-- Só lembrando que vocês duas não são as protagonistas tá? -- Gabi falou assim que sentei ao lado dela.

 

-- Os meninos veem? -- desconversei.

 

-- Ligaram avisando que estavam no caminho -- ela respondeu olhando para o palco, pois as luzes se apagaram.

 

 

A peça começou e eles ainda não haviam chegado, Bruna entrou em cena com sua personagem Laura, que era casada com um advogado bem mais velho que ela e estava tendo um “caso” com o filho dele. Uma trama bem envolvente que ela acabava tendo muitas cenas de beijos, bem desnecessários, só acho.

 

-- Chegamos! -- Marcelo falou nada discreto, ri com o pessoal pedindo silêncio.

 

-- E aí bicha, já com ciúmes? Aquele André é um tesão! -- Júlio falou em meu ouvido, pois havia sentado do meu outro lado, André era o filho do marido de Bruna na cena, o “caso” – Como queria deitar naquele abdome? Meu Deus!

 

-- Cara tu chega atrasado, atrapalha e ainda não cala a boca?

 

-- Aí, que grossa! Você já sabe a história da peça toda, eu também, vamos fofocar que é melhor!

 

-- Mas ao contrário de você o pessoal quer silêncio!

 

-- Ok! Calarei a boca, mas não posso pedir para meu coração parar de bater, ele pulsa por André.

 

-- Júlio, deixa de ser enxerido!

 

-- Vejo corações flutuando, o meu está indo para o lado direito, onde André estar e o seu o esquerdo onde Laura estar sentada em uma poltrona.

 

-- Marcelo vamos trocar de lugar? -- pedi um pouco alto para ele ouvir.

 

-- Ain, você vai acabar minha festa! Chata!

 

 

Assistimos toda a trama, agora eu mais concentrada nos beijos, pegações, gritaria, choradeira, o pé na bunda que Bruna, ou melhor, a Laura leva dos dois. Enfim, uma amostra do que acontece com as famílias para a sociedade. Ela não era protagonista, mas era uma coadjuvante muito presente na peça.

 

Após o termino, ficamos a esperando no estacionamento.

 

-- Oi, pessoal! Desculpem a demora, é que estávamos decidindo um almoço para amanhã -- Bruna disse e me abraçou pela cintura.

 

-- Hum... E os amigos estão inclusos? -- Marcelo convidou-se.

 

-- Claro, amanhã será o último dia da peça nessa temporada e a maioria fará parte da próxima, mas iremos comemorar a conclusão desta.

 

-- Que bom Bruna, vamos sim! -- Gabi disse.

 

-- Agora vamos para aquele bar que amo -- Marcelo disse e não perdemos mais tempo, seguimos para o bar.

 

A movimentação do sábado a noite era grande, o bar pelo horário estava lotado e se Marcelo não fosse amigo do dono teríamos ido para outro. Em poucos minutos estávamos em uma mesa no segundo andar, nos gostávamos do térreo, mas enfim...

 

Ficamos os três casais, era um pouco estranho porque antes não sentávamos separados, éramos todos misturados, às vezes nem parecia que nosso grupo tinha algum casal. Depois do meu envolvimento com a Bruna, meio que tudo ficou mais dividido entre nós.

 

-- Amor, fala da proposta para o próximo fim de semana -- Júlio disse.

 

-- Tinha esquecido, a casa de praia estará liberada, meus irmãos nenhum irão, muito menos meus pais então já reservei para nós, com o feriado de sexta já vamos na quinta e nada de outras ideias.

 

-- Por mim, ok! -- falei, seguida de Gabi e Neide.

 

-- Como meu último espetáculo será amanhã, preciso ver os horários dos ensaios com o pessoal da peça nova, mas acho que posso confirmar com vocês.

 

-- Fechado então, não precisam se preocupar com nada, vamos ir no meu carro? Só não quero dirigir, pois já vou bebendo.

 

-- Então dirijo amor! -- Júlio disse.

 

-- Deus nos livre! -- falei junto com Gabi.

 

Ele era um péssimo motorista, muitas multas na sua coleção, sem falar nas pequenas batidas.

 

-- Na quinta quem tiver vontade dirige -- falei.

 

-- Ok! -- concordaram todos.

 

-- Próximo assunto da pauta -- falei.

 

-- E o casamento? -- Marcelo quis saber.

 

-- Vamos da entrada amanhã no cartório.

 

-- E os padrinhos? -- Júlio perguntou.

 

-- Você dois e vocês duas, o que acha? -- olhei para Bruna.

 

-- Claro, nosso quarteto fantástico! -- ela confirmou.

 

-- Ainda bem, porque não iria mudar mesmo -- falei para ela.

 

-- Eu sei, mas nós temos que conversar sobre algumas coisas ainda.

 

-- Ui, primeira DR! -- Gabi brincou.

 

-- Primeira conversa séria -- Neide disse -- É bom mesmo conversar algumas coisas antes.

 

-- Tipo nós quando você disse se eu te traísse nem te procurasse mais? -- Gabi falou.

 

-- Que medo, Marcelo nem venha com frases assim! -- Júlio disse.

 

-- Porque? Vai ser fiel sim! -- Marcelo retrucou.

 

-- Vou ao banheiro -- falei no meio da discursão.

 

-- Espera, quero ir também! -- Bruna disse.

