Manuela saiu da empresa no mesmo horário de sempre. Caminhava lentamente para casa, quando sentiu o vento passar por entre seus cabelos, nesse mesmo momento, trocou de rota e começou a andar sem rumo.

Tudo que viveu nos últimos anos ecoava em sua mente, mas o almoço que teve com seus amigos e Carol foram às únicas lembranças realmente boas, nesses anos...

O vento começou a aumentar sua intensidade, mas nem isso a fez parar. Manuela caminhava distraída quando notou que só havia ela e uma senhora, naquela imensa praça, mas uma coisa naquela velha senhora lhe chamou muito a atenção... Uma rosa que carregava nas mãos.

À medida que Manu se aproximava, notou que a senhora lhe sorria, cada vez mais afetuosa. Sentindo-se acolhida pela senhora sentou-se ao seu lado e nada disse, apenas ficou a observar o movimento que as folhas das árvores faziam.

- É lindo... – Manu virou o rosto fitando a expressão carinhosa da senhora ao seu lado.

- O que é lindo? – Perguntou curiosa.

- O movimento que a vida nos mostra. – Respondeu sem tirar os olhos da mesma árvore que antes era contemplada por Manuela.

- Nem sempre... – Disse com o olhar triste.

- Pois sim! Há beleza em tudo, minha cara... Mas ás vezes estamos tão aprisionadas em nossos receios, que é impossível ver o que os outros veem. Está vendo esta rosa? – Indagou erguendo a flor – Você pode olhar pra ela e ver uma planta que está prestes a morrer... Mas eu olho para ela e vejo a chance de um novo recomeço!

Manuela nada soube dizer perante a constatação da velha senhora, que continuava seu discurso.

- Há algum tempo atrás, lembro-me, de uma jovem moça, que estava correndo. Ela tinha uma fiel escudeira ao seu lado, mas estava tão afoita que não prestava atenção na preocupação de seu cachorro... Acho que ela estava tentando encontrar algo que sabia exatamente onde estava, mas por algum motivo não possuía.

- Mas porque a senhora está me contando isso? – Perguntou Manu sem entender.

- Porque ao contrário dela você não está correndo... Pois creio que você já tem o que procuras... – Dito isto a velha senhora levantou-se e entregou a rosa para Manuela – Tenho certeza que farás um bom uso...

Manuela ficou a observar a velha senhora se distanciando enquanto o vento aumentava, cada vez mais, sua intensidade. Olhou para a rosa em suas mãos e sabia que só havia uma pessoa no mundo que gostaria de presentear com tal flor.

A moça levantou-se do banco seguindo na direção oposta da velha senhora.

*

Alfa estava afoita com o número de caixas presentes naquela pequena, mas confortável casa. Parecia querer ajudar sua dona, mas não havia muito o que a pequena cadela pudesse fazer.

Carolina observava os olhos curiosos com que Alfa parecia lhe questionava, no entanto a cadela pareceu mudar seu foco e ficou a mirar a porta de vidro. Carol conhecia muito bem sua cadela, para saber que ela estava querendo sair. Instintivamente levantou e abriu a enorme porta de vidro, vendo à pequena Collie se afastar. Logo seus pensamentos focaram novamente, observando que teria muito trabalho pela frente, voltou a guardar os objetos nas caixas.

Escutou quando Alfa começou a latir sem parar, numa euforia invejável. Apenas sorriu imaginando que ela deveria estar brincando com Bia, pois só existiam três pessoas no mundo que Alfa demonstrava tanto amor: Carolina, Bia e... Manuela.

Carol apenas sorriu, pois das três opções, era a última que desejava ver.

- Espero que não esteja jogando nossas fotos fora! Pois seria um desperdício de beleza...

Aquela voz tão familiar... Aquele cheiro que tomou conta do ambiente... O tom risonho na frase... Carolina sabia que só existia um ser humano no mundo que lhe despertava isso! Rapidamente Carol virou-se, encontrando o que tanto procurava.

- Claro que não! Só as estou levando para um lugar novo... – Respondeu sorrindo, mas mesmo assim, ainda estava assustada com a presença de Manuela.

- Um lugar novo? – Questionou sem entender.

- Isso! Vou me mudar. – Respondeu com aquele sorriso encantador, que por anos Manu amou.

- Bom sendo assim... Nada mais justo que eu te ajudar!

- O que? – Carol estava surpresa.

- Isso mesmo! Eu e você arrumamos este lugar há muitos anos, então, desarrumaremos da mesma forma... Juntas.

Carolina apenas sorriu para Manu, que entendeu aquele sorriso como um grande sim.

- Não encontraria ninguém melhor para me ajudar!

- Disso você pode ter certeza, Senhorita Portman! – Manu piscou provocativa. – Estou pesando em um aumento de salário também, mas isso, vemos depois.

- Hum... Vai aumentar a carga horária, Senhorita Fernandez? – Carol também sabia brincar.

- Aí depende... – Manu que até então estava com os braços atrás das costas trouxe-os para frente, segurando a rosa entre seus peitos. – Está disposta a recomeçar? – Disse meio insegura, pois depois de tudo, não tinha certeza se Carolina ainda há queria.

Carol não soube de onde vinha aquelas palavras, parecia perdida, como se seu corpo estivesse petrificado, mas sua alma dançava freneticamente.

- Não... – Carol praticamente sussurrou, mas foi o suficiente para Manu ouvir.

- Eu entendo... Demorei demais para ver que ainda te a...

