Somos Estrelas

Amanheceu.

Já era hora de acordar meu amor. Olhei nossa cama ali, ainda bagunçada, seu cheiro por todo quarto. Me veio na mente a primeira vez que te vi.

Não posso falar que foi amor a primeira vista porque não foi, na verdade não te enxerguei no primeiro momento. Você estendeu sua mão para mim:

-- Seus óculos.

-- Obrigada. – Coloquei aqueles óculos apelidados de fundo de garrafa que sem querer eu havia deixado cair no chão enquanto tentava desembaçar a lente, então pude admirar sua beleza.

Meu amor, me apaixonei por você na primeira gargalhada. No primeiro toque. Na primeira discussão. Tão linda! Tão simples e tão absurdamente linda.

Me levantei a contragosto da nossa cama. Ela deve estar na cozinha. Ela é assim, gosta de me surpreender nas raras vezes em que acorda antes de mim. Atravesso o quarto a passos largos ansiando por te ver. Já te vi tantas vezes nessa cozinha, de costas, os cabelos presos displicentes, usando apenas uma calcinha e alguma blusa minha que fica caindo nos seus ombros. Já podia até sentir o cheiro de torrada queimada.

-- Não acredito!! O que eu fiz de errado dessa vez Nick?

-- Venha meu amor, senta aqui e deixa que eu faço nosso café.

Te abraço por trás e dou vários beijos no seu pescoço. “É para aliviar a tensão”, eu sempre digo o mesmo, mas sabemos que os beijos são o início. Uma das minhas mãos aperta sua cintura enquanto a outra já acaricia teu seio. Escuto seu gemido de satisfação, sinto seu corpo reagir e avanço. Faço uma pressão no meio das suas pernas, seu gemido intensifica, tenta se virar, mas não deixo. Gosto de você assim amor. Minha mão se emaranha na bagunça dos teus cabelos, você abre as pernas e gem* em súplica. “Me come amor”

É nossa rotina. Eu chegaria novamente atrasada, você chegaria novamente atrasada, porém nós duas saciadas, com nossos votos selados e renovados. Eu te amo. Amo tanto que dói.

Você não está na cozinha. Mas deveria estar! Calma.... Que tola que sou. Você deve estar no nosso escritório.

Lembro de quando compramos esse apartamento. Você queria algo menor, algo simples, aconchegante. Eu queria algo luxuoso, algo espaçoso. No fim, você ganhou, como sempre. Sempre me ganhava. Deixou todo apartamento colorido, disse que trazia felicidade, mais vida para o nosso lar. Em um dos quartos, disse que seria nosso escritório. Deixou um cantinho com uma mesa, para que eu alocasse todos meus objetos de programação, no outro cantinho espalhou suas telas, suas tintas, seu hobby favorito.

Corri.

Você não estava lá.

Não faz sentido. Seu cheiro estava por toda casa. Ah!! Como pude esquecer. Tão obvio!

Estava no banheiro. Nunca uma distância tão ínfima me pareceu tão distante.

No banheiro também não estava. Não resisti a dor. Cadê você? Sua escova de dentes ainda estava ali, ao lado da minha. Pego sua escova. Lembro da pirraça que fez até conseguir com que eu comprasse uma escova muito mais cara. “Amor! Por favor! Nunca te pedi nada! Poxa!”. Faz uma cara de criança que não resisto. Você me ganha sempre.

Não podia ter me deixado assim. Não podia ter me deixado.

As lágrimas já escorriam em abundância. Meu corpo pesava, cada músculo doía. Amor, você não poderia me deixar. Tantos planos juntas, tantos anos para viver. Nossos filhos que teríamos, nossas férias, nosso casamento, nossa família. Amor volta. Preenche esse vazio. Aqui dentro dói. Meu amor dói.

Não penso muito. Corro para o quarto. Segunda gaveta da escrivaninha. Encontra lá o objetivo que procuro.

“Amor volta para mim”

Tão pontiagudo e brilhante.

“Amor porquê foi antes de mim? Eu te amo”

Era só fechar os olhos.

“Amor... Ta doendo tanto”

Olhei pra janela. Lá fora o sol ardia. Queria poder enxergar as estrelas. Você é tão fascinada por elas.

“Amor. Me ajuda”

O sangue escorria no chão

“Nanda.. Nanda.. Te amo tanto”

--Nick?

Tudo começou a ficar turvo e distante.

“Nanda?”

(...)

-- Nick! Nick! Veja! Somos estrelas. 

Fim do capítulo