-- Você conversou com Josué sobre o retorno dos shows? – Estavam na varanda da casa de Denise, observando a cidade e colocando a conversa em dia. Haviam se passado dois dias desde do retorno de Lara. -- A resposta dele não foi muito diferente do que eu esperava. – Respondeu num suspiro - Josué era dono de um barzinho onde Lara tocava nos finais de semana – Foi um risco que assumi, ao permanecer mais tempo do que foi combinado. Não só Josué, como os outros, tiveram que procurar alguém que me substituísse. -- Vamos recomeçar do zero, mobilizar contatos. Você é boa, acho difícil ficar muito tempo parada. -- Esse tempo acompanhando Kelly na boate e no café, me fez pensar naquele nosso sonho antigo. Percebi que a única coisa que nos impedia de colocá-lo em prática era a acomodação. Nós temos recursos, que é o maior entrave para que a ideia saia do papel, faltava vontade, uma motivação. Não sei se quero voltar a tocar nos bares de terceiros, talvez pudesse fazer isso no meu próprio estabelecimento. Ambas sonhavam, nos tempos de circo, em montar um bar temático igual aos que elas visitavam nas temporadas por diversas cidades, escapando dos cuidados excessivos de Laura. Como são amantes de rock, pensavam em reunir pessoas assim como elas, num estabelecimento que unisse música ao vivo e servisse drinks e petiscos. A ideia nunca saíra do papel, primeiro porque as duas não tinham capital para investir, depois porque estavam sempre mudando de cidade buscando fugir da perseguição de Antônio, depois que a cantora foi atrás da herança do avô para tratar da saúde da amiga. Com o tempo o negócio na praia foi se consolidando e elas acabaram por manter esse sonho na gaveta. -- Você acha que aquela ideia vingaria hoje? – Denise já não pensava na possibilidade, acreditava que os planos de tantos anos atrás não caberiam na época atual. -- Certamente. Nesses meses eu andei pelo circuito do rock, sondando o público, e estabelecimentos, com Kadu, um dos amigos das meninas. Descobri lugares bons, mas poucos com a nossa proposta. Quando sai daqui para trabalhar naquele projeto no Nordeste, encerrei o contrato com a escola de circo e o a casa de shows, desde meu retorno fazia um bico aqui outro ali, nada tão certo como antes. A maior parte de minha renda vem do quiosque, mas eu não quero ficar acomodada enquanto as coisas acontecem ao meu redor, é como se tivesse vivendo às tuas custas. -- Claro que não, esse negócio é tão seu quanto meu! – Denise protestou – Nos somos sócias, mas eu confesso que entendo o que acontece com você. Estou pensando em prestar vestibular para processos gerenciais - Confessou á amiga - Esse tempo com Anne me possibilitou ver a diferença que faz o conhecimento na gestão de um negócio, ela tem me ajudado bastante com orientações administrativas e financeiras. Foi ela inclusive que me incentivou a tentar um vestibular. -- Que bom. Sorte a nossa depois de tanto bater cabeça sozinhas nessa vida, encontramos pessoas que contribuem para que tenhamos novas perspectivas de vida – Eu vou assumir o quiosque para que você possa estudar. E assim passaram os próximos meses, Lara cuidando do quiosque enquanto Denise estudava para o vestibular, Ash que preparava o lançamento de seu livro, visitava a namorada pelo menos uma vez ao mês. A cantora não havia desistido da ideia de seguir com o bar, porém o mais importante no momento era dar o apoio necessário para que a amiga realizasse seu propósito, depois voltariam àquele assunto. Não faria nada sem a autorização de Denise, era um sonho das duas, que ela não pretendia levar adiante sozinha. Mesmo que a administração do negócio ficasse sob sua responsabilidade na maior parte do tempo. