Capítulo 50
ENTRE LAMBIDAS E MORDIDAS -- CAPÍTULO 50
Daniela adormeceu e acordou mais tarde com o choro de Daniel. Foi até o berço no escuro e tomou o filho nos braços.
-- Cara como você é chorão, olha para a sua irmã. Acho que você puxou a Yasmin -- Saiu do quarto silenciosamente com o menino nos braços.
Durante os últimos dez dias, ela e Yasmin estiveram completamente focadas em cuidar dos gêmeos, eles eram a prioridade em suas vidas.
-- O que houve?
A voz de Paula soou da porta da cozinha.
-- O chorãozinho aqui, estava a fim de dar uma volta -- Daniela se sentou no sofá com o bebê sobre a perna -- A Yasmin precisa descansar e ele não deixa.
-- Vida de mãe é assim mesmo -- disse Paula suavemente.
Paula parecia triste. Daniela percebeu que algo não estava bem com a amiga.
-- Você parece angustiada.
-- Não -- Paula forçou um sorriso -- Só estou pensativa.
-- Desculpa, os últimos dias foram tão atribulados que não tive tempo para sentar e conversar calmamente com mais ninguém -- Daniel dormia profundamente com o balanço das pernas da mãe -- Todas essas fortes emoções me deixaram exausta. Perdi alguma coisa?
Paula cruzou os braços frente ao peito.
-- Estou apaixonada pela sua irmã.
Daniela franziu as sobrancelhas e olhou para ela surpresa.
-- E ela, já sabe?
-- Sabe, mas está confusa -- comprimiu os lábios e exibindo um sorriso fraco, prosseguiu -- Compreendo que isso esteja sendo complicado para ela.
Daniela concordou com um gesto de cabeça.
-- Ela é hétero.
-- Eu sei, por isso estou tão perdida.
Daniela deu de ombros.
-- A Yasmin também se dizia hétero, não acredito que isso seja o maior problema. Amor é amor. Tem gente que se apaixona até por boneca inflável. A sua maior preocupação deve ser se Débora realmente a ama, ou é só gratidão por ter estado ao lado dela no momento que ela mais precisou.
Era isso que Paula gostaria de saber, mas ela não tinha a menor ideia.
-- O fato de não nos conhecermos antes é um ponto a meu favor -- declarou -- Estou mudada, Dani, essa nova Paula é muito melhor. A prova é que estou aqui, cuidando dela.
-- Isso é verdade. A Barbie made in China, estaria aqui transmitindo vibrações transcendental estabelecida pelo cantar de Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna, Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama, Hare... -- zombou, Daniela.
-- Bem, eu acho que devo esperar.
-- Não -- Daniela rebateu -- Você não deve esperar coisa nenhuma.
-- Como assim?
-- Na minha opinião você deve partir para o ataque.
-- Acho que seria melhor esperar mais um pouco. Nós ainda não nos conhecemos bem e ela nem mesmo consegue se lembrar do acidente.
-- Não! -- Repetiu irritada -- O tempo vai passar e apagar os laços que vocês criaram.
-- Esse ambiente familiar criado com a chegada dos gêmeos pode mexer com ela e influenciar em sua decisão. Não quero que ela se arrependa mais tarde -- disse Paula, firmemente.
Daniela deu um profundo suspiro.
-- Então não me meto mais -- avisou Daniela, fingindo estar distraída olhando para o bebê.
Algo na voz dela colocou Paula em estado de alerta. Apenas por garantia, ficaria de olho bem aberto
para que ela não aprontasse nada.
Daniel estava em um sono profundo, Daniela colocou-o no berço e debruçou-se na grade.
-- Se você for cinquenta por cento do que foi o meu pai, já me deixará muito orgulhosa.
Daniela beijou-lhe a testa, deitou-se ao lado de Yasmin, abraçou-a e dormiu.
Por entre as montanhas, o sol nascia, vermelho e brilhante em Canoinhas.
-- Seu imbecil -- Pedro esbravejou -- Como pôde ser tão burro ao ponto de ser humilhado por aquela bastarda -- passou os dedos por entre os cabelos -- Perdemos tudo, tudo!
