O dia do almoço com Júlia chegara e Natasha não conseguia se conter. Ela planejava fazer o óbvio e convencer Alex a também ir ao restaurante e promover um encontro entre as duas.

– Você tem certeza de que isso é uma boa ideia? – Lara perguntou assim que soube do que a gêmea da sua chefe planejava fazer.

– É claro que sim – Natasha disse convicta – as duas precisam conversar sem interferências desses cachorros pulguentos e ex-namoradas munidas de café. Um almoço antes da viagem de Júlia é o que elas precisam para perceber que ainda se amam.

– Nat, você parou para pensar que talvez isso não seja o que elas querem? Por que você não dá um tempo para que as coisas se resolvam sozinhas?

– Lah, já se passaram cinco anos e nada se resolveu. O destino trouxe Júlia de volta para Alex, não faz sentido esperar mais. Você as viu juntas, é impossível que não saiba o quanto essas duas idiotas se amam. Não consigo ver minha irmã sofrendo e simplesmente não fazer nada, não depois que o destino já provou com um reencontro que elas foram feitas uma para a outra.

– Eu não sei se destino é a primeira palavra que me vem à mente quando eu penso em como esse encontro aconteceu.

– Eu só dei uma mãozinha, o destino se encarregou do resto – Natasha disse sem assumir a sua culpa em tudo o que acontecera.

– Você não vai mesmo desistir, não é?

– Não vou e você deveria me agradecer. A versão da Alex apaixonada é menos insuportável do que essa Alex carrancuda e viciada em trabalho que você lida todos os dias.

– Sua irmã não é carrancuda, ela é focada!

– Sei sei, agora chega de falar da Alex. Me diz o que veio fazer aqui – Natasha levantou os braços e bocejou lentamente.

– Preciso de um favor – Lara balançou os ombros sem demonstrar muito interesse – o que é preciso para ter um pouco da sua atenção, Natasha Collins?

– Não é preciso muito – Natasha se aproximou da garota com um sorriso safado – só ser uma linda paulista de olhos pretos vestindo jeans apertados e que quando sorri me deixa incrivelmente excitada.

– Você só pensa em sex*?

– O que eu posso fazer se você é uma delicia? Não consigo resistir.

– Pode começar tentando me deixar falar duas frases inteiras sem colocar as mãos dentro do meu sutiã – Lara disse séria.

– Ok, você tem razão – Natasha assumiu sua pose de respeito e guardou as mãos no bolso – o que te traz aqui, Lah?

– Comprei uma calcinha nova e quero saber se combina com meu vestido – Lara mordeu o canto dos lábios e Natasha suspirou revirando os olhos.

– Você não está me ajudando – a DJ aproximou-se de Lara e a puxou para si.

– Quem disse que eu quero te ajudar? – Lara se aproximou e beijou levemente os lábios de Natasha.

As duas garotas deitaram-se no tapete do escritório de Natasha e a canadense dedicou-se a avaliar as medidas da calcinha da menina.

– Está na hora do seu almoço – Lara disse tentando afastar Natasha que se divertia entre suas pernas.

– Que almoço? – Natasha perguntou sem tirar o foco do que estava fazendo.

– O almoço onde você vai brincar de senhora do destino – Lara segurou um gemido – vamos Nat, eu preciso voltar para clínica. Tenho que confirmar os pacientes da Alex.

Natasha suspirou passando as duas mãos no rosto e voltou sua atenção para seu plano.

– Ok – Natasha ainda tentava conter a excitação que percorria pelo seu corpo – eu marquei com a Júlia às 12h e com a Alex às 12:30. Vou fazer parecer que foi um encontro ao acaso. Às 12:35h você me liga e eu digo que tenho uma emergência, saio e deixo as duas sozinhas.

– Isso é ridículo, está na cara que é uma armação – Lara balançou a cabeça desacreditada.

– Você pode fazer o favor de ter um pingo de fé no amor?

– Tá bom – Lara suspirou concordando a contragosto – vamos fazer isso.

– Yes! Você é a melhor – Natasha beijou a bochecha de Lara e saiu apressada.

– Onde eu fui me meter? – Lara disse para si mesma e também deixou o escritório.

Natasha encontrou com Júlia no restaurante, haviam combinado de passar no apartamento da morena quando acabassem para que Natasha pegasse Paçoca. Natasha estava contando que seu plano funcionasse perfeitamente, afinal de contas não estava muito animada para cuidar do cachorro.

– Nat, mais uma vez muito obrigada por isso, eu não sei o que eu faria se não encontrasse alguém para cuidar do Paçoca.

– Não precisa agradecer, você sabe que o Paçoca é como se fosse da família – Natasha disse cinicamente e olhou no relógio.

– Ele é o que restou da minha família – Júlia disse com tristeza e Natasha se comoveu, não esperava ouvir aquilo.

– Você passou por uns maus bocados nos últimos anos, não é mesmo?

– Sim, eu tive que reaprender a viver. Tudo o que eu conhecia como verdade se desmoronou na minha frente, eu não tinha mais família, amigos e nem minha namorada, tudo o que me restou foi o Paçoca.

– E o vôlei.

– Sim, o vôlei foi o que me fez levantar todos os dias. Eu passei por clubes incríveis e conheci pessoas ótimas que me ajudaram muito, mas por algum motivo eu nunca consegui me conectar verdadeiramente com elas.

– Posso imaginar qual seja o motivo – Natasha disse pensativa. Ela nunca entendera os motivos da irmã para deixar Júlia sem ao menos ter uma última conversa, mas mesmo assim a apoiara em todos os momentos – o que você e a Alex viveram foi marcante, verdadeiro e exponencialmente intenso.

– Eu sei, mas preciso aceitar que isso acabou. Alex é uma nova pessoa, tem uma vida completa e não precisa do passado batendo em sua porta.

Natasha estava tão envolvida na conversa com Júlia que não ouviu seu celular tocando insistentemente em sua bolsa.

Era Lara tentando lhe avisar que o plano não estava saindo como planejado.

– Eu não diria que ela está tão realizada assim – Natasha aproveitou a deixa para colocar seu plano em prática. Falar de Alex era uma maneira de trazer os sentimentos de Júlia à tona – você a conhece melhor do que ninguém e sabe que ela ainda não te esqueceu.

Natasha olhou no relógio e viu que já eram 12:30, a hora que marcara de se encontrar com Alex. Ela se ajeitou na cadeira e esperou que a qualquer momento Alex entrasse no restaurante.

– Não sei, Nat. Ela deixou bem claro naquela carta que o que estávamos vivendo era uma mentira. Ela foi bem convincente. – Júlia disse suspirando. Passara tanto tempo lendo e relendo a carta que era capaz de reproduzi-la até de trás para frente.

– Alex sabe ser convincente quando quer. Ela era só uma adolescente fazendo drama, aposto que se ela pudesse voltar atrás ela nunca teria escrito aquela carta. Vou te contar um segredo – Natasha tentou soar casual – ela nunca mais conseguiu olhar para o céu e sorrir e eu sei que é por causa dos seus olhos.

– Não tenho tanta certeza, ela parece estar se virando muito bem – Júlia disse olhando para a porta do restaurante.

Alex entrava no local acompanhada de Emma.

Natasha jogou a cabeça para trás e gem*u baixinho.

Aquela era sem sombra de dúvidas a pior coisa que poderia estar acontecendo.

Fim do capítulo