- Você tem certeza de que está tudo bem em fazer isso?

- É claro que sim, é um prazer ficar com o Paçoca – Alex abaixou-se e cheirou o cachorro que devolveu o carinho com uma lambida animada. – Quando você volta?

- Em duas semanas se chegarmos as finais. Caso contrário eu estarei de volta na segunda – Júlia respondeu sem encarar Alex.

- Então vou torcer para que seja em duas semanas – Alex disse e Júlia não pode deixar de sorrir. Alex sentiu seu coração queimar ao ouvir aquela risada que tanto alegrara seus dias em Brasília. – Não ouse voltar antes disso. Você precisa de mais uma medalha para a sua coleção.

- Como está a Nat? – Júlia perguntou sem graça e voltou a abaixar o rosto, escondendo-se dos olhos de Alex.

- Você sabe como é a Natasha, mas não se preocupe. Ela logo voltará ao normal e estará nos mostrando o quanto nossos rótulos são antiquados.

- A culpa foi minha – Júlia respirou fundo e lembrou-se do que fizera mais cedo naquele dia. Sentiu um aperto no peito ao pensar em suas motivações. O desejo de beijar Alex a deixava desconcertada.

- Sabe o que é mais engraçado? – Alex perguntou e Júlia a encarou curiosa, antes de respondeu sentiu o peso do olhar de Júlia. – Você nunca aprendeu a beber.

- Não tive muitas oportunidades para isso – Júlia respondeu com um sorriso tímido. – Depois que passei a jogar pela série A minha vida mudou muito. Meu técnico me mata se souber que fiquei bêbada um dia antes de viajar para uma competição.

- Eu queria ter estado lá quando você foi chamada – Alex disse saudosista. – Sei o quanto você lutou por isso.

- Você poderia ter estado. Era só não ter escrito aquela carta.

- Júlia, não precisamos falar sobre isso – Alex disse arrependida de ter começado o assunto, falar do passado por alguma razão a deixava extremamente irritada.

- Nós precisamos, Alex. Você não tem o direito de dizer que gostaria de ter participado de decisões e momentos importantes da minha vida quando foi embora sem deixar nenhum rastro.

- O que teria sido diferente se eu tivesse ficado?

- Você estaria ao meu lado quando toda minha família e amigos me abandonaram, era no seu ombro que eu choraria quando corri o risco de nunca mais poder jogar e seria a sua mão que eu estaria segurando quando acordei de uma cirurgia e descobri que ficaria um ano longe das quadras. E era você quem eu abraçaria quando mesmo depois de tudo o que aconteceu eu fui convocada. Era você quem estaria ali. E eu estaria com você. Se você tivesse ficado era isso que seria diferente, Alex.

- Júlia, você não entende?

- O que eu não entendo? Que você me deixou sozinha no momento mais difícil da minha vida?

- Eu não aguentava mais te ver nos braços do Gustavo.

- Eu terminei com o Gustavo, Alex.

- Como eu ia ter certeza de que você terminaria com ele depois de tantas vezes me prometendo que faria?

- Alex, como eu seria capaz de não terminar com ele depois de você ter colocado uma aliança no meu dedo? Nós tínhamos um plano, você se lembra?

- É claro que eu me lembro. Mas eu não conseguia mais continuar naquela situação, Júlia. Eu sei que não basta pedir desculpas, mas eu estou arrependida.

- Você tem razão, desculpas não são suficientes.

- Me arrependi de ter escrito aquela carta todos os dias.

- Isso também não basta, Alex.

- O que você quer que eu faça?

- Quero que você cuide do Paçoca, isso é tudo o que você pode fazer por mim – Júlia disse e sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto.

Fim do capítulo