O banho foi rápido, apenas molharam os corpos, para depois saírem. Melissa enxugou a amiga com cuidado, e também não perdeu a oportunidade em observar o corpo nu diante de si. – “Isa, como você é linda!” – pensou enquanto jogava uma camisola sua na jovem, deixando-a em seguida na cama. Isadora não deixava de observar os gestos da amiga, e principalmente, seu corpo. Assim que Melissa retirou sua calcinha, mostrando-se inteiramente nua, Isadora resolveu fechar os olhos, ou seria capaz de cometer uma insanidade – “Droga! Ela é linda demais, tenho que me controlar... Controle Isadora... controle... Contar até mil... Um, dois, três” – abriu um dos olhos e se deparou com a nudez da morena, sentiu o rosto esquentar, e viu que iria piorar da febre, voltou a contar – “... três, quatro, cinco... novecentos e seeeteee, e oitooo... ai meu Deus Melissa, por que você tem que ser tão linda?” – pensou na tentativa de esquecer a cena, respirando fundo. Melissa retornou a cama, vendo-a com os olhos fechados, abaixou-se e ficou no mesmo nível da jovem. 

-- Linda, já está dormindo? – perguntou baixinho, a poucos centímetros do rosto da loirinha.

-- Não. – “Deus, como poderia com você assim, próxima a mim e ainda nua? Eu não reconheço os desejos do meu corpo” – gritava mentalmente.

-- Então abre esses olhinhos de esmeralda para mim. – Isadora atendeu ao pedido e percebeu a distância entre suas bocas.

-- Estou melhor – concluiu a loira engolindo seco.

-- Mesmo assim permanecerei com você. – olhou a cama – Primeiro nada de cobertores...

-- Está frio Mel... – tentava despistar a amiga com medo que ela percebesse seu corpo arrepiado.

-- Sua temperatura baixou, o cobertor fará ela se elevar. – concluiu retirando o pano de cima da amiga – Antes de dormir, beber água – ofereceu um copo, que foi bem aceito e virado de uma vez só – Quer outro? – recebeu um sim com a cabeça como resposta - Agora me dar um espacinho, vou dormir com você e me certificar que ficará bem o resto da noite. – ordenou, empurrando a loirinha e se enfiando por baixo do mesmo lençol que ela estava – Dormiremos de conchinha, como fazem os casais dos filmes, assim ficarei segura de que estará bem. – concluiu inocentemente sem perceber a reação destas palavras na amiga.

“Ah não! Dormir de conchinha? Não Melissa, isso é demais, agora eu morro de febre, frio, sei lá.” – resmungava mentalmente para si mesma.

-- Mel... Acho que está exagerando irei retirar todo o seu conforto e privacidade e... – tentava explicar da melhor forma possível.

-- E mais nada Isadora, anda logo e me dar espaço – ordenou se apoiando no corpo menor.

“Será que ela sente o mesmo que eu? Será que ela também quer me beijar?” – pensava Isadora ao ouvir a observação da amiga. – “Ai Mel, não encosta ou lhe agarro!”.

-- Mel, eu já estou melhor, não prefere que vá para o quarto que me foi destinado? Além do mais, esta cama é pequena, para nós duas. – insistia.

-- De forma alguma – repreendeu abraçando o jovem corpo a sua frente – Este contato me fará perceber se a febre voltar.

“Ou me matará do coração!” – pensava Isadora.

-- Mel...

-- Hum?                                                                                

-- Obrigada por tudo – realmente, Isadora nunca havia sido tão bem tratada. Agir assim, com carinho e zelo só seu avô. Seus pais viviam em um duelo de quem era melhor para ela, mas, nenhum dos dois, dispensava tempo e atenção suficiente para a jovem.

-- Isso não foi nada, eu te amo como a uma irmã – “De onde saiu isto Melissa? Talvez esta seja a resposta às reações que meu corpo têm na presença desta baixinha.” - pensava enquanto acariciava as costas da jovem que permanecia envolvida em seus braços – Agora durma minha linda – beijou-lhe o ombro.

“Como a uma irmã? Como a uma irmã? Uma irmã que ama a outra? Não Mel, eu te amo como a uma mulher... Eu te amo Mel!” – ficou pensando até adormecer.  