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Nesse meio tempo Liz foi procurar Antônio e Marta para lhes comunicar sobre a união com Kelly. Já imaginava qual seria a reação dos dois, porém faria uma tentativa a mais para apaziguar sua consciência. A partir daquele dia a responsabilidade pela convivência familiar ou não ficaria a cargo dos pais. -- Que cidade aconchegante amor! Por mim me mudava para cá. - Chegavam de carro na pequena cidade. -- Não sei se conseguiria. Depois da primeira vez que voltei aqui depois de ter ido morar com Rique, tudo me pareceu menor do que eu me lembrava. – Liz realmente se sentia assim, para ela uma cidade com pessoas tão tacanhas, que se importavam em demasia com a vida dos outros, que pregavam falsos moralismos não lhe cabia. Na medida em que ia vendo e saudando as pessoas de dentro do carro, pensava em como teria sido sua vida caso permanecesse ali, certamente teria casado com Jorginho e permanecido escrava das aparências como sua mãe. Será que ela sabia o que Antônio fazia no quarto da empregada com o rapaz todas as vezes em que ela saia para realizar suas obras espirituais? Às vezes pensava que sim, que tanto seu pai como sua mãe não tinham coragem de reconhecer a grande mentira que se tornou suas vidas. Esse pensamento, aliás, foi o que lhe impulsionou a falar com os pais. Não queria viver de aparências, Kelly não merecia isso nem ela mesma, gostaria que as coisas fossem diferentes, queria poder conviver com os pais, a mulher e a irmã em harmonia, mas sabia ser uma tarefa quase impossível dentro de seu contexto familiar. Chegaram na casa da família por volta das 18 horas. Antes de se dirigir à casa da familia Liz preferiu se hospedar em um hotel da cidade, independente de como as coisas terminassem não pretendia ficar com os pais. Ao chegar nem precisaram tocar a campainha, Marta estava voltando de mais uma de suas visitas com as obreiras e Antônio do consultório. -- Vejam só quem lembrou que tem família! – Kelly não estranhou o comentário irônico, pelo que a namorada havia contado, conhecia o comportamento dissimulado do sogro – Está precisando de alguma coisa? Não me diga que depois de tanto tempo se arrependeu de virar as costas para os pais. -- Será que a gente pode entrar pelo menos? Não me sinto confortável discutindo assuntos particulares na calçada. -- Que diferença faz? São todos conhecidos de uma vida – Olhou para Kelly – Para quem trouxe uma estranha você está bem exigente. -- A menina está certa Antônio, não temos porque discutir assuntos pessoais diante da vizinhança – Marta contemporizou. -- Eu sei que faz tempo que não os procuro por assuntos que não valem a penas ser citados novamente, – Estavam os quatro já no sofá da casa dos pais de Liz, Marta havia passado um café e as noivas se encontravam diante da do casal mais velho, depois de uma breve apresentação da ruivinha. - mas vocês são meus pais e eu sinto que devemos nos dar uma nova chance. Eu tenho visto e vivido coisas ultimamente que me fazem pensar sobre o valor da família na vida de cada um de nós e eu queria ter vocês por perto, dividir alegrias e tristezas... -- Nós sempre soubemos disso minha filha – Marta completou – A palavra diz que a precisamos fazer da nossa casa o melhor ambiente para se viver tendo disposição para perdoar e jamais guardar mágoas no coração, investir mais e cobrar menos dos nossos entes queridos, porque a precisamos estar sempre unidos. O senhor ama a família, pois a instituiu. Ele não abre mão da família, pois esta é uma agência do seu Reino na terra. Fico muito feliz que você tenha colocado a união familiar em primeiro lugar. Seu pai e eu ficaremos contentes de te guiar nos ensinamentos para que você recupere o tempo perdido. -- Sim, se você quer mesmo fazer parte desta família, as