- Não deixarei mais que você saia da minha vida! Porque eu te amo Manuela, eu sempre te amei e sempre irei te amar! – Carol foi até a moça e lhe abraçou pela cintura. – Mas você tem que parar com esta mania de me interromper, quando está na minha vez de falar os diálogos do roteiro... Aí! – Carol gritou sorrindo, depois de Manuela ter lhe dado um tapa no braço.

- Tudo é tão leve ao seu lado...

- Menos essas caixas que você irá me ajudar a levar! – Sorriu sapeca para Manu.

- Pelo que me lembro, quem exercia os trabalhos braçais era você! Meu amor...

Carolina sentiu o tom debochado que Manu falou e estava adorando ver como tudo parecia normal...

- Bom... Levando em consideração que sua memória não é muito confiável... – Mas não teve tempo de terminar a frase.

- Eu vou te mostrar o que é confiável! Vem aqui Carolina Hellen Portman!

Ao longe os moradores da “casa grande” podiam ouvir as risadas contagiantes e cumplices das duas mulheres que mais desarrumaram as coisas, do que, guardar nas caixas. Bia sorriu para os pais de Carol feliz, sendo abraçada pelos dois, não iriam atrapalhar, sabiam que tudo tem seu tempo, até para dar as boas vindas a sua nora.

 Já era passada das dez horas da noite, quando as duas sentaram exaustas no novo sofá da casa nova. Tudo dentro daquele recinto era novo, Carolina não quis nenhum de seus móveis antigos, apenas levou suas roupas, objetos e as recordações.

Manuela estava encantada com a casa, era do jeito que descrevia para Carol, quando estavam noivas. Uma bela casa rustica de madeira, entre árvores, tendo um enorme terreno cercado, para os futuros cachorros e é claro... As crianças.

- Ela é do jeitinho que eu imaginava... – Comentou Manuela encantada pela casa.

- Com muitos telhados! – Brincou Carol, imitando a forma que Manu falava, quando descrevia a casa.

- Mas você está se achando, né! Quando ficou pronta? – Manu notou que Carolina olhou para chão e uma leve sombra triste apareceu em seus olhos.

- Eu iria lhe dar de presente de casamento... – Respondeu lembrando-se do passado. Manu ficou tão surpresa que as palavras fugiram de sua boca. – Eu vim mantendo ela desde então, ajeitando cada detalhe. Eu jamais traria outra mulher nesta casa, na verdade nem mesmo você tinha estado aqui...

- E o que pretendia fazer com ela... – Manu não quis falar a frase “se eu tivesse casado com Félix”.

- Eu iria vender para o Félix... No final você há teria como presente de casamento, de qualquer jeito.

Manuela não pode conter a emoção... Aquela jovem que estava ao seu lado, era a mulher que sempre amou! Não tinha mais duvidas quanto há isso... Jamais amaria alguém, como amava Carolina...

- Sendo assim... Acho que está na hora de estreia-la... Não acha? Senhorita Portman!

Carolina observou cada movimento de Manuela... Era como se a moça flutuasse até sentar em cima de seu colo. As respirações de ambas iam ao encontro da outra.

Manu olhou para Carolina tão intensamente que o mundo parou... Naquela fração de segundos o universo as observava.

- Creio que o próximo passo é seu... – Manuela sussurrou no ouvido de Carolina, que respondeu com um sorriso travesso.

Carol posicionou as duas mãos firmemente no quadril de Manuela, trazendo a moça o mais próximo de si. Os corpos se colidiram em um frenesi de sensações. Portman beijou Fernandes como se fosse a primeira e última vez. Deslizou seus lábios pela bochecha da moça indo de encontro ao pescoço, fazendo Manuela arrepiar-se por inteira.

- Te amarei como nunca antes... Você será somente minha Manu... E eu... Sua! – Carolina sussurrou no ouvido da moça, sentindo as unhas de Manu irem de encontro ao seu pescoço apertando-o possessivamente.

As roupas que estavam impedindo a visão dos seios de Manuela, prontamente foram arrancadas e jogadas para longe... Carolina levantou do sofá e foi de encontro as escada, levando Manuela carregada em seu colo. Assim que terminaram de subir entre beijos, caricias e toques loucamente desprovidos de razão, Manuela retirou a camisa de Carol, fazendo com que a jovem se chocasse contra a porta do quarto.

Sorriram divertidas em meio a uma troca de olhares, convulsiva de desejo.

 Carol colocou o corpo do seu amor delicadamente sobre a cama... Removeu cada peça que estava ali, como se fosse à primeira vez. Assim que Carolina teve a visão que tanto invadia seus sonhos, tratou de remover as roupas que ainda estavam no seu corpo.

Foi subindo delicada e lentamente, rosando seus lábios por toda a extensão daquele gracioso corpo.

- Hoje somente farei amor com você... – Disse levando seus lábios aos mamilos da moça.

- Hum... – Manu não estava em condições de raciocinar, sentia seu corpo arder e sua face pegar fogo.

Os dois corpos se encaixaram com maestria, como se nunca houvessem se separado! Um conhecia o outro, mas ao mesmo tempo se reconheciam...

A corrente elétrica era conduzida de um para o outro, sem aviso prévio...

As duas estavam suadas, mas não se desgrudavam daquele abraço.

- Melhor parte... – Carol abraçou fortemente Manuela, que se desvencilhou rapidamente, ficando de frente para Carolina.

- A melhor parte ainda está por vir! – Exclamou Manuela levando sua boca até a região completamente encharcada de Carol.

O dia iria amanhecer... E junto com ele, duas mulheres que estavam redescobrindo o prazer em viver!

Fim do capítulo