Capítulo Único
- Capítulo Único
"Você não encontra o amor, ele encontra você. Tem um pouco a ver com destino, destino, e o que está escrito nas estrelas." - Anaïs Nin
Era noite. A rua estava quase completamente deserta e silenciosa se não fosse pelas duas jovens que ali se encontravam. Quando se viram, se abraçaram com força e trocaram um beijo casto. Ambas se mostravam bastante nervosas e pareciam com pressa de sair dali.
"Que bom que você está bem." O alívio na voz sussurrada era perceptível.
"Sim." Ainda ligeiramente ofegante. "Que bom que você também está bem." Cruzou os braços. Não sabia se era pelo frio ou pelo medo.
"Eu consegui sair antes dele a chegarem. Os vi entrando no sítio, mas já estava longe." Descruzou os braços da parceira e segurou em suas mãos de forma reconfortante. "Falta pouco agora."
"Eu sei."
[...]
TRÊS MESES ANTES
"Qual é o caso?" A médica perguntou assim que a paciente deu entrada no pronto socorro.
"Vítima de atropelamento. Segundo o motorista, ela atravessou a rua completamente desorientada e de forma repentina. Ele disse que não teve tempo de frear e o impacto a arremessou por alguns metros." O enfermeiro relatou.
"Okay, pessoal, vamos entuba-la!" E assim a doutora Jones começou mais um dia no pronto socorro.
Dra. Natalie Jones era uma jovem médica, que atuava no pronto socorro do St. Patrick Hospital, em Washington D.C.. Ela vinha de uma família de médicos. Seus pais, tios e irmão, todos trabalhavam em alguma área da medicina. Foi um pouco duro crescer com toda essa pressão, mas Natalie realmente amava o que fazia. E o melhor de tudo era estar em um hospital tão longe da sua família, que ela sabia que tudo que conquistava era por mérito próprio e não por seu nome.
Ela sabia que não podia se dar ao luxo de se apegar a pacientes - ainda mais no P.S. -, mas sempre se aproximando deles de alguma forma. E foi exatamente o que fez quando recebeu a desconhecida do dia.
A desconhecida vítima do atropelamento estava sem nenhum documento ou identificação, então a polícia foi chamada. Procedimento padrão nesses casos.
O estado de saúde da jovem não estava muito bom. Ela foi posta em um coma induzido e estava em observação.
Dizer que Natalie estava intrigada com ela era um eufemismo. A médica a achou linda. Mesmo com os machucados do acidente. Ela parecia bem jovem, algo em torno dos 18 a uns 20 anos. A pele era bronzeada. Tinha os cabelos longos e castanhos. Tinha também algumas marcas no rosto e por todo o corpo, que olhando rapidamente pareciam tatuagens, mas se vistas com atenção, claramente não eram.
"Quem será você, Jane Doe*?" Perguntou pensativa enquanto observava a paciente antes de sair do quarto.
A Dra. Jones seguiu seu plantão quase normalmente. Não conseguia deixar de pensar em sua paciente desconhecida. Quem era ela? Por que até agora ninguém havia ido procurá-la? Por que estava tão fascinada por uma simples paciente?
Pouco antes do fim do seu turno, Natalie foi ao quarto que a jovem estava. Quando entrou, uma das enfermeiras da noite trocava-lhe os curativos.
"Boa noite, Kelly." Cumprimentou.
"Boa noite, doutora." A mulher respondeu sem parar de fazer seu trabalho.
"Alguma informação sobre ela? Alguém veio a procurar?"
"Nada." A mulher terminou o que estava fazendo e agora juntava os materiais para serem jogados no lixo. "Mas os resultados dos exames dela saem amanhã, então talvez seja mais fácil de encontrar algum parente pelo sistema."
O sistema a qual a enfermeira Kelly se referia, era uma das leis da nova administração do país. Todos os cidadãos deveriam fornecer amostras de DNA e suas digitais para o governo. Embora eles dissessem que era apenas para a segurança de todos, era na verdade só mais uma forma de controlar a vida das pessoas. A privacidade e liberdade das pessoas iam desaparecendo aos poucos.
"Tomara." Natalie concordou. "Eu já vou indo. Qualquer mudança no quadro dela pode mandar me chamar." Avisou.
"Pode deixar, doutora."
No dia seguinte, a primeira coisa que Natalie fez ao iniciar seu turno foi verificar sua paciente misteriosa.
Os exames dela tinham saído e estranhamente a desconhecida tinha algumas particularidades. Ela tinha situs inversus - seus órgãos eram em posições invertidas, como em um espelho - e algumas diferenças no sangue. Dra. Jones ficou completamente intrigada com tudo isso. Ela entrou em contato com um amigo que trabalhava em um laboratório maior para investigar o caso.
Quanto a situação da garota, ela continuava na mesma. E seguiu assim, em um estado de coma, por algumas semanas. Os as lesões do acidente melhoraram e ela já respirava sozinha, mas ainda não acordava. Rapidamente ela ganhou o apelido de Bela Adormecida pelos funcionários o hospital.
Depois desse tempo todo, Natalie não conseguia não ficar intrigada com a garota. Afinal de contas, quem era ela?
Natalie se preparava, no alojamento dos médicos, para mais um turno no St. Patrick Hospital.
O falecimento recente de sua avó fez com que ela pegasse cada turno disponível no hospital. A única forma que ela encontrou para superar foi mergulhando de cabeça no trabalho. Resultado: a médica parecia cada vez mais exausta.
Naquele dia, pela primeira vez, a Dra. Jones resolveu abrir a caixinha de jóias que sua avó lhe deixou. Nela havia apenas um colar, ele tinha uma única pedra verde no pingente, o favorito da velha senhora. Natalie resolveu usá-lo.