portas de casa e da nossa igreja estão abertas para você. Te levaremos para nossa casa de oração para que você volte ao seio da família e da comunidade que te acolheu desde sempre, você pode voltar aqui para a cidade, encontrar um varão. Não é saudável uma moça de sua idade ainda não ser casada. Dá motivos para muitos falatórios, principalmente porque você anda muito com o filho do José Luiz, dizem as más línguas eu ele vive amancebado com um homem. – Pela cara de Liz, Kelly percebeu que as coisas não terminariam bem. -- Qual é o problema com isso? – Liz questionou chocada – Eles são pessoas integras, trabalhadoras, não fazem mal a ninguém, não se incomodam em saber ou prejudicar a vida de ninguém. Não deveria ser importante quem eles amam e sim quem são. -- Para o nosso senhor esse tipo de coisa nunca vai ser certo, é o tipo de armadilha que o inimigo usa para destruir a família de bem. Eu e sua mãe jamais aceitaríamos aquele pervertido no seio de nossa família. Se você quiser voltar para o nosso convívio vai ter que começar se livrando das más influências. -- Então a condição para voltar seria negando o meu melhor amigo? – Antônio assentiu. -- É para o seu próprio bem. O inimigo precisa apenas de uma brecha para destruir a vidas de servos como nós. – Decepção. -- Então eu sinto muito, porque além de não conseguir negar o meu melhor amigo eu não conseguiria negar a mim e ao meu amor. – Enlaçou os dedos aos da noiva diante do olhar dos pais. - Jamais vou encontrar o que vim procurar aqui. -- Eu não acredito que você também se envolveu nessa sujeira – Marta comentou enojada – O inimigo levou meu filho através de suas artimanhas, mas eu nunca pensei que um dia você ia me fazer passar por um desgosto tão grande. Minha própria filha se esfregando com mulher e ainda trazendo uma pervertida pra dentro de minha casa - Se lançou contra Kelly e Liz rapidamente se colocou frente à ruiva– Fora de minha casa, jamais vou aceitar qualquer coisa desse tipo embaixo de meu teto. Meu senhor, o que eu fiz pra merecer esse fardo - abraçou o próprio corpo e indo para a cozinha fazer o que fazia de melhor, fugir das verdades que a cercavam. -- Toda essa conversa sobre família foi apenas para entrar aqui e me desafiar, rir de minha cara, não é verdade? É tudo o que você sempre faz desde que soube da morte daquele moleque! – Segurava Liz pelo braço – Fala pra mim! -- Senhor nós já estamos de saída, não precisa se exaltar, solte ela. Foi um erro virmos até aqui. – Kelly apelava para a razão do sogro. -- Não. Eu deveria ter dado uma surra nessa insolente quando era criança, mas sempre passei a mão pela cabeça e permiti. Agora eu vou lhe arrastar pelos cabelos até o olho da rua e espero que não volte, pois da mesma forma que aquele pirobo morreu pra mim você também acabou de morrer. -- É isso que te faz sentir poderoso? Bate! - Antonio não bateu. -- Uma pessoa muito importante me ensinou o valor de saber se defender de ataques covardes – A ruiva havia bloqueado o golpe do sogro - Estou dentro de sua casa, não gostaria de usar de força contra o senhor, mas se tocar nela irei nocauteá-lo. -- Sumam daqui as duas... -- Eu vou, não deveria sequer ter vindo aqui, minha irmã me basta – Antonio se assustou - Sim, apesar de todos os seus esforços a vida tratou de nos juntar. Ela é uma mulher linda, inteligente e especial como você nunca vai conseguir ser e ter a coragem que você não teve. Eu escolho seguir o exemplo dela e não o seu, jamais serei frustrada e amarga por viver uma vida de mentiras. As duas saíram deixando um Antonio enfurecido para trás. Liz não quis permanecer na cidade por mais tempo, passaram no hotel, fecharam a conta e partiram de volta para casa. Onde estava a verdadeira família das duas, onde juntas curariam suas dores, celebrariam conquistas e compartilhariam suas vidas com pessoas que as amavam e eram amadas por elas. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Depois que Denise prestou vestibular, Lara ainda permaneceu ajudando com os trabalhos no quiosque, a cacheada se sentia grata pelo suporte da amiga, mas percebia que a outra já não pertencia àquele lugar, sua presença e ajuda durante o período de preparação, tanto no trabalho quanto nos estudos contaram como um aditivo para que conseguisse enfrentar aquele desafio. O incentivo de Lara e Anne cada uma a sua maneira foram muito importantes, independente do resultado estava muito feliz consigo, com suas realizações, amizades e o que conquistou a essa altura da vida. Jamais em sua infância solitária nas ruas, ao encontrar uma figura tão peculiar enquanto tentava entrar de penetra no circo, imaginou chegar onde e como chegou. Laura lhe deu uma vida e a cantora assumiu o posto de anjo da guarda quando esta se foi. Lara teria sempre um lugar especial em seu coração e sempre daria um jeito de estar por perto, mas era hora dela partir em busca de sua felicidade, ainda que para isso fosse preciso ir para longe de si, a incentivaria e apoiaria de forma incondicional. -- E as coisas aí como estão! – Estavam, Liz e Kelly, falando com Lara via aplicativo de mensagens. – Tudo pronto aqui, Ashley não desconfiou de nada mesmo? -- Não, ela anda uma pilha de nervos ultimamente pela correria nos preparativos do evento, agora mesmo está no galpão testando a iluminação. Nós praticamente não nos encontramos, mas Hanna disse que ela ficou bem decepcionada com a impossibilidade de tua presença. Lara estava preparando sua volta, passou o último mês conversando com a irmã e Kelly sobre o retorno. Havia conversado com Denise e a amiga a encorajou a correr atrás do que realmente queria, mas não pretendia morar com as duas nem ficar na casa de Ash. Achava cedo demais para um passo tão grande, apesar de terrem vivido juntas por meses quando o pai da morena estava convalescendo. A cunhada prometeu conseguir ajuda junto a seus contatos para a mesma pudesse trabalhar e cumpriu. A cantora estava relativamente conhecida na noite, depois da temporada que passou na Vibe’s e Empório, não foi difícil conseguir alguns contratos. -- Quando você vem? -- Depois de amanhã, meu voo está marcado para as dez, então pouco depois do meio dia devo estar chegando aí. Vocês vêm me pegar? -- Claro, aproveito e tenho minha irmã só pra mim por uma tarde inteira! – Lara sabia do que passou com os pais, estava sentindo a irmã mais carente de si nos últimos dias. -- Essa tarde e todos os outros momentos em que precisar de mim. Você sabe que independentemente de qualquer coisa eu vou estar ao teu lado, porque nós somos família e eu amo as duas. Agora eu preciso voltar pra dentro, Denise está ajudando a empacotar minhas coisas, tudo certo com a casa? -- Tudo perfeito, acreditamos que você goste do resultado final. A cantora pediu ajuda para encontrar uma casa, ela não queria um apartamento e também pediu algo pequeno de um quarto e sala sem extravagâncias, Kelly encontrou um sobrado num bairro modesto e fechou o contrato de aluguel depois de sua aprovação. Ela e Liz estavam cuidando dos últimos ajustes para receber a cantora e sua mudança que demoraria um pouco mais para chegar, pois viria através de uma transportadora, portanto de início Lara teria na casa apenas uma cama onde dormir, uma geladeira e um fogão, presentes da cunhada e da irmã, os seus seriam doados para o lar de apoio a jovens, as irmãs saberiam o melhor destino para eles. XXXXXXXXXXXXXXX -- Bom dia pra você também, Ashley Grace! – A morena saia do quarto já pronta para o dia que a