ANA.

            Na sala de espera daquele hospital gelado as horas não passavam, já não sabia mais o que fazer pra conter a minha ansiedade, unhas nas mãos já não existiam mais. Nada disso era para estar acontecendo, afinal era apenas uma viagem de fim de semana, mas no meio do caminho surgiu alguém mais apressado que nós, e isso mudou nossos planos...

Lembro-me de tudo o que vivemos até chegarmos a esse momento e nosso caminho não foi muito fácil, uma vez que nos faltava coragem para admitir o que sentíamos. Laura era tipo o patinho feio no meio das amigas, destoava completamente das demais, pois era a mais tímida, pouco falava, tinha uma expressão cansada e pesarosa, como se estivesse carregando o mundo em suas costas e foi isso que chamou a minha atenção e fez com que me aproximasse, pois via nela o meu reflexo, a observei por alguns dias, e notei que o lugar em que ela mais frequentava era a biblioteca, e um dia achei um meio de puxar assunto com ela.

Sabe quando você conhece alguém e parece que sempre foram amigas? Com Laura foi assim, haviam muitas afinidades entre nós e aos poucos fomos descobrindo uma amizade pura e de muita cumplicidade, minhas amigas foram aos poucos se afastando de mim, penso ser por ciúmes, restando somente Maria Clara.

            E assim nos tornamos amigas inseparáveis, nessa época eu estava em um relacionamento desgastado e via nela o meu refúgio, meu porto seguro, tudo era motivo para ir a sua casa e várias vezes deixei meu então namorado de lado só para poder estar com Laura, percebia que algo em mim estava mudando e não conseguia identificar ao certo o que era de fato, um dia assistindo a um filme qualquer ela me disse:

            - Ana, estou muito a fim do Henrique, queria sua ajuda pra me aproximar dele.

             Sabe quando te faltam palavras e a única coisa que sente é ciúmes? Então foi isso que senti diante do pedido dela, de início pensei ser apenas medo de perder minha amiga ou que algo entre a gente mudasse. Mesmo eu tendo um namorado ela era sempre minha primeira opção e gostava disso, passávamos horas juntas sem fazer nada e por muitas vezes ela dormiu no meu peito, como dizia ela: o melhor lugar do mundo e quando isso acontecia era bom demais, seus cabelos ficavam bagunçados em cima do meu ombro, e dela vinha um cheiro tão bom que me trazia paz, me dava um calor no peito que nunca senti ao lado do Rafael.

Respirei fundo engolindo todo o meu ciúme silencioso e disse a ela que tudo bem, que a ajudaria com isso, afinal amigas são pra essas coisas eu disse, mas não era isso que meu coração falava, não queria dividi lá com ninguém, doía saber que ela deitaria em outro colo que não o meu e foi nesses pensamentos que percebi que o que sentia por ela não era apenas amizade e isso me assustou, mas tinha prometido a ela que faria algo, então deixei esse sentimento bem escondido, e continuamos a ver o filme.

Fim do capítulo