Depois de chegar ao hospital para mais um plantão, a primeira coisa que Natalie fez foi ir até o quarto da Bela Adormecida - como era costume. Ela pensava ser um pouco estranho estar tão ligada a uma paciente. Talvez fosse o fato de a estranha ser, aparentemente, sozinha. A médica conhecia essa sensação. O barulho da máquina que monitorava a saúde da garota foi a primeira coisa que percebeu ao entrar no quarto. A luz do sol da manhã entrava pela janela com as cortinas abertas. Provavelmente tinha sido a enfermeira Kelly a fazer isso. Ela era a responsável pelos pacientes nesse horário. Dra. Jones então foi até a cabeceira da cama de hospital. Não deixava de admirar a beleza da jovem, que era perceptível mesmo com o rosto machucado da mesma. Se ela não soubesse, poderia dizer que a garota estava apenas dormindo, o que de certa forma era verdade.
"Será que um dia irei saber quem é você?" Questionou. Ela segurava a mão da garota.
Quando Natalie iria soltar a mão da jovem, sentiu uma leve pressão em sua mão. Rapidamente ela olhou para baixo espantada e, depois de sentir a pressão uma segunda vez, pode constatar que a jovem estava acordando. Logo a máquina no quarto registrou o aumento dos batimentos cardíacos da paciente. Ela deveria estar assustada de acordar em um lugar desconhecido.
"Calma, está tudo bem." Natalie se abaixou falou com a jovem que abria lentamente os olhos. "Você está bem." Eles eram verdes, Natalie reparou. Lindos. "Eu sou a Doutora Natalie Jones, você está no hospital. Consegue me entender?" Ela tentava acalmar a garota que assentiu em concordância. Então ela notou que o olhar da jovem estava fixo no colar de sua avó, e que estranhamente a pedra do pingente tinha um brilho fraco. Provavelmente era reflexo da luz do sol, pensou. No momento em que a médica iria, mais uma vez, soltar a mão da Bela Adormecida, ela agarrou a mão de Natalie. "Eu preciso examinar você pra saber se está tudo certo."
A médica iniciou o procedimento padrão para um paciente recém-acordado de um coma.
"Tudo certo." Sorriu. "Pode me dizer o seu nome?" Perguntou.
"Ta... Tasha." A voz da jovem estava rouca.
"Okay. E você sabe porque está aqui?" Tasha negou com um gesto de cabeça.
"Você sofreu um acidente de carro há algumas semanas e nós estamos cuidando de você desde então." O olhar e voz de Natalie eram gentis. "Eu sei que tudo pode estar meio confuso agora, mas eu preciso saber se existe alguém que você conheça pra quem eu possa ligar. Um parente, um amigo...?" A garota negou mais uma vez.
Natalie notou que volta e meio o olhar de Tasha retornava a seu colar. Estranho.
"Okay, antes que eu vá, você tem alguma pergunta?" Colocou as mãos nos bolsos do jaleco. Imaginou que a primeira pergunta seria sobre a alta. Geralmente era o que as pessoas mais queriam saber. Quando poderiam ir embora do hospital.
"A pedra..." A voz da garota ainda estava ligeiramente rouca. "Onde conseguiu essa pedra?"
"É bonita, não?" Sorriu com saudade e segurou o pingente. "Minha avó deixou para mim antes de partir."
"Sinto muito."
"Não, tudo bem. Já faz um tempo, já estou melhor." A médica então se preparou para sair do quarto da paciente. "Mais tarde eu volto para discutirmos sua situação. Vou pedir que uma das enfermeiras venha aqui te ajudar no que você precisar, está bem?" Tasha assentiu e Natalie saiu do quarto.
Dra. Jones voltou algumas horas depois e explicou a sua paciente que ela deveria ficar mais algum tempo internada. Isso se devia ao fato de ela não ter nenhum contato de emergência. Nesses casos, o hospital era obrigado a permanecer com o paciente até total recuperação do mesmo.
E durante esse tempo, Natalie continuou visitando sua paciente favorita todos os dias - mesmo sabendo que como profissional não deveria fazer isso. E arriscava até a dizer que ela e Tasha eram amigas, mais ou menos. A garota tinha um humor um pouco ácido, mas mesmo assim parecia uma boa pessoa. O que a médica não conseguia entender era como aquela garota não tinha ninguém. Talvez fossem mais parecidas do que imaginava, afinal, Natalie também vivia a solidão.
Estava mais uma vez com Tasha em seu horário de almoço. A garota estava sentada na cama e a médica na cadeira para visitantes ao lado da mesma.
"Eu não entendo porque ainda tenho que ficar comendo isso, ew." Fazia uma cara de nojo ao reclamar da comida do hospital. Enquanto isso, Natalie ria dela.
"Eu entendo que a comida daqui pode ser meio insos-"
"Insossa é apelido. Isso é horrível." Cruzou os braços como se estivesse fazendo birra. "Você bem que podia me dar um pouco da sua, né?" Sugeriu olhando para a médica e fazendo um. Biquinho.
"Você estaria saindo da sua dieta especial. Não posso."
"Ah, só um pouquinho, vai." Os olhos eram suplicantes. A mulher não resistiu.
"Só umas garfadas." Se aproximou e levou o garfo à m boca da garota.
"Hmmm... muito melhor." Sorriu. Encarou a médica que estava tão perto. As duas trocaram um olhar intenso. Os olhos de Natalie sendo atraídos para os lábios cheios de Tasha. Natalie não sabia quando a simples curiosidade sobre a jovem havia mudado para carinho e talvez algo mais.
O barulho da abertura da porta fez com que as duas saíssem daquele momento. Natalie se repreendendo internamente por ter sentimentos pessoais por uma paciente. Na porta estavam a enfermeira Kelly e um homem desconhecido. Ele era alto, loiro e estava todo de preto. Natalie imediatamente teve uma sensação ruim sobre ele. O que ela não percebeu foi Tasha ficando tensa pela presença dele.