 

-- Eita, agora a fila ficará grande -- Gabi não poderia ficar calada.

 

Saí com Bruna para o banheiro, tinha muitos reservados e entramos separadamente, havia algumas mulheres se maquiando e outras conversando.

 

Meu celular tocou e olhei o visor, o nome de Juliana surgiu, apenas desliguei o celular.

 

Sai do reservado e lavei as mãos, através do espelho vi que meu cabelos precisavam de um corte, não gostava muito grande e já passava dos ombros.

 

Esperei Bruna e logo ela saiu, lavou aos mãos. Fiquei a olhando, ela passou um batom escuro que usava e me olhava através do espelho, em silêncio saímos do banheiro.

 

Sentamos e continuamos a beber, algumas horas depois, quase todos já bêbados resolvemos ir embora.

 

-- Quer ajuda? -- ela me perguntou assim que entramos em casa.

 

-- Se quiser... -- a beijei e ela correspondeu, mas logo parou o beijo.

 

--  Não, não é esse tipo de ajuda Lívia!

 

-- Não quer me beijar? Aconteceu alguma coisa?

 

-- Não é nada! Como você já está banhada vou para meu quarto.

 

-- Não vai dormir comigo hoje? -- fiz cara de pidona.

 

-- Só quando estiver sem álcool.

 

Ela saiu e fui dormir só, o álcool ajudou a dormir logo confesso.

 

--

 

O domingo amanheceu nublado, não queria sair da cama, Gabi e Neide já tinha vindo me acordar e agora era Bruna em sua tentativa.

 

-- Você vai sim, é o churrasco com meus amigos.

 

-- Tá bom, eu vou mas quero um strip em troca -- pisquei.

 

-- Vou nem dar o trabalho de responder.

 

-- Então toma um banho comigo?! -- falei correndo atrás dela para abraçá-la.

 

-- Nem pensar, imagino como seria esse banho... -- falou encurralada na parede.

 

-- Seria maravilhoso!

 

-- Vamos devagar, ok? -- falou me olhando.

 

-- Tudo bem, mas o banho seria maravilhoso do mesmo jeito -- mordi seu lábio inferior.

 

-- Ontem queria conversar sobre umas coisas com você, será que podemos agora?

 

-- Qual assunto?

 

-- Nós, nosso casamento. Ele é uma espécie de jogo para você? Você quer brincar comigo como um bônus?

 

-- De onde tirou isso Bruna, claro que não! -- sentei-me na cama -- Você sabe como eu sou, odeio ficar por ficar, estamos nos aproximando de um jeito diferente.

 

-- Então isso é apenas desejo da sua parte?

 

-- Bruna quer ir direto ao que você quer saber? Eu não estou brincando com você.

 

-- Então o que temos?

 

-- Estamos nos conhecendo, mas sabemos muito pouco ainda uma da outra nesse relacionamento.

 

-- Você diz isso por que não houve sex*?

 

-- Não Bruna, digo isso porque ainda não tivemos muito momentos juntas, não conversamos muito, não deu para conhecer muito você de outra forma como casal, não sei como é seu comportamento como amante, fora da cama, tá? Quero deixar claro isso. Eu te conheço como amiga, sei do seu caráter, mas não sei como será como esposa, como namorada, como noiva.

 

-- Quero definir algo -- ela continuava muito séria.

 

-- Somos noivas, ou seja, já estamos um passo a mais de namoradas, só não nos conhecemos muito, seria bom passar mais tempo juntas, mas não como amigas, entende o que quero dizer?

 

-- Entendo, você quer sex*!

 

-- Claro que quero, não vou negar. Mas também sei que não posso e não quero apenas isso.

 

-- Estou um pouco enrolada!

 

-- Senta aqui -- ela veio ao meu lado -- Posso naturalmente me comportar como sua namorada, aqui em casa e em qualquer outro lugar, o que você acha?

 

-- Eu acho que estou com medo.

 

-- Eu sei que foi complicado esta mudança, foi muito drástica para você, eu ganho com isso tudo, mas você eu não sei. Você vai mudar sua vida por mim, não quero que seja infeliz, não quero ser egoísta, temos mais ou menos um mês para nos casarmos, se até lá você estiver insegura ou com medo, quero que me fale, pois não iremos nos casar. Nossa amizade é mais importante, você é um ser humano e livre, não tem nenhuma obrigação.

 

-- Obrigada por entender meu lado, mas também não me sinto presa casando com você, só que caiu a ficha que é uma escolha que querendo ou não irá afetar minha vida em um prazo muito longo, quem até eu morrer.

 

-- Afetará as nossas vidas sim, mas Bruna sério mesmo, se não quiser você precisa me dizer, pois não quero que faça algo sem ter vontade.

 

-- Em relação a isso fique tranquila.

 

-- Mais algum assunto para a pauta?

 

-- E nossos beijos? Vamos continuar?

 

-- Hum... Já sei, está com saudades, né? Beijo super bem, né?! Pode assumir! -- ri e ela balançou a cabeça negativamente.

 

-- Você tem cinco minutos para se arrumar, depois analiso esse outro quesito.

 

Ela saiu do meu quarto e fui me arrumar.

 

Teria um churrasco com pessoas que não conhecia muito bem, mas enfim, tinha sido “obrigada” a ir.

 

 

O que esperar desse encontro que nem se quer eu imaginava, me deixava com ansiedade.

 

Fim do capítulo