriada -- Será que você pode manter a calma, por favor -- pediu Natasha, com dificuldade -- E pare de dar chilique, estou bem -- completou irritada.
-- Coisinha grossa você, né! -- reclamou a senhora -- A culpa foi daquele detetive. O que ele tinha que aparecer por aqui só para dizer que não tem nenhuma notícia da Carolina...
Natasha inalou mais algumas vezes até que a garganta pareceu abrir por completo e ela fez um gesto para que Eliza se aproximasse.
-- Pode falar, minha filha. Sou toda ouvidos -- ela aproximou o ouvido da boca dela, na tentativa de ouvir melhor.
-- Cala a boca, Eliza! -- Natasha berrou, ficou de pé e saiu correndo.
-- Sua praga! -- Eliza gritou, dando um tapa na perna de Natasha e correndo atrás dela até o quarto.
A empresária se virou e sorriu para ela.
-- Você é uma banana podre, Eliza.
-- Só para você saber, sou uma pessoa idosa, porém já fui bem ágil em minha juventude.
-- Faço ideia -- Natasha sentou na cama para tirar os tênis.
-- E as namoradinhas, Natasha?
-- E o regime, Eliza?
Eliza olhou para Natasha com expressão de censura.
-- A tal da Lalesca perguntou por você. Fiquei sem saber o que dizer.
-- Tô nem aí com a Lalesca, por mim ela que: dó ré mi fo da se.
-- O que é isso? Que falta de respeito, menina -- Eliza deu um tapa na cabeça dela -- Desisto de manter uma conversa séria com você. Toda vez que começo a falar já vem brincadeira.
A jovem senhora se virou para sair.
-- Sabe porquê? -- Natasha se aproximou de Eliza -- Porque acho perda de tempo tudo o que você está falando. Fique sabendo, Eliza, que nesse momento oito em cada dez pessoas estão fazendo sex*. As outras duas somos eu te ouvindo, e você que está falando besteiras sem parar.
Natasha entrou no banheiro, ligou o chuveiro e começou a cantar:
"Despacito
Quiero respirar tu cuello despacito
Deja que te diga cosas al oído
Para que te acuerdes si no estás conmigo"
-- Sua desaforada! -- O tom ríspido da senhora veio acompanhado por um sorriso carinhoso.
Sidney admirava a paisagem familiar ao olhar da varanda do barzinho. De onde estavam podiam ver toda a orla de Copacabana, incluindo o Pão de Açúcar e Niterói.
O cheiro de maresia, os prédios altos, a fumaça dos escapamentos, o calor do verão e, acima de tudo, um céu azul sem nuvens, faziam do Rio a sua cidade preferida.
-- Não me canso de olhar para essa obra prima de Deus -- ele olhou para o mar e o vento espalhou seu sedoso cabelo -- Feliz é você que é dona de um hotel em plena orla de Copacabana. Que inveja, amiga.
Andreia olhou para ele, sua expressão outrora tão confiante, agora estavam cheios de tristeza e medo.
-- Estamos falidos.
Sidney piscou os olhos, como se estivesse atordoado com a revelação da amiga.
-- Você está brincando -- ele a fitou por um longo tempo -- Não, você não está brincando.
-- Não brincaria com algo tão sério -- Andreia tomou somente um gole da cerveja para molhar a garganta e continuou: -- Como eu não percebi que isso estava acontecendo? Já faziam dois anos que a situação financeira do hotel era crítica, redução no número de hóspedes e salários atrasados constantemente. Eu deixei meu pai sozinho, Sidney.
-- Ei, ei, peraí garota -- ele sorriu e, por cima da mesa, segurou a mão dela -- Não pode ficar se culpando dessa forma. Como poderia saber? Você estava há anos estudando nos Estados Unidos.
Andreia abaixou a cabeça.
-- E a sua irmã não desconfiou de nada? -- ele perguntou.
-- Marcela nunca se importou com os negócios, a única coisa que interessava a ela, era a gorda mesada que recebia do papai.
-- Que coisa! -- o rosto de Sidney tinha uma expressão triste, mas ele forçou um sorriso -- Olha, amiga, eu sei que ser pobre não é nada fácil, mas também não é o fim do mundo. Você vai sobreviver.
-- O problema não é esse Sid.
-- Não? Ainda tem mais? -- ele perguntou, admirado.
-- Muito mais -- Andreia tomou toda a bebida de um só gole e fez um sinal para o garçom -- Vamos pedir mais cerveja, vou te contar o plano que a Marcela e a namorada bolaram para darmos o golpe em uma milionária.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Anny Grazielly
Em: 10/09/2020
Aiaisisia... nao sei nem o que esperar disso tudo...
brunafinzicontini
Em: 16/01/2018
Olá, Vandinha!
Parabéns pela história! Está prendendo muito a atenção.
Não entendi por que Natasha foi tão indelicada com Talita no começo do capítulo. Ela parecia tão encantada com a médica! De repente, trata-a rudemente. Muito temperamental.
Mandei uma mensagem por outro canal deste site, mas creio que você não viu. Aliás, em outra ocasião já havia usado esse canal de contato com o autor para falar com você, mas também não funcionou. No presente capítulo, chamei sua atenção para o seguinte, que se observa em dois diferentes parágrafos:
"Eles se adoravam e as indiferenças eram compensadas com um amor de irmão, pensou Adriana, afetuosa, esperando que a amizade que tinham jamais mudasse."
"-- Ei, ei, peraí garota -- ele sorriu e, por cima da mesa, segurou a mão dela -- Não pode ficar se culpando dessa forma. Como poderia saber? Você estava há anos estudando nos Estados Unidos.
Adriana abaixou a cabeça."
Você está usando o nome Adriana no lugar de Andreia, não é? Um lapso que você pode facilmente corrigir, enquanto a história ainda está no começo.
Abraços,
Bruna
Resposta do autor:
Bom dia, minha querida!
Muito obrigada por estar comigo em mais essa história.
Então vamos lá:
A Natasha é bipolar. Você vai perceber que no decorrer da história, em muitas ocasiões ela vai passar por variações acentuadas do humor, com crises repetidas de depressão e manias.
Que pena, mas eu realmente não recebi a sua mensagem. A melhor forma de falar comigo:
https://www.facebook.com/vandinhacontos
vribeiro29@xxx
Agradeço pelo toque da troca de nomes, Eu sou desligada mesmo. Ainda bem que tenho vocês para me ajudar. Fique a vontade para qualquer comentário, sempre.
Um beijão. Fique com Deus.
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NovaAqui
Em: 15/01/2018
O Miguxo vai achar o plano diabólico, mas acho que ele vai concordar que a única solução é dar o golpe na milionária
Como você disse: a ocasião faz o ladrão
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
Boa noite!
Exatamente. Não vejo outra saída.
Paz e luz. Durma bem.
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Mille
Em: 15/01/2018
Olá Vandinha
O Sidnei vai se dar super bem com o Leopoldo kkkkk casal 21.
Contar a Sidnei e achar uma solução que não seja aceitar o plano sujo da irmã.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Boa noite Mille.
A Andreia está desesperada atrás de uma outra solução, mas está dificil. Quem sabe o Sidnei não dê uma ideia.
Beijos. Durma bem.
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patty-321
Em: 15/01/2018
Nossa! Falando assim fica mais horrível. Dar um golpe na milionaria.
Resposta do autor:
Boa noite Patty.
Fica né.
Sinceramente, é uma situação bem complicada. Por mais desonesto que seja, sendo para salvar o pai, não vejo outra saída.
Beijos.
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