<b>* lei do lugar da celebração – Quando da celebração de algum ato, as suas formalidades são regidas pelas leis vigentes no lugar da celebração.
Capítulo 2: A REPÚBLICA (LEX LOCI CELEBRATINIS)
Diana era a popularidade em pessoa. Não só pela função que desempenhava nas festas do curso como organizadora e DJ, mas pela simpatia e liderança que exibia. Era veterana do curso de direito, mas nem um pouco compromissada com os estudos. Pagava disciplinas em praticamente todos os períodos do curso, não fosse isso, se formaria em um ano como seus maiores amigos.
Entre seus amigos, estavam os gêmeos, Pedro e Lucas, moravam na república Álibi, no início da faculdade, viveram uma espécie de triângulo amoroso com Diana, mas atualmente, eram apenas os melhores amigos. Pedro e Lucas como a maioria dos gêmeos univitelinos eram opostos. Pedro era mais centrado, considerado um dos melhores alunos da universidade, era bolsista de pesquisa, monitor de disciplinas, estava sempre envolvido com atividades de extensão, exatamente por isso, vivia ás voltas com Diana cobrando mais aplicação nos estudos da amiga, esforço inútil, Diana queria protelar o quanto pudesse o término do curso, na esperança de ganhar tempo para que ela conseguisse se sustentar fazendo aquilo que gostava: fotografia. Lucas não era um aluno relapso, até por conta da influência do irmão, que era também seu melhor amigo, mas, tinha outras prioridades na vida, entre elas, curtir sua fase de farras tão próprias da faculdade, assim, se tornara um das principais companhias de Diana.
Na república, junto com Pedro e Lucas, moravam mais seis rapazes, todos do curso de direito. As festas de lá eram tradicionais no campus, eram as mais concorridas, as mais animadas e logicamente as mais loucas. Existia até uma série de relatos que se transformaram em lendas no campus de fatos ocorridos na república. Falava-se em orgias, em uso de drogas, em rituais, mas, a maioria desses relatos, não passavam de boatos, de mitos que os moradores da república alimentavam, mantendo a fama da república.
Os trotes semestrais eram atração à parte na Álibi. Esse semestre não seria diferente. Diana comandou o som da festa com sua animação típica e estilo peculiar, mas, seu trabalho na festa não a impedia de prestar atenção nas caras novas, no comportamento dos bichos e veteranos, e obviamente de lançar seu charme para quem a observava.
Natália era uma das que observava a DJ com atenção, mesmo sem saber o direito o porquê. Talvez por que o jeito estiloso da moça era a representação das pessoas que Natália esperava conviver, pessoas “da capital”, bem diferentes do estereótipo provinciano o qual ela estava acostumada toda sua vida ou talvez por que, a energia de Diana exercia uma atração diferente em Natália, sensação que a moça do interior não sabia explicar.
-- Ela é uma figura não é?
Pedro se aproximou de Natália olhando na mesma direção da moça.
-- A DJ? – Natália perguntou.
-- É Diana o nome dela.
-- Ela é muito boa.
Pedro sorriu acenando em acordo, mesmo entendendo o adjetivo com uma conotação diferente da que Natália usou.
-- Está bebendo o quê? – O rapaz perguntou.
-- Já bebi tanta coisa diferente que não sei te responder essa pergunta.
-- Sendo assim, quer uma cerveja?
-- Aceito.
Pedro voltou com uma latinha na mão e serviu a moça.
-- Pedro, morador desse hospício.
-- Natália, caloura querendo enlouquecer.
Nesse momento, a conversa casual, tomou ares de paquera. Pedro apesar da aparência do “politicamente correto” tinha seu charme. Sua beleza não passaria despercebida por nenhuma mulher, especialmente por Natália, mais desinibida pelo álcool. A pele morena daquele rapaz alto de olhos castanhos de barba rala agradou a caloura. Os dois emendaram o clima de flerte, em meio ao barulho dos estudantes protagonizando coreografias sensuais ou bizarras sobre a mesa da sala e aos muitos gritos de incentivo dos que assistiam.
Pedro não saiu do lado de Natália, de certa forma, a desinibição da moça ajudaria a contrabalancear sua timidez, assim, continuou a lhe oferecer bebidas, as quais a caloura não recusou. A proximidade dos dois chamou a atenção de Lucas, que não hesitou em fazer a brincadeira tão recorrente entre eles. Aproximou-se de Natália quando Pedro se afastou, fingindo já conhecê-la, se passando assim pelo irmão gêmeo.
-- Vamos dançar?
Obviamente Natália não notaria a diferença das roupas dos irmãos, aceitou o convite acreditando estar dançando com Pedro, sua companhia na noite. Lucas, bem mais ousado que o irmão colou seu corpo na cintura da moça, ensaiando passos sensuais, dominando a moça até roubar-lhe um beijo na pista. Natália não resistiu, o beijo arrancou aplausos, e o casal atraiu não só a atenção de Pedro que voltava inocente da cozinha, como também de Diana.