"Pois não?" Dirigiu a pergunta ao homem.
"Estou aqui para levar a cobaia 44592." Falou. A voz era grave como um trovão.
"Quem?" Dra. Jones estava completamente confusa. "O que o senhor quer dizer com isso?"
"Os detalhes não podem ser de conhecimento civil, mas a cobaia pertence ao governo nacional." Apontou para a garota na cama. A mesma ficava cada vez mais nervosa. "Eu e minha equipe estamos aqui para levá-la de volta para onde pertence." Ele tinha um sorrisinho irônico e o deu olhando diretamente para Tasha.
"Eu não sei do que você está falando, mas Tasha..." Enfatizou o nome. "... é uma paciente nesse hospital e deve ficar aqui até se recuperar completamente."
"Garanto a senhora que Tasha... " Disse com ironia. "... estará em ótimas mãos conosco."
"Infelizmente não posso ajudá-lo, senhor." Caminhou até onde estava o homem. "A paciente só sai desse hospital recuperada." Tinha o olhar firme.
Estava claro para o homem que aquela mulherzinha iria atrapalhar o seu trabalho. Não querendo fazer uma cena de em um lugar tão público, ele se deu por vencido - pelo menos naquele momento.
"Pois então ela ficará aqui até se recuperar." Assentiu. "E então a levaremos." Sorriu. "Um membro do meu time ficará aqui até a liberação dela. Até mais." E sem esperar resposta, ele saiu. Natalie viu que outro homem, vestido da mesma forma que ele, ficou do lado de fora da porta do quarto. Aparentemente de vigia.
Natalie se virou para Tasha e com os braços cruzados questionou. "Do que esse cara estava falando? E eu quero a verdade."
[...]
O Sol vermelho de Argadian dava um brilho avermelhado para a grande floresta do planeta, e mesmo com o brilho do grande astro celeste, era possível visualizar a silhueta de duas das cinco luas que rodeavam o planeta. Os habitantes de Arcadian, apesar de apreciarem o constante contato com a natureza, não podiam fechar os olhos para os avanços da tecnologia.
Há anos a capital, Shimea era assolada por uma guerra civil aparentemente interminável. Tudo começou com a ambição de um ser. Dakkass, um dos cientistas mais respeitados entre os Argans começou a criação de projetos que, segundo ele, só ajudariam o planeta a crescer, mas para isso seria preciso que o povo abandonasse suas velhas crenças na natureza e apostasse em um novo deus: a tecnologia. Ele tinha apoio do governo e das pessoas de mais influência na sociedade. O problema era que o povo não iria aceitar assim tão facilmente ser afastado do que eles creram por anos. Não foi surpresa quando o conflito armado se iniciou.
Um grupo de Argans desolados pela guerra decidiu arrumar uma forma de sair de seu planeta natal. E com a ajuda de um dos homens de Dakkass, que não concordava com seus planos, eles conseguiram. Encontraram um planeta em que as condições para vida eram parecidas com Argadian: a Terra. Lá sem dúvida poderiam recomeçar.
Infelizmente eles estavam enganados sobre isso. Assim que pousaram no planeta terra encontraram hostilidade onde buscavam refúgio. Foram presos pelos militares. Alguns conseguiram escapar e passaram a viver escondidos entre os humanos. Os outros, os que foram levados... nunca mais se ouviu falar deles.
[...]
"E essa é a verdade." Tasha tinha a voz embargada enquanto terminava de contar sua história para Natalie. "Bem, vivia escondida, fui capturada e consegui fugir, mas eles me acharam, eles sempre acham."
"Nossa." Dra. Jones estava literalmente sem palavras para comentar o que tinha acabado de ouvir. "É tudo muito surreal. É difícil de acreditar."
"Eu não mentiria sobre uma coisa dessas. Você viu que tentaram me lev-"
"Eu sei que você está falando a verdade." Interrompeu a garota. A médica segurou a mão de Tasha e a olhou de forma carinhosa. "Eu posso ver nos seus olhos. E eu aposto que, não importa a espécie, os olhos não mentem. Eu acredito em você."
Tasha suspirou em alívio. Talvez tenha finalmente encontrado sua sorte ao conhecer Natalie Jones.
"Eu vou te ajudar a sair daqui." A médica sussurrou.
Definitivamente tinha encontrado sua sorte.
Em poucos dias as duas tinham chegado a um acordo de um plano para que Tasha escapasse do hospital. O dia de pôr o plano em prática rapidamente chegou. As duas tentaram passar o dia agindo o mais normal possível para não levantar suspeitas de ninguém - não queriam evolver mais ninguém nessa história -, principalmente do vigia constante de Tasha.
O plano era simples. Tasha iria se esconder no carrinho que levava as roupas sujas para a lavanderia do St. Patrick. De lá, Natalie iria levar a garota, não para seu apartamento, seria provavelmente o primeiro lugar a ser procurada, mas para a antiga casa de sua avó no interior do estado.
Quando deu seu horário, a médica fez questão de mostrar para o vigia da garota que ela estava indo embora, mesmo que na verdade ela não fosse nem deixar o terreno do hospital. Ela saiu e de forma rápida foi até a porta dos fundos. Tomou cuidado para não ser vista. Nesse dia era dia de lavanderia no hospital, ela só tinha passar no andar de Tasha antes dos verdadeiros responsáveis dessa função. No alojamento dos funcionários ela ‘pegou emprestado' um dos uniformes. Com uma roupa que cobria o corpo todo, touca, máscara e um crachá que dizia Sarah Brown ela não seria reconhecida. Natalie então pegou um dos grandes carrinhos de roupas sujas e pelo elevador foi até o andar do quarto de Tasha. Passou em todos os quartos do corredor para não levantar suspeitas e enfim chegou ao quarto pretendido. Quando iria entrar o soldado a parou na porta.