-- Fui pego de surpresa, patrão -- Lauro falou baixinho, quase um sussurro.
Pedro riu ao voltar-se para ele e apoiar os cotovelos no parapeito da varanda.
-- Não é nenhuma surpresa você ser pego de surpresa. Estou cercado de incompetentes -- lançou-lhe um olhar frio, endireitou os ombros e caminhou para dentro da casa.
Não havia mais nada a fazer, além de vingar-se. Vingar-se de Yasmin, vingar-se de Daniela.
-- Prefiro ser morto do que ir para a cadeia.
-- O que vai fazer, patrão? -- perguntou Lauro.
-- Preciso que vá até São Paulo se encontrar com minha mãe. Quero que seja o contato entre eu e ela -- segurou o queixo, com os olhos vermelhos de ódio - Com certeza ela está sendo vigiada vinte e quatro horas por dia e os telefones grampeados.
-- Então como chegarei até ela sem chamar a atenção? -- Lauro lançou um olhar indagador para Pedro.
-- Deixe por minha conta, ainda tenho muito amigos em São Paulo que em um estalar de dedos, estarão prontos a me ajudar.
Lauro apenas o fitou. Pedro é demoníaco. Pensou.
Yasmin acordou e seu primeiro pensamento foi olhar os gêmeos. Assim que os viu em um sono profundo, sorriu tranquilamente e beijou os dois com carinho. Trocou de roupa e saiu do quarto.
Estava tudo estranhamente quieto. As portas estavam todas fechadas e as luzes apagadas. Era cedo ainda e talvez estivessem dormindo, mas aonde estava Daniela?
Abriu a porta da cozinha e os olhos verdes da loira logo a encararam com alegria.
-- Bom dia, amor. Você dormiu bem?
Yasmin sorriu, vendo que Daniela se esforçava em preparar o café. Trajava uma calça jeans desbotada e uma camiseta branca. Achou-a linda e sexy.
-- Sim, muito obrigada -- antes de sentar deu um beijo na boca de sua loira -- Desculpa por ontem a noite. Dormi e nem dei boa noite. Estava com uma dor de cabeça terrível.
Daniela lhe lançou um olhar indagador.
-- O analgésico não fez efeito?
-- Fez, talvez por isso tenha dormido tão profundamente.
Daniela desviou o olhar de Yasmin para a garrafa de café. Uma ruga formou-se em sua testa.
-- O que foi, Dani?
-- Nada -- disse ela, fazendo força para afastar a inquietação de seu coração -- Vamos tomar nosso café da manhã? Do que gostaria? Frutas, croissant? Ou prefere um pãozinho francês? Está torradinho, acabei de buscar na panificadora.
-- Vou aceitar o pãozinho, parece delicioso -- Yasmin esperou Daniela servir a ambas de café para então falar -- Precisamos sair para procurar um apartamento. Não quero ficar muito tempo morando aqui.
-- A Débora não se importa, amor. Muito pelo contrário, ela está adorando a nossa companhia.
-- Acredito, mas bebês choram durante a noite e isso com o passar dos dias vai estressando as pessoas.
-- Por que não prova um croissant? Está uma maravilha.
-- Não, obrigada. Você poderia ligar para o Matias, ele adoraria se encarregar de procurar um apartamento para nós.
-- Yasmin? - Daniela ergueu a cabeça e olhou séria para ela -- Não quero morar em um apartamento.
Yasmin a fitou sem entender.
-- Por que não?
-- Isso aqui não é pra mim. Estou acostumada com espaço, ar puro, mato -- argumentou delicadamente -- Para ser sincera... Prefiro morar em Canoinhas.
Yasmin pousou a xícara e afastou a cadeira.
-- Deixe-me ver -- disse ela, encostando-se a pia -- Você está dizendo que quer sair de uma cidade como São Paulo, para morar naquele fim de mundo?
Daniela ergueu a xícara e tomou um gole de café antes de responder.
-- Esse fim de mundo que você está falando, é o lugar que eu nasci.
-- Pode ir tirando essa ideia da cabeça, jamais levarei os meus filhos para morar no meio do mato -- disse, irritada.
-- Não vejo motivo para ficarmos discutindo sobre isso.
