Quando cheguei ainda era cedo, o treino era às dez horas e ainda não havia chegado ninguém, depois de uns dez minutos vi Thiago chegar e corri em sua direção.

 

-- Precisamos conversar! -- falei -- Sei que deve está me odiando, mas tudo aconteceu rápido entre mim e a Laura, eu gosto muito dela e nunca faria isso com ela, nem com você, nem o Lucas -- Lucas era o irmão dela e meu amigo -- Alguém armou para nós.

 

-- Eu sei Valentina, te conheço o suficiente para saber que não faria isso, sei muito bem quem são as capitãs do meu time.

 

-- Ainda bem que você acredita em mim! -- o abracei, era um momento importante.

 

-- Acredito, conversei com minha filha e ela me contou que foi ela que não quis assumir, mas aconteceu tudo isso e fez um estrago, sei que é um momento delicado, mas conviver com você me faz ter certeza que é uma boa garota e vou adora-la ter na minha família.

 

-- Infelizmente é uma situação muito difícil, mas o bom disso tudo é ouvir você falar isso, porque de qualquer jeito você iria ter que me aceitar na família, já que logo irei casar com a Laura.

 

-- Logo nada, ainda são muito novas, mas Valentina fique calma nesse momento pois as coisas irão se acertar.

 

-- Terei, sogro! -- brinquei.

 

-- Sogro né?! -- riu -- As coisas vão se resolver, mas tenho uma informação desagradável para lhe dar, isso é como treinador.

 

-- Mais uma?

 

-- Sim, como foi advertida pela direção não poderá treinar esse dias.

 

-- Sério?

 

-- Sim!

 

-- E como faremos com o jogo da primeira final estudantil na quarta?

 

-- Espero que você solucione logo essa confusão e possa jogar, mas por enquanto, não posso deixa-la treinar.

 

-- Mas pode me ajudar a falar com a Laura, avisa que estou sem celular.

 

-- Vou ajudar você no que eu puder, é melhor você ir para casa antes que as meninas cheguem, Laura não vem, dei uma folga do treino hoje.

 

-- Pode deixar sogro, lembre a ela que eu a amo, viu?!

 

-- Ainda não acostumei com essa ideia -- riu.

 

Ainda bem que ele era muito calmo, porque comandar um monte de meninas e ainda ser tranquilo com aquela situação, que não só envolvia sua capitã do time que era eu, como também, a filha dele que era a principal envolvida.

 

Nosso papo está bom demais, mas alguém chegou me empurrando, caí ao chão, mal me levantei e levei um soco, acertou direto na minha boca e pegando meu nariz. Senti o sangue escorrer e só depois vi quem era.

 

-- Filho, você não pode agredir Valentina assim!! -- ouvi a voz de Thiago ainda tonta.

 

-- Ela me traiu pai, ela se fazia de amiga e fez isso com minha irmã.

 

-- Lucas, conversamos depois sobre isso agora se acalme!

 

-- Eu não fiz nada Lucas, não faria isso com ela e nem com você! -- estava cansada de ficar repetindo essa frase.

 

-- Você fez sim!

 

-- Venha cá Lucas! -- Thiago chamou -- Valentina melhor você ir cuidar desse sangramento.

 

 

Limpei com a mão meu nariz e fui para casa, as meninas do time ainda não haviam chegado, de qualquer forma, seria melhor ir para casa mesmo.

 

 

Em casa, assim que minhas mães me viram ficaram a preocupadas com meu nariz.

 

-- O que aconteceu? -- mãe Martina quis saber.

 

-- Levei um soco!

 

-- Vem aqui! -- ela chamou para cuidar do sangramento que já havia parado -- Agora conte!

 

-- Não foi nada demais, eu havia ido treinar, estava conversando com o Thiago e o Lucas chegou dando voadora na amiga que fez uma merd* com a irmã dele, boa conclusão né? -- falei irônica.

 

Pedi para não falarmos mais naquele assunto, até porque eu precisava me concentrar e reverter o jogo, já havia acontecido e eu entendo o lado do Lucas, éramos amigos. Assim, como também mesmo com raiva momentânea entedia o lado das minhas mães e de todos que não acreditavam em mim na escola.

 

 

Almocei com minhas mães, fui proibida de sair de casa pelo menos estes dias. Mas precisava falar com Laura, então não atenderia 100% esse pedido delas, tinha que fugir no meio da noite para ver minha loirinha, fiquei o resto do sábado estudando e cuidando do meu nariz. Minhas irmã não estavam em casa e então virou um silêncio total. No final da tarde fiquei assistindo filme na sala no maior tédio, não estava mais com a TV no quarto, então cavernei no sofá.

 

 

***

 

 

Já era tarde da noite quando resolvi agir, minhas mães foram deitar e deixei minhas mães dormindo e caminhei de encontro a casa de Laura. Ficava apenas uma quadra da minha, não era a primeira vez que ia ao seu encontro no meio da noite. Sabia onde ficava seu quarto e para chegar até lá não era difícil, havia uma árvore que ajudava a escalar e subir para a varanda que tinha no primeiro andar. Quando cheguei a varanda fui passando por dois quartos até chegar na janela de Laura. Bati de leve, para não acordar os outros moradores da casa, vi uma sombra vindo, logo ela abriu.