"Só vou levar a roupa de cama suja." Explicou usando uma voz meio anasalada.
O homem a olhou de cima a baixo e depois de alguns segundos a deixou entrar no quarto.
Tasha já havia arrumados alguns travesseiros e roupas para parecer que estava dormindo e toda coberta. Sem uma palavra ela entrou no carrinho, a médica jogou alguns lençóis por cima e saiu do quarto. O soldado a fez esperar no corredor enquanto ele passava o olhar pelo quarto e via o que parecia um corpo na cama. Depois de constatar que, aparentemente, Tasha continuava no lugar, ele a deixou ir.
Só mais um pouco agora. Pensava Natalie ao descer para o subsolo onde ficava a lavanderia do hospital. Quando chegaram a médica rapidamente tirou o uniforme ‘emprestado' e Tasha saiu do carrinho. Ela vestia algumas roupas casuais que Natalie havia levado para ela mais cedo naquele dia.
"Vamos lá." Dra. Jones chamou sussurrando. Ela pegou a mão de Tasha e as duas foram correndo para o carro da médica que estava estacionado nos fundos do lugar.
Deixaram de madrugada o St. Patrick e foram em direção a rodovia. A garota estava ainda escondida porque teriam de passar pela fronteira de uma cidade para outra e não poderiam correr o risco de Tasha ser reconhecida. Não sabiam quem tinha informação sobre ela.
Na fronteira o policial pediu seus documentos, quis saber aonde ela iria e o porquê. A mulher ficou tensa quando o oficial demorou um pouco a lhe devolver os documentos, imaginou se tinham desconfiado de algo. Se pedisse para revistar o carro elas estavam definitivamente perdidas. Mas para seu alívio ele a liberou.
Poucas horas depois de conseguirem sair do St. Patrick, Natalie e Tasha chegavam a casa da falecida avó da médica. O lugar parecia mais um sítio, com uma casa pequena e um grande quintal, um pequeno lago e a entrada para o que seria um bosque que já não pertencia a propriedade.
Natalie deu a Tasha um tour rápido pela casa - ia fazer o mesmo na parte de fora quando clareasse o dia - e as duas fora para a cozinha onde a médica preparou um lanche para ambas.
"Eu não consigo acreditar que um soldado treinado caiu um truque desses." Tasha contou rindo. Natalie não pôde deixar de reparar no sorriso lindo da garota. Era literalmente de outro mundo.
"Nem eu." Gargalhou. "Um corpo de lençóis e travesseiros? Por favor." Se levantou na cadeira da cozinha e colocou os pratos e copos que tinham usado na pia. A jovem se levantou também e quando fez menção de que ia lavar a louça Natalie a impediu. "Nada disso." Segurou uma das mãos dela - isso estava se tornando uma das coisas favoritas da mulher - e a puxou para o corredor.
No único quarto da casa as coisas estavam da forma que a antiga moradora deixou. A cama de casal, a cadeira de balanço canto ao lado da cama, o armário de madeira clara encostado em uma das paredes e a penteadeira antiga encostada na outra. Claro que Natalie tinha arrumado as coisas para Tasha, mas tudo era basicamente o mesmo.
"Obrigada por tudo que está fazendo." Começou Tasha assim que entraram no quarto. "Você não tinha obrigação nenhuma de acreditar na minha história louca e ainda me ajudar." Sorriu agradecida.
"Eu confesso que ainda não digeri toda a história, mas não fiz por obrigação..." Segurou as mãos da garota nas suas e as levou para se sentarem na cama. "... fiz porque gosto de você. Porque acho que não importa que você não seja desse planeta - nossa, dizer em voz alta torna isso mais estranho ainda." Franziu o cenho. "Enfim, não importa de onde você venha, não merece ser tratada como menos que um ser humano, ninguém merece."
"Você é incrível, sabia?"
"Claro que sim, mas é sempre bom ouvir de novo." Deu de ombros e fez uma expressão convencida antes de começar a rir e ser acompanhada pela outra.
As duas foram parando de rir aos poucos e ficaram se encarando. Não perceberam logo que ainda estavam de mãos dadas. Quando perceberam, Tasha lançou um sorriso tímido e Natalie tinha as bochechas avermelhadas. A médica pigarreou e soltou suas mãos se levantando.
"Bom, eu vou deixar você se instalar e vou fazer minha cama lá na sala." Abriu o armário para pegar alguns lençóis.
"O que? Não." Tasha se levantou após ela. "Não posso deixar você dormir naquele sofá e ir trabalhar amanhã cedo. Vai ser no mínimo desconfortável."
"Não tem problema, é só uma noite." Natalie riu. "Eu estou acostumada a dormir em lugares desconfortáveis, vulgo alojamento dos médicos."
"Não posso deixar." A garota insistiu. "Fica aqui comigo. A cama tem espaço para nós duas e ainda sobra."
Dra. Jones mordeu o lábio inferior indecisa. Estava pensando se era realmente uma boa ideia passar a noite tão perto assim de Tasha.
"Tudo bem." Se deu por vencida. Jogou sobre a cama o lençol e travesseiro que havia pegado no armário.
"Ótimo!" Tasha sorriu dando batidinhas no lado vazio da cama.
Logo assim que amanheceu Natalie se levantou e se arrumou para voltar para a cidade. Deixou um bilhete para Tasha e saiu. Precisava manter sua rotina normal. A essa hora já teriam percebido o desaparecimento da paciente e não podia dar margem para desconfiarem dela.
Imediatamente ao chegar no St. Patrick foi abordada pelo capitão - ela podia ver agora a patente na farda - que havia ido a primeira vez tentar levar Tasha. O homem parecia possesso.
"Você!" Apontou para a médica. "Eu sabia que você ia me causar problemas." Resmungos andando na direção dela. "Você ajudou a cobaia a fugir, não foi?!" Acusou, com grosseria, a médica de ter levado embora ‘propriedade do governo'.