Yasmin tornou a se sentar.
-- Não?
-- Não -- Daniela apenas deu de ombros -- Pode comprar o apartamento.
-- Posso? -- Yasmin arqueou as sobrancelhas.
-- É claro que pode -- foi a vez de Daniela se levantar ao ouvir a campainha -- Vou atender a porta.
Yasmin pensou que Daniela fosse enfrentá-la, mas não, ela simplesmente concordou.
Daniela abriu a porta e ficou olhando imóvel para a figura a sua frente.
-- Bom dia, loira!
-- Bom dia!
-- Vai me deixar entrar? -- Bianca apertou os olhos e sorriu.
-- O que está fazendo aqui?
-- Que pergunta é essa? Sua grossa -- Bianca entrou, forçando Daniela a sair da frente.
-- Conversou com Leonor? -- perguntou, enquanto fechava a porta.
-- Conversei ontem a noite. Ela me contou que o tal do Lauro saiu de lá direto para o hospital. Fiquei com uma dó - ironizou.
-- Ele recebeu o que merecia -- Daniela sufocou uma risadinha -- Estou a fim de beber uma cerveja, me acompanha?
-- Demorô! -- Bianca balançou a cabeça.
Daniela foi até a cozinha e retornou com duas long neck.
-- Yasmin está dormindo?
-- Está lá na cozinha, no celular com o Matias -- Daniela sentou no sofá ao lado dela -- Ela está pedindo para ele procurar um apartamento para nós.
Bianca ergueu uma sobrancelha.
-- E você o que pensa disso?
-- Penso que ela pode comprar quantos apartamentos quiser -- suspirou quando Bianca lhe deu um olhar indagador -- Eu dei a minha opinião, porém ela não quis ouvir.
-- Não gostei do jeito que você acabou de dizer isso -- Bianca murmurou em voz baixa -- Você está tramando.
Bianca não era uma boba.
-- Eu amo os meus gatinhos, mas daqui a duas semanas retornarei a Canoinhas para dar continuidade ao meu trabalho por lá.
Bianca pigarreou quando Yasmin entrou na sala.
-- Matias adorou a ideia -- olhou para Bianca e sorriu -- Tudo bem?
-- Tudo -- murmurou.
-- Como estava dizendo, Matias adorou a ideia e já vai começar a procurar a partir de amanhã. Não é maravilhoso?
-- Muito -- respondeu, Daniela sem muita empolgação.
Yasmin sentiu que alguma coisa não estava bem. Daniela não sorriu, e os olhos verdes brilhantes que, em geral, olhavam para ela com afeição naquele momento, estavam gelados.
Às nove horas Anita levantou e se vestiu, descendo para a sala de chá. Não costumava acordar tão tarde, porém havia passado a noite em claro e quando conseguiu cochilar o sol já brilhava forte.
Quando entrou na sala, a empregada estava preparando a mesa.
-- Bom dia, senhora.
Anita apenas sorriu, sentando-se à mesa. Pegou o jornal e virou as páginas, mostrando desinteresse, mas uma manchete lhe chamou a atenção:
"Empresa brasileira é reconhecida como a mais inovadora da América Latina no setor farmacêutico. Yasmin Vargas assumiu a presidência a pouco tempo e já recebeu o mais importante prêmio da indústria farmacêutica, mostrando a todos que os negócios da empresa continuam bem administrados".
Anita abaixou um pouco o jornal.
-- Aquela infeliz está conseguindo, eu nunca imaginei que ela fosse capaz.
Daniela acendeu a luz do quarto, pegou Daniel no colo que gritava desesperado e o encostou contra seu corpo.
-- Calma garoto, parece que não mama a dois dias. Credo! -- murmurava, enquanto, carinhosamente, embalava o pequeno.
-- Dani, sacode ele -- Yasmin gritou do banheiro.
-- Estou sacudindo. Mais que isso só colocando na máquina de lavar roupas.
Daniel berrava cada vez mais alto.
-- Ele está ficando roxo, amor -- disse Daniela, assustada.
Yasmin saiu só de toalha do banheiro.
-- Dani -- o tom era de censura -- Desse jeito você vai misturar todos os órgãos dele. Que pecado!