 

Entrei e ela ficou me olhando.

 

-- Você não acreditou que fui eu né?

 

-- Não, claro que não amor!

 

-- Ainda bem! -- enfim, nos abraçamos.

 

-- Está tão cheirosa! -- falei cheirando seu pescoço e dando muito beijos no seu rosto até chegar a sua boca, que beijei com gosto, sentindo aquela língua tão quente e delicada.

 

-- Acabei de tomar banho! -- ela falou sorrindo.

 

Afastei o suficiente para ver como ela estava vestida depois de sua última frase, era um vestido para dormir do Pernalonga, não tinha nada sexy, mas ela era tão linda que tudo ficava bonito, ainda mais com aqueles olhos tão azuis brilhando.

 

-- Amor, como você está se sentindo com isso tudo? -- perguntei voltando a abraçá-la.

 

-- Estou extremamente chateada, mas vamos focar na sua inocência! -- beijou-me.

 

-- Eu sei amor! -- abraçando forte -- Também estou chateada, fui suspensa, estou sem celular, minhas mães chateadas comigo e nem treinar estou podendo.

 

-- Estou sabendo, falei com papai e ele me contou, as coisas estão difíceis para nós.

 

-- Vamos superar isso juntas! -- puxei-a para sentarmos na cama, deitamos e ficamos abraçadas.

 

-- O que foi no seu nariz, amor! -- perguntou passando os dedos.

 

-- Um pequeno acidente!

 

-- Conte a verdade!

 

-- Foi o Lucas, ficou chateado comigo!

 

-- Vou bater nele!

 

-- Amor, ai ele vai saber que eu vi você agora, melhor deixar para lá, sei que ele vai pedir desculpas depois!

 

-- Você que sabe, mas eu bato mais forte que ele!

 

-- Socar eu não sei, mas chutar isso não tenho dúvida, melhor batedora de falta dos jogos estudantis.

 

-- Sou mesmo! -- riu.

 

-- Amor, vamos nos concentrar e descobrir quem pode ter feito isso!

 

-- Amor, aconteceu uma coisa há duas semanas que não lhe contei.

 

-- Como é Laura? -- virei mais para olhá-la.

 

-- Acho que sei quem foi!

 

-- Continue....

 

-- Sabe o Alex? Ele insistiu em sair comigo, chamou para ir ao cinema, passear no shopping, ir na casa dele lanchar e estudarmos. Como fui recusando tudo, ele ficou ainda mais insistindo, imagino que ele pode ter nos seguido uns dias para descobrir porque dei essa fora nele.

 

-- Então você deu um fora nesse Alex? Ele é da sua classe? E porque não me me falou nada?

 

-- Como eu poderia adivinhar que ele faria isso?

 

-- O pior, é saber como foi que ele conseguiu nos flagrar?

 

-- Amor a janela é de vidro, lembro que deixamos a janela aberta e ele pode ter ficado na varanda, sabemos que é muito fácil subir aqui.

 

-- Que filho da mãe!

 

-- Não precisa ficar brava agora, vamos conseguir um modo dele confessar e filmarmos.

 

-- Então já planejou tudo? Ainda bem que você é a inteligente do casal!

 

-- Sou é?

 

-- Inteligente, linda, perfeita, cheirosa, sexy...

 

-- Você que é! -- voltamos a nos beijar.

 

-- Enquanto não começamos o plano, podemos namorar um pouco né?

 

-- Não sei se é uma boa ideia aqui!

 

-- Meu sogro disse que nos apoiaria, então se minha querida sogra acordar e vir aqui ele ajudará.

 

-- Meu pai é muito seu fã! Logo conquisto a sogra também.

 

-- E meu irmão?

 

-- Ele acertou meu nariz, agora deixo ele acerta o olho!

 

-- Para de dizer besteira! -- ela me puxou e nos beijamos, ficamos namorando um pouco, o clima estava esquentando, mas Laura pediu para parar -- Melhor você ir!

 

-- Está me expulsando?

 

-- Só um pouquinho -- riu nos beijamos mais uma vez – Não quero dar sopa para o azar.

 

-- Tá bom, amanhã venho de novo amor! Minhas irmãs não estão em casa, não tenho nem como ligar para você.

 

-- Tudo bem!

 

-- Eu espero você amanhã a noite!

 

-- Hum... Vou ficar ansiosa.

 

-- Eu te amo muito Laura!

 

-- Também te amo muito Valentina! -- voltamos a nos beijamos e eu fui embora.

 

 

 Voltei para casa bem mais animada, Laura era demais, fiz total silêncio para entrar pelos fundos e cheguei pela cozinha, aproveitei e comi uma fatia da torta de maçã que minha mãe Martina havia feito, e em passos vagarosos cheguei ao meu quarto.

 

Fim do capítulo