"Eu realmente não sei do que está falando, senhor." Claro que Natalie se fez de a pessoa mais inocente do planeta. E é claro que ele não acreditou.
"Onde a senhorita estava ontem por volta da meia noite?" Questionou bruscamente.
"Olha, a não ser que você tenha um mandato, eu não sou obrigada a responder absolutamente nada." Cruzou os braços e o enfrentou.
Ele tinha que admitir que ela era corajosa, mas isso não bastaria para para-lo. Infelizmente nao podia fazer nada sobre isso sem provas ou mandato, então ele e seus soldados deixaram o hospital, mas não sem antes ameaçá-la.
"Eu vou ficar de olho em você, srta. Jones."
A mulher passou a semana inteira em alerta e preocupada com Tasha sozinha. No sábado se preparou para ir até a casa no interior. Só poderia ir para lá em dias esporádicos. Afinal, não podia usar a desculpa da avó doente e atravessar a fronteira do estado todos os dias. O tempo inteiro a médica estava em alerta e verificava se não estava sendo seguida.
Quando chegou no pequeno sítio, Tasha a esperava na cozinha. Aparentemente ela havia feito um jantar para as duas.
"Você realmente não precisava fazer isso." Natalie se sentou de frente para a garota que sorriu para ela.
"Acho que nada que eu faça vai mostrar o quão grata eu estou por você estar me ajudando." Começou a servi-las. "Sem contar que eu faço um macarrão bastante decente." As duas riram de leve.
O clima todo do jantar foi esse. Leve.
Um pouco mais tarde, após o jantar, as duas sentaram lado a lado no sofá da sala, compartilhando taças de vinho, sorrisos e conversas. Natalie falava dos momentos de sua infância passados naquela casa com a avó e Tasha lhe contava um pouco sobre sua infância também, sobre seu povo.
"Nossa, olha essa hora! " A médica se espantou ao olhar para o relógio da sala e vê-lo marcando mais de 2h da manhã. "Eu não acredito que a gente ficou esse tempo todo conversando." Se levantou e recolheu as taças de vinho que estavam apoiadas na mesinha de centro. Quando se virou, Tasha estava a poucos centímetros dela, a encarando. Natalie podia sentir o calor de sua respiração. "Nem perguntei se você ia querer mais." Se referiu ao vinho. Estava um pouco sem graça pela aproximação.
Em silêncio, Tasha pegou as taças das mãos de Natalie e as colocou de volta na mesinha. Ela colocou uma mecha do cabelo curto da médica atrás da orelha e acariciou seu rosto antes de se inclinar para cima - Tasha era ligeiramente mais baixa - e apertar seus lábios juntos de forma delicada. Natalie ficou paralisada por alguns segundos antes de envolver seus braços na cintura da outra.
"Uau." Surpresa a mulher quebrou o beijo.
"Eu não interpretei isso errado, não é? Você também queria, não?" Tasha de repente parecia preocupada.
"Eu diria que foi inesperado, mas bem vindo." Sorriu com as bochechas avermelhadas.
"Mesmo depois de viver alguns anos aqui, eu sempre me esqueço do quão tabu é sexualidade para vocês terrestres." Fez mais um carinho no rosto de Natalie antes de se afastar um pouco.
"E como é para vocês argans?" Perguntou subitamente curiosa.
"Bom, nós não ligamos muito para isso, tínhamos problemas maiores no planeta para se preocupar que quem está com quem."
"Nós deveríamos fazer o mesmo aqui." Suspirou. "De qualquer forma, não quero pensar nisso agora." E colocou uma das mãos na parte de trás do pescoço de Tasha, a puxando para mais um beijo. Esse beijo era diferente do primeiro, era mais urgente. Ela se esqueceu como era ser beijada dessa forma.
Natalie estava tão feliz que a garota tinha tomado a iniciativa, que aparentemente sentia também alguma coisa por ela.
A garota caiu deitada no sofá e puxou Natalie com ela. Agora a médica pairava sobre Tasha. Nenhuma das duas parecia hesitar. A língua de Natalie provava o gosto de vinho na boca de Tasha. As duas gem*m com isso. O som faz o corpo todo de Natalie estremecer e se arrepiar, ela pode sentir o calor da excitação de Tasha através do tecido fino de seu short. Os tornozelos da garota se cruzam sobre ela, a puxando para mais perto.
"Eu sou pesada." Sua respiração saiu entrecortada.
"Não é, pode acreditar." Tasha diz em seu ouvido, sua voz rouca fazendo sua excitação crescer mais ainda, para logo depois a puxar de volta para o beijo. "Mas eu acho melhor a gente ir pro quarto, é mais confortável." A mulher ri e concorda.
As duas se levantaram do sofá e caminharam com pressa pelo corredor até o quarto. Assim que entraram, Natalie se agarrou a cintura de Tasha e começou a beijar seu pescoço. Ela se arrepiou toda. A médica se sentou na cama e a garota sentou em seu colo. Rapidamente as roupas foram descartadas e as duas subiram completamente na cama.
Os lábios de Tasha em seu corpo pareciam magia. Ela beijava seu quadril, sua barriga e seus seios, para então voltar a sua boca. Quando sua mão desceu para onde Natalie mais precisava, ela definitivamente viu estrelas naquela noite.
Natalie foi a primeira a despertar. Acordou com a claridade do sol entrando pelas frestas da janela de madeira. Ela se virou e pôde admirar a garota dormindo ao seu lado. Alguns raios de luz do sol iluminavam parte do rosto de Tasha, ela parecia um verdadeiro anjo para a médica. A mulher observou o nariz levemente arrebitado, a boca com os lábios cheios, o pescoço, que levava marcas da noite anterior e as manchas, que pareciam tatuagens, num tom pouca coisa mais escuro que a pele cor de avelã de Tasha. Natalie fez uma nota mental para perguntar a garota o que essas manchas significavam.
Tasha aos poucos foi despertando. Se deparou com Natalie a observando e sorriu para ela, fazendo a mulher devolver o sorriso de forma tímida.
"Oi." A garota sussurrou.
"Oi." A médica sussurrou de volta antes de se inclinar para frente e dar um selinho na outra. "Bom dia."
"Ótimo!" Virou Natalie de costas para a cama e foi para cima dela lhe dando vários beijinhos pelo rosto.
As duas passaram o início da manhã na cama, em um clima totalmente íntimo e aconchegante, conversando sobre vários assuntos.
"Somos tão parecidas que é difícil imaginar que você não é daqui." Natalie comentou enquanto entrelaçava suas mãos, observando as semelhanças e diferenças entre seus corpos.
"Quando descobrimos sobre vocês aqui na terra, pouco se sabia." Começou a explicar. "Conforme o tempo foi passando, descobrimos que éramos fisicamente uma espécie de espelhos uns dos outros. Muito semelhantes, mas contrários também em muitas coisas." Sua voz era baixa.
Natalie deitou em seu peito e a ouviu falar enquanto sentia as vibrações da sua voz calma e ouvia sua respiração e as batidas de seu coração - do lado direito de seu peito. No fim das contas, a coisa do espelho era literal.
"Não sei muito, porque em nossa cultura somos educados em casa. Pouquíssimos de nós tem acesso a muito conhecimento. Fico pensando que se não fosse assim, talvez as coisas pudessem ter sido diferentes."
"Conhecimento e educação só servem se você souber como usá-los." Natalie ouvia as vibrações da própria voz agora. "Aqui muitos tem acesso a ele e não sabem como usar esse conhecimento. Ou usam de uma forma ruim, fazendo mal aos outros."
Voltaram a ficar em silêncio. Natalie pensava em o que determinava o rumo de uma sociedade.
"O que são essas marcas?" questionou depois de algum tempo em silêncio. "Só você tem? Você nasceu com elas?"
"Sim, são de nascença. Todos os Argans as tem, cada um em um padrão diferente, mas todos tem." Sorriu lembrando de seu povo. "Cada um de nós ganhava uma pedra akiva, da cor de nossos olhos, ao nascer."
"Pedra akiva?" Levantou a cabeça o peito de Tasha e a apoiou no braço para olhar a garota.
"É uma pedra preciosa de Argadian. Não tem um nome na sua língua, mas elas basicamente nos dão força e energia, e com a ajuda delas podemos nos comunicar uns com os outros." Explicou.
"Você diz telepaticamente?" Tasha concordou. "Incrível!" Natalie estava maravilhada com a história que ouvia.
"Não trouxemos muitas delas para cá. E algumas das que trouxemos resolveram esconder para proteção." Disse meio melancólica. "Queria apenas uma para me lembrar de minha mãe, me lembrar de casa. Para poder tentar encontrar meu povo que vive livre por aqui." A voz de Tasha estava embargada.
Natalie não sabia o que dizer, mas entendia a situação. Sabia como era perder alguém importante. Ela apenas abraçou Tasha e a deixou chorar durante um tempo.
O resto do domingo foi pouco produtivo. Não que as duas se importassem muito. Tanto Natalie quanto Tasha estavam muito contentes e satisfeitas de passar o dia inteiro cama, no clima que estavam.
A noite chegou e junto com ela seus últimos momentos juntas naquele fim de semana, já que a médica voltaria para a cidade durante a madrugada, porque pegaria no turno da manhã do hospital.
E assim as semanas foram passando. Tasha vivia escondida no sítio e Natalie a visitava nos fins de semana que tinha folga do hospital. Apesar da situação incômoda e de não saberem até quando teriam que levar as coisas daquele jeito, o relacionamento das duas floresceu e os sentimentos se tornavam mais fortes. Apesar de achar que o tal Capitão já tinha até se esquecido dela, Natalie não deixava de ser cautelosa cada vez que ia visitar a garota, elas não podiam arriscar que Tasha fosse encontrada.
Em um desses finais de semana livres, Natalie resolveu fazer algo romântico para a amada. Saiu cedo do hospital - ia pagar a hora extra outro dia -, passou em seu apartamento, se arrumou, usou um perfume novo e o colar de sua avó, pegou algumas velas e um bom vinho. Seguiu para o pequeno sítio. Quando chegou lá, Tasha estava dormindo. Tão linda, parece um anjo! Não era a primeira vez que Natalie pensava isso da garota. A médica se abaixou ligeiramente para acordar Tasha. Ela demorou um pouquinho, mas começou a despertar. Se virou para Natalie, tinha um sorriso manhoso no rosto. Sorriso esse se que desfez assim que os olhos da garota bateram no colar que Natalie usava - o mesmo que ganhou de sua falecida avó -, os olhos da garota instantaneamente começaram a brilhar, e assim fez a pedra verde do colar. A médica ficou assustada e tentou se afastar, mas antes que o fizesse, a garota esticou a mão e tocou na pedra. O efeito do imediato. A pedra e os olhos ganharam um brilho mais forte e com eles, as manchas na pele de Tasha também começaram a brilhar.
"Tasha!" Natalie estava assustada. Tentava se afastar, mas a força com que Tasha segurava a pedra, provavelmente, se machucaria se puxasse para o lado oposto.
Mas assim como começou, terminou. Instantaneamente. O acontecido foi rápido, durou apenas alguns segundos.
Tasha soltou a pedra e voltou ao normal de forma rapida, para o total alívio de Natalie que não estava entendendo absolutamente nada.
"Oh meu Deus, você tem uma pedra akiva!" A garota estava ofegante e tinha os olhos arregalados de espanto. Ela se levantou com pressa da cama.