Ainda era madrugada quando Isadora acordou de um sonho em que se declarava para a amiga, no momento em que lhe beijou a boca, foi despertada. Abriu os olhos e viu que não estava de toda enganada, Melissa estava realmente dormindo abraçada ao seu corpo. Com cuidado, a loirinha aspirou o cheiro do cabelo da morena. Observou seu rosto sereno e adormecido, seus lábios tão próximos que sua imaginação a fez sentir o gosto daquela boca. Em um impulso, agarrou-se mais ao corpo moreno, beijando-lhe de leve os lábios. Sentiu seu próprio corpo estremecer, uma súbita umidade lhe invadia, assim como uma sensação pulsante entre suas pernas, ela jamais havia sentido algo tão forte como o desejo que seu corpo sentia pelo corpo da amiga. Isadora não entendia, mas precisava repetir aquele gesto e sentir mais uma vez o sabor daqueles lábios. Depositou outro beijo naquela boca, fonte do seu desejo, mas, desta vez, passeou com a língua pelos lábios carnudos de Melissa, sentindo melhor seu gosto. De repente, Melissa se mexeu, sussurrando, várias vezes, a mesma coisa incompreensível, no entanto, logo depois de passar o medo em ser pega no flagrante, a loirinha entendeu: ”eu te encontrei!”. Isadora se sentiu iluminar, e ficou admirando a amiga, passeando com suas mãos pelo corpo maior, até ser vencida, novamente, pelo sono.

Ao amanhecer, Melissa acordou primeiro, percebeu um calor, e viu o corpo menor completamente por cima do seu, sorriu com a cena. Mesmo sendo cuidadosa, não conseguiria se desvencilhar da mais jovem sem acorda-la. Pensou um pouco e então, achou melhor ficar apenas lhe observando.

“Como é linda!” – pensava enquanto a olhava – “O que aconteceu ontem? Por que aquela febre repentina? Será que você está doente meu anjinho? Isa, como quero cuidar de você” – viu as feições angelicais daquele rosto e não resistiu, passeou com os dedos ao redor da face adormecida, recebendo logo como resposta um sorriso que lhe fez sentir um frio na barriga.

-- Bom dia anjinho – disse a morena.

-- Bom dia minha heroína! – retribuiu.

-- Melhorou?

-- Com os cuidados médicos que tive a noite, não tinha como não melhorar. – passou a mão pelo rosto da amiga – Vai fazer medicina?

-- Medicina? – explodiu em gargalhadas – Não. Farei vestibular para direito, quero administrar os bens da minha família, e a melhor forma para isto, será entendendo das leis, para não deixar ninguém me passar à perna. – olhou novamente a loirinha e resolveu passar a mão por seu corpo, acariciando depois seu rosto – E você? – Isadora se deleitava com os carinhos oferecidos, e não prestou muita atenção na pergunta da amiga. – Ei, acorda, fiz uma pergunta – repreendeu a mais velha.

-- Sim, já acordei – “Como posso me concentrar com você passeando com esta mão pelo meu corpo assim?” – O que perguntou?

-- O que pretende fazer?

-- Hoje? Não sei o que se tem para fazer aqui? Aceito qualquer coisa, mas antes tenho que comer porque estou morrendo de fome. – a morena explodiu em gargalhadas.

-- Não, o que pretende fazer no vestibular? Que curso quer seguir?

-- Ah, isso. – demonstrou um desânimo com a pergunta. Na verdade, Isadora temia as reações dos pais quando descobrissem qual o curso que ela desejava fazer, seria mais uma briga com o pai, ele iria dizer que era uma afronta a sua pessoa. - Não sei ainda, meu pai quer que eu faça direito, minha mãe algo ligado a turismo ou administração.

-- E você?

-- Ainda não sei, mas já pensei em jornalismo. – pensou um pouco – Gosto de escrever, e um dia gostaria de viajar pelo mundo, observando as várias culturas existentes e escrever sobre elas. Sabe Mel, adoro ler sobre as histórias antigas, culturas – mostrou um olhar triste – Mas não sei se conseguirei realizar meu sonho.

-- Uau! Uma escritora ao meu lado e eu aqui pensando em advogar em causa própria. – examinou a expressão da loirinha – Meu anjo, você não só vai conseguir realizar, como terá todo o meu apoio, sempre – beijou o rosto da amiga – Esqueceu que por eu ser mais alta e mais velha tenho o dom da palavra? Apenas repita o mantra: Sim Mel, você tem razão! – as duas caíram em gargalhadas.

-- Boba! – empurrou à amiga.

-- Que nada. Um dia você vai conseguir realizar seus sonhos, além de você merecer, o mundo se renderá a sua beleza vossa majestade. – os olhares se fixaram e permaneceram assim por mais alguns segundos até a morena perceber que seu coração acelerava – Vamos nos vestir para comer? Também estou morrendo de fome. – tentou desviar os olhos verdes que tentavam lhe devorar

-- Mel, como eu vou aparecer assim? Nem sei onde meu pai dormiu, e não conheço ninguém.

-- Simples. Você vai se vestir, desceremos e iremos procurar seu pai – respondeu pausadamente passando o dedo na ponta do nariz da loira – mas, antes disso, vamos comer porque estou morrendo de fome.

Desceram e Melissa apresentou a amiga a toda sua família, seu avô, achou muito parecida, com um velho conhecido, e resolveu que investigaria depois. Timóteo ficou felicíssimo, com a descoberta da amizade entre as duas adolescentes.

Fim do capítulo