aguardava, sem sequer cumprimentar a irmã, que já estava esperando para acompanha-la na reunião com a equipe da editora e depois irem ao galpão acompanhar os últimos detalhes antes da exposição e lançamento do livro à noite. A fotógrafa estava um pouco decepcionada com a namorada, a queria consigo num momento tão importante, era a concretização de um sonho, mas Lara parecia não fazer esforço para estar presente. Já há alguns dias sentia a namorada indiferente, monossilábica. Chegou a ter medo que Lara, depois de voltar para casa, percebesse que estar com ela fosse um erro, mas o pensamento não durou muito tempo, não poderia duvidar do amor de Lara, pois amava demais aquela mulher e acreditava ser recíproco, porém apesar de reconhecer os sentimentos da artista não deixou de ficar magoada com sua ausência. Como previram as irmãs passaram o dia ocupadas com os preparativos, mal tiveram oportunidade de comer, Ashley estava com o tempo apertado para ligar, poderia tirar um momento e telefonar para a namorada, contar dos preparativos, das expectativas, mas seria outro desgaste e tudo o que precisava era de tranquilidade para receber as pessoas que iriam prestigiar seu lançamento e exposição. Se ligasse para a cantora, possivelmente as duas brigariam e depois não teria clima para desfrutar de um dos momento mais felizes de sua vida. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX -- Promete que vai ficar bem? - Lara e Denise se abraçavam no saguão do aeroporto – Quando precisar de mim, a qualquer hora, não hesite em chamar, eu deixo tudo para vir até você. Sempre! -- Eu vou ficar bem. Marcel ficará comigo no quiosque, ele e irmã Sofia treinaram Yasmin que vai ficar responsável pela divulgação e vendas das mercadorias na feirinha. Pode ficar tranquila que não ficarei descoberta durante as aulas. - Enxugava as lágrimas da cantora – Fica bem. Quando tiver um tempo fujo pra te visitar, além do mais tem sempre o telefone para conversarmos por horas a fio. --Vou morrer de saudade. – Lara soluçava. -- Eu também, mas a vida é feita de ciclos, não é? – Beijou a face da castanha – Tua felicidade não está aqui, está ao lado da mulher que você ama. Agora vai senão acaba perdendo o voo. Lara embarcou com o coração apertado, mas com a esperança de finalmente encontrar a felicidade pela qual ansiou desde sempre. XXXXXXXXXXXXXXXXXXX Ao meio dia estavam Kelly e Liz aguardando Lara. Minutos depois como esperado, a castanha chegou. Foram ao apartamento de Liz e Kelly e logo depois do almoço as três se dorogiram à nova casa da cantora. A castanha adorou o sobrado, a vizinhança tranquila, o jardim de ervas e as cadeiras de vime escurecido davam um tom charmoso à entrada. Apesar de pequena a casa era muito aconchegante, seus móveis não tinham chegado por enquanto, más já podia imaginar como ficaria tudo depois de organizado. O espaço dentro era bem aproveitado, em frente à escada de madeira ficaria seu sofá em L com a televisão e o rack. No topo da escada havia um espaço aberto onde ficaria sua cama, armário e mesinha de cabeceira, abaixo do espaço se situava a cozinha. Na base da escada havia um balcão onde colocaria bancos de alumínio. O banheiro apesar de pequeno, também era bem distribuído. -- Amei tudo, se eu mesma tivesse escolhido não teria sido tão perfeito. -- Que bom ter gostado, escolhemos com muito carinho, para que você se sinta aconchegada aqui. E Denise como está? Anne me disse que ela está esperançosa com o resultado do vestibular. -- Sim. – Respondeu à cunhada – estamos muito animadas com o resultado, durante a semana treinamos um dos rapazes que ajudam no lar de acolhimento para ficar no quiosque, Marcel. Aproveitamos que ele necessita de emprego, pois está chegando a hora de dar um rumo na vida e outra das meninas, que acaba de atingir a maioridade, pode se responsabilizar pelas vendas na feirinha. Dê vai contratá-lo, ele é de confiança, isso me deixou mais tranquila para viajar. -- Vai dar tudo certo para vocês duas. -- E tua irmã como está? -- Seguindo em frente, é a única coisa a fazer, mas eu tenho a esperança de que ela encontre alguém que a ame e um dia possamos estar todos juntos, uns cuidando dos outros como a grande família que somos. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX -- Será que você pode parar de andar de um lado para o outro? Vai acabar abrindo um buraco no chão. – Hanna ralhou com Ashley, a morena não havia sentado um minuto desde que chegou ao galpão. --Eu não consigo ficar calma, agora é a hora da verdade. E se as pessoas não gostarem do livro, da exposição? – A morena estava insegura com o resultado de seu trabalho. -- As pessoas vão amar! Você fez um trabalho lindo. As fotos estão maravilhosas, e a cada capítulo dá vontade de fazer as malas e cair na estrada com todas as informações que você agregou aos lugares. -- Eu tô tão nervosa! -- Te garanto que quando descer, verá com teus próprios olhos quantas pessoas estão ali, pessoas que gostam de você, que gostam de teu trabalho, que te apoiam. Precisa ver quantos seguidores de teu Instagram estão aqui. Não é hora para se acovardar, está tudo perfeito. A editora propôs a Ashley lançar naquela noite, além do livro uma exposição de fotos. O material era perfeito para a Galpão 70, galeria que vinha com a proposta de lançar material de fotógrafos novos no seguimento. Já eram 21 horas e os convidados estavam presentes, desfrutando do coquetel, e da música sob os cuidados de um DJ amigo das meninas. A iluminação bem planejada para que as fotos ficassem em evidência, além do balcão com os exemplares do livro “Panorama Brasil: destinos incríveis”, que também era o nome da exposição. Haviam fotos do país de norte a sul, tendo maior foco na diversidade de pessoas e culturas com as quais Ashley conviveu durante quase 24 meses de viagem. A foto de destaque da exposição, a mesma da capa do livro era o pôr do sol, aquele que ela registrou enquanto se percebia apaixonada pela castanha. Para outras pessoas poderia ser apenas uma imagem, para Ashley a representação de um momento mais que especial, aquele em que seus olhos se abriram para a possibilidade de ser feliz novamente, ainda que tivesse uma parte da estória que lhe deixava extremamente envergonhada e sentida em relação à dor e humilhação que fez Lara sentir, as coisas tinham terminado bem e o que ela vislumbrava para o futuro era uma vida plena ao lado da mulher de sua vida. Por volta das 22 horas, Ash desceu as escadas que levavam ao primeiro andar, onde se encontrava o escritório do galpão, sendo aplaudida e cumprimentada por amigos e admiradores. Como não poderia ser diferente os fiéis escudeiros estavam lá, sua mãe e avós também, João havia ido buscá-los. Depois de abraça-los e agradecer a presença de todos através de um pequeno discurso onde enfatizou a importância, de todos os que se faziam presentes, na concepção, execução e finalização do projeto, iniciou a sessão de dedicatórias. Lara já estava na galeria, mas não foi até a morena. Viu orgulhosa a reação positiva dos assistentes ao trabalho da fotógrafa, tanto às fotos expostas quanto ao livro. Ficou surpresa com a foto destaque na galeria e a capa do livro, acreditava haver outras mais bonitas e impactantes, mas não deixou se sentir o peito aquecer com a mensagem oculta por trás do gesto, era uma declaração de amor, que apenas as duas entendiam. Lara não cansava de admirar a namorada, Ashley estava linda, usava calça flare preta, uma blusa bege de renda deixando