Pedro andou a passos rápidos até a pista de dança, afastando abruptamente o irmão de Natália:
-- Pow Lucas! De novo essa brincadeira sem graça?! Deixa de ser mané!
-- Calma Pepê!
Natália olhava atônita para os dois.
-- Gente, eu acho que bebi demais, estou vendo tudo em dobro...
Os dois irmãos continuavam se estranhando. Pedro ficou do lado de Natália tentando se desculpar pelo irmão:
-- Natália não liga, esse é meu irmão gêmeo, não é capaz de conquistar uma mulher e fica se aproveitando de nossa aparência idêntica...
-- Ah cala a boca Pedro! Até parece que preciso me passar por você pra conseguir mulher!
A animosidade entre os irmãos se acentuou até Diana largar a pick-up para intervir no desentendimento dos amigos.
-- Ei que porr* é essa aqui? Vão brigar por mulher agora? Ficaram malucos?
Diana lançou dois petelecos na cabeça de ambos.
-- Ah Di, para vai! – Pediu Lucas.
-- Não quero um piu de nenhum dos dois agora! Dispersando now! Depois teremos um conselho de família, e as duas figurinhas repetidas vão fazer as pazes nem que seja na marra!
Lucas deu de ombros, deu um beijo no rosto de Diana e se afastou. A loira encarou Natália com faíscas de raiva no olhar, em seguida fez um sinal para Pedro com a cabeça e o rapaz se aproximou dela:
-- Desde quando uma caipira é motivo pra você brigar com seu irmão? Presta atenção seu Mané, olha nosso pacto! Família poxa!
Pedro balançou a cabeça positivamente, enquanto Diana voltava para a sua pick-up, dissipando aparentemente a situação estranha que se instalara. Entretanto, o incidente foi o suficiente para transformar Natália em principal alvo dos olhares e atenção de Diana o resto da noite. A DJ não admitia que nada abalasse a relação dos seus dois melhores amigos, esse foi um dos motivos do triângulo amoroso ter se desfeito, o fato de Natália ter sido o pivô da discussão de Lucas e Pedro, tornou a moça objeto de sua antipatia, e uma coisa era certa: coitada de quem Diana antipatizasse.
Diana observou Pedro e Natália perseverarem na paquera, na troca de carícias, e finalmente, seu amigo beijando a caloura ardentemente.
-- Pedro... Eu beijei seu irmão pensando que fosse você...
Natalia se justificou, colando a sua testa na testa de Pedro depois de afastarem as bocas.
-- Eu sei gatinha...
A raiva de Diana só aumentava à medida que Pedro e Natália pareciam mais íntimos. Cochichou alguma coisa com uma veterana e esta, “acidentalmente” esbarrou em Natália, banhando-a com vinho tinto.
-- Ai que desastre! Desculpa!
A moça se desculpou cinicamente.
-- Não tem problema...
Natalia minimizou o estrago.
-- Ai, mas, sujou tudo... Venha comigo, vamos tentar dar um jeito nisso.
A garota arrastou Natalia pela mão, subindo pelas escadas da república, e entraram em um dos quartos.
-- Tira o vestido, vou lavar essa mancha rapidinho e passo o ferro quente, vai dá pra você usar.
-- Não precisa... Está tudo bem...
-- Ai, eu não vou me perdoar se você perder esse vestido tão fofinho por causa dessa mancha!
Natalia cedeu, mais para não parecer antipática, do que pelo incomodo de ficar com a roupa suja. Enquanto a moça saiu com seu vestido para lavá-lo, Natalia ficou no quarto, trajando apenas um conjunto de calcinha e sutiã de algodão, com estampas infantilizadas.
De repente, um blecaute parou a festa. Escuridão. Natalia sozinha naquele quarto, só de roupas íntimas nada podia fazer que não fosse esperar, entretanto, a algazarra que se fez, em meio a passos apressados correndo pela casa e gritos:
-- É fogoooooooooooooo, salve-se quem puder!
A moça do interior se desesperou, e saiu correndo do quarto, quando descia às escadas a escuridão se desfez, e a claridade expôs Natália diante de todos, só de calcinha e sutiã, e o sonoro: - Hurruuull! – tomou de conta da república. O macharal em coro berrava elogios ao corpo da caloura completamente desorientada olhando para todos que riam, apontavam, ridicularizaram a menina.
Natalia subiu as escadas apressadamente fugindo do constrangimento, sendo seguida por Pedro. Os risos ecoavam em sua mente, e o olhar de escárnio de Diana tirou a paz e a alegria do momento da sua entrada na faculdade.
Fim do capítulo
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