"O que?" Questionou a médica que estava confusa.
"Isso que aconteceu agora..." Começou a explicar. "Isso só acontece quando nos ‘conectamos' com uma pedra. Por um momento eu consegui sentir o meu povo." A excitação em sua voz era evidente.
"Como a minha avó poderia ter uma pedra dessas?" A primeira coisa que Natalie pôde pensar era um como uma coisa daqueles foi parar em suas mãos.
"Estamos aqui a mais tempo que você imagina." Comentou.
"Você realmente consegue se conectar com outros seres através de um mineral?" Se sentou na beira da cama. "É surreal! Se bem que toda a coisa alienígena de uma forma geral é muito surreal."
"Sim." Riu de leve e a sentou também na beira da cama. "Isso significa que eu posso encontrar os outros e pedir ajuda deles, ficar com eles..."
Ficar com eles. Isso fez o coração de Natalie se apertar se um de uma forma dolorida. Não conseguia mais imaginar sua vida sem Tasha nela.
"Ei" A garota puxou seu rosto para olhar para ela. "Eu obviamente te levaria comigo." Lhe deu um beijo. "Quero você comigo sempre."
As bocas se juntaram para mais um beijo.
Naquele fim de semana Tasha finalmente conseguiu contato com seu povo. Os que foram encontrados viviam juntos em uma pequena comunidade. Tasha viveu em uma dessas comunidades até ser levada pelos militares. Os argans levavam suas vidas disfarçados, ao mesmo tempo em que planejavam uma forma de libertar os que haviam sido capturados. Eles diziam que era sua pequena grande revolução.
Na semana seguinte, Natalie estava voltando para seu apartamento quando percebeu um carro seguindo o seu. Ela dirigiu mais um pouco esperando que o carro fosse por outro caminho, mas nada aconteceu. Natalie começou a entrar em pânico. Há quanto tempo será que estava atrás dela? Desde onde? Será que tinha a visto indo e voltando do sítio? Como pôde ser tão descuidada? Depois disso, a única coisa em que conseguia pensar era em Tasha. Elas não usavam telefone por motivos óbvios - nada era realmente pessoal e seguro nesse país -, mas era uma situação de emergência, a médica tinha que deixá-la preparada para o caso de algo acontecer.
Tasha estava esperando que Natalie chegasse do hospital para passar o fim de semana quando ouviu o toque do celular. Sabiam que não era seguro, mas a médica havia lhe dado um para momentos de emergência. E se o telefone estava tocando, era porque alguma coisa séria tinha acontecido.
"Nat" Atendeu a chamada.
"Eu estou sendo seguida." Ela falava rápido, sua respiração saía entrecortada. "Não sei desde quando. Eu preciso que você tome cuidado. Qualquer coisa, saia do sítio."
"Você tome cuidado. Vai pra casa e finge que não está acontecendo nada. Vou pedir ajuda e depois falo com você de novo." Natalie desligou.
Tasha estava alarmada pelo que ouviu. Mesmo que não tivessem descoberto ainda onde ela estava, a garota iria pedir a ajuda de seu povo. Já devia ter feito isso antes, mas essa vida, esses momentos com Natalie eram importantes demais para serem desperdiçados sem uma razão muito forte.
Ela foi até a penteadeira que havia no quarto, sobre ela estava a pedra akiva. Ela segurou a pedra com as duas mãos e as fechou como se estivesse em oração. Em um segundo tudo a sua volta desapareceu.
Natalie entrou com seu carro na garagem do prédio. Antes do portão se fechar, pôde ver que seu perseguidor ainda estava atrás dela. Decidiu seguir o que Tasha tinha lhe dito para fazer.
Alguns minutos depois de entrar em seu apartamento, a médica ouviu fortes batidas em sua porta. Viu pelo olho mágico que era o capitão e mais dois soldados armados.
"O que você quer?" Gritou de dentro do apartamento.
"A senhorita sabe muito bem." O homem lhe respondeu. "Não adianta mais negar porque sabemos que ajudou uma fugitiva. E sabemos onde ela está, então é melhor a senhorita colaborar." Ela tinha um tom de voz convencido.
"Essa perseguição sua comigo está ficando muito chata, viu." A ironia escorria de sua voz enquanto ela tentava se manter calma. Ele poderia estar blefando para fazê-la abrir a porta.
"Um sitiozinho no interior... muito aconchegante."
Pronto. Era isso. Ele realmente sabia onde Tasha estava e provavelmente já tinha mandado alguém ir buscá-la.
Nesse momento o celular vibrou em seu bolso. Óbvio que era Tasha. Ela foi se afastando da porta para poder atender.
A conversa foi mais breve que a anterior. Tasha só lhe deu uma série de instruções de para onde deveria ir encontrá-la. Natalie ainda pensou em pegar coisas que poderiam usar, mas precisava sair do apartamento o quanto antes. Os soldados batiam na porta e não demoraram muito mais até arrombar a mesma. A médica conseguiu sair pela porta dos fundos quando ouviu um estrondo e a voz do homem gritando seu nome. Natalie correu até a entrada do prédio e para sua surpresa, não havia ninguém lá. Idiotas. Deveria ter pensado que ela não iria fugir. Mas fugiu. Natalie correu pela sua vida. Ela ia entrando em ruas e vielas para despistar os homens. Nem conseguia saber se ainda estavam perto, mas não parou de correr até avistar um ônibus prestes a sair do ponto. Não pensou duas vezes, entrou no veículo sem olhar para trás.
Era noite. A rua estava quase completamente deserta e silenciosa se não fosse pelas duas jovens que ali se encontravam. Quando se viram, se abraçaram com força e trocaram um beijo casto. Ambas se mostravam bastante nervosas e pareciam com pressa de sair dali.
"Que bom que você está bem." O alívio na voz sussurrada de Tasha era perceptível.
"Sim." Ainda ligeiramente ofegante. "Que bom que você também está bem." Cruzou os braços. Não sabia se era pelo frio ou pelo medo.
"Eu consegui sair antes dele a chegarem. Os vi entrando no sítio, mas já estava longe." Descruzou os braços da parceira e segurou em suas mãos de forma reconfortante. "Falta pouco agora."
"Eu sei."
"Antes, preciso que você saiba de uma coisa." De repente a garota parecia nervosa.
"O que?" Natalie ficou alarmada.
"Não é ruim, juro." Passou a língua pelos lábios, tomando coragem para falar o que precisava. "Você sabia que argans são seres que quando se apaixonam por alguém, amam apenas aquela pessoa pelo resto da vida?"
Era óbvio que Natalie não sabia daquilo. Não conseguia entender o porque disso naquele momento.
"Você é essa pessoa para mim. Eu te amo, Nat."
E a médica só pôde abrir um grande sorriso ao saber, ao ter a certeza que seus sentimentos eram recíprocos. Não perdeu tempo em puxar Tasha para um beijo rápido.
"Eu te amo, Tasha."
Ficaram abraçadas na escuridão até uma van preta se aproximar. Logo suas cabeças foram cobertas por panos pretos e elas foram jogadas para dentro da van. Sabia que era o ‘procedimento padrão' para que nenhum visitante soubesse realmente onde estava localizada a comunidade argan. Depois do que pareceram horas - Tasha segurou a mão de Natalie o tempo inteiro - a van finalmente parou e as duas saíram. Os panos pretos foram puxados de seus rostos. Natalie olhou em volta rapidamente e percebeu que estavam em uma espécie de galpão. Estavam ali também três pessoas - uma mulher e dois homens -, todos argans, a médica percebeu pelos padrões na pele deles.
A mulher era intimidante. Alta e com uma cara de poucos amigos. Ela deu um passo à frente e abriu um grande sorriso para Tasha.
"Que bom ter você de volta, minha irmã." Estendeu a mão para que a garota pudesse apertar.
"É bom estar de volta." Tasha devolveu o sorriso e apertou a mão da mulher. "Esta é Natalie -"
"Uma humana? Como sabe que pode confiar nela?" Interrompeu.
Natalie que antes observava a troca em silêncio, com medo de falar algo que pudesse às prejudicar, segurou a mão de Tasha e se dirigiu a mulher.
"Honestamente, eu só estou aqui por causa dela." Olhou para sua garota. "Tudo o que eu quero fazer é ajudar Tasha." Recebeu um aspeto reconfortante.
A mulher assentiu lentamente - vendo a total sinceridade da médica - antes de estender a mão para Natalie.
"Então, sendo assim, bem vinda à revolução."
Fim do capítulo
É isso ai, pessoal! O que acharam? Um enorme obrigada a quem chegou até aqui, e já que chegou, que tal, por favor, deixar sua opinião? Comentários e críticas construtivas são sempre bem vindos ?
Até uma próxima :3
Comentar este capítulo:
Karen
Em: 09/08/2017
Oi, boa noite!
Amei o "romansinho", rsrs!
Vai ter continuação menina???
Eu gosto mto desses contos ficção-científicos(é assim q se dá o nome a esse gênero, nhe?); gosto mto desse tipo, espacial e etc, etc...
Expanda mais aí pra gente! Acho q ficará mto bom o enredo.
Bjs e aguardo continuação, heim! Rsrs!
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OneideMaria
Em: 18/06/2017
Mana..continua. Please!!
Como a vó da Nat conseguiu essa pedra?? Como a Tasha conseguiu fugi?? E a Revolução? Tem q acontecer.
Rsrs.. Adoro ficção!!
Abs
Resposta do autor:
Hahaha eu tenho a intenção de desenvolver essa história, por isso o final em aberto. Infelizmente, por enquanto, ainda não dá D: em breve... não desisti dessa revolução haha
Muito obrigada! <3
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rhina
Em: 15/06/2017
Acabei de ler.
Gostei. ...lindo o sentimento que as uniu.....a coragem....o amor realmente faz milagres.
Parabéns autora ....é um ótimo conto.
Rhina
Resposta do autor:
Oi Rhina! Muito obrigada por ter dado uma chance pra história! Fico muito feliz que tenha gostado!
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Ah legal eu gostei, os Aryane existem msm rs apesar d vc d dizer q éh ficção científica p mim parece sempre ter um fundo de vdd ou cs e tipo sei la.????
Resposta do autor:
Os Argans são baseados em todos os filmes, séries e livros com aliens que já passaram pela minha vida, portanto, totalmente fictícios hahaha Agora, se nós estamos realmente sozinhos nesse universo... quem sabe... hahaha
Muito obrigada! <3
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Val Maria
Em: 04/06/2017
Estou encantada com esse conto.Parabens e que volte a postar coisa boas como essa estória.
Beijos
Val Castro
Resposta do autor:
Fico feliz por isso! Tenho alguns outros projetos de originais, então daqui a pouco você vai me ver de novo por aqui haha
Muito obrigada!!! <3
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Lins_Tabosa
Em: 04/06/2017
Deu curiosidade pra saber mais da revolução!! Muito bom
Abrs o/
Resposta do autor:
Missão cumprida então hahaha deixei em aberto pra quem sabe voltar nesse universo.
Muito obrigada! <3
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preguicella
Em: 04/06/2017
Adorei! Muito bom mesmo!
Resposta do autor:
Muito obrigada!!! <3
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IolandaStrambek
Em: 04/06/2017
Olá autora!
Geralmente não leio contos, mas esse está otimo. Adorei (:
Parabens pela escrita. Até logo
Resposta do autor:
Fico feliz que tenha dado uma chance e que tenha gostado! Muito obrigada!!! <3
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