um pouco marcado o top vermelho na mesma tonalidade do terninho. Atendia a todos com sua habitual simpatia e o sorriso sedutor que havia feito algumas vítimas nos tempos de pegadora. Conversou com todos que vieram até a mesa, fez dedicatórias, falou com a imprensa, tirou fotos com a galera que seguia seu perfil nas redes sociais. Estava feliz de ver sua morena realizando o sonho de maneira tão exitosa. -- Será que a escritora me daria a honra de assinar este exemplar? - Se aproximou da namorada que a recebeu com um sorriso de orelha a orelha. -- Eu poderia dedicar esse livro para a mulher mais sexy da noite, mas acho que minha namorada não iria gostar. Sabe, ela não veio hj, me deixou sozinha aqui. - Fez cara de gato de botas. -- Meio burrinha essa tua namorada, deixar uma gata dessas sozinha. - Ashley puxou Lara para seu colo, a beijando, sem importar com a platéia. -- Porque você não disse que viria? Fiquei mal sabia? -- Tava preparando uma surpresa. -- A é? Qual surpresa? -- Depois do evento. - Beijou o nariz da morena - Agora deixa eu falar com o pessoal. Sua linda! Enquanto Ashley dava atenção aos convidados do lançamento a cantora foi ficar com os familiares. Letícia logo foi com os pais para a casa de Hanna, deixando os meninos, como costumava chamar, para terminar a noite. -- Estava tudo perfeito minha filha. - Seu Bernardo elogiou o trabalho da neta. -- Deu vontade de visitar o Nordeste, não é meu velho? - Dona Maria completou. -- Um orgulho para todos nós. Você conseguiu realizar teu sonho e não poderíamos ficar tão felizes. - Leticia abraçou a filha, depois seguiram com Hanna e João que foram instalar os três. Encontrariam o resto do pessoal na boate, o plano era irem todos juntos para comemorar na boate. Pouco depois da meia noite deixaram o galpão em direção á Vibe's. O grupo bebeu, dançou, comentou a noite, Ash não estava na vibe, perdeu a vontade de sair, queria Lara e somente ela, Kelly percebendo a agonia da amiga decidiu dar uma forcinha. -- Tão afim de fugir? -- Rique vai me encher o saco. Ele planejou a noitada, você conhece nosso amigo como costuma ser dramático diante desse tipo de "desfeita". - Colocou ênfase na palavra. -- Mas você não tá muito afim de ficar aqui cercada de gente, enquanto poderia estar com tua namorada. Estou errada? -- Não mesmo! -- Galera vamos dançar, já pedi uns shots ao barman, hoje é dia de beber todas. Vamos Rique! - Kelly saiu levando Liz e Henrique puxando o marido. -- Já vai fugir? - Hanna também percebeu quando as duas levantaram - O descanso merecido depois de tudo, ao lado dessa moça linda. Vão matar a saudade. - Abraçou as duas. Como Lara não tinha carro e Ash estava de carona com a irmã e o cunhado, as duas acabaram pedindo um carro no aplicativo, ao entrar no veiculo Lara se adiantou dando um endereço estranho para a morena que questionou com um olhar. -- Faz parte da surpresa. - Piscou. Ao chegarem no endereço Lara abriu o portão e convidou a fotógrafa para entrar. -- Não repara na bagunça, acabei de me mudar. Ash ficou encantada com a singeleza do espaço, era tudo muito compacto, porém aconchegante. Pelo sorriso da morena, pelas inúmeras declarações ao longo dos meses distantes, a cantora sabia da alegria que a morena sentia por ter a namorada perto. Se houvessem dúvidas, estas teriam sido sanadas pelo avançar dos seus lábios contra os de Lara e pelo enlaçar dos braços em volta do corpo da namorada buscando trazê-la para si. Depois de provar a plenitude de ter a artista junto a si por meses, estava cada vez mais difícil para Ashley lidar com a distância que as separava, era muita saudade para pouco tempo ao telefone e os finais de semana que passavam juntas. -- Amei a surpresa. – Depositava beijos por toda a face da namorada, enveredando pelo pescoço, onde amava deixar pequenas mordidas excitando a cantora. – Amei a ideia de te ter por perto todos os dias. Amo você! -- Eu também te amo, por isso decidi dar esse passo. Mudar para outra cidade, arriscar recomeçar. Não poderia ficar sem você. -- Posso te contar um segredo? – Sentou no segundo degrau da escada trazendo a namorada junto. – Se você demora mais um mês iriamos nos desencontrar, eu já estava buscando casa para alugar. -- Você abriria mão de tudo para ficar comigo... -- Sempre! Porque eu acredito que nós podemos construir uma história linda e eu tenho muita sorte de ser correspondida por você. -- Há algo que queria te dar. – Levantou e pela mão levou a morena em direção às caixas amontoadas ao lado do colchão, onde havia duas chaves as quais depositou nas mãos da fotógrafa. – Estou te convidando pra entrar na minha casa porque na minha vida você já faz morada há um bom tempo. Lara se inclinou sobre uma morena visivelmente emocionada a fazendo deitar no colchão, iniciou o beijo com selinhos sentindo a textura dos lábios, logo aprofundando e explorando todos os cantos da boca da fotógrafa com a língua. Ashley correspondia, ora alternando com selinhos e pequenas mordidas no lábio inferior, o que fazia seu coração querer saltar pela boca enquanto o corpo dava sinais de excitação, intensificados por carícias que aplicava na nuca, fazendo com que a cantora se perdesse mais e mais em sua boca. Lara perdia a noção de tempo e espaço, tudo que sentia e queria eram seus lábios unidos, a mão da fotógrafa em sua nuca, cintura, enlaçando os quadris e aqueles olhos castanhos transbordando desejo. -- Você não sabe o quanto sonhei com esse momento nos últimos dias - A voz rouca da castanha a fazia Ash tremer de excitação. -- Você é perfeita - Falou após afastar as alças do vestido de tecido leve que deslizou até o chão, deixando à mostra um conjunto de lingerie vinho sobre sua pele branquinha. -- Isso porque eu ainda nem matei a vontade que tenho de te lamber inteira - Sussurrou no ouvido da mais alta enquanto empurrava o casaco para baixo e desabotoava sua camisa 3/4 a tirando do cós de calça - essa tua mania de não usar sutiã me desnorteia, mas te ver hoje com esse sutiã vermelho quase me levou à loucura. - Deslizou a língua pelo pescoço beijando o ponto de pulso, provocando um gemido. Não aguentando sua provocação, Ashley voltou a beija-la com sofreguidão, grudando os corpos, na urgência em tê-la, enquanto Lara deslizava as mãos pela lateral da sua pele e voltando àqueles dois montes medianos. A castanha acariciava seus seios, descia distribuindo pequenos beijos e ch*pões pelo pescoço e colo até tirar o sutiã vermelho e substituir a mão direita pelos lábios. Ashley se contorcia e gemia imprensada pelo corpo da namorada que mamava seus seios de forma voraz, apertando o seio livre entre os dedos. Quando abandonou os montes sensíveis, voltou a beija-la, levando a mão ao sex* que transbordava de excitação. -- Tua pele é tão macia, teu cheiro me enlouquece. Mal posso esperar para sentir teu gosto. - Falou distribuindo selinhos pelo queixo, pescoço, enquanto descia o corpo e sua calcinha ao mesmo tempo. Levando a boca ao sex* da fotógrafa, acariciou o clitóris com a língua ao que ela respondeu com um ronronar que fez a castanha estremecer e continuar a deliciosa tarefa de lhe dar prazer com sugadas ao mesmo tempo intensas e leves enquanto a penetrava. Não demorou para que chegassem ao ápice. -- Cada dia que passa fica mais gostoso fazer amor com você - Falou extasiada com a expressão da morena, rosto afogueado, lábios entreabertos... -- E olha que a gente nem começou - Respondeu trocando as posições e montando sobre a cantora.

Fim do capítulo