-- Você mandou sacudir -- disse Daniela, na defensiva.
-- Deixe-me pegá-lo -- Yasmin sentou-se na cama e começou a amamentar o menino.
Daniela sentou-se ao seu lado.
-- Que garotão faminto, né amor? Acordou umas quatro vezes essa noite.
-- Estou caindo de sono -- Yasmin sorriu fracamente.
-- Pessoas que dizem que dormiram como um bebê, com certeza, nunca tiveram um -- Daniela deu um cheirinho na cabeça dele.
-- Acho que ele está de manha, Dani.
-- Será?
-- Olha como ele dorme, e quase nem mamou.
-- Você acha que ele está tentando nos ludibriar? -- Daniela pensou por um momento -- Bem, ele é um Vargas, né amor!
-- Não está falando sério.
Daniela riu da cara que Yasmin fez.
-- Lógico que não.
-- A culpada é você, a criança mal abre a boca e você já vem correndo pegar no colo.
-- Ah tá, a culpa é minha agora -- Daniela olhou para o bebê e sorriu -- Com certeza é um Vargas, e puxou a vó Anita. Está começando a jogar uma contra a outra.
Yasmin deu um tapa nela.
-- Não fale isso nem brincando, amor -- Yasmin se levantou e com todo cuidado colocou Daniel no berço -- Graças a Deus! Vou conseguir dormir um pouco.
Yasmin deitou, Daniela saiu do quarto e fechou a porta com cuidado. Mal ela deu dois passos, ouviu Daniel chorar novamente.
Pedro desceu a escada da varanda e caminhou durante alguns instantes até chegar à beira do lago.
-- Jorge, preciso que me faça um serviço -- disse de longe.
O rapaz deu alguns passos até ficar bem próximo a ele.
-- Fala, chefia.
-- Preciso de dois passaportes falsos -- a voz era calma, mas os grandes olhos verdes revelavam ódio.
-- Vai viajar? -- Jorge indagou, surpreso.
-- Vou para um lugar mais tranquilo. Esse país está muito violento e corrupto -- ele deu uma gargalhada -- De agora em diante só quero paz e amor.
Fim do capítulo
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Mille
Em: 31/08/2017
Olá Vandinha
Passei tadinha na atualização dá história só vi agora porque desci para conferir os comentários de outras histórias kkkkk o celular não avisou da atualização.
Um empasse para Yasmin e Dani resolver uma quer morar no campo na cidade que nasceu e a Yasmin a cidade grande, será que ela teria coragem de deixar a Yasmin e os filhos e ir para Canoinha??? Eu sei que enquanto ela não pegar o Pedro e ajudar as pessoas.
Pedro está apontando esperar que a nossa querida autora vai colocar.
Bjs e até o próximo
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patty-321
Em: 31/08/2017
Eu nem percebi a troca fe nomes. nomes. Eita q o Daniel tá dando trabalho. Oh sufoco. Quero não. Rs. O q a Dani ta aprontando, fingiu concordar mas... E o bandido do Pedro tem mais é q se ferrar. Ele vai querer sequestrar Yasmin de novo? Ou os passaportes e pra ele e a mãe?
Resposta do autor:
Olá Patty.
Kkkk... É que eu fui mais rápida e corrigi.
Sabe aquela frase bem novinha: "Ser mãe é padecer no paraíso", pois é, a Yasmin e a Dani estão descobrindo o verdadeiro sentido dela.
Pedro não tem mais nada a perder, nesse momento está decidido ir até as últimas consequências.
Beijão.
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NovaAqui
Em: 31/08/2017
Acho que teremos muitos problemas com Yasmin e Dani
Yasmin foi grossa falando que canoinhas é fim de mundo.
Sei não mas Pedro vai aprontar alguma coisa muito ruim
Ah! Você trocou os nomes kkkk Dani virou Alisson kkkkk é saudades dá cachinhos Dourados kkk
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
Olá NovaAqui.
Obrigada por avisar. São tantos nomes em minha cabeça que já estou trocando tudo. Kkkk...
Por favor, quando perceber algo desse tipo me avise, essa mulherada estão me deixando louca.